Antes de ler a história a seguir, leia o seguinte recado:
VOCÊ NUNCA VAI DESCOBRIR O QUE A TOALHA TÊM DE IMPORTANTE NESTA HISTÓRIA.
Ela está aí por causa de um conflito interno e, geralmente, os conflitos internos escapam. Mas, mesmo assim, ainda ficam vestígios.
A toalha é um vestígio. Nada mais do que pura ilusão.
1 - pesadelo
As vozes vieram de repente.
"Sai daqui, viado!".
"Aqui não é o seu lugar".
"Gay! Seu gay!
Olhei para trás e vi um grupo de adolescentes revoltados me xingando. Fechei o cenho e continuei andando. Ainda me xingavam, mas eu os ignorava.
"Isso, continua andando. Vai para longe daqui, seu gay desgraçado".
"Já vai dar o cú, não é, viado?".
Meus olhos se encheram de lágrimas. Mesmo longe, as vozes eram duras. Machucavam. Rasgavam minha alma.
Que droga de menino que eu sou, pensei.
Olhei para os dois lados da rua. Um carro vinha lentamente pela esquerda.
Mas, quanto mais se aproximava, mais era veloz.
Pensei na minha mãe. Pensei no meu pai. No meu irmão. No meu melhor amigo. E pensei no quanto essa decisão seria trágica.
Dolorida?
Hm.. Quem sabe?
Corri até o meio da rua.
O vento era forte. Balançava minhas roupas.
Olhei para cima. Respirei fundo.
Logo, logo estou aí, Senhor! Esta foi a última coisa que pensei antes de o carro derrapar e se chocar contra mim.
2 - toalha de rosto
"Ei, Pedro! O que houve?"
Abri os olhos e levantei o rosto. Tiago estava parado à porta do quarto, me olhando.
"Ah.. Desculpe. Eu estava com sono e vim aqui no seu quarto pra dar uma cochilada".
"É estranho, sabia?"
Sentei - me na cama.
"É, eu sei".
Estava atordoado por conta do pesadelo. O barulho de pessoas rindo e conversando no andar de baixo era alto. Aí me toquei que tinha dormido durante a festa de aniversário do Tiago.
"Vamos cantar o parabens agora. Você é o único que ainda não está lá embaixo".
"Desculpe por isso, Tiago"
Levantei - me e fui até ele.
"Tudo bem", ele disse me dando uns tapinhas nas costas "Mas vai lavar o rosto, porque sua cara está horrível".
Ri.
"Obrigado pelo aviso".
Fui ao banheiro e, parado em frente ao espelho, olhei para meu reflexo. Meu rosto estava realmente horrível. Muitas vezes acho que a sinceridade excessiva de Tiago é só uma brincadeira. Mas, daquela vez, a coisa era séria. Meu rosto estava realmente horrível.
Abri a torneira e o barulho da água caindo no ralo me fez lembrar do pesadelo.
"Seu gay desgraçado"
Enchi as mãos de água e lavei meu rosto. Olhei para meu rosto no espelho. Estava melhor. Mais vivo. Mas os olhos ainda carregavam as lembranças do pesadelo.
"Acho que preciso de tratamento".
Ao meu lado, no toalhete, estava a toalha de rosto do Tiago. Eu a conhecia bem, porque foi por causa dela que todo meu sofrimento começou.
Peguei - a com uma certa insegurança e enxuguei o rosto.
"É necessário que eu mije agora", disse alguém atrás da porta do banheiro. A voz e a maneira de falar pareciam ser as do pai do Tiago.
Rapidamente pendurei a toalha de volta no toalhete e abri a porta.
"Desculpe, sr. Alfredo. Já estava saindo".
"Uhum..."
Ele entrou sem falar mais nada. Fechou a porta na minha cara.
O Sr. Alfredo e eu não nos dávamos muito bem.
Tudo por causa daquela toalha.
Abandonei meus pensamentos e desci as escadas para cantar o parabéns.
Fiquei ao lado do Tiago. Ele sempre insistiu que eu ficasse perto dele durante seus momentos especiais.
Aquele momento era especial. Mas eu não sabia o quanto era especial. Achava que, para ele, todos os momentos eram especiais, porque ele vivia ao meu lado, e sempre me procurava quando não me via por perto.
"Acende essas velas aí. Eu quero comer bolo, mãe", disse ele.
"Meu querido Tiago parece muito feliz com a surpresa que a mamãe fez, não é?".
Tiago ignorou.
"Ei, Pedro. Você viu meu pai?"
"Ele está no banheiro", eu disse.
"No banheiro?".
"Sim".
Tiago saiu correndo da roda de pessoas que nos cercavam e sumiu nas escadas.
Fiquei sem entender.
Todos me olhavam sérios.
"Bruno, meu querido. O que aconteceu?", perguntou Solange, a mãe do Tiago.
"Foi procurar o pai, eu acho".
"Eu já volto, pessoal", ela disse e também saiu correndo, sumindo nas escadas.
Achei que também deveria ir. E fui.
Chegando ao corredor onde ficava o banheiro, encontrei o Tiago e a Solange sentados no chão de madeira, de cabeça baixa. Dentro do banheiro, ouviam - se murmúrios.
"O que... O que aconteceu?", perguntei com medo.
Entre fungos, Tiago disse:
"Meu pai ficou maluco, Pedro. Ele ficou maluco".
"Mas.. Mas o que aconteceu, Tiago?".
Ouve um silêncio momentâneo.
Tiago levantou a cabeça lentamente. Seus olhos estavam molhados. Sua boca tremia.
"Ele encontrou a toalha".
Claro. A toalha.
Como não tinha me tocado de que o pai do Tiago estava na festa? Poderia ter escondido a toalha. Mas me pergunto porque teriam deixado a toalha ali, sabendo que ela foi a causa de tanta destruição na minha vida e na vida do Tiago. Todos da família dele sabiam. Todos sabiam que Tiago tinha quase me matado com aquela toalha. A toalha era a prova do crime.
(Esta história continua..)
Gostei! Continue logo ok?
Tá muito bom cara, você escreve muito bem. Ansioso pra continuar lendo
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