Quando minha mãe voltou, a culpa foi tanta que eu não resisti. Fui ao escritório dela e, chorando contei tudo. Pedi desculpas, implorei seu perdão. Até sobre Olavo falei. Queria confessar e tentar tirar aquele peso da consciência.
Como resposta. Recebi um belo bofetão na cara. Minha mãe me xingou, me chamou de impuro. Disse que eu era como meu pai e só queria estragar o casamento dela. E ordenou que eu jamais contasse aquilo para ninguém . Ela sabia que era verdade. Eu sabia disso. Mas não quis me ouvir. Naquele dia eu voltei para o meu quarto e chorei mais. Não de tristeza ou culpa. Mas de ódio
Ódio por me sentir um idiota por antes me sentir culpado. Chorei até estar satisfeito. Naquele dia, uma coisa mudou em mim. E eu prometi a mim mesmo que jamais me importaria com a opinião de ninguém. Que viveria única e exclusivamente para meu prazer. Meu padrasto não falou comigo nos dias que se sucederam. Olavo foi mandado embora e foi morar com uma tia em Santos.
Quando minha mãe viajou novamente, meu padrasto voltou a me visitar, mas desta vez ele não veio sozinho. Dois empregados da fazenda vieram com ele. Ele disse que iria me castigar por ter traído ele. Então, se sentou em uma cadeira e assistiu os dois virem para cima de mim.
Rasgaram minha roupa e me submeteram a eles. Mas uma coisa que meu padrasto não sabia era que aquele menino bobo já não existia mais. Não me senti usado ou violado. Os homens eram fortes, másculos, me davam tesão. E eu não me importei de ser usado. Mas eu também não era bobo. Era claro que meu padrasto queria que eu sofresse, então dei isso a ele. Fingi que não queria, que lutava contra, até forçar um choro eu consegui. Foi ali que vi o poder da encenação. Meu padrasto olhava aquilo com um fogo nos olhos que eu jamais havia visto em mais ninguém. Os homens me manuseiam como se eu fosse um boneco, metiam com força tanto no rabo quanto na boca. E ele delirava. Quando acabou e os empregados foram embora, fiquei deitado pelado na cama, fingindo desolação mas me deliciando por dentro.
Ele veio, carinhoso. Beijou meu rosto e falou.
"Desculpe garoto. Sei que exagerei. Desculpa mesmo. Fiquei irritado pois traiu minha confiança. Isso não vai se repetir. Prometo. Vc é meu menino e vou cuidar de vc" e foi embora.
Naquele dia eu percebi o tipo de homem doente e perigoso que ele era. Tive de ser muito esperto nos dias que se seguiram. O tempo passou, fiz ele acreditar que era o único homem em minha vida. Deixava ele realizar suas taras comigo e tirava prazer delas também . Quando me aventurava sozinho, tomava o cuidado de ele não descobrir. Fiquei bom nisso. Em mentir, em dissimular. Contudo, uma hora simplesmente cansei. Tinha quase dezoito anos e queria ir embora. Então, confidenciei tudo a única pessoa que naquele momento eu confiava. Minha tia Vitória, que morava no Rio de Janeiro. Quando contei o que acontecia comigo. Ela na hora foi me buscar, ameaçou contar para a polícia e para a imprensa. Eu a convenci do contrário, mas antes disso, convenci a minha mãe a não fazer resistência quanto a minha partida. Ou toda a cidadezinha saberia que ela havia se tornado cafetina do próprio filho. Ela não só não ofereceu resistência, como custeou minha vida no Rio. Com o dinheiro que ela e meu pai me enviavam, vivi bem, sem ser um peso para minha tia. Fiz faculdade. Morei sozinho. Na faculdade, comecei a me prostituir. Não porque precisasse, mas por vocação. Gostava daquilo. De brincar com os prazeres, de seduzir. Me dei muito bem nesse ramo. Consegui bons clientes. Então veio o escândalo envolvendo meu pai. De sua herança, quando se matou, pouco sobrou do que não foi tomado pelos bancos. Apenas o Seguro que estava em meu nome e o imóvel que se transformou no clube Eros .
Nunca mais voltei para São Paulo, ate aquela data.
Chegando lá , 10 anos depois de minha partida, encontrei alguns parentes que há muito não via. E meu padrasto também estava la. Tinha alguns fios grisalhos aquela altura, mas ainda era um homem muito bonito.
Não me alonguei e tudo correu rápido . Pelo menos minha mãe fez um forte testamento e seu casamento tinha sido com separação de bens. Ao fim, meu padrasto não ficou com muito, mas com certeza muito mais do que merecia. A fazenda agora era minha.
Já no fim de noite, eu estava na biblioteca, bebendo um pouco de vinho, quando Ricardo entra.
"Fazem anos, Fabinho. Sua mãe ficou com saudades"
"Não ficou não. Meu celular sempre permaneceu no mesmo número. Ela poderia ter me ligado a qualquer hora" respondi, simplesmente.
"Você está amargo. Ainda ta com raiva da gente?"
"Não tenho raiva de vocês. Nunca tive"
"Você tá diferente. Nem parece o garoto que deixou a fazenda. Tá com cara de homem agora"
Não respondi nada, apenas o acompanhei enquanto se aproximava.
"Sabe quem também sentiu sua falta?" E apertou o próprio volume. Achei graça daquilo, mas tentei não expressar opinião. Curioso, esperei para ver o que sairia dali.
"Senti muito sua falta, Fabinho." E alisou meu peito, e foi desabotoando minha blusa. Eu bebi mais um gole, sem oferecer resistência. Abriu minha camisa, passou a mão sob a pele " nossa, mas que homem bonito você se tornou… conseguiu ficar ainda melhor"
Deixei minha taça vazia de lado e deixei ele tirar minha camisa e chupar meu peito, meu pescoço, minha barriga. Ele ainda conseguiu me despertar tesão, mas faltava algo.
Não o incentivei, nem tão pouco o repeli. Deixei que abrisse meu zíper, arriasse minha calça e minha cueca, me virasse de costas e apoiasse na mesa, aproveitei bem a penetração que veio logo depois. Era gostoso sim, mas diferente do que eu lembrava. Nesse momento, sem querer, soltei um riso involuntário.
"O que foi?"
"Nada" respondi segurando o riso " Só… sei lá. Esperava mais"
Aquilo pareceu acender uma