Irmão postiço – Parte I
Pela primeira vez em dezoito anos, ninguém me deu os parabéns pelo meu aniversário. Atribuí o esquecimento aos preparativos para a minha partida, embora, lá no fundo, soubesse que ninguém se lembrara da data. Tinha sido sempre a minha mãe que preparava as grandes festas comemorando mais um ano da minha vida. Era ela quem organizava tudo, desde os convites até a mais refinada das surpresas, que sempre me deixavam encantado com a data. Foi então que me dei conta de que nunca mais teria uma festa de aniversário, tão maravilhosa quanto as que ela promovia. Fazia dois meses que me despedi dela na borda de uma sepultura que talvez nunca mais fosse visitar. Estava passando o dia do meu aniversário dentro de um avião. Fui tirado dessas recordações pela mulher sentada ao meu lado no voo que seguia para Chicago.
- Você está bem? Está acontecendo alguma coisa com você? Sente-se mal? – perguntou preocupada ao ver que eu estava chorando. Nem eu mesmo tinha percebido que estava com o rosto coberto de lágrimas.
- Hã! Não, não. Estou bem, obrigado! – respondi, voltando dos meus devaneios e enxugando o rosto com as costas da mão. Ela ficou me encarando com cara de aflita por alguns minutos, cochichou com o homem ao seu lado, provavelmente o marido, algo que não consegui ouvir.
O comissário de bordo, que fixara seu olhar em mim desde o instante em que entrei no avião, se aproximou da minha poltrona com um sorriso gentil.
- O senhor está se sentindo bem? – a amabilidade na voz ia muito além daquela que lhe haviam ensinado a usar com os clientes da companhia. Ela tinha o tom da sinceridade embutida em cada palavra.
- Sim, estou! Grato. – respondi. Controle-se, Kurt, você está dando bandeira, pensei com meus botões.
Não fazia nem um mês que minha mãe havia falecido quando meus tios, os dois irmãos dela, vieram me comunicar a decisão da família, o que significava a inclusão de minha avó.
- Você vai completar dezoito anos daqui a algumas semanas, o que quer dizer que você é maior de idade. No entanto, concluímos que você é jovem demais para cuidar de sua própria vida e, principalmente, dos negócios. Por isso, resolvemos entrar em contato com o seu pai e, em conjunto, decidimos que seria melhor você ir morar com ele, até que seja um adulto capaz de enfrentar os desafios da vida por sua própria conta. – disse meu tio, durante um almoço que tinha sido arranjado exclusivamente para me fazer essa comunicação.
- Mas ele é praticamente um estranho para mim! A última vez que o vi eu tinha quanto, uns cinco anos, é isso? – retruquei, surpreso por estarem decidindo meu futuro sem ouvir a minha opinião.
- É seu pai! Está certo que vocês não se veem há algum tempo, mas isso não significa que ele também não esteja preocupado com o seu futuro! – exclamou o outro tio. Os argumentos para me convencer já tinham sido estudados e ensaiados à exaustão.
- Além disso, ele não mora no Brasil e tem outra família. – aleguei. – Como é que eu vou me encaixar na vida de pessoas que nem conheço?
- Na sua idade isso não é problema. Vocês jovens têm o poder de fazer amizade facilmente. Você vai ver que eles vão te receber muito bem. Você não deixa de ser um membro da família só por que viveu distante todos esses anos. – sentenciou minha avó que, indiscutivelmente, tinha sido orientada pelos meus tios a reforçar suas afirmações.
- Eu não sei não. Preciso pensar a respeito. Depois, estou às vésperas de ingressar numa faculdade. Uma mudança dessa envergadura ia atrasar minha vida. – mencionei.
- Não há o que pensar! Todas as providências para a sua mudança já foram tomadas, junto com seu pai. Você embarca para os Estados Unidos dentro de algumas semanas. Eles já esperam por você. – afirmou meu tio.
- Como assim? Ninguém me perguntou nada. Como podem tomar providências sem me avisar? E a nossa casa, quem vai cuidar dela? – eu estava entrando em pânico.
- Isso também já foi resolvido. Uma imobiliária vai se encarregar da venda e, o valor auferido, vai ser convertido em cotas de participação nas empresas da família em seu nome. O seu patrimônio está seguro, não se preocupe. Quando for mais velho poderá usá-lo como melhor achar. Mas, por hora, achamos que seria melhor dessa forma. – meus tios se revezavam na exposição lenta e cruel das piores notícias que eu já tinha recebido, após a morte da minha mãe.
- Vocês não tinham o direito de fazer isso sem me consultar! As empresas foram construídas pela mamãe com a parte da herança que o vovô deixou para ela. Vocês só passaram a fazer parte das empresas como funcionários depois que dilapidaram suas partes da herança. E, mais recentemente, como cotistas, quando resolveram espoliar a vovó, que nada entende de negócios. Quem construiu todo esse patrimônio que me pertence foi minha mãe, e eu não pretendo abrir mão dele em favor de nenhum de vocês. – eu estava tão revoltado que decidi jogar na cara deles a realidade nua e crua, como minha mãe certamente teria feito.
- Mocinho, maneire sua linguagem! Você mal saiu dos cueiros e não sabe nada da vida. É certo que sua mãe construiu esse patrimônio, mas nós a ajudamos muito depois que seu pai e ela se separaram. – defendeu-se meu tio.
- Isso é mentira! Mamãe herdou parte dos bens do vovô depois da separação do meu pai. Transformou aquela grana em tudo que está aí hoje. Ela os acolheu por um ato de generosidade, e por pena da situação financeira de vocês. Nenhum único clip que esteja dentro das empresas foi conquistado com alguma colaboração de vocês. Tudo é mérito exclusivo dela. E agora, vocês estão como urubus em cima da carniça. Eu não vou permitir que isso aconteça! – aquela energia que eu sempre tinha visto na postura da minha mãe estava brotando em mim com a mesma intensidade.
- Não diga bobagens! Você é um fedelho mimado que sempre viveu no bem bom. Não sabe nem cuidar de si, quanto mais das empresas. Vá virar homem, e depois, venha conversar conosco. – meu tio socou a mesa e seu rosto explodia de cólera.
- Você só pode se considerar emancipado quando fizer vinte e um anos! Pelos estatutos das empresas, você só terá direito a assumir o controle quando completar vinte e cinco. Portanto, até lá você está sob a tutela do seu pai. A discussão acaba aqui! – sentenciou meu outro tio, que queria parecer mais controlado, mas estava igualmente fora de si.
- Quanto vocês ofereceram ao meu pai para me acolher? Sim, pois isso só pode estar acontecendo por que ele está envolvido nessa falcatrua, nesse negócio sujo que vocês estão armando. – eu não tinha mais papas na língua. – Vou processar vocês e exigir que deixem imediatamente os negócios. Certamente tenho como comprar as míseras cotas a que vocês têm direito e tirá-los completamente de lá! – as longas conversas que sempre tive com a minha mãe, quando viajávamos em férias, ou quando eu simplesmente me deitava em seu colo diante da televisão ligada, me permitiam fazer essas afirmações sem nenhum blefe. Ela, sem que eu soubesse naqueles momentos, estava me preparando para assumir o controle de tudo que ela tinha construído. Isso estava mais claro e transparente para mim agora.
