As aventuras de Romildo - Aprendendo a viver na ci
As aventuras de Romildo – Aprendendo a viver na cidade grande Depois de sacolejarem por mais de quarenta e cinco horas pela precária e esburacada BR-101 num ônibus que saiu do Recife fedendo a desinfetante e que, durante o trajeto foi adquirindo a catinga de seus ocupantes, somado a novas borrifadas de desinfetante a cada parada do percurso, Romildo e a prima chegaram ao Terminal Rodoviário da Luz onde ficava, então, a principal rodoviária de São Paulo, descadeirados e amassados feito uva passa. Inicialmente, até que conseguissem uma ocupação que os sustentasse, ficaram hospedados na casa de uma amiga de Claudete dos tempos do curso normal, cujo metiê era o mesmo que Claudete exercia por vocação. Ou seja, era puta também. Ela morava numa república de moças no bairro do Bixiga. Seguindo as instruções anotadas numa cadernetinha de capa dura estampada com flores, onde Claudete havia anotado o endereço e as orientações para chegar à pensão, eles tomaram um ônibus nas proximidades da rodoviária. Pelas janelas do coletivo lotado de trabalhadores suados no final de tarde, Romildo observava a sequência de prédios que se perfilava ao longo do caminho. Estava tenso e, excitado ao mesmo tempo por pisar na cidade grande e não saber, exatamente, o que o aguardava. Embora Recife também fosse uma capital, Romildo percebeu que frente a São Paulo, não passava de uma cidade provinciana e folclórica que não havia conseguido se livrar daquele ranço colonial da época em que os portugueses se enfiaram em alguns embates com holandeses e franceses pelo domínio da Capitania de Pernambuco, antes dela ter sido comprada pela coroa portuguesa à Companhia das Índias Ocidentais. Distraído pelo movimento intenso do horário de pico e, pelas incertezas quanto ao futuro, Romildo nem reparou nos olhares pasmados que se fixavam sobre sua figura andrógina e, nem se deu conta de alguns malandros que se esfregavam na sua bunda arrebitada, enquanto o ônibus chacoalhava como uma coqueteleira entre freadas e arrancadas a cada parada do caminho. Já na primeira semana, Claudete conseguiu uma vaga como garçonete na mesma boate da ‘boca do luxo’ onde a amiga trabalhava. A amiga também se lembrou de ter visto, uns dias atrás, uma placa diante de um casarão antigo na Rua São Vicente, no Bixiga, a poucas quadras da república, oferecendo uma vaga de auxiliar de cozinha, e achou que talvez fosse uma oportunidade para Romildo. Pois ela não poderia arcar, por muito tempo, com os custos de manter dois desocupados em suas costas. Embora Romildo não tivesse grande afinidade com uma cozinha, tinha ajudado a mãe muitas vezes no preparo das refeições e, achou que valeria a pena tentar, se não para aprender algum ofício, ao menos algo para bancar suas despesas. Assim, no mesmo dia em que a amiga de Claudete lhe dera o endereço durante o café da manhã, ele se dirigiu até lá para ver se conseguia um emprego. Como todo o bairro do Bixiga, uma região decrépita e repleta de casarios antigos, quase todos transformados em cortiços, a população era formada majoritariamente por descendentes de italianos que se fixaram na zona urbana, depois de uma malograda tentativa de substituírem a mão-de-obra escrava das fazendas de café do interior paulista, onde a imperícia e o desconhecimento no cultivo da terra, aliado à falência dos fazendeiros, os fez migrar para os centros urbanos em décadas passadas. Depois de caminhar por alguns quarteirões entre ruas que fediam a alho frito e mijo, Romildo se viu diante de um casarão geminado de dois andares, arruinado pela ação do tempo, suspenso sobre um porão cuja ventilação se fazia através de janelas cercadas por grades de ferro dando diretamente para a rua. Além da placa anunciando a vaga, havia uma tabuleta onde se lia ‘Pensão para rapazes de fino trato’ escrita em tinta azul, já esmaecida pelo tempo, no assobradado que ficava à direita. Romildo bateu palmas diante do portão rebuscado de ferro enferrujado que separava a curta escada de acesso à entrada da casa de um jardinzinho capenga onde vicejavam algumas espadas-de-são-jorge, pés de arruda, marias-sem-vergonha e singônios entre uma forração de marantas. Uma mulher, bem passada dos sessenta, enfiou a cara através de uma das janelas com as gelosias abertas. - Eu gostaria de falar com alguém sobre a vaga anunciada na placa. – disse Romildo, com sua voz miada e o forte sotaque recifense. - É comigo mesmo. Avanti, andaimo a parlare! – berrou a mulher, sem nenhuma discrição e gesticulando como se estivesse se afogando. Margherita Imbrogliorella, matrona viúva e gorda, de banhas flácidas e caminhar de pata, a dona da pensão, era neta de descendentes italianos vindos da Calábria na primeira década de 1900 e, que infestaram a cidade com seus dialetos. Para manter o status de estrangeira, que não era, ou para não ser confundida no bairro com aquela gente da terra, ela fazia questão de manter um certo sotaque artificial e, usar algumas palavras do idioma natal de seus antepassados, embora não fosse versada no italiano e nem no português. Morava com o único filho, Gino, nos dois quartos mais ensolarados do sobrado. Um imprestável que perambulava pela casa sem nenhum objetivo definido e, que a mãe impulsionava a fazer os pequenos reparos que uma casa sempre requer e que, a falta de dinheiro a impedia de contratar por fora, embora o conserto sempre ficasse aquém das expectativas dela, com o mesmo aspecto estropiado do filho. Gino era um quarentão balofo e solteiro, que não prestava para nada a não ser, se empanzinar com a ‘comida da mama’, aquela gororoba que os descendentes começavam a propalar como sendo o suprassumo da gastronomia, tanto nas quermesses das diversas paróquias dos santos devotos de cada bairro, quanto nas centenas de cantinas que se espalhavam pela cidade. Margherita enviuvara a uns quinze anos, de um marido magricela de aspecto tísico, que durante quase toda sua vida trabalhou como operário numa das fábricas dos também imigrantes italianos, donos das Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo, quando