“Meu amigo, vamos sofrer,
vamos beber, vamos ler jornal,
vamos dizer que a vida é ruim,
meu amigo, vamos sofrer.”
Me disse o outro ocupante do banco, o único amigo que eu tinha pra visitar.
Ele estava certo. Tirei da sacola a garrafa de catuaba que comprei num bar no caminho, servi dois copos e ofereci um ao meu camarada. Ele não tocou no copo. Ao invés disso, continuou tranquilo, muito quieto e pensativo, com os braços descansando sobre as pernas cruzadas.
Maurício não me amava. Eu podia inventar as mentiras que eu quisesse, podia dizer que o divórcio dos pais o tivesse mudado, que a criação na França, um outro povo, um cultura diferente, o tivesse tornado mais frio, até a morte do pai ou que se sentisse mal por ser um homem com sentimentos por outro homem... Eu podia inventar mil histórias, e inventava sempre, mas nenhuma delas servia pra esconder a verdade crua: Maurício não sentia nada por mim. Eu tinha sido, e só uma vez, a presa frágil e fácil que ele usara pra descobrir sua força e treinar suas habilidades pra usar com presas mais apetitosas.
Ele não me amava. E se as mentiras que eu me contava não serviam de nada, serviam ainda menos minhas tentativas de me fazer amado. Eu falo francês fluente. Estudei na expectativa de ir visita-lo lá e quando ficou claro que isso não aconteceria, continuei estudando porque talvez, assim, o impressionasse um pouco, conhecendo as bandas e filmes e tudo mais que ele pudesse estar conhecendo lá. Mal como porque sei que Maurício, do jeito que é, nem olharia pra mim se eu fosse gordo. Já nem olha, que diferença faz? Não tenho amigos porque canalizei toda minha energia, toda minha razão de ser em me tornar alguém de quem Maurício pudesse gostar e agora ele está de volta e tudo o que eu ganho é a maldita da indiferença.
“Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.”
Meu companheiro disse com sabedoria. Eu já terminava o quarto copo e o dele continuava lá.
“Mas ele não me dá amor nenhum. Nem de graça e nem comigo tentando de tudo, entende?”
“Amor é o que se aprende no limite,
depois de se arquivar toda a ciência
herdada, ouvida. Amor começa tarde.”
“É mesmo? Me diz você que é todo maduro aí e sábio, mas vive sozinho nesse banco.”
“Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.” Ele disse e riu.
“Você está enganado. O amor é a morte em pessoa.” Respondi carrancudo matando o último gole. Ele fez um aceno mostrando pouco caso ao que eu dissera.
“Meu amigo, vamos cantar,
vamos chorar de mansinho
e ouvir muita vitrola,
depois embriagados vamos
beber mais outros sequestros
depois vomitar e cair
e dormir.”
“Tem razão.” Eu me levantei. “E se não se importa vou pegar também este copo. Você não vai beber mesmo.”
Catei o meu lixo e também o copo que a boca de bronze de Carlos Drummond de Andrade jamais beberia.
Tomei um táxi pra voltar e paramos em um sinal bem a tempo de ver a apresentadora Eliana saindo de um restaurante com outras três pessoas.
Este capítulo continua no blog...
Amo demais <3
Oi. Não é possível deixar link no texto e acho que nem aqui nos comentários. O link está no meu perfil aqui. Só clicar em mim que vc vai ver em "minha página".
Queridao..... Mas qual é o endereço do blog ? Nao entendi nada agora .... Vc teria que postar pelo menos o profile direcionando .