- Não me faça perder a paciência com você! Me respeite ou enfio a mão nessa sua cara atrevida! – ameaçou um dos meus tios, o que já tinha esmurrado a mesa. – Por quem você nos toma? Do jeito que você fala parece que somos bandidos! Eu não vou me deixar insultar! – emendou.
- Quem faltou com respeito aqui foram vocês! Não podiam ter armado isso nas minhas costas! – afirmei.
- Meus filhos, se vocês continuarem a agir dessa maneira, como pretendem trabalhar juntos? É preciso que vocês se acalmem e sejam razoáveis. Faça isso pela vovó, querido, fique com seu pai até estar apto a assumir o que é seu. – argumentou minha avó, vendo que a coisa tinha fugido do controle.
- Até lá não terá restado um centavo vovó! Você não enxerga isso? Eles gastaram tudo que herdaram do vovô. O que eles têm hoje foi o que você antecipou dividindo sua parte e o que a mamãe salvou para eles. – respondi, fazendo com que ela começasse a chorar.
A consulta aos advogados que cuidavam dos negócios nas empresas foi o golpe de misericórdia nas minhas intenções. Eles me disseram que eu não podia fazer nada no momento, mas que eles, por sua vez, também estavam de mãos e pés atados, pois minha mãe tinha incluído condições tanto no estatuto das empresas quanto em seu testamento, que os impedia de tirar um centavo que fosse do que me cabia. Isso não me tranquilizou. Lembrei-me do que um colega do colégio tinha me contado a respeito da herança que o avô tinha deixado para seu pai e de como os familiares conseguiram se apropriar de boa parte da fortuna. Meus tios não me inspiravam a menor confiança e, eu sabia que, o caráter deles era mais do que suspeito.
Logo após o sepultamento, minha avó tinha vindo morar comigo. Foi ela e o motorista que me levaram até o aeroporto. Nenhum dos meus tios, suas esposas ou qualquer um dos meus primos veio se despedir. Deviam estar comemorando minha partida. Estavam livres de mim.
O avião percorreu a pista encharcada do aeroporto O’Hare sob forte chuva quando pousou em Chicago. Consultei o relógio e vi que teria pouco mais de meia hora para pegar minha conexão até Fort Wayne, em Indiana, onde meu pai residia. Expressei minha apreensão com a perda da conexão ao comissário que tinha me abordado durante o início do voo. Ele se apressou a me desembarcar e emitiu uma solicitação para que me levassem o mais breve possível até a área de embarque do outro voo. Era um rapagão bonito, certamente alguns anos mais velho do que eu, mas seu interesse por mim ficou evidente desde o sorriso de ‘welcome’ quando passei por ele e, por outra comissária, na porta do avião. Num carrinho motorizado, que cruzou os saguões do aeroporto a toda velocidade, fui levado até o portão de embarque da conexão. Só voltei a pensar nele quando já estava sentado na poltrona, e a aeronave começava a taxear a pista. Lá fora a chuva continuava caindo impiedosamente, encobrindo a visão da torre de controle do aeroporto atrás de uma densa cortina d’água. Ele tinha alguns traços que me fizeram lembrar o Murilo, um colega do colégio com o qual perdi minha virgindade há pouco mais de um ano. Poucos meses depois de iniciar meu namoro, água com açúcar, com a Marcela. Os ombros largos e a barba de um ou dois dias por fazer, e que lhe davam uma aparência mais madura e máscula eram exatamente as mesmas. A voz grave e pausada também lembrava muito o Murilo, acho que foi por isso que logo me acalmei depois que ele me perguntou se eu estava me sentindo bem. Era o mesmo timbre que o Murilo tinha quando rosnava em meu ouvido que ele tinha gostado muito do que tínhamos acabado de fazer, muitas vezes, com a pica ainda encravada no meu cuzinho. Esses eram momentos tão prazerosos e felizes para mim que tinham a capacidade de afastar qualquer problema. Talvez por isso tenha me lembrado dele agora, quando parecia que eu estava prestes a enfrentar os maiores problemas que já tivera na vida.
Subitamente, me dei conta de que o Murilo e a Marcela começavam a fazer parte do que em breve seria um passado. Desta vez consegui reter a lágrima antes que alguém visse. O aperto que eu sentia no peito ao deixar para trás tantas pessoas e recordações, estava doendo mais do que eu tinha imaginado. Passei a quase uma hora de voo tendo flashbacks da minha vida e, constatei feliz, que em sua grande maioria eles eram de momentos felizes. Só os últimos é que tinham me feito conhecer a dor e a tristeza de forma mais intensa. Quando o chiado dos pneus tocando a pista me fez olhar pela janela do avião, os edifícios baixos que compunham o acanhado aeroporto de Allen County estavam sendo iluminados por um sol amarelado e fraco. O saguão de desembarque tinha pouco movimento, talvez por ser um domingo, e foi fácil resgatar minhas bagagens na esteira. Ao chegar ao saguão principal, de onde pendia uma réplica do primeiro avião pilotado pelos irmãos Wright, tive dúvida de que alguém estivesse esperando por mim.
Um casal, ambos por volta dos quarenta e poucos anos, começou a me observar detidamente e a acompanhar meu movimento pelo saguão quase vazio. Eu tinha recusado o jantar e o lanche servidos no voo que deixou São Paulo, e no curtíssimo voo de Chicago a Fort Wayne foram distribuídos apenas alguns snacks, pelos quais não me interessei, e agora estava com fome. Estava a caminho de uma coffee shop em cuja vitrine havia alguns lanches e salgados quando o casal me abordou.
- Você é o Kurt? – perguntou o homem, num português sofrível, e sem emoção alguma. Era meu pai.
- Yes! Arrie? – respondi.
- Eu esperava um garoto e me chega um rapagão como você! – exclamou em inglês, desta vez colocando um sorriso nos lábios.
- Arrie, ask him first if he speaks English. – censurou a mulher, dirigindo-se ao marido.
- Certainly, yes! – respondi, antes de ele se certificar de que eu os compreendia. Ela se mostrou surpresa e também esboçou um sorriso.
- Está com fome? Podemos passar num restaurante a caminho de casa, certamente haverá algo melhor do que aqui. – perguntou meu pai. Minha mente tinha guardado poucas imagens dele, e estava difícil de associá-las ao homem que estava diante de mim. Não fossem as evidências, eu não saberia que se tratava do meu pai.
Também estava difícil de assimilar a ideia de que agora eu tinha um pai, uma vez que cresci sem ter uma referência paterna. Sempre tínhamos sido só minha mãe e eu. E, o homem que estava diante de mim, também não tinha o perfil, do que eu imaginava e conheci, através dos pais dos meus amigos, de um pai. Era um completo estranho. Foi aí que percebi o quão complicado ia ser viver com aquelas pessoas. Nada nos unia além de um espermatozoide deixado, dezoito anos e nove meses atrás, na vagina da minha mãe, e um nome no meu registro de nascimento. Tive vontade de entrar no primeiro avião e voltar. Mas, voltar para onde, se tudo havia acabado? Tomei a firme resolução de engolir aquele nó que subia pela minha garganta e acompanhar aquelas pessoas para onde quer que fosse.