o sobrenome já começava a ser sinônimo de prodigalidade, perdularismo, oportunismo e, por fim inadimplência. O marido morrera no chão da fábrica com a explosão de uma caldeira. Pelos embustes constantes nos seus registros de operário do esposo pouco, ou praticamente nada lhe caberia como indenização. Mas, Margherita não era mulher de se calar e assumir o infortúnio sozinha. Conseguiu contratar um daqueles advogados que pululavam feito moscas nas sobrelojas do bairro e que, a despeito de sua pouca aptidão, conseguiu que os empregadores do marido a indenizassem com a casa onde moravam e, uma parcela em dinheiro que o advogado logo tratou de abocanhar. Vendo-se sozinha com o filho parasita atrelado a suas tetas, resolvera alugar os inúmeros quartos desocupados do casarão, iniciando assim o negócio que os sustentava. Decidira-se pela pensão para rapazes, pois a presença e o convívio com o estrupício do filho, não atrairia pensionistas mulheres. Margherita era uma pessoa difícil, talvez por isso a placa com a vaga já estava a mais de um mês no portão. Os candidatos que se apresentavam já haviam trabalhado em alguma cozinha e traziam uma experiência que conflitava com aquela maneira rustica, quase nojenta que ela tinha de preparar as refeições dos pensionistas. E que, invariavelmente, era composta por massas, molhos a base de tomate, carne moída e berinjelas, um sortimento de fazer enojar qualquer cristão. O fedor daquela comida, preparada em quase todas as casas, permaneceria na memória de Romildo por muitos anos, não era a toa que o bairro inteiro catingasse a alho frito. Romildo vinha sem vícios, como um cabaço a ser tirado e, ela viu nele a oportunidade de dissipar suas manias, sem que houvesse contestações. Contratou-o por um salário de miséria, pensão completa e acomodação num quarto dividido com mais três hóspedes. Era tudo o que Romildo precisava naquele momento, embora as acomodações fossem mil vezes piores do que o quarto que partilhava com os irmãos na casa da vila militar. Em breve ele se daria conta de que aquele aconchego da casa paterna jamais voltaria a envolvê-lo. Era isso ou abdicar das suas necessidades carnais, e ele sabia que não dava para deixar de ser veado só porque as circunstâncias não eram favoráveis. Ele assimilou a viadice. E, de certo modo, contentou-se com seu primeiro emprego. No primeiro dia, depois de haver enfiado suas coisas no velho guarda-roupas que dividia com outro pensionista, dona Margherita despejou sobre ele toda a verve de condutas e restrições que deveriam ser seguidas à risca, pois só assim, segundo ela, era possível manter o reconhecimento de ‘fino trato’ que seu estabelecimento gozava. Nos quatro quartos que ela alugava se espalhavam dezesseis homens e rapazes, em sua maioria, também nordestinos, todos reles empregados. Aquela horda de homens circulando pela casa, disputando os dois banheiros colocados à disposição dos pensionistas e, aquele cheiro de cuecas usadas que impregnava os quartos fez a alegria de Romildo, e ele se sentiu em casa no meio daquele bando de remediados. Para faturar uns trocados a mais, ele pediu a dona Margherita que o deixasse comprar uma máquina de lavar roupas e, mediante uma porcentagem dos ganhos, pagaria as despesas com o aumento do consumo de energia elétrica que o novo eletrodoméstico acarretaria. Como, àquela altura da vida, dona Margherita não abria mais mão de nenhum centavo que lhe caísse nas mãos, aceitou a proposta. Em poucas semanas Romildo identificava as roupas pelo cheiro de seus donos, e sentia tesão ao fazê-lo. No lado esquerdo do casarão geminado, funcionava um dos inúmeros puteiros e repúblicas de travestis que se espalhavam pelo bairro, para desgosto de dona Margherita e deslumbramento de Romildo. Pode-se dizer que a culpa daquele prostíbulo existir, colado à sua casa, tenha sido obra de seu gênio aguerrido. Quando ela e o marido alugaram o sobrado, os vizinhos eram um casal de espanhóis e suas duas filhas, já mocinhas. O marido era representante comercial e quase nunca estava em casa, viajando pelo interior do estado. Voltava a cada três ou quatro semanas, por não mais do que dois ou três dias. No início, as duas vizinhas se davam bem. Bastava uma preparar um bolo, um antepasto, uns biscoitinhos que já se punha a chamar a outra sobre o muro dos fundos e trocar gentilezas. A personalidade fogosa da espanhola não se mostrou um empecilho para que as duas se tornassem amigas. Iam à feira semanal no bairro juntas e tentavam pechinchar com os feirantes usando suas atribuições femininas, que a espanhola tinha mais chamativas e, que tratava de não esconder, através de um decote generoso que permitia enxergar as tetas enormes quase sempre libertas de um sutiã. Margherita era mais pudica e guardava as suas mais comportadamente, não porque o desejasse, mas porque o marido a advertira a esconder aquele úbere adiposo e murcho, resultado de sua insistência em amamentar o filho até os quatro anos de idade. Desde que o marido plantara seu sêmen nas entranhas dela e, ela começara a dar forma ao parasita que se instalara em seu útero, lhe sugando todas as energias e sua viçosidade, Margherita não fazia mais do que engordar e, aos poucos, ir perdendo aquela silhueta curvilínea e sensual. Aos quilos que ganhou durante a gravidez, ano a ano se somavam mais alguns, fazendo com que o varapau do marido fosse perdendo o interesse por aqueles montículos flácidos e arregaçados que se escondiam sob a densa cabeleira encarapinhada da sua região genital. Entre os amigos e, a quem quisesse ouvir, o infeliz dizia que o médico lhe estragara a mulher durante o parto, devolvendo-lhe uma boceta que mais se parecia com a entrada do túnel da Avenida Nove de Julho, numa referência ao túnel que passa sob a Avenida Paulista e muito conhecido pelos moradores do bairro. Aos poucos a amargura que se instalara em seu coração, foi se transformando numa antipatia pela espanhola, que rebolava as ancas e expunha os seios cobiçados pelos homens. Enquanto ela via os folguedos do leito nupcial irem rareando e, o