O Filho da Patroa da Minha Mãe - O Vencedor - Capítulo 3

A princípio, senti grande incômodo com aquilo. Eu não era empregado dele, minha mãe que era, e ele sabia muito bem disso. Por outro lado, nunca o tinha visto falando assim com minha mãe ou qualquer dos outros empregados da casa. Parecia que usava comando de voz comigo. Ele dispensava certas cerimônias com que os patrões falam com seus empregados. Isso só podia indicar que eu era mais que um empregado pra ele, não muito mais, porém. Era um tipo de vassalo cuja relação com seu suserano era estabelecida em algo muito mais forte que meramente dinheiro.

“Tô com fome.” E eu com isso? Eu tinha tudo a ver com isso. Simplesmente, sentia como se atender às vontades de Maurício fosse como minha obrigação. Como se fosse o motivo de eu ter nascido. Nunca tinha sido diferente. Fui educado a ceder, a deixar por menos, a não reclamar sempre que o assunto era Maurício. Morando de favor na casa dele, ele sempre tinha razão, sua vontade sempre prevalecia.

Não posso dizer que eu não me senti até feliz quando fui à cozinha, onde ele já não estava mais, e comecei a preparar um sanduíche pra ele. Eu o veria de novo, assim que terminasse de montar seu lanche. Ia subir as escadas e entrar em seu quarto e não conseguia parar de criar esperanças de que sua “fome” era na verdade uma desculpa para me chamar ao seu quarto já que ele era orgulhoso demais pra fazer isso.

Pé ante pé, tremendo na escada, cuidando pra não entornar o suco de graviola, que até onde me lembro era seu favorito, e o corpo já quente de desejo mais uma vez.

Maurício estava no banheiro de seu quarto, mijando. Eu podia ouvir o barulho pesado do mijo batendo na água. Seu pau estava nu, logo ali ao lado. Se tinha deixado a porta aberta de propósito eu nunca saberia. Eu queria ver aquele pau, mais que ver, queria entrar naquele banheiro e cair de joelhos diante dele e engoli-lo para que Maurício tivesse prazer, sentir que gosto tinha seu mijo, mas não fiz isso. Com toda a força que pude exercer sobre mim mesmo não fui até lá. Fiquei em pé, imóvel, com a bandeja nas mãos.

“Trouxe um sanduíche com suco de graviola.” Eu disse tomando cuidado pra não gaguejar quando ele saiu do banheiro, usando não mais que um short de nylon branco. O cabelo estava molhado.

“Deixa ali em cima. Depois eu como.” Ele deitou e se cobriu.

“Tá.” Respondi a passos lentos em direção à porta, uma vez fora, já era. Enquanto estivesse ali dentro tinha ao menos esperança.

“Apaga a luz quando sair.”

Eu apaguei, puxei a porta e saí. Tinha acabado. Não imaginava Maurício abrindo a porta e me chamando de volta, muito menos descendo a escada ou indo até meu quarto. Fechei minha porta e soquei meu colchão querendo socar minha própria cara, mas não poderia estraga-la ou destruiria qualquer das mais remotas chances que eu pudesse ter com Maurício.

Soquei ainda mais a cama ao me dar conta do que me impedia de me socar. Como eu podia? Meu dia era Maurício, minha noite, os pensamentos, minha ações, tudo Maurício o tempo todo. Só tinha graça se tivesse ele, se ele existisse. Uma vida a esperar por ele, esperar que ele resolvesse estar a fim de se divertir com meu serviço. Exatamente como no mito do girassol, a pobre da Clítio no alto da pedra acompanhando Apolo no curso do carro do sol.

Mas devia andar saciado, ora. Lindo e rico como era, portas e pernas deviam estar sempre abertas pra ele. Podendo arcar com os melhores produtos, não ia mesmo precisar descer ao filho da doméstica, o que estava ali de bandeja, entregue fácil e desesperado por servir. Não ia ter graça nenhuma.

Eu estava fora pra Maurício. Não era parte do menu dos restaurantes que ele podia frequentar. Podia ter muito mais do que eu, gente muito melhor. Na savana, eu não era presa que ele olhasse. Um animal muito grande, não come animaizinhos. A não ser talvez em dias de muita fome. Maurício era leão grande e forte, comia do que bem quisesse. A fome dele era matéria que eu não alcançava, como na Carta de Amor.

“Abel.”

“Abel.”

Ao ver minha mãe entendi que já devia ser de manhã.

“Meu filho, o que tá acontecendo que você tá acordando tão tarde?”

“Eu tô vendo uma série nova que não me deixa dormir.” Sorri falso.

“Vem cá, o ano já virou. Você não vai ficar nessa de série a vida toda, vai?”

“Ai, mãe, tecnicamente, ainda tô de férias.”

“Quero ver até quando vão essas férias.” Mal levantei e ela já tinha forrado a minha cama daquele jeito de hotel que ela fazia em menos de cinco minutos. “Vai ter um jantar aí hoje e eu preciso          que você vá no mercado.”