Falei pouco enquanto comia uma espécie de picadinho de carne de porco com vegetais grelhados, numa das poucas mesas ainda ocupadas no Tolon. Ia, basicamente, respondendo as perguntas que eles me faziam. Aos poucos os assuntos foram acabando e eu me dei por feliz por estar terminando meu prato. Podíamos sair dali e acabar com aquele embaraço.
Meia hora depois meu pai estacionava diante dos portões da garagem, que ficava nos fundos de uma ampla e boa casa assobradada, implantada na parte mais elevada de um terreno de aproximadamente quatro mil metros quadrados no bairro de Inverness Hills. Eles me mostraram a casa, depois de tirarmos minha bagagem do carro e a deixarmos na subida da escada. Arrie, meu pai, é o CEO numa empresa de informática e sua esposa, Maggie, é arquiteta e trabalha em casa, num escritório confortável que ocupa boa parte do porão da casa. Maggie conheceu meu pai depois que ele retornou aos Estados Unidos, após se divorciar da minha mãe. Ela também vinha de um casamento desfeito, do qual teve um filho, Deklan, atualmente com vinte e três anos. Meu pai e ela tiveram mais uma filha, Jodie, minha meia irmã, que havia completado quinze anos uma semana antes da minha chegada. Nenhum deles estava em casa, e a Maggie se confundiu um pouco para explicar suas ausências. Eu olhava a minha volta tentando encontrar uma referência qualquer que me fizesse ver aquilo tudo como um lar e uma família da qual eu também fizesse parte, mas não encontrei nada. Estava numa casa estranha, confortável sem dúvida, e com pessoas que não conhecia. Não me senti tão deslocado nem quando fiz um intercâmbio, três anos antes, com uma família francesa.
- Posso ir até o meu quarto? Eu gostaria de desfazer minhas malas e tomar um banho. – perguntei, depois que começaram a se formar silêncios incômodos na nossa conversa.
- É claro, Kurt! Vou acompanha-lo e ver se você precisa de mais alguma coisa. – respondeu a Maggie, subindo comigo até o quarto que haviam me designado.
O quarto era espaçoso, tinha seu próprio banheiro, e uma janela grande que dava para uma das laterais da casa. Dela avistavam-se três choupos enfileirados na divisa com o terreno da casa vizinha, cujas folhas amareladas nos avisavam que o inverno estava se aproximando. Reparei que tudo era novo, desde a mobília até a roupa de cama e toalhas, sinal de que tiveram tempo para preparar minha recepção. As caras de pau dos meus tios me vieram à mente, e eu não duvidei de que eles contataram meu pai mal minha mãe tinha sido sepultada. Senti raiva deles, e me perguntei até onde meu pai estava envolvido nessa história. Ele tinha um bom padrão de vida, mas estava longe de poder se equiparar com os bens que minha mãe havia auferido ao longo de sua carreira como empresária. Teria aceitado alguma contrapartida para receber um filho que deixou para trás aos cinco anos de vida? Eu não queria acreditar nisso. Minha mãe sempre me contou que ele não era uma pessoa ruim, que eles apenas não deram certo no casamento, e tinham decidido levar suas vidas adiante. Ele como é americano, voltou aos Estados Unidos alguns meses depois da separação. A última notícia que ela teve dele foi à de que tinha se casado novamente. Minha mãe sempre atribuiu a falta de contato à nova família que ele tinha construído por aqui. E, não questionou suas razões por não me procurar.
Assim que a Maggie me deixou, tranquei a porta do quarto e comecei a desfazer minhas malas. Entrei no chuveiro e depois me atirei sobre a cama dupla e mais macia do que a minha em São Paulo, apenas com a toalha presa na cintura. A tarde foi caindo, e cada vez menos claridade entrava pela janela, minhas pálpebras pareciam aquelas portas metálicas de enrolar, e começaram a descer diante dos meus olhos mais pesadas do que chumbo.
Acordei com as batidas na porta num quarto mergulhado na escuridão. Por instantes não sabia onde estava e saí tateando até encontrar o interruptor das luzes, perdi a toalha no caminho e quase abri a porta, nu em pelo.
- Kurt? Está tudo bem? Você quer descer para o jantar? Estamos te esperando! – a voz era do meu pai.
- Sim, tudo bem. Tirei um cochilo e já vou me vestir e descer. – respondi, sem destrancar a porta.
Encontrei-os sentados em frente ao balcão da cozinha, onde a Maggie havia disposto uma refeição informal, mas de um colorido apetitoso. Jantei com eles e depois fomos nos acomodar numa saleta onde crepitava o fogo acolhedor de uma lareira, só então percebi que estava com a pele toda arrepiada de frio. Embora fossem mais de dez e meia da noite, continuávamos apenas nós três tentando encontrar assuntos para um bate-papo. Do Deklan e da Jodie nem sinal, fiquei imaginando onde teriam ido se esconder para fugir do estranho que vinha perturbar suas vidas. Voltei a subir para o meu quarto pouco depois das onze da noite, quando já tinha desistido de esperar.
O sol ia se levantando devagar, uma parte de seus raios passava entre os três choupos e vinha iluminar a janela do meu quarto. Achei que fosse cedo, mas ao pegar o celular vi que passava das nove horas. Tinha dormido bastante e estava com a disposição renovada. Fiquei um pouco constrangido por descer tão tarde, não queria atrapalhar a rotina da casa mais do que a simples presença da minha pessoa já estava fazendo. Ouvi vozes vindas da cozinha enquanto descia as escadas, mas nenhuma delas era do meu pai ou da Maggie, embora fosse uma masculina e outra feminina.
- Good morning! – cumprimentei, interrompendo um bate-boca entre o Deklan e a Jodie, enquanto disputavam o restante do suco de laranja que estava numa jarra nas mãos da Jodie de onde o Deklan tentava arrancá-la.
- Hi! – respondeu a Jodie, no mesmo instante em que perdia a jarra para o Deklan. Ele não respondeu.
- Desculpem, dormi demais! – disse, não sabendo se continuava ali ou se os deixava continuar a discussão.
- Você é o filho do papai, não é? Como é mesmo o seu nome? – perguntou a Jodie, abrindo um sorriso na minha direção.
- Sim. É Kurt. – respondi, incomodado por estar ali em meio a uma cena tão familiar, mas que nada tinha haver comigo.
- Parece um nome alemão e não brasileiro. É de lá que você é, do Brasil, não é? – inquiriu curiosa.
- Sim, o nome é de origem alemã por que minha mãe era alemã. Eu nasci no Brasil, mas também tenho cidadania alemã. – esclareci.
- E agora você vai ter cidadania americana também? Que barato! Um cidadão do mundo. Nunca conheci ninguém com tantas nacionalidades. – disse ela brincando.
- Não sei. Ainda não falei com o Arrie a respeito disso. – respondi.
- Por que você chama o papai de Arrie? Você não quer que ele seja seu pai? – de repente ela assumiu uma cara séria.
- Não! Não é isso, eu ainda não me acostumei, só isso. – pensei comigo mesmo, como vou chamar de pai um sujeito que praticamente acabei de conhecer a poucas horas?
- Pare de falar sua matraca! Você está enchendo ele de perguntas, parece uma delegada de polícia! – sentenciou o Deklan.
