- Mano, olha isso, a gente vai demorar um século pra entrar no metrô e ainda vamos tipo sardinhas na lata.
- É, pode se acostumar que São Paulo é assim mesmo. - disse Alisson.
- Não sei você, mas eu vou esperar até ficar mais tranquilo - respondi.
- E você vai ficar fazendo o que aqui no centro? O metrô só fica mais tranquilo lá pras sete.
- Eu to morrendo de fome, acho que vou comer alguma coisa, topa ir comigo?
- Ta bom.
Nós saímos da estação e demos uma pequena voltinha procurando algum lugar pra comer, então já descontraímos e conversamos um pouco, porque comida é algo que todos falamos, todos gostamos. Acabamos decidindo comer um lanche no McDonnald’s, eu pedi um McChiquen e ele pediu um Angus Bacon. Quando eu vi o tamanho do lanche dele logo falei:
- Nossa e vai caber tudo isso ai dentro?
- hahahaha to com muita fome - ele respondeu.
- Ta bom né, bom apetite.
- Bom apetite pra você também.
No fim das contas ele comeu todo o lanche dele, e eu acabei deixando um pouco do meu, porque pedi batata grande. Ele não fez cerimônia nenhuma para comer o resto do meu lanche também. Acho que se fosse outra pessoa eu acharia estranho, mas como era ele eu achei super fofo.
- Nossa, cabe muita comida mesmo ai dentro - eu disse.
- Você nem faz ideia - ele respondeu.
Depois disso nós enrolamos um pouco mais lá no Mc antes de sair, quando voltamos para a estação ela já estava bem mais vazia. Então nós pegamos o metrô, era uma viagem de três estações até a casa do Alisson, eu descia uma estação depois da dele. Mas quando entramos no vagão, sentamos um do lado do outro em um banco vazio. O silencio tomou conta, por dentro eu não parava de pensar no porquê de ele não ter negado que nós éramos um casal, isso não saia da minha cabeça, eu não parava de pensar nele e sabia que se eu não tirasse essa história a limpo minhas duvidas iam me deixar louco e talvez alimentar ainda mais essa paixonite, então eu respirei fundo e o chamei, quando ele se virou eu olhei nos seus olhos e disse com uma voz fria:
- Alisson
- Eu não disse nada pro carinha porque eu não tenho problema com isso, não me senti ofendido por ele ter falado que a gente era um casal porque esse trabalho e passar a tarde vendo todos essas casos de ódio me fizeram ver que ser gay não é nenhuma ofensa, então naquela hora eu achei que não era necessário negar nada. Mesmo a gente não sendo namorado. Tendeu?
Eu nem tinha feito a pergunta, mas ele já tinha me dado a resposta, minha cabeça estava uma mistura de confusão e afeto. As palavras dele tinham sido tão bonitas que eu fiquei até sem resposta. Depois de um longo momento ele me perguntou:
- Você é gay, não é?
- Como você sabe? - respondi me sentindo ficar vermelho como um pimentão.
- Um dia na sua casa, seu celular tocou, era uma mensagem do Whatsapp, era de um Paulo com um coraçãozinho, ele é seu namorado?
- É Paolo, é meu ex namorado, ele mora lá em Campinas, então nós terminamos antes de eu vir pra cá. Mas não quero falar sobre isso.
- Uma pena pelo que aconteceu, se algum dia quiser conversar - ele disse dando um sorriso amigável.
- Ok, mas creio que você não vai poder ajudar muito com isso - respondi, nesse momento já nem estava mais constrangido de ele ter me descoberto. Eu não conseguia desgrudar os meus olhos dos dele.
- Será que não? - Perguntou ele correspondendo o meu olhar, depois eu vi seus olhos fecharem, seu rosto se aproximar do meu, seus lábios tocarem os meus.
A gente se beijou, foi muito bom e eu estava no céu, era diferente de tudo o que eu já tinha provado. Ele tinha uma pegada forte, mas um beijo calmo, comecei a passar minhas mãos pelos seus braços ele segurou minha cabeça por trás e apertou meu cabelo em sua mão. Nenhum de nós sequer ligou para as pessoas em volta. Mas quando o metrô anunciou a estação dele, ele simplesmente parou o beijo e me deu um selinho. Se levantou e saiu sem dizer nenhuma palavra. Eu o olhei da janela e ele também ficou me olhando com uma expressão séria, porém tranquila. Eu estava em festa por dentro, não sabia se era verdade ou um sonho.
Delícia. Estou amando.