"Susto?" Ela tentava parecer irritada, mas tava na cara que queria rir de mim. "Susto quem tá levando sou eu com a hora que o senhorito me aparece em casa." Não parecia mais querer rir.
"Mão são só uma e quarenta e", olhei rapidamente pro relógio redondo na parede, "sete. Nada de mais."
"Onde você tava até agora."
E a coisa toda se escreveu no meu rosto. Foi mais forte, ela me perguntou, eu pensei na resposta certa e ali estava ela, em letras garrafais na minha testa. Minha mãe, que sabia ler, assumiu postura de pedra, muda e de olhar fixo na criança que ela via ir embora, bem, pelo menos, pra ela, claro. Porque a criança que ele ainda via já tinha ido.
"Tudo bem?"
"Tudo."
"Ele forçou você?"
"Mãe! Não!"
"Usou preservativo?"
"Mã-ã-ãe! Pelo amor de Deus. Para." O olho dela me fuzilava. "Usei. Toma. Trouxe jiló pra você!"
Ele chegou mais perto e me abraçou. Tinha ar de uma tristeza que eu não sei explicar direito qual. Uma tristeza amorosa e já um saudosismo. Acho que algo desse tipo, assim.
"Tenho outra notícia."
"Vai casar." Ele riu.
"Não, mãe. Dá pra parar?"
"Anda. O que é?"
"Ainda não posso ter certeza, mas com os 912.57 pontos que eu fiz no Enem", parei pra saborear os efeitos dessas palavras no rosto dela, "acho que consigo passar pra Comunicação na UFRJ."
Ela pulou e gritou – em silêncio. Me abraçou e de novo e outra vez o tempo todo que não parava de me sacudir.
"Consegue acreditar? Menos de 1% faz mais de novecentos pontos, mãe." Os olhinhos dela brilhavam.
"Espera aqui."
Não demorou e ela voltou trazendo uma caixa do bombom fino que um amigo da casa, que arrastava uma asa pra ela, tinha lhe dado de presente no Natal. Eu vinha implorando um desses desde então, mas ela nem aí pra mim.
"Não creio." Eu ri agradecido pela festa que me minha mãe estava fazendo com a notícia.
"Ah, quer saber?! Se der caso, eu compro outra e boto no lugar."
"Do que tá falando?" Mas ela me mandou calar com um aceno e voltou do freezer com uma garrafa de champanhe das que Maurício vivia pedindo que se colocasse pra gelar.
"Mãe, isso é muito caro!"
"É o que tem aqui agora. Fazer o quê? Eu quero beber champanhe porque meu filho passou pra faculdade."
"Não passei ainda, mãe. Calma."
"Claro que passou! As faculdades vão brigar pelo meu filho de novecentos pontos." E fez uma dancinha eufórica.
Ela abriu a garrafa sem se dar ao luxo de estourar porque era tarde demais pro barulho todo.
"Ao meu futuro jornalista." Ela ergueu a taça ("Vamos beber na de cristal!") sem muita afetação, sincera e honrosamente, havia orgulho nos olhos molhados dela e de repente a impressão de bolo na garganta. "Que ele nunca precise fazer as mesmas escolhas que eu." Brindamos e bebemos.
Mal engolimos nossos goles e o dono da bebida entrou na cozinha com cara de sono.
"Opa." Ele disse muito sem graça. "Eu não sabia. Não vou demorar." E a empregada e o filho tomando seu champanhe caro de madrugada na cozinha de sua casa. Ainda com taças!, como se pobres, estivéssemos nos sentindo muito chiques com aquelas taças enquanto os patrões dormiam. Eu queria morrer! Me enfiar pelo ralo da pia e sumir.
<<< Este capítulo continua no blog Conto Sigiloso (o endereço se encontra no meu perfil aqui).>>>
Que pena, afimzaco. Realmente, uma pena. Minha intenção era só trazer as pessoas pra página que criei exclusivamente pra contar essa história. Não sei por onde entra, mas no pc, a lista dos capítulos fica bem a esquerda e no celular, basta tocar em "versão da web" pra visualizar os capítulos à esquerda, da mesma forma. Minha intenção não foi afastá-los, pelo contrário, foi trazer pra mais perto.
Como assim faltando pedaço, morsolix? Me diz aí.
Deixei de ler nos primeiros capítulos, nunca vi um conto começar em uma página e acabar em outra. Fora q c vai ler no blog e nunca acha.
To acompanhando no seu blog.Está otimo.Só que as vzs parece q fica faltando um pedaço.valeu.
Tá acompanhando no blog, ryanpet?
Posta mais parte hoje