- Fica quieto você! Não vê que estamos conversando, seu babaca! – revidou a Jodie.
- Você quer dizer que você está conversando, ele só está respondendo seu interrogatório. – retrucou o Deklan.
- Não liga para ele! É o cara mais chato que existe. – afirmou ela, voltando a sorrir para mim. – Você não vai se sentar e tomar café? – emendou.
- Sim, claro! – só então percebi que ainda estava na porta e nem tinha me aproximado deles.
- A mamãe foi visitar uma de suas obras, mas disse que é para você pegar o que quiser. Ela deve voltar na hora do almoço. – disse minha irmã. Era engraçado pensar que agora eu tinha irmãos. Sempre me incomodou ser filho único. Depois de assistir a briga deles por algo tão fútil, comecei a pensar que talvez não fosse tão ruim assim não ter irmãos.
- Ah! OK! – respondi. Ao olhar sobre o balcão onde eles faziam a refeição, percebi que não havia nada do que eu costumava comer no café da manhã. Fora a jarra de suco que agora estava vazia, havia uma caixa de cereais e duas embalagens vazias de iogurte.
- Você já perdeu uma aula! Não pense que vou levar você para escola. Trate de se virar! – repreendeu o Deklan.
- E você também está atrasado, de novo! Deixa o papai saber disso! Ele vai acabar tirando o carro de você. – revidou ela.
- Ele só vai saber se você der com a língua nos dentes! E se você fizer isso, já sabe o que te acontece. – ameaçou.
- Vá se ferrar! – retrucou ela, pegando uma mochila e indo em direção à porta. – Tchau Kurt! Depois a gente se fala. – acrescentou, batendo a porta.
- Essa garota é um saco! – rosnou o Deklan.
Fui até a geladeira e não encontrei nenhuma fruta, nem leite. Fiquei inibido em vasculhar os armários a procura de alguma coisa para comer. Acabei pegando o último iogurte na porta da geladeira.
- Posso pegar? É o último! – perguntei. Ele sacudiu os ombros como se isso pouco lhe importasse. Pegou a outra mochila que estava sobre uma cadeira e as chaves de um carro, saiu pela mesma porta que a Jodie, e logo escutei o ronco de um motor na garagem. Quando ele entrou na rua os pneus chiaram deixando um rastro azul acinzentado para trás.
O telefone tocou pouco depois do meio-dia. Era a Maggie avisando que não chegaria para o almoço, mas que eu pegasse alguma coisa no freezer e colocasse no micro-ondas. Ela estaria de volta assim que pudesse. Eu estava com fome e me lembrei de uma lanchonete que tinha visto ontem quando voltávamos do aeroporto. Certifiquei-me de que a casa estava trancada e saí pela mesma porta que a Jodie e o Deklan. Ela dava para a garagem, onde encontrei uma bicicleta atirada a um canto. Fui com ela até o Steak & Shake, que na verdade, era mais um lugar onde serviam fast-food. Almocei por lá, sem nenhuma pressa, curtia as pessoas que iam entrando e seu jeito. Embora eu já tivesse vindo aos Estados Unidos algumas vezes em férias com a minha mãe, eu precisava me ambientar. Então nada mais acertado do que seguir o ditado – When in Rome, do as the Romans do.
Antes de voltar para casa, dei umas voltas pelas ruas do bairro que, apesar de ser essencialmente residencial, tinha uma porção de lojinhas, cafés, um salão de boliche, shoppings e tudo que se precisasse. Ao passar diante da rampa de acesso à garagem da casa vizinha, quase fui atropelado por um Nissan Altima prata que desceu a rampa numa velocidade incrível cruzando a calçada como um foguete. Perdi o equilíbrio e acabei caindo. Um cara, talvez um pouco mais velho do que eu desceu do carro e veio me amparar. O garotão usava uma bermuda de onde emergiam duas pernas peludas e tão grossas como o tronco de uma árvore, uma camiseta agarrada aos bíceps e óculos escuros. A camiseta parecia daquelas que os times de esporte usam, mas eu não consegui identificar o esporte.
- Você se machucou? – perguntou afoito.
- A coxa e o cotovelo. – balbuciei, constatando que a coxa estava esfolada e sangrando e o cotovelo também.
- Me desculpe! – gaguejou o sujeito, tirando os óculos.
- Você é louco? Como pode entrar numa rua com essa velocidade, ainda mais cruzando a calçada? Parece que vai tirar o pai da força! – despejei enfezado.
- Tem razão, me desculpe! – voltou a dizer.
- Em vez de ficar aí feito um debilóide, vê se me ajuda a levantar! Estou todo ralado. Que saco!
- Ahã! Claro, vamos lá. Será que quebrou alguma coisa? – a fisionomia dele tomou ares de preocupação.
- Deixa de ser exagerado! Você não me atingiu com o carro, caso contrário estaria morto há essas horas, eu desviei tão rápido que perdi o equilíbrio. – retruquei.
Nisso uma mulher saiu da casa e veio correndo em nossa direção. Antes de abrir a boca ela deu um tapa nas costas do garotão, coisa que eu duvido que ele sentiu.
- Nós já não te avisamos que não é para descer essa rampa nessa velocidade? Só podia dar nisso! Anda, tira esse carro atravessado da rua! E vem me ajudar a leva-lo para dentro. – disse ela.
- Obrigado, não será preciso. Só esfolei um pouco. – agradeci.
- Nada disso! Nem pense em discutir comigo! Vamos limpar isso aí e ver o tamanho do estrago. – anunciou.
Depois de removido o sangue, pude ver que a coxa estava bastante esfolada e ardia feito brasa. A senhora era a mãe do garotão que descobri chamar-se Reuben, de tanto ela ralhar com ele por conta do acontecido. Ela não sabia o que fazer para se desculpar. Não me deixava ir embora, insistindo que eu esperasse até o final da tarde quando o marido que era médico voltava para casa. Depois, aventou a possibilidade de ligar para ele e me levar até o hospital onde ele trabalhava. Eu ia recusando cada uma das elucubrações dela.
- É só um ferimento superficial, não precisa se preocupar. – assegurei, o que a foi acalmando. Ela foi preparar um café na cozinha e deste não consegui me livrar.
- Você vai acabar perdendo seu compromisso! – exclamei para o Reuben, assim que ficamos a sós.
- Era só um treino entre amigos, não tem importância. – respondeu.
- Treino do que? – perguntei curioso.
- Rugby! Você gosta? – respondeu.
- Ah! Já vi pela TV, mas não conheço as regras e nem sei bem como funciona. – dava para entender de onde vinham tantos músculos e daquele tamanho.
- Vi quando você saiu da casa dos vizinhos, você mora lá? Nunca tinha te visto antes. – quis saber.
- Cheguei ontem. Acho que vou morar uns tempos por aqui. – respondi.
- Por quê? Você não é daqui? – inquiriu curioso.