marido, que nunca fora lá um macho com um desempenho prodigioso com seu pinto curvo parecendo um gancho, passar a usar um cacete de borracha para arrancar o gozo da parceira. A relação de amizade, que segundo os conhecedores, não existe entre duas mulheres, deteriorou-se de vez quando o marido ficava de converse com as filhas da vizinha, debulhando-se em frivolidades e se oferecendo para aquelas coisas dentro de casa para as quais as mulheres não levavam jeito e, para as quais um marido era de boa serventia. Da troca de quitutes sobre o muro que as separava, passaram a berrar impropérios capazes até de deixar encabulados os moleques malcriados da rua. Num domingo, enquanto Margherita, de avental molhado, grudada na beira do fogão, chamava pelo marido escafedido, Gino, na sua ingenuidade e pouca concepção intelectual, disse à mãe que o pai estava tomando uma cerveja com a espanhola no bar da esquina. Sem derramar sequer uma lágrima, Margherita armou-se de uma vassoura e, marchou rumo ao bar, descabelada, com a barriga molhada e uns chinelos folgados nos pés que tornavam seu andar ainda mais modorrento, disposta a dar cabo da rival. - Puttana, sgualdrina, squillo, meretrice! – berrava histérica ao adentrar o bar com a vassoura em punho, desfechando-a sobre o lombo da espanhola com a cólera avermelhada a lhe esbugalhar os olhos. – Voglio a te insegnare a bramare il uomo di una altra donna, prostituta, figlia di un cane i una cagna! – Derrubando-a e, se atirando sobre ela, enquanto enfiava as unhas na cara apavorada da desavergonhada, sob o olhar pasmado e a inércia dos clientes, que se divertiam com a visão das ceroulas enormes que cobriam aqueles traseiros fartos e as pernas peludas que há muito não haviam sido depiladas. A fama que passou a rondar pelo bairro obrigou a espanhola a se mudar dali. Mas, como desforra, escolheu a dedo os interessados no imóvel que ela e o marido colocaram à venda. Concretizando-a com uma cafetina, puta aposentada pelas qualificações que o tempo se encarregara de lhe tirar e, que instalou naqueles cômodos desgastados pelo uso, mais um bordel no Bixiga. E assim, Margherita se viu obrigada a conviver com um prostíbulo contíguo à sua casa, assistindo, passivamente, aquele entra e sai de homens e, a ouvir de sua cozinha fétida, as orgias que se perpetravam do outro lado da parede. Aquela romaria na casa vizinha logo despertou a atenção de Romildo. Primeiro pelo afluxo de machos de todos os tipos e, segundo, pela maneira saciada com a qual eles deixavam o lugar, coçando os colhões esvaziados e satisfeitos como se houvessem participado de um banquete. Ele, então, amaldiçoava o dia em que o criador implantara entre suas pernas aquela merreca de protuberância fimosada, ao invés de um racho no meio de montículos de Vênus que ele, como a prima e aquelas mariposas ao lado, colocaria na praça para diversão da macharada. Os meses iam passando e Romildo havia se entrosado tão bem naquele ambiente que chegava a se sentir feliz. Saltitava pela pensão como uma libélula ululante, dava-se com todos os pensionistas, uns mais intimamente e outros menos, mas mesmo assim, suficientemente para que lhe apalpassem a bunda ou o encoxassem ao menor descuido. Nessas ocasiões ele apenas soltava risinhos maliciosos e costumava usar uma de suas frases clássicas, “você tem meia hora para tirar essa mão boba daí”, ou “para parar de esfregar esse pauzão duro no meu derrière, antes que eu grite para a dona Margherita, seu safado!” Essa conduta licenciosa foi a responsável pela perda de sua virgindade, logo depois de algumas semanas instalado na pensão. Não foi difícil para aqueles machos solitários, insaciados e experientes perceberem que, não obstante aquele comportamento libidinoso, Romildo era virgem, gostava de segurar uma benga e de fazer um boquete, mas sua perícia terminava ali. Embora seu cuzinho pestanejasse de tesão quando estava chupando uma rola, ele não sabia o que fazer para que o macho o enrabasse, aplacando aquela febre que se instalava em seu fiofó. Foi a amizade com as putas da parede ao lado que lhe deu confiança para expor seu desejo mais intimo e, elas solidárias, não se furtaram a lhe ensinar os truques e os cuidados higiênicos que precisava adotar para realizar suas fantasias. Depois disso, o brilho matreiro que seu olhar adquiriu, abriu o caminho para licenciosidade e ele resolveu dar o cu pela primeira vez. O escolhido foi um dos companheiros de quarto. Sempre assanhado, com o tesão aflorando na pele morena e, propalando suas proezas na cama, o alagoano que trabalhava como ajudante geral na construção civil, gostava de ver Romildo chupando seu caralho e, sonhava enfiá-lo naquela bundinha rechonchuda e branquinha. Nos fundos do terreno, depois de um quintal onde cresciam algumas couves e tomateiros, entremeados por temperos que dona Margherita utilizava na cozinha, sob a sombra de uma jabuticabeira, ficava uma edícula que abrigava um tanque e as máquinas de lavar roupas, um varal suspenso, e também servia como depósito para quinquilharias que se acumulavam pelos cantos. Era ali que Romildo, muitas vezes, com a desculpa de deixar as roupas de molho, se punha a mamar um cacete que estivesse a perigo e necessitando daquele prazer. O alagoano, Chico, não era nenhum Adônis, mas tinha os músculos definidos, um corpo ágil e um caralho reto e cabeçudo, além de um apetite carnal insaciável. Ele e Romildo já haviam se refugiado naquele espaço outras vezes, tarde da noite, para uns amassos, beijinhos e outras liberdades. Chico percebeu naquele dia que Romildo estava com mais tesão do que nunca. O viadinho, depois de lamber até a última gota de porra do seu pau, continuava a acariciar os pelos crespos que começavam um pouco ralos entre os mamilos e desciam se avolumando numa linha que percorria o meio de seu abdômen definido, indo se juntar aos densos pentelhos que forravam sua virilha. Ronronava e rebolava as nádegas que Chico apalpava com força entre suas mãos ásperas, demonstrando que desta vez só o leitinho morno que havia acabado de sorver não o tinha satisfeito. Chico