“Por que a Sônia não vai ou manda o filho dela? Eu não sou empregado deles.” Normalmente, não demoro a perceber quando acordo de mau humor.

“Porque a Sônia mandou a empregada dela ir e a empregada dela é sua mãe e está te pedindo esse favor. Anda. Fiz torrada doce pra você.”

Parecia que minha mãe sabia que eu precisava daquilo. Começar o dia sentindo crosta de açúcar quebrando em meus dentes era coisa que me faria bem. E não faria mal sair daquela casa um pouco. Parar de imaginar possibilidades de aparição de Maurício. Sabe? Ter, na cabeça, um estúdio hollywoodiano de produções milhares a cada novo segundo... Maurício descia para tomar água, para passar a caminho da rua, pra me chamar pra fazer alguma coisa juntos... Pelo menos no mercado eu ia poder respirar disso.

Escovei meus dentes no nosso banheiro. Tínhamos um banheiro. Minha mãe e eu, e todos os outros empregados. Era uma areazinha a partir de um corredor que saía da cozinha. Havia ali três quartos. Os nossos e um outro que servia ao empregado que, por ventura, precisasse dormir na casa. Geralmente era Seu João, o motorista, quem ficava.

Quando cheguei à cozinha minha mãe estava passando manteiga numa fatia de pão de forma. Ué?! Já não tinha feito? Então vi Maurício, ele mesmo, sentado à mesa terminando uma torrada doce.

“Tô fazedo outra, Abel.” Minha mãe disse ligeira. “Maurício achou que não tinha dono.” E riu.

“Foi mal.” Ele olhou dentro dos meus olhos e crispou a boca pra mostrar arrependimento.

“Isso é o de menos.” Sustentei o olhar dele e não me reconheci, mas logo virei pra minha mãe: “Enquanto isso, eu vou me ajeitar pra ir no mercado, então.” E voltei pro meu quarto.

Me senti cansado de Maurício. Empanzinado do jeito dele. Cínico. Sempre superior... Mas me arrependi. Maurício estava sentando na cozinha e eu, ao invés de sentar e ficar ao lado de sua existência, me fiz de durão e indiferente. Que burro! Me troquei o mais rápido que pude. Ajeitei os cabelos com a mão e corri para a cozinha. Só minha mãe estava lá.

“Quis dar uma de forte, agora, aguenta.” Lembro de ter pensado. Aliás era o que eu sempre pensava toda vez em que tentava agir de forma a me fazer de indiferente a Maurício. Sempre me arrependia disso. Mesmo que soubesse que se tivesse feito diferente, que se tivesse permanecido na cozinha, por exemplo, nada teria mudado. Mas tinha alguma coisa na esperança que me seduzia. Claro, seduz a todos nós. E se eu não me mantivesse firme a esperar por ele até que ele me desse o não que punha fim a tudo, eu me sentia culpado por tentar ser forte quando muito obviamente eu não era.

“Que deu nesse garoto?” Minha mãe perguntou.

“O quê?”

“Fiz torrada pra vocês dois por muito tempo. A dele era sempre salgada.”

“Deve ter mudado de gosto, mãe. Já passou tanto tempo.” Engoli minha torrada, muito mais por educação do que por vontade. Acho que além de ter contribuído para o meu mau humor, a presença de Maurício exercia, acho que no meu subconsciente, uma ação moderadora de apetite. Eu não podia ficar gordo. Pelo mesmo motivo que não podia socar minha cara com raiva.

“Seu João vai te buscar em uma hora, tá?” Disse minha mãe me entregando a lista e o cartão de débito da Sônia que ficava com ela pras necessidades da casa.

Me senti, em parte, aliviado dentro do mercado. Não tinha Maurício, não tinha a possibilidade de topar com ele, nem dele aparecer e comer minha torrada doce. Só tinha eu, os produtos e aquele monte de gente desconhecida que não sabia que eu era o filho da empregada de ninguém. Peguei tudo da lista e fui para o caixa pensando no carinha que pesou os legumes. Quando me devolveu os últimos, deslizou sua mão pelo dorso da minha e me olhou nos olhos com um sorriso. Ele não era feio. Era novo e bem bonitinho até, mas ele não era Maurício.

Parei do lado de fora com as sacolas ainda dentro do carrinho onde Seu João sempre me pegava, mas não era ele quem tinha vindo me buscar. A não ser que eu muito me enganasse, coisa muito duvidosa nesse sentido, aquele era Maurício, em pé, fumando um cigarro, mais à frente no estacionamento.

Continua...


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Comentários


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oliveira956 Comentou em 14/01/2018

Aproveite que estão os dois sos e mate este filho da puta.




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Ficha do conto

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Nome do conto:
O Filho da Patroa da Minha Mãe - O Vencedor - Capítulo 3

Codigo do conto:
111624

Categoria:
Gays

Data da Publicação:
13/01/2018

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