Pela manhã, na escola, reparei que Pedro, meu melhor amigo, estava estranho. Seu semblante era de tristeza misturada com preocupação. Perguntei a ele o que tinha acontecido, mas ele se limitou a apenas balançar a cabeça e sair andando para o outro lado.
Comecei a ficar irritado com aquilo, pois tinha medo de ter feito alguma coisa errada.
Na última aula, que era Biologia, fiquei pensando no que eu havia feito durante a semana. Nada demais, tirando a quarta -feira, quando a namorada do Pedro me abraçou.
Pedro tinha ficado puto com aquilo. Ele era um cara ciumento. Mas eu não achava que o abraço seria algo tão desagradável a ponto de Pedro parar de falar comigo.
Havia alguma motivo para aquilo e eu queria saber qual era.
À noite, enquanto eu estava em casa fazendo tarefa, a chuva caía lá fora. Era um tempo muito bom, principalmente porque não chovia há meses.
Eu estava bem concentrado no meu dever, escrevendo aquela história para a redação, quando de repente o telefona tocou.
Levantei - me e fui atender.
--- Alô?
--- Bruno, sou eu, o Pedro. Venha à minha casa agora mesmo!
--- Pedro.. O que...
Mas ele já tinha desligado.
Minha certeza de que Pedro estava estranho se confirmou ainda mais. Ele corria perigo, ou alguma coisa assim.
Fui até o quarto, peguei meu guarda chuva e voltei para a sala.
"Seja lá o que for, eu preciso ajudar meu amigo", pensei momentaneamente, e atravessei correndo a porta de saída, abrindo o guarda chuva, o coração acelerado.
Eu corria agora debaixo daquela chuva forte, meus pés batendo no chão e espirrando água para todos os lados. Estou chegando aí, Pedro! As ruas eram escuras e o caminho até a casa de Pedro era um pouco longe. Mas eu não perdia as esperanças. Eu tinha um amigo pra salvar.
Cheguei à casa de Pedro completamente encharcado, apesar de ter levado guarda - chuva. Bati na porta umas três vezes e meu coração acelerou.
--- Pedro? Esta aí?
A porta se abriu e ali estava Pedro. Seus olhos estavam vermelhos e seu cabelo todo bagunçado. Parecia que ele tinha acabado de brigar feio com alguém.
--- O que aconteceu, Pedro? Estou preocupado com você.
--- Entre - disse Pedro.
Ele abriu espaço para mim e eu entrei, fechando o guarda - chuva.
--- Onde coloco isso? - perguntei.
--- Me dê - Pedro esticou o braço e eu o entreguei meu guarda -chuva. Ele o pendurou atrás da porta e pediu que eu me sentasse no sofá.
--- O que aconteceu com você, Pedro? Anda, me fale. Tô ficando irritado.
Pedro andava de um lado para outro à minha frente. Ele usava alguma perfume caro, que era cheiroso pra caralho, e aquele cheiro me deu vontade de.. Bem, continuando...
--- Eu não sei como te falar isso, Bruno - disse Pedro em tom preocupado - Acho que já devia ter me aberto com você há muito tempo.
--- Sei.. E então, o que aconteceu? Porra, Pedro. Fala logo!
Pedro sentou -se delicadamente ao meu lado no sofá e aproximou seu corpo do meu. O cheiro de perfume impregnou minhas narinas.
--- Você tá cheiroso - falei - O que houve?
--- A Aline terminou comigo - disse Pedro, e meu coração parou de bater por um momento.
Será que eu tinha sido o culpado para aquilo acontecer? Se Pedro mencionasse o abraço, eu estaria ferrado.
--- Na verdade - ele continuou - eu que terminei com ela.
Soltei um suspiro de alívio. Mas eu perguntei o que teria acontecido entre eles.
--- Bruno, eu.. Eu acho que não quero mais namorar garotas. Elas são tão superficiais.
Pedro chegou mais perto de mim e o cheiro de se perfume elevou - se ainda mais.
--- Eu entendo, Pedro - falei dando uma afastadinha pro lado - É realmente difícil encontrar uma garota Boa nesse mundo. Mas você não precisa parar de namorar.
--- Eu não vou parar de namorar, Bruno - a voz dele misturada com aquele cheiro forte de perfume dava ao ambiente uma sensação nostálgica e doce.
Olhei bem para Pedro e perguntei:
--- O que quer dizer?
--- Quero dizer que eu não parar de namorar, mas vou parar de namorar garotas.
--- Pedro...
Engoli em seco.
--- Bruno...
Ele foi chegando mais perto de mim, o cheiro de rosas e alecrim preenchendo o espaço entre nós.
--- Eu quero namorar com você, Bruno.
Engoli em seco mais uma vez. Meu coração acelerou. Que porra é essa que tá acontecendo??
--- Pedro, você está bem?
--- Me sinto bem somente com você - ele foi aproximando seu rosto do meu. Senti a respiração dele, abafada e quente.
Os lábios dele tocaram os meus.
Meu coração fez tum tum.
Deixei - me levar pela emoção e Pedro começou a me beijar.
Olhos fechados. Rosto a rosto.
Foi um beijo rápido.
Pedro afastou -se e olhou para mim.
Eu me levantei, fiquei de frente pra Pedro e voei para cima dele. Dei um soco bem na mandíbula dele, que balançou violentamente com o choque.
--- Seu desgraçado!!! O que está fazendo, filho da puta!!?
Dei mais alguns socos nele, na cabeça, na barriga, enquanto ele protegia-se com as mãos. Eu estava tão indignado com o que tinha acontecido!!
Saí correndo porta afora, agora correndo debaixo da chuva, sem guarda - chuva, chorando e gritando.
Pedro, seu idiota!! O que você fez??
Cheguei em casa e me lancei sobre o sofá, escondendo minha cabeça nos travesseiros, desejando que aquilo tudo tivesse sido apenas um pesadelo.
(Parte 2 em breve)