Maurício parecia não ter sido programado pra reagir a atrevimentos meus. Parecia chocado, humilhado de me ver fazendo pouco caso pra algo que estava lhe consumindo.
Lembro que não gostei de vê-lo daquele modo. Seu olhar desconsertado diante dos escombros do que costumava ser seu altar. Respondi antes que tudo ruísse de vez, antes que até o entulho se tornasse pó.
“Você me destrói.”
Ele me olhou profundo nos olhos. Estava dentro de mim novo. Nunca o fizera fisicamente, mas estava dentro de mim de todas as outras maneiras em que era possível ter me invadido. Seus olhos não desconsertavam mais. Se mantinham. Eram firmes e altivos de novo. Donos.
“Comer minha torrada é o de menos porque você ignora a minha existência.”
“O que você espera de mim?” Soberbo e dono do mundo outra vez. Ali, Maurício de volta.
Eu esperava o mundo. Flores, sorrisos, abraços e os devaneios vivos, feitos em carne, fincados no meu ventre do avesso. Esperava tê-lo para mordê-lo de de baixo, arranhar-lhe as costas com minhas unhas pequenas ainda que ilegível enquanto dentro de mim. Lamber-lhe o sal do pescoço, esforçado dentro de mim, satisfazendo-se, tendo, ganhando, possuindo.
“Eu espero as suas vontades.” E sustentei o olhar que me desmanchava ali mesmo inteiro. Não haveria muitas vezes em que eu ia poder fazer isso.
“E o que você vai fazer com elas?”
“Só respondo se suas vontades, hoje, não tiverem nada a ver com ficar longe de mim.”
“Isso me cheira à sua vontade. Achei ter te ouvido dizer que esperava as minhas.” Bebeu da taça como se tivesse perdido o interesse em mim.
“E quais são elas?” Eu, tentando manter equilibrada a roda, mas eu já tinha dado muito e só havia espaço pra mim, por baixo.
“Elas vão ser as vontades que eu tiver e as que você vai ter pra fazer.”
“Com isso já estou acostumado.”
“Então, do que reclama?”
“Reclamo porque suas vontades não têm nada a ver comigo.”
Ele ficou calado. Os olhos frios congelando tudo por dentro de mim. De novo, eles faiscaram ao me ver indefeso e solícito.
“Faz o seguinte”, ele disse, levantando. “Dá um jeito nessa mesa, toma um banho e vai no meu quarto.” E saiu.
Meu corpo ficou logo quente. Quente de desejo e quente de humilhação, a cara pegando fogo. Como é que aquilo podia me excitar? Como é que eu podia gostar de receber comandos como se fosse uma máquina na qual um operador aperta um botão e só precisa assistir a execução da tarefa desejada? Como eu não sabia. Sabia que gostava e que queria.
Arrumei a mesa sentindo o peso da humilhação em cada item que retirei dela. O banho foi humilhante igual, até porque precisava me ver limpo de todo, limpo em tudo o que ele pudesse querer usar. Era a primeira vez que fazia aquilo e me senti realmente envergonhado de ter que lidar com a minha imundície, mas eu estava acostumado a descer por Maurício.
“Meus pés, de novo.”
Me ajoelhei sem questionar e tomei seu pé nas minhas mãos com carinho e devoção. Eram os pés dele e estavam sendo entregues aos meus cuidados de novo. Massageava o olhava nos olhos, submisso e obediente. Maurício começou a tocar o próprio pau, duro diante da minha humilhação.
“Cheira.” Hesitei. Embora eu quisesse era declaração muito séria de nenhuma vergonha na vida. “Anda. Você tá doido pra isso. Cheira meu pé.”
Maravilhoso <3
Gostei do seu conto espero ter mais a continuacao