Eu não queria entrar em detalhes, muito menos falar sobre ser um filho que tinha vindo morar com o pai depois de muitos anos. A mulher voltou com biscoitos e um canecão de chocolate, e não parou de me vigiar enquanto eu não terminei de engolir tudo aquilo. Aí começou o interrogatório por parte dela. Eu já estava me acostumando a esses interrogatórios e, sabia que ainda teria que passar por uma infinidade deles. Porém, também descobri que eles tinham se mudado do Canadá a cerca de um ano por conta do trabalho do médico e que não conheciam seus vizinhos, nunca tinham se falado. A partir daí, minha cautela ao responder as perguntas se redobrou. Pensei até que pudesse ter havido alguma rusga entre eles e eu acabava de me meter num vespeiro. Saí de lá já estava escuro, o marido tinha regressado e fez questão de me examinar. Vendo que se tratava de algo superficial me fez uma porção de recomendações quanto à limpeza das feridas e, me assegurou que em alguns dias eu estaria novinho em folha.
- Meu Deus, o que é isso na sua perna ... e o cotovelo, onde foi que você se machucou tanto? Parece que foi atropelado! – desesperou-se a Maggie quando me viu entrando pela cozinha. – Arrie! Venha cá, correndo!
- E fui! Mas não foi nada sério. – afirmei.
- O que foi isso? Por onde você andou? Estávamos te procurando!– perguntou meu pai, assim que ele e a Jodie chegaram à cozinha.
- Saí para almoçar e na volta caí da bicicleta! Eu estava na casa dos vizinhos aí do lado. Foram eles que fizeram os curativos. – esclareci.
- Nessa casa aqui do lado? Você foi lá? Você encontrou o carinha que mora lá? – quis saber a Jodie, numa agonia só.
- Não fique enchendo o saco dele, Jodie! Você não vê que ele está todo machucado? – recriminou a Maggie.
- Sim, foi ele quem quase me atropelou ao sair da garagem. – respondi.
- Por isso que eu falo para o Deklan, um dia acontece uma coisa dessas com ele também, pois desce essa rampa feito um raio. – afirmou meu pai.
Fiquei dando explicações até não querer mais. Tive que explicar porque não esquentei a comida congelada, conforme a Maggie tinha dito, o que gerou uma polêmica entre eles quanto a não fazer comida em casa. Receei estar começando a fazer aflorar uma porção de conflitos latentes que havia entre eles. Quando consegui ir para o meu quarto dei de cara com o Deklan no corredor de cima.
- Pelo visto você já está aprontando! – exclamou, ao me examinar de cima abaixo.
- Foi um acidente! – elucidei. O que dava a esse cara o direito de achar que eu era tão inconsequente quanto ele?
A conversa do jantar tratou apenas do meu acidente. Uma ou outra vez a Jodie me perguntava alguma coisa sobre o garoto do vizinho, e logo percebi que ela estava interessada nele. Fui para o quarto cedo, logo após o término do jantar, e não demorei a ouvir alguém batendo na porta. Era a Jodie. Ela queria que eu lhe contasse tudo a respeito do vizinho. Contei a ela o pouco que sabia, na verdade nada mais que o primeiro nome e o esporte que ele praticava. Mesmo com essa informação minguada ela se atirou nos meus braços e me deu uma porção de beijos.
- Você é o melhor irmão do mundo! – exclamou, antes de me deixar.
No dia seguinte a Maggie fez questão de ir ao supermercado e me levar com ela. Queria que eu escolhesse os itens de que gostava, apesar de eu insistir que não era necessário. Por fim, acabei comprando algumas verduras, frutas e outras coisas que possibilitassem preparar refeições frescas. Assegurei a ela que eu mesmo as faria, temendo empurrar um trabalho nas costas dela que, sabidamente, ela não gostava de fazer. Quando estávamos chegando em casa a vizinha veio ao nosso encontro. Perguntou se eu estava melhor, se sentia dores, e se desculpou mais um milhão de vezes pela atitude do filho.
- Maggie, esta é Mrs. Thompson! – disse, apresentando-as. – Foi ela e o senhor Thompson que me acudiram ontem.
- Olá! Lamento muito o que aconteceu ao seu filho, mas já estamos dando uma lição no meu filho pela irresponsabilidade. – disse a senhora Thompson, afiliando-me erroneamente à Maggie.
- Oi! O Kurt é meu enteado. Levamos um susto quando ele apareceu neste estado em casa. – esclareceu a Maggie.
- Meu marido quer examiná-lo novamente, para termos a certeza de que está tudo bem. Venha jantar conosco Kurt. Será um prazer tê-lo conosco.
- Não é preciso, eu estou ótimo. Agradeço a gentileza. – respondi.
- Se você não aparecer ele, com certeza, virá até aqui. Portanto, acho melhor estar lá. Jantamos as sete. Até mais tarde! – afirmou ela, não me dando chance de uma nova desculpa.
As sete em ponto eu apertei o botão da campainha diante da enorme porta de madeira ornada com incrustações de bronze, imediatamente soaram os acordes de Pour Elise de Beethoven do lado de dentro e, instantes depois, o Reuben estava abrindo a porta para mim.
- Nossa! Ficaram feios os seus machucados. Até parece que você andou disputando uma partida de rugby. Embora eu nunca tenha ficado nessas condições! – exclamou ele, tentando ser amistoso.
- Engraçadinho! Tudo culpa sua! – exclamei, sem mágoa, pois já tinha me conformado com o acidente.
- Eu sei, cara! Juro que estou arrependido! Você pelo visto não vai me perdoar nunca, não é? – questionou, frustrado por eu ainda me mostrar zangado com o ocorrido.
- Vamos esquecer isso de uma vez! Não quero ficar mais um jantar inteiro falando sobre uma simples queda de bicicleta. – disse, enquanto o pai dele vinha se juntar a nós.
- Entre, entre, Kurt! Está uma beleza isso aí, mas é assim mesmo, dois ou três dias depois é que surgem estes hematomas. – esclareceu, simpático.
Eu achava que esse compromisso ia ser uma tremenda maçada, mas tive uma noite ótima. Os Thompson eram extremamente gentis e carismáticos, nem senti as horas passarem. Me despedi deles com a promessa de avaliar o convite de passar o feriado de Ação de Graças em Québec, onde moravam os parentes que tinham deixado quando se mudaram para os Estados Unidos. A proposta surgiu depois que ficaram sabendo que eu falava francês, e que nunca tinha estado no Canadá. O Reuben desfez a primeira, e péssima, impressão que tive dele. Nessas poucas horas, eu soube que seríamos amigos. Ele era engraçado, falante, fazia piada de tudo, tirava uma com a minha cara por eu ser tão tímido, adorava uma sacanagem e, sem o menor constrangimento, disse que eu era gostoso demais para ser um homem.
- Se você fosse uma mulher com um corpão tão gostoso quanto o seu eu já tinha te dado uns amassos. – garantiu. Nem minhas contestações o impediram de manipular desavergonhadamente a enorme jeba alojada na bermuda. Depois dessas gracinhas dele, tive dificuldade de me concentrar noutra coisa que não fosse aquele volume sensual. Ele percebeu que eu não tinha ficado indiferente ao seu membro.
- Não conhecemos muito bem estes vizinhos, você fazer uma viagem destas com estranhos não me agrada muito. – afirmou meu pai, quando contei que tinham me convidado.
- Eles são pessoas bem legais! Seria uma oportunidade de eu conhecer um lugar novo. – argumentei. Não queria viajar sem o consentimento dele, embora a alegação dele de eu estar com estranhos, para mim soou como uma piada, pois ele e sua família estavam nas mesmas condições.