então ergueu Romildo pela bunda e o fez enroscar as pernas ao redor de sua cintura. Com isso, o rego da bichinha se abriu, e ele conseguiu enfiar um dedo naquele cuzinho que piscava alucinadamente. Romildo, pendurado no pescoço do Chico, gemia e procurava a boca quente e úmida daquele macho. Beijaram-se cada vez mais tresloucadamente, enquanto o dedo do Chico sondava a elasticidade daquele cuzinho imaculado. Com um movimento bronco e impetuoso, Chico jogou as costas de Romildo contra a parede, prendendo-o com o seu corpo como se ele fosse uma lagartixa. Romildo sentiu o pinto do Chico cada vez mais duro, se insinuando em seu rego e, todo dengoso, começou a fazer cafuné na nuca do macho voraz. Chico tirou o dedo, que se movia em círculos dentro daquele buraquinho, e guiou seu falo babando e rijo contra a portinha de entrada do cuzinho esperançoso. Forçou a cabeça intumescida umas três vezes, sob os gemidos atemorizados de Romildo antes de enfiar obstinadamente seu cacete entre aquelas preguinhas apertadas. Quando a dor aguda e dilacerante começou a se espalhar por suas entranhas e, Romildo sentiu como se estivesse cagando para dentro, soltou um balido de agonia, enquanto seu corpo tremia sem controle. O alagoano tosco e, sem nenhuma sensibilidade, foi metendo seu instrumento guloso naquela maciez apertada e devoradora, excitado pelos gemidos atemorizados que Romildo emitia. Copulou feito um animal, procurando unicamente satisfazer sua sanha visceral. Mas, Romildo aguentou firme, sentia as estocadas brutais se sucedendo num ritmo crescente, arregaçando-o e, tão feliz por estar sentindo um macho pulsando no fundo de sua pelve, soltou uma porrinha inconsistente, num gozo que lambuzou sua barriga e se entranhou em seus pentelhos. Chico, por já ter gozado uma vez, demorou a sentir o cacete se avolumando e seus bagos se inflarem, enquanto se comprimiam contra a pele aveludada daquele cuzinho afoito. No entanto, essa demora, apenas lhe proporcionava uma delonga do prazer que experimentava, deixando o ar de seus arquejos escapulir entre os dentes cerrados. Quando a chapeleta começou a engrossar uma comichão desafogante começou a se espalhar ao longo do cacete, a porra percorreu sua uretra indo explodir em jatos tépidos e pegajosos dentro daquele casulo, Chico deixou que o gozo fluísse, como um mijo que alivia a bexiga cheia e dilatada. Romildo, com os olhos úmidos por ter, finalmente, provado daquele prazer sublime, colou seus lábios na boca do Chico e, deixou que ele também lhe penetrasse a língua promíscua e sôfrega saboreando a saliva máscula que escorria para sua boca. Ao querer vestir a cueca, Romildo sentiu um visgo morno e pegajoso escorrendo pela parte interna da coxa e, notou que estava sangrando. Chico olhou para aquele filete rubro que escoava impudente do rego da bichinha desassossegada e, a tomou em seus braços. - Num receie não! Já, já vai parar. É só teu cabacinho que eu acabei de tirar. – sussurrou orgulhoso e impávido, roçando os lábios na orelhinha macia de Romildo. Depois disso, bastava o olhar de Romildo encontrar o de Chico para que seu cuzinho começasse a se contorcer de desejo. Os dois trocavam risinhos furtivos toda vez que estavam próximos um do outro. E, como não poderia deixar de ser, Chico espalhou aos quatro ventos o júbilo que experimentara ao tirar o cabaço daquele moleque, deixando-o arregaçado e melado com sua virilidade. Em pouco mais de um mês, não havia pensionista que não tivesse atolado sua pica naquela grutinha apertada sedenta. Romildo se esbaldou naquela abundância de caralhos e, nas necessidades e esquisitices daqueles machos, começando a dominar a técnica de satisfazer as mais diversas taras. Inclusive Gino, que costumava ser mais lerdo e pegajoso do que uma lesma botou para fora das calças uma gambiarra de pica, procurando alivio para seus carecimentos. Ele abordou Romildo enquanto este estava na cozinha iniciando os preparativos para o almoço, enquanto a mãe estava na feira. Pegou o rapaz desprevenido, pela cintura, e o encoxou junto a pia. Romildo, como sempre, diante dessa situação, colocou-se nas pontas dos pés e começou a rebolar, esfregando a bunda que, propositalmente, arrebitava de encontro à virilha de seu algoz, implorando, sem convicção, para que o soltasse. Quando Gino arriou as calças de Romildo e as suas próprias, a cueca já exibia uma mancha úmida do pré-gozo que vazava de sua pica. O mais difícil para Romildo foi encontrar o pintinho que se escondia entre as banhas da barriga que se debruçava sobre os genitais e os pentelhos do Gino. A estrovenga não passava de um tubinho flácido coroado por uma cabecinha rosada, que mesmo transbordando de tesão não chegava a ser do tamanho de uma baga de pimenta. Enquanto Gino encoxava a bichinha contra a pia tentando enrabar aquele reguinho empinado, Romildo emitia um risinho assanhado e sentia aquela coisa fazendo cócegas nas suas preguinhas. Em pouco tempo, seu anelzinho estava todo molhado. Aos fedores da cozinha, misturou-se o cheiro de sexo e porra, que Gino gozou entre um urro que fez sacudir todas as suas gorduras. Aquelas coceguinhas mal haviam despertado o tesão de Romildo e, ele precisou ir ao banheiro, bater uma punheta para aliviar seus bagos. A rotatividade dos pensionistas era uma constante na vida daquele casarão. A troca de emprego ou a sua falta, as mudanças que a vida impõem às pessoas ou a mera descoberta de um lugar mais aprazível, fazia com que novos hóspedes chegassem de tempos em tempos. Foi numa mudança destas que apareceu o Jorge, um mineiro da zona da mata, de uns trinta anos, motoboy autônomo que fazia bicos em diversos lugares transportando qualquer tipo de bagulho, documentos e pizzas com sua Yamaha 125 AS3 vermelha, ano 1972. Ele era um tipo mais maduro do que a rapaziada que já morava na pensão, tinha um aspecto introspectivo e carrancudo, o que, aos olhos de Romildo, deixava-o com uma cara de mais machão. Nem é preciso dizer que Romildo sentia o peito palpitando toda vez que se aproximava do novo hóspede, especialmente, quando olhava para o meio de