Um dia, na escola, nossa professora de Português pediu um trabalho diferente dos que geralmente pedia.
"O trabalho de vocês é conhecer o seu colega".
Ela escolheu a dedo os pares que iriam fazer o trabalho juntos. Eu queria ter ficado com Davi, que era meu melhor amigo, mas a professora apontou para o garoto que se sentava à minha frente e disse:
"Você. Vai fazer o trabalho com o Bruno".
"Quem é Bruno?", perguntou o garoto.
"O que está sentado atrás de você".
O garoto se virou e olhou para mim.
"Como é que nunca conversei com você?"
"Não sei", falei "Normalmente as pessoas não conversam muito comigo".
O garoto ficou muito sério.
"Bem.. teremos a semana toda para conversar. Prazer, meu nome é Márcio".
Sorri e falei:
"Prazer. Sou Bruno".
Ainda sério, o garoto revirou os olhos, como se dissesse: "Você acha que eu não sei disso?".
Então virou - se. A professora falava.
"Vou repetir só mais uma vez, ok, turma? Vocês têm essa semana para anotar tudo sobre o seu colega de trabalho. Depois escrevam um relatório que apresente a sua opinião a respeito do colega. Fiquem tranquilos, porque o seu colega não vai saber o que você escreveu. Isso se você não mostrá - lo antes de me entregar".
Houve uma pequena pausa.
"O trabalho vale um terço da nota do bimestre. Então, se vocês não fizerem, a probabilidade de não passar de ano é grande".
De repente senti uma mão tocar meu ombro. Pelo jeito como me tocava, eu sabia quem era. Virei - me e falei:
--- O que você quer, Diego?
--- Poxa, Bruno. Nós somos melhores amigos. Não poderia ter insistido com a professora para que fizéssemos o trabalho juntos? Tem que fazer com esse Zé Mané aí na frente?
--- Você sabe como a professora é, Diego. Ela expulsa os alunos chatos. Além disso, eu já sei bastante sobre você. Então o trabalho não teria graça. Melhor você continuar fazendo com a Maria.
O rosto de Diego ficou cadavérico. Ele estava chateado, eu o conhecia suficientemente bem para saber disso.
--- Tá bem, então - falou. E voltou a prestar a atenção a aula.
Quando me virei de volta, levei um susto.
--- Porra, que susto, Márcio! Porque está olhando pra mim?
--- Preciso saber detalhes do seu rosto. É pro trabalho, fique tranquilo.
--- Depois fazemos isso, Márcio. Agora é aula.
O sinal do intervalo bateu.
--- Não é mais - falou Márcio - Posso ficar olhando pra você o intervalo inteiro agora.
Timidamente, levantei - me e fiz de tudo pra não sorrir.
Márcio era um cara legal. Pena que tão chatinho.
Fui para o intervalo para me encontrar com Diego. E Márcio foi junto atrás de mim, me farejando.
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