- Vou pensar a respeito. Ainda temos algumas semanas até lá. – sentenciou meu pai, como que querendo dar por encerrado aquele assunto.
Assim que o Reuben voltava da faculdade, ele me ligava no celular e inventava alguma coisa para fazermos. Tinha me garantido que ia me mostrar Fort Wayne de ponta a ponta, e me levar aos lugares que mais gostava. Em poucos dias eu e ele já tirávamos o sarro um do outro como se nos conhecêssemos desde a muito.
Voltei a falar da viagem para Québec no dia anterior ao que o senhor Thompson me avisara que ia comprar as passagens de avião. Percebi que meu pai cedeu mais pela dificuldade de me negar alguma coisa do que propriamente por concordar com aquela viagem.
- Eles me ofereceram as passagens. Também não terei que pagar pela hospedagem. E, o restante posso bancar com o meu dinheiro, o senhor não terá que custear nada. – afirmei.
- Não é isso! Como eu já disse, não temos intimidade com essas pessoas. – argumentou.
- Pois procurem conhecê-los! Garanto que são pessoas ótimas! Podem se tornar amigos. – afirmei.
- Aqui não é o Brasil, onde logo se faz um oba-oba com qualquer desconhecido. As pessoas são mais reservadas e menos vulgares. – disse ele.
- Eu sei! Mas eu não estou agindo vulgarmente só por que comecei uma amizade com o filho deles. Mamãe sempre foi muito seletiva em suas amizades e, foi isso que ela me ensinou. – respondi. Pensei comigo mesmo, você está longe de ser tão refinado quanto minha mãe, é só olhar para a família que construiu.
- Há mais uma coisa que quero conversar com você! – continuou ele. – Você vai viver dentro das nossas disponibilidades. Eu tenho uma situação financeira bastante confortável e que pode proporcionar tudo o que você necessita. Você não precisa bancar nada aqui dentro de casa, nem mesmo os seus gastos. A partir desta semana, vou depositar numa conta que abri em seu nome, uma quantia que é suficiente para as suas despesas. É assim que funcionam as coisas por aqui! – elucidou.
- Se você quer assim! Quando vim para cá meus tios já tinham arranjado de me mandar uma mesada, a que tenho direito por ser o legítimo dono de tudo em que eles estão enfiados. Eu garanto que é mais do que o suficiente para cobrir meus gastos. – afirmei. Eu não queria que aquele homem tivesse despesas comigo, pois não nutria o menor afeto por ele. Tinha a impressão de que ele assumiu a minha guarda, ou por uma questão de consciência, ou porque estava sendo regiamente recompensado por isso.
- Bem, você agora sabe como as coisas funcionam aqui dentro de casa. – concluiu. Percebi que ele ficou incomodado quando mencionei que não dependia dele, e que nem pretendia fazê-lo.
Um sobrinho dos Thompson veio nos buscar no aeroporto. Era Corbin, o primo mais velho do Reuben, e eu me perguntei se aquela estirpe de homens era a regra na família. O cara rivalizava na aparência, tanto em músculos quanto na beleza com o Reuben. Eu já estava acostumado com as sacanagens do Reuben, mas quando o Corbin apertou minha mão, num cumprimento demorado e intenso, praticamente me devorando com o olhar, me lembrei da fama dos franceses como conhecidos Casanovas. Acho que o Reuben deve ter falado com o primo a meu respeito, pois suspeitei da troca de olhares entre os dois.
Os Salvage moravam numa casa em estilo provençal em Limoilou cercada por gramados e plátanos, Henry Salvage era o irmão da mãe do Reuben, um empresário do ramo da construção civil. O casal tinha apenas os dois filhos Corbin e Marcel, com vinte e dois e dezenove anos respectivamente. Marcel era um pouco menos atirado que o irmão, mas tão lindo quanto. Por isso fiquei encabulado quando a mãe deles elogiou minha aparência com especial ênfase no meu rosto que ela definiu como ‘une face d’ange’. Imediatamente fiquei mais vermelho que um pimentão e, para tripudiar ainda mais, o Reuben acrescentou ‘avec une corps svelte d’un diablotin’. Fiz uma careta quando ele fez a observação o que acabou por fazer todo mundo rir. Um dos quartos de hóspedes ficava no sótão, e foi lá que o Reuben e eu fomos ajeitados.
- Hummmm.....o melhor quarto da casa para uma boa sacanagem, isolado e com estas camas largonas. Isso está me enchendo de maus pensamentos! – disse o Reuben, rindo e passando a mão na jeba.
- Você ficou bastante saliente assim que chegou aqui! Acho que os ares de Quebec estão cheios de uma droga ilusionista. Pode dar um tempo nessas suas observações engraçadinhas a meu respeito e tratar de se comportar. Nada dessa mão boba ficar pousando em mim como acontece lá na sua casa! Não vou engolir a desculpa de que foi sem querer, ouviu taradão? – protestei.
- Eu já te falei que esse teu corpão e, especialmente, essa bundinha arrebitada me deixam louco. Que culpa eu tenho? Só estou sendo sincero e aberto com você. – respondeu, gozando da minha cara.
- Larga mão de falar besteira! É por isso que você só pensa em sacanagem! – recriminei-o, jogando um travesseiro na direção dele, que foi agarrado no ar como se ele estivesse agarrando a bola de rugby.
- Essa noite promete! – rosnou ele, segurando o travesseiro nos braços e apertando-o contra o peito, antes de começar a beijá-lo como se tivesse uma garota nos braços.
A atitude dele gerou em mim certa expectativa, pois há tempos eu sentia tesão quando ele fazia suas brincadeiras cheias de volúpia comigo. Entrei na cama me recusando a ir para dele, onde por baixo do lençol ele manipulava a jeba e ficava me chamando, embora minha curiosidade e meu desejo fossem de mergulhar com tudo no meio daquelas coxonas musculosas. O Reuben mal esperou uma hora para vir se alojar comigo. Entrou na cama, sorrateiro e cheio de cuidados, como um ladrão invadindo uma residência, pensando que eu devia estar dormindo, mas a possibilidade de ser enrabado não me deixou conciliar o sono. Como eu estava deitado de lado, não demorei a sentir uma de suas pernas passando por cima das minhas e, sua virilha se encaixar na minha bunda. Furtivo e com a mansidão de um gato, suas mãos desceram a bermuda do meu pijama expondo meus glúteos. Instantes depois, senti a rola e os pentelhos roçando a pele das nádegas. Me arrepiei todo e ele deve ter sentido isso no contato com a minha pele.
- Está dormindo? – sussurrou no meu ouvido. O que me deixou ainda mais excitado.
- Estou! – brinquei, sem oferecer nenhuma resistência à sua investida.
- Não sabia que você dorme respondendo perguntas, e todo arrepiadinho, quando encostam na tua bundinha carnuda! – ele já arfava de desejo e se esfregava em mim.
- Para você ver como eu sou habilidoso! – respondi, deixando a pica se alojar no meu rego.
- Estou louco para conhecer cada uma das suas habilidades! – exclamou, me abraçando com mais força e me trazendo para junto dele. Eu gemi aumentando seu tesão.
O braço dele entrou por baixo da minha camiseta e ele beliscou um dos meus peitinhos. Empinei a bunda contra a pelve dele me encaixando mais. Ele começou a sussurrar uma porção de sacanagens no meu ouvido e finalizou expressando o desejo de me possuir. Eu franqueei o acesso dele ao meu pescoço, acariciei o bíceps do braço que me apertava os mamilos e ronronei como um gato se espreguiçando ao sol. Foi meu jeito de dizer que era o que eu mais queria naquele momento. Ele me virou de costas e me encarou com um sorriso matreiro e lascivo. Eu passei minhas mãos ao redor do pescoço troncudo dele e o puxei para junto de mim. Toquei meus lábios nos dele, uma, duas, três vezes, provocando-o e mostrando minha disponibilidade. Ele agarrou meu rosto com as duas mãos e me beijou intensamente, mordiscava meus lábios até eu gemer de dor, enfiava a língua na minha boca e me vasculhava tomado de desejo. À medida que eu sentia seu gosto mais atiçado ficava meu cuzinho. Aos poucos ele foi lambendo e mordiscando meu queixo, meu pescoço, descendo para os mamilos onde mordeu os biquinhos enrijecidos, mastigando e chupando meus mamilos. Eu me contorcia debaixo dele, sentindo a pica cada vez mais consistente resvalando nas minhas coxas. Voltei a acariciar os bíceps de ambos os braços, deslizando meus dedos sobre aquela massa dura como uma rocha.
- Nunca estive com um cara antes. Você me enfeitiçou naquele dia em que te atropelei. Fiquei encantado com a sua coxa e essa pele lisinha e branca que você tem, embora naquele dia ela estivesse toda machucada. Você é gostoso demais! – disse ele, numa voz tranquila e carregada de emoção.
- Você também é muito gostoso! Sou apaixonado por todos esses músculos, sabia? – confessei, acariciando devotadamente seus braços.
- Quero você! Todo, todinho! – exclamou, fungando meu pescoço.
- Vou adorar ser seu! – sussurrei, no exato momento em que ele se deitava sobre as costas e me carregava junto com ele.
Sentei-me sobre as coxas dele e comecei a deslizar os dedos entre os pelos do peito. Beijava-o, a todo instante, num ponto diferente daquele tórax largo, descendo provocadoramente até sua barriga. Ele se entregava e, ao mesmo tempo, aguçava sua curiosidade para ver até onde eu iria com aqueles beijos sensuais. Meu rosto se aproximava cada vez mais da virilha e da jeba endurecida dele. Senti a ansiedade dele para que eu pegasse aquela pica e começasse a brincar com ela. Mas eu me demorava, propositalmente, só para testar seu tesão. Ele acabou pegando a rola e a batia no meu rosto, louco para eu a abocanhar. Lambi meus lábios para atiça-lo, seu olhar fixo na minha boca só esperava pelo momento dela engolir seu cacete. Ele grunhiu quando pus a chapeleta babada de pré-gozo na boca e sorvi aquele sumo. Enquanto eu explorava com a língua aquela tora de carne enrijecida, ele se contorcia e gemia. Eu mal conseguia mover a rola de tão dura, no entanto, fui lambendo e mordiscando cada centímetro dela. Lambi e chupei o sacão com a mesma sutileza, engenhosidade e mistério de uma gueixa, o que deixou o Reuben fascinado e transbordando tesão. Com apenas uma de suas bolas na boca, fiz minha língua massageá-la até ouvir seus grunhidos desesperados. Meu rosto já estava todo lambuzado com o pré-gozo dele quando ele abriu minhas nádegas e começou a lamber meu cuzinho. Assim que a ponta da língua úmida e quente dele tocou minha rosca anal eu tive vontade de soltar um gritinho de prazer. Mas tive receio que me ouvissem e mordi o travesseiro. Quando ele parava a felação, meu cuzinho continuava a piscar de desejo, e ele metia o polegar no botãozinho rosado até me ouvir gemer. Aqueles espasmos abruptos que minha rosca anal dava ao sentir o dedo dele dentro de mim iam acalorando seu desejo. Ele ficou a imaginar sua pica sendo tragada pela minha musculatura anal com o mesmo ímpeto e voracidade e, isso o fez partir para a posse. Ele me cobriu como se eu fosse uma égua, lançando seu corpanzil sobre mim. Pincelou a rola no rego até encontrar a rosquinha assanhada e forçou uma, duas, três vezes ouvindo meus gemidos amedrontados, que só faziam excitá-lo. Meu cuzinho só conheceu uma rola, a do Murilo, meu colega do colégio. Tínhamos dezesseis anos e, a pica dele, embora tivesse me proporcionado o prazer do inusitado e me desvirginado, era a pica de um adolescente. Algo muito menos ostensivo e descomunal que a jeba do Reuben, um macho adulto no vigor e na cobiça de seus vinte e um anos.
- Prometa que não vai me machucar. – supliquei.
- Não me peça o impossível, tesudinho! Minha pica está latejando e me matando de vontade. – rosnou, soltando o ar entre os dentes cerrados.
- Ai Reuben! – gani, mordendo o travesseiro com todas as minhas forças, quando a cabeçorra entrou estourando meu cu.
Apesar da dor, empinei minha bunda contra a virilha dele e fiquei esperando agoniado o segundo golpe. Mas ele demorou a vir. O Reuben esperou minha musculatura anal relaxar, antes de continuar enfiando aquela jeba em mim. E, quando o fez, em estocadas intrépidas, eu me abria para ele e gania conformado com meu fado. O prazer era tão intenso quanto a dor, ambos se revezavam nos meus sentidos, e eu vivi a plenitude aquele momento com toda a intensidade do meu ser. O vaivém da rola no meu cuzinho apertado despertou os instintos primitivos e carnais do Reuben, que passou a me foder guiado apenas por eles. Ao constatar quanto prazer eu estava lhe proporcionando, não consegui conter as lágrimas. Ele abraçou meu tronco e grunhiu no meu ouvido.
- Nunca senti algo tão maravilhoso. Tesão, tesão do caralho!
Aquilo me fez gozar, ejaculando pela pica espremida contra a toalha que estava debaixo de mim, e pelo cu que experimentou algo parecido com uma câimbra, que premia o cacete dele dentro de mim. Senti a pica dele se avolumando nas minhas entranhas, o vaivém ganhando um compasso mais lento e truncado, as estocadas socando minha próstata e o cu se enchendo de seu gozo despejado em jatos. Todo meu corpo tremia, os músculos retesados por todo o coito voltavam a relaxar, e eu me entregava de corpo e alma a essa sensação gratificante. Ele arfava sobre mim e deixava seu cacete pulsar, feito um cabrito saltitante, naquele casulo morno que o acolhia.
A partir de então nossa amizade entrou num outro status. Não chegamos a falar abertamente, mas podia-se dizer que nos tornamos namorados. Ficávamos juntos por muito mais tempo. Começamos a fazer programas juntos. Trocávamos beijos e carícias a cada encontro, sempre muito discretos, no entanto, ousados e arrebatadores. Transávamos pelo menos duas a três vezes por semana, quando pouco e, para isso não faltava imaginação de como e onde. Na falta de algum lugar sossegado, nos amávamos no banco traseiro do carro dele, geralmente num local ermo onde os sons das nossas sensações libidinosas não podiam ser ouvidos.