suas pernas e via o contorno daquele salame que se movia junto à coxa esquerda. Romildo logo tentou uma aproximação. Fez de tudo para que dona Margherita instalasse Jorge em seu quarto, sonhando com a oportunidade de ver aquele macho nu em pelo, e admirar seus predicados. Conseguiu seu objetivo, mas Jorge se mostrava arredio a cada abordagem de Romildo, mesmo que muito sutil e cautelosa. Como fazia com os outros pensionistas, ofereceu-se para lavar suas roupas, o que o homem aceitou pela praticidade, mais do que pela contrariedade de ver suas roupas nas mãos daquele afeminado. - Qual é a sua mermão? Tá me estranhando! Sai pra lá que meu negócio é mulher. – disse, exasperado, numa noite em que Romildo, intencionalmente, deu um esbarrão em Jorge, que saia do banheiro enrolado numa toalha. – Tá querendo levar umas porradas, tá? – ameaçou. - Porradas, não. Esporradas, sim! – exclamou Romildo, com um risinho sarcástico e uma empinada de bunda. - Cê tá me zoando, ó viadinho? Cê tá precisando levar um corretivo pra virar macho. – revidou zangado, agarrando Romildo pelo braço e cerrando o punho que ia desferir contra o rosto apavorado que o encarava, não fosse a intervenção dos dois outros ocupantes do quarto que adentravam a porta naquele instante. Apaziguado pelos companheiros, Jorge ficou ainda mais arredio depois do incidente, o que fez Romildo redobrar suas atenções para com ele. Achava lindo um machão daqueles, bravo e de pavio curto, que mostrava a todos a que veio a esse mundo, que não fosse espalhar suas sementes garantindo a perpetuação da espécie. Jorge nunca passava os finais de semana na pensão. Ia para a zona leste, na distante Itaquera, onde morava uma irmã e o cunhado. Circulavam rumores de que tinha uma namorada por aquelas bandas. Mesmo sem saber se essa namorada existia, Romildo morria de ciúmes dela. - Ele pode até comer a sua buceta, mas é aos meus cuidados que ele deixa essas cuecas cheirosas de macho viril. E é delas que vou cuidar com todo o carinho que ele não quer aceitar de mim. – disse Romildo, enfiando o rosto numas cuecas que segurava entre as mãos e falando consigo mesmo, sem perceber que Jorge havia retornado ao quarto para apanhar algo que havia esquecido, num sábado pela manhã, quando já se preparava para ir à casa da irmã. - Deu pra falar sozinho, viadinho? – a voz rouca que ecoava em suas costas o assustou de tal maneira que Romildo soltou um gritinho. - Eu não quis ... Por favor, não fique bravo, eu ... – ele gaguejava, esperando a fúria de Jorge se abater sobre sua pessoa, e começando a chorar antes mesmo de perceber qualquer intenção por parte dele. - Ela nunca quis fazer o que você se ofereceu para fazer. Disse que não era mulher para ficar lavando cueca de homem. – Jorge disse isso cabisbaixo, um pouco melancólico. - Desculpe a sinceridade, mas ela é burra e não sabe o que está perdendo por deixar de cuidar de seu macho. – retrucou Romildo, condoído com aquela expressão triste que se formou no rosto de Jorge. - Não vai cuidar mais. A vagaba me trocou por um cabo do exército. A filha da puta que se lasque, não estou nem aí. Mulher, querendo isso aqui, tem por aí aos montes! – exclamou, fechando a mão ao redor da pica. Romildo abriu um sorriso doce enquanto acariciava as cuecas que segurava entre as mãos. E, percebeu que aquele olhar duro que Jorge tinha para com ele, havia desaparecido. Esfuziante, Romildo saiu do quarto deixando Jorge acompanhar seu gingado com os olhos presos naquela bundinha que se espremia nas calças apertadas. Jorge soube poucos dias depois de sua chegada á pensão, que aquele cuzinho fazia a alegria daquele pessoal, que pouco tinha com o que se divertir e, menos ainda, quando se tratava de receber uma afeição verdadeira e sem compromisso, tão distante de suas casas e entes queridos. - Quer dar uma volta de moto depois do jantar? – disse Jorge, no final daquela tarde, no primeiro fim de semana que não foi até a casa da irmã. - Cê tá falando sério? Eu topo, que horas? – o coração de Romildo parecia querer saltar pela boca. - A hora que você quiser. É só me dizer. – retrucou Jorge, na esperança de ter seus culhões esvaziados depois de uma semana sem alívio. Romildo colocou-se nos trinques. Lavara toda sua intimidade e borrifara um perfume. Quando se sentou na garupa da motocicleta, Jorge sentiu o frescor daquela pele e fez com que Romildo enlaçasse os braços ao redor de sua cintura. - Segura firme e deixe o corpo solto acompanhando os meus movimentos. – sentenciou, antes de dar a partida e tomar o rumo do Parque do Ibirapuera. Não era preciso nem dizer, Romildo abraçou aquele tronco musculoso e se aconchegou a ele, sentindo o calor que emanava daquele macho. Era uma noite de primavera agradável e clara, distinguiam-se as estrelas e, a lua, em crescente, brilhava nítida no horizonte. Aos poucos, como quem não quer nada, Jorge foi levando uma das mãos de Romildo até pousa-la sobre seu saco, apertou a sua contra a dele, fazendo com que Romildo sentisse sua ereção. Romildo conhecia pouco a cidade, apesar dos meses que já vivia aqui e, muito menos, os redutos gays da cidade, fora um ou outro que as meninas do puteiro lhe haviam descrito. Jorge entrou num acesso ao lado do parque, cercado por uma vegetação fechada e árvores por todos os lados. Depois de uns metros no que parecia ser uma passagem estreita, abriu-se uma clareira que mais se parecia com um estacionamento, e onde, uma centena de homens e rapazes conversavam recostados aos carros. O lugar era parcamente iluminado e, entre a escuridão das árvores, Romildo conseguiu distinguir homens se abraçando e se beijando. Mais adiante, enfurnadas na escuridão, algumas silhuetas indistintas pareciam estar engatadas transando calmamente até se saciarem. Romildo descobriu que aquele era o autorama e, teve a certeza de que deixar a antiquada Recife foi um acerto. Jorge comprou umas cervejas e começou a flertar com Romildo, que encantado com aquele passeio, descambou a tagarelar feito uma galinha poedeira. Longe de se aborrecer com aquele papo, Jorge se divertia com a eloquência do moleque e, sabia que atear fogo aquele entusiasmo seria mais do que gratificante. Bastou enleá-lo pela cintura e o trazer para junto de si, ir tocando de mansinho os lábios úmidos na boca trêmula de Romildo para conseguir sua atenção. Romildo colocou-lhe a mão macia debaixo da camiseta e deixou correr os dedos finos entre os pelos de seu peito, o que bastou para Jorge sentir o pau endurecendo dentro das calças. Aproximou-se para cheirá-lo. - Adoro esse seu cheiro almiscarado! – exclamou Romildo, num sussurro. – Você é lindo aqui em baixo, vigoroso como um garanhão. – emendou, roçando os lábios no pescoço do Jorge. - E você, quer ser a minha eguinha essa noite? – balbuciou Jorge, sentindo seu corpo se retesar de tesão. - É o que mais quero nesse mundo. – sentenciou Romildo, ciente de que havia conquistado aquele macho arredio. Jorge levou Romildo para o abrigo da penumbra entre as árvores, e voltou a beijar, insistentemente, aqueles lábios polpudos e quentes. Surpreendeu-se ao perceber o quão saborosos e sensuais podiam ser os beijos trocados com outro homem, e aquilo fazia o tesão que estava sentindo se espalhar por todo seu corpo. A rola dura e presa dentro da calça o incomodava, ansiosa por sentir o toque suave daquelas mãos que voltaram a deslizar pelo seu peito. - Quero sentir a doçura dos teus lábios na minha benga. – gemeu Jorge, varado de desejo. Romildo abriu a braguilha e desabotoou o cós da calça de Jorge enfiando a mão acalentadora entre as coxas dele. Apalpou o sacão pesado e macio, aninhando-o na palma da mão, enquanto as pontas dos dedos massageavam, delicadamente, cada colhão insuflado. Jorge gemia sob o efeito alucinógeno daquelas mãos hábeis. Percebendo que suas mãos estavam ficando molhadas, Romildo se ajoelhou diante das pernas abertas de Jorge e trouxe o cacetão para fora. Admirou a capacidade que aquela carne tinha de se transformar naquele tronco duro que ele mal conseguia mover e, mesmo no breu que os cercava, viu as veias sinuosas que circundavam a rola, totalmente dilatadas, e sentiu como o sangue que fervilhava dentro delas mantinha a benga pulsando em sua mão. Ele a acariciou e começou a beijá-la. Os beijos não passavam de um toque sutil e úmido sobre a carne quente, levando Jorge ao delírio. Quando enfiou a cabeça arroxeada e babando na boca, Jorge estremeceu e quase gozou na boca de Romildo. Ele precisou abstrair os pensamentos, fitando o céu estrelado, para não se furtar daquele prazer, tirou a pica da boca dele e respirou fundo, antes de devolvê-la aos cuidados daqueles lábios sagazes. Romildo se lambuzava com o pré-gozo abundante que a rola vertia, chupando, lambendo, brincando com a língua safada na glande molhada. Jorge enfiou os dedos entre os cabelos sedosos de Romildo prendendo sua cabeça diante de sua virilha, e passou a meter a pica na garganta dele, fodendo-a como se fosse uma vagina. Romildo respirava pelo nariz, afrouxando a musculatura da garganta e deixando que o cacete se atolasse na sua goela, sem esboçar uma reação contra os engulhos. Jorge viu os olhos úmidos de Romildo encarando-o com a mesma devoção que um fiel encara um santo, e encheu a boca dele de porra, num gozo prazeroso e demorado. Romildo engoliu cada jato daquele suco com um sabor que mesclava o de peixe e frutas maduras. - Caralho! Como você mama gostoso uma pica. – grunhiu Jorge, enquanto despejava sua gala naquela boca aveludada. - Nunca tinha provado um esperma tão saboroso. – elogiou Romildo, sabendo que isso manteria aquele macho aos seus pés. No início da madrugada, quando uma neblina fina começou a baixar sobre as copas das árvores, Jorge levou Romildo até um motel numa travessa da Rua Frei Caneca, pediu a chave de um quarto e, com um braço ao redor da cintura dele, guiou-o até os pés da cama onde começou a despir aquele corpinho frágil e perfumado. Lambeu e mordiscou os biquinhos salientes e rosados que afloravam dos mamilos gorduchinhos. Romildo tomou o rosto de Jorge entre as mãos, sentiu a barba hirsuta pinicar as palmas de suas mãos e deitou a cabeça dele em seu peito. Ao mesmo tempo foi abrindo as pernas até seus joelhos chegarem à altura dos ombros de Jorge. Abriu-se como uma flor abre suas pétalas para expor o pistilo. Trêmulo e ardendo de desejo, franqueou seu cuzinho, numa entrega que deixou Jorge tão alucinado que o caralho lhe doía de tão rijo. Jorge se ergueu um pouco e, firmando as pernas fletidas sobre a cama, guiou o cacete para o centro daquelas preguinhas que chegavam a formar um beiço que sugou seu caralho para dentro daquele abrigo úmido e quente. Jorge esfolou a arrombou o cu de Romildo, até que exaustos adormeceram abraçados e saciados. - Não quero mais saber de outros machos comendo esse cuzinho. Seu macho agora sou eu. E, esse anelzinho guloso é todinho e só meu, entendeu? – rosnou Jorge, apertando o queixo de Romildo entre os dedos. - Ai, bruto! Não precisa me machucar. Eu já entendi, meu amor. – suspirou Romildo, mentalizando uma figa, pois sabia que não conseguiria cumprir aquela promessa. - É só para não restar nenhuma dúvida. Leitinho agora, só dessa fonte! – exclamou, abrindo as pernas peludas e colocando a mão de Romildo sobre sua rola. Romildo passou a viver sob um encantamento. Aquele macho tão arisco com veados, se mostrava cada dia mais envolvido e até apaixonado. Trazia-lhe presentes, atendia a todos os seus caprichos, adulava-o a tal ponto que às vezes Romildo se encabulava com as demonstrações de apego que Jorge lhe manifestava. Quando algum outro pensionista tomava certas liberdades, chegava a protagonizar cenas de ciúmes. Apoderava-se dele uma fúria selvagem que Romildo aprendeu a temer, depois de assistir Jorge dando uma coça num desavisado que resolvera passar a mão em sua bunda oferecida. O fato ocorreu durante a tradicional festa de Nossa Senhora de Achiropita, a qual o pároco instigava as beatas e matronas do bairro, como dona Margherita a montar, para venderem suas gororobas, produzidas às toneladas num meio insalubre, visando rechear o cofre da paróquia. Romildo não conseguiu deixar de se sentir um troféu, vendo aqueles dois machos se socando por sua causa. Jamais ele se sentira tão disputado. Mas, ao voltarem para a pensão, Romildo sentiu a mão pesada de Jorge lhe aplicando a maior surra que já havia levado. Dona Margherita, alienada e distraída pelos elogios do padre, após a festa, surpreendeu-se com o estado em que Romildo acordou na manhã seguinte. - Minha nossa senhora! Valha-me Deus! O que foi que aconteceu com o seu rosto? – perguntou, espantada quando Romildo entrou na cozinha com a cara inchada e um olho roxo praticamente fechado pelo edema e hematoma que o cercavam. Como todos os presentes à quermesse souberam que havia acontecido uma briga, sem que os pormenores vazassem para além de uns poucos que presenciaram o início da discussão, dona Margherita achou que ele havia se envolvido na pancadaria. - Ai, dona Margherita. Esse brutos resolvem digladiar e eu que pago o pato. Só estava passando quando me acertaram nem sei de onde. – mentiu, omitindo o fato de ter levado uma surra em casa e do macho ciumento, pois se ela desconfiasse do que acontecia em seu estabelecimento ‘de fino trato’, os expulsaria sem remorsos. - Meu pobre menino! O mundo está cheio de cafajestes. Como tiveram coragem de fazer isso num rostinho tão lindo? Nem no quintal de Jesus esses bárbaros são capazes de se comportar. – sentenciou indignada e apiedada. Desde então, Romildo se cercava de toda a cautela antes de atender às premências e provocações libidinosas que os demais pensionistas lhe faziam. Esperava Jorge sair para o trabalho, ou certificava-se de que dormia a sono solto, antes que seguir para a edícula com algum macho carente. E, procurava camuflar as preguinhas rotas e sensíveis quando Jorge o enrabava, controlando como podia os gemidos de dor que os esfíncteres arrombados lhe provocavam. Pouco antes do final do ano, chegou à pensão um galeguinho vindo do sul. Fora transferido para uma agência, do banco onde trabalhava como escriturário, nas proximidades da Avenida Paulista. Era um rapaz tímido, de olhos muito azuis, que acentuavam seu brilho quando ele sorria, cativando seus interlocutores. Jorge agora sabia o potencial que podia estar escondido por trás de um rapaz tão frágil e discreto como aquele, e logo sua pica se alvoroçou com a possibilidade de ser acolhida por um serzinho tão mimoso. Romildo e ele não se bicaram desde o primeiro dia. Sob aquelas maneiras educadas, a fala pausada e masculina, os gestos tranquilos e recatados, Romildo farejou um rival. Os machos se interessavam mais por esse tipo do que pelos espevitados como ele. Era uma forma de manterem a distância da curiosidade alheia, as suas preferências sexuais. E, Jorge foi um dos que se rendeu aos encantos do novo pensionista. Romildo chorou, fez birra, acusava Jorge de não gostar mais dele e só ter olhos para o rapaz, tudo em vão. Enquanto Jorge rebatia cada uma das insinuações, Romildo sentia sua primeira paixão lhe escapando entre os dedos. Impotente e oprimido, fazia de tudo para tornar a vida do rapaz naquela pensão, um verdadeiro inferno. - Que modos são esses de tratar os meus inquilinos? Não quero saber de confusão no meu estabelecimento. O moço é tão educado! – dizia dona Margherita, toda vez que Romildo implicava com o rapaz. Jorge recomeçou a visitar a irmã com mais frequência nos finais de semana e não levava Romildo consigo. Alegava que a irmã estava com visitas e não podia hospedar tanta gente. Demorava a voltar do trabalho no final do dia, atribuindo os atrasos à necessidade de fazer serão, embora os dias quase sempre coincidissem com a volta retardada do escriturário. Na noite de Ano Novo a pensão estava em festa. Dona Margherita recebia alguns parentes e permitiu que os inquilinos trouxessem algum convidado para a ceia que havia preparado com a ajuda de Romildo. Depois da meia noite, quando o pipocar dos fogos comemorando a chegada do novo ano já havia cessado, Romildo deu pela falta de Jorge. Questionou a todos e ninguém sabia de seu paradeiro, nem o do escriturário. Enquanto alguns dos machos que frequentavam o cuzinho de Romildo se entreolhavam numa cumplicidade silenciosa, ele saiu à procura de seu homem. Vasculhou os quartos, entrou nos banheiros, caminhou até as esquinas das ruas próximas e, subitamente, lembrou-se da edícula. Correu de volta para casa e não viu luzes dentro do cubículo. Aproximou-se sorrateiro e flagrou Jorge entalado no rabo empinado do rapaz. Estava se preparando para armar o maior barraco, quando Jorge percebeu sua presença e tirou o cacete, ainda ejaculando, daquele cuzinho discreto. - Boquinha bem fechada e nada de escândalo! – exclamou ameaçador. – Vá me esperar lá na sala, junto com os outros. Daqui a pouco estou com você. – emendou, senhor da situação. - Como você pode fazer isso comigo? Você disse que me amava, e agora eu te pego enrabando esse enrustido safado. – balbuciava Romildo, enquanto as lágrimas rolavam de seu rosto. – E, se você pensa que pode roubar o meu homem de mim, sem que eu faça nada, pode esperar que eu vou estragar essa sua carinha de anjinho. – ameaçou, prestes a voar no pescoço do rapaz que subia as calças que estavam arriadas aos seus pés. - Você vai se comportar ou quer que eu te dê uma surra aqui mesmo? Já esqueceu a última? – vociferou Jorge. - Nojento! Você abusou do meu cuzinho e agora me trocou por esse galego aguado e sem graça. Você é meu! – revidou Romildo. Humilhado, Romildo precisou ceder. Era isso ou levar outra surra daquele macho. Ele enfiou o orgulho e a raiva entre as pernas, e fingiu que nada havia acontecido. No entanto, circulava em suas veias aquele sangue nordestino que não levava desaforo para casa. Minutos depois, sua cabeça fervilhava articulando uma vingança. Já era madrugada quando as pessoas ainda comemoravam e beliscavam a comida arrumada sobre uma mesa enfeitada na sala principal da pensão. Romildo foi até o quarto que compartilhava com Jorge e pegou todas as suas cuecas que encontrou no armário. Saiu de lá e, foi ao quarto do escriturário, recolhendo todas suas cuecas da gaveta da cômoda. Desceu até a cozinha e, na maior panela que encontrou, enfiou as cuecas, derramou óleo por cima e ateou fogo aos panos, criando uma labareda que atingiu o teto. O primeiro a se deparar com o fogo sobre o fogão foi o moloide do Gino, que assustado com aquele fogaréu, começou a berrar por ajuda. A pensão em peso, e mais os convidados, acorreu a cozinha. - Santa Maria, que este doido está querendo incendiar minha casa! – gritou desesperada dona Margherita, que precisou ser amparada para não sofrer uma sincope. Jorge arremeteu contra Romildo que começou a berrar feito um ensandecido. - Isso! Bate nesse corpinho que acolheu seu cacete em suas entranhas. Mostra para todo mundo que você é meu macho e pode me bater quanto quiser. Mas, não pense que eu vou deixar essa bicha tirar você de mim. – gritava, tentando se esquivar dos tabefes e socos que Jorge desferia. - Minha santíssima! O que esse maluco está dizendo? Isso aqui é uma casa de respeito. Alguém, por Deus, chame a polícia. – gritava dona Margherita, histérica. A confusão extravasava pelas janelas e ganhava a rua, atraindo uma radiopatrulha que vasculhava as ruas naquela noite de excessos e euforia. Meia hora depois, Romildo, com a cara inchada de tanto chorar e apanhar, Jorge, dona Margherita, Gino, o escriturário e, mais dois pensionistas estavam diante do delegado do distrito policial do bairro. A delegacia estava apinhada de gente e cada vez chegavam mais criminosos, bêbados, arruaceiros e toda sorte de delinquentes que a polícia recolhia das ruas e trazia frente à autoridade. O delegado era um homem baixinho e gordo, com as têmporas grisalhas e a cara suada. O colarinho parecia estar estrangulando o pescoço adiposo e, um terno mal-ajambrado, era visivelmente menor do que o tamanho necessário para acomodar aquele corpo roliço. Era um péssimo dia para estar de plantão. O trabalho era incessante naquela madrugada de Ano Novo. Entre as ocorrências que envolviam casos graves e sérios, iam aparecendo coisas descabidas como a que envolvia o pessoal da pensão. Dona Margherita já era velha conhecida no distrito. Frente a qualquer confusão, recorria à polícia. Talvez a falta de um macho em casa, que impusesse algum respeito, levava-a a procurar a autoridade policial. Enquanto a infeliz desenrolava a ladainha de seu infortúnio, o delegado bocejava, e o escrivão, que registrava a ocorrência, mais uns policiais civis, que se encontravam na sala, divertiam-se com a situação. - Atear fogo às cuecas do amante e do rival dentro de uma panela é novidade para mim. – sentenciou zombeteiro, um dos policiais. – A bichinha até que foi criativa! – emendou, levando os demais a caírem na risada. - E o que é que a senhora quer que eu faça dona Margherita? Que mande o viadinho aí, ressarcir as cuecas do amante e do rival? A senhora não acha que eu tenho coisas mais importantes para resolver? – esbravejou o delegado, mal contendo o riso. - Quero que coloque esses desordeiros para fora da minha pensão! Meu estabelecimento é de ‘fino trato’, isso é uma desmoralização. Quem é que vai querer se instalar na minha pensão, se esta fama se espalhar pelo Bixiga? – protestava a descendente de calabreses. - A polícia não tem nada haver com a senhora e seus inquilinos! Tratem de resolver a questão entre vocês mesmos. E, digo mais, quero todos fora daqui antes que eu resolva hospedá-los no meu estabelecimento por alguns dias. - Uma cidadã honesta e que paga seus impostos jamais deveria ser tratada assim. – resmungou dona Margherita, mas atendeu à solicitação do delegado, antes que as coisas piorassem. O dia já raiava quando voltaram à pensão, esbravejando, insultando-se mutuamente e frustrados com o resultado de tanta confusão. - Quero que deixem minha casa hoje mesmo! – sentenciou a italiana. – Os três! Não vou conviver com essa pouca vergonha debaixo das minhas fuças! - Mas eu paguei pela hospedagem até o final do mês! – exclamou Jorge. – Quero receber os dias que não vou utilizar. - Digo o mesmo! – retrucou o escrivão. Romildo ainda não tinha processado a situação. Estava sem emprego e, na rua. Suas preocupações se concentravam no primeiro macho por quem tinha sentido alguma coisa mais do que a simples atração física. O que mais lhe doía era ver a frieza com a qual Jorge o tratava. Embora nunca tenha parado de queimar a rosca, assim que a oportunidade surgia, era dele que ele gostava. Choroso e desiludido, arrumou suas coisas e foi procurar a prima Claudete. Ela agora dividia um pequeno apartamento de dois quartos com uma amiga da boate onde trabalhava, e não estava nada mal na profissão que resolvera seguir. Ela havia de lhe dar guarida. - Homessa! Tu tá doido? Tacar fogo nas cuecas do macho. Tu tava mesmo pedindo por uma coça. – disse Claudete, sem deixar de rir, quando Romildo a pôs a par dos fatos. - E, o que é que tu queria que eu fizesse? Que deixasse o galego levar meu homi, numa boa? Eu não tenho sangue de barata não! – retrucou. Sobre uma mesinha ao lado do sofá havia um jornal remexido de três dias atrás. Romildo vasculhou os cadernos sem um interesse específico, fazia isso para ver se conseguia pegar no sono, uma vez que a noite anterior fora muito alvoroçada. Na penúltima página do caderno de classificados de emprego, encontrou um anúncio acanhado no canto inferior – BALCONISTA DE PADARIA Precisa-se de jovem (ambos os sexos) com alguma experiência em vendas diretas Salário a combinar – Romildo separou a página e assinalou o anúncio com uma caneta azul. - Vou até o endereço desse anúncio. Talvez consiga alguma coisa. – disse, na manhã seguinte, quando a prima e a amiga tomavam café na cozinha. - Esse jornal é velho. Pode ser que já tenham ocupado a vaga. – disse a prima. - É de poucos dias atrás. Acho que, com essas festas de final de ano, a vaga ainda não tenha sido preenchida. Mas, esse endereço é meio longe. Fica num bairro chamado Santo Amaro, é meio fuleiro, vá se preparando. – disse a amiga da prima. - Se bem que o pardieiro em que você morava também não era lá nenhuma grande coisa. – disse a prima. Romildo arriscou.
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