Estava fazendo pouco mais de um ano desde a minha chegada aos Estados Unidos. Durante esse tempo todo, eu havia ingressado na faculdade de administração, ganhei um pouco de espaço dentro da família do meu pai, apesar de ínfimo, tinha conquistado o amor da Jodie, o que sempre me servia de alento quando as coisas pegavam, e tinha transformado minha relação com o Reuben em algo verdadeiro e consistente, embora soubesse que ele continuava a caçar garotas com um empenho de dar inveja a qualquer Don Juan. Mas isso, de alguma forma, não me desgastava e nem ao relacionamento que tínhamos construído. Era um fato que ele não me omitia. Eu lidava com isso como algo inerente à personalidade dele e ao seu projeto de vida futuro. Talvez porque eu não me sentisse completamente apaixonado por ele. Eu, sem dúvida, gostava muito dele, tinha um carinho todo especial por ele, senão não teria como manter relações sexuais com ele com tamanha intensidade, intimidade e permissividade. Era bom estar em seus braços, sentir seu tesão por mim ao menor estímulo visual do meu corpo, ou a qualquer brecha que eu dava para ele perceber que eu o achava um macho muito sedutor e desejado. Contudo, eu sabia que um dia nosso relacionamento seria apenas uma lembrança de duas pessoas que se encontraram, se sentiram atraídas um pelo outro, e se entregaram ao desfrute desinteressado desse desejo. Não haveria dramas ou ressentimentos quando chegasse a hora de dizer adeus, apenas o fim de um ciclo.
Nesse tempo todo, eu não havia feito nenhum progresso em relação ao Deklan. Éramos quase tão estranhos quanto no dia em que entrei naquela casa. Não me lembro de ter trocado mais do que uma dúzia de frases com ele em nossas conversas mais longas. Eu pouco sabia de seus interesses e do que se passava em sua cabeça, quais eram suas aspirações e, o que o movia. O que eu sabia, era que ele era bastante popular na faculdade e um dos destaques do time de futebol da universidade, pois ele recebia inúmeras ligações no celular e no telefone de casa. Viviam aparecendo uns colegas com os quais ele saía nos finais de semana e só regressava na manhã do dia seguinte, quando eu o ouvia entrando em seu quarto, que ficava vis-à-vis com o meu, no extremo mais curto do corredor em L onde ficavam os quartos na parte superior da casa. Também tinha presenciado algumas festinhas que ele promoveu quando meu pai e a Maggie viajavam, regadas a muita cerveja, música nas alturas, amigos alterados, garotas desfrutáveis, e uma casa que parecia ter enfrentado um furacão quando elas terminavam ao raiar do sol. Nunca fui convidado a participar, embora muitas vezes estivesse em meu quarto.
Eram cinco os amigos dele que mais o requisitavam e apareciam com frequência em casa, todos do time de futebol, e mastodontes tão grandes e musculosos quanto ele. Pelos palavrões e pelo que saía daquelas bocas percebia-se o pouco que tinham no cérebro, mas esse era outro grande chamariz de garotas. Como o Deklan e eu estudávamos na mesma universidade, eu costuma encontra-lo nos intervalos entre as aulas, no meio de rodinhas desses amigos. Houve apenas três situações nas quais o encontrei sem a companhia desses amigos, mas acompanhado de um carinha que, se muito, era um ano mais velho do que eu. Ele era um rapaz muito bonito, chamava bastante atenção sobre si, embora não se assemelhasse em nada com o tipo físico dos demais amigos do Deklan. Ao contrário, ele tinha muitas das características do meu biótipo, era alto, esguio, tinha um rosto angelical, um olhar submisso e astuto, e uma tranquilidade que contrastava com a impetuosidade do Deklan. A primeira vez que eu os vi juntos foi numa sessão de cinema onde o Reuben tinha me levado, numa sexta-feira à noite, para assistir a um filme policial. Eles não nos viram, foi o Reuben quem chamou minha atenção para a presença do Deklan, com quem ele não simpatizava nem um pouco. Os dois haviam chegado antes do que nós e tinham se sentado umas cinco fileiras a nossa frente. Eu tinha visto o rapaz algumas vezes pelo campus da universidade, e ele me pareceu um pouco tímido e retraído, nada haver com o tipo falastrão das outras amizades do Deklan. Eu me perguntei o que eles teriam em comum, pois no cinema ambos pareciam estar se entendendo muito bem. Da segunda vez que os encontrei, o Deklan tinha voltado para casa, pois tinha deixado os documentos de sua picape sobre o aparador do hall de entrada. Quando ele regressou à picape, vi que o rapaz estava no banco do carona e, da janela do meu quarto, embora sem um ângulo de vista favorável, podia jurar que ele o beijou no rosto, antes de partirem para um fim de semana no lago Michigan. E, a terceira vez onde os encontrei, foi um acaso. Eu precisava fazer uma apresentação no dia seguinte para a disciplina de teoria da administração, para isso tínhamos que fazer uma requisição dos equipamentos de audiovisual, que um técnico se encarregava de instalar no local onde seria a apresentação. Este departamento ficava no subsolo de um dos edifícios da universidade, num corredor onde havia outros departamentos de apoio aos estudantes, e algumas salas vazias. Por toda essa ala circulavam poucas pessoas e, em alguns horários, como naquele dia em que os encontrei, pouco depois do almoço, os corredores estavam desertos. O que primeiro chamou minha atenção foi uma voz alterada, que eu logo identifiquei com sendo a do Deklan, saindo de uma sala cuja porta tinha apenas uma fresta aberta. Eu demorei um pouco para perceber que o interlocutor era o rapaz, pois não conhecia sua voz, e tive que esperar um momento no qual ele passou pelo campo visual que a fresta me permitia enxergar. O Deklan berrava com ele, chegou a proferir alguns palavrões, ouvi-o chamando o rapaz de viado rameiro, depois ouvi o choro do rapaz e ele se desculpando pelo que tinha dito. E, numa voz aflita, pedindo para ele dizer que tudo aquilo não passava de uma alucinação, que ele estava tendo um pesadelo, e que, foi aí que fiquei mais espantado, ele não estava dando um fora no Deklan, que era mentira que ele tinha se apaixonado por outro cara. Dava para sentir na voz do Deklan a dor e o desespero de ter sido substituído por outro. Eu fiquei tão estarrecido que quase fui apanhado espionando quando o rapaz deixou a sala, enxugando o rosto e com a fisionomia de quem acabara de passar por uma dura prova, mas tinha resolvido uma questão que o atormentava.
O Deklan passou uma semana sem quase falar com ninguém. Mal respondia ao que lhe perguntavam em casa, e tratou a Jodie com mais rispidez que o usual. Comigo então, foi como se eu não existisse, não que isso fosse muito diferente do que sempre foi. Mesmo assim, eu me sensibilizei com seu sofrimento. Nunca tinha visto aquele durão e aparentemente tão insensível, tão abatido e desassossegado. Eu o via com o celular na mão tentando ligar inúmeras vezes para o rapaz e, quando ele não recebia nenhum retorno, dava um soco no primeiro objeto ao seu alcance, enquanto seu rosto era a imagem da pura frustração.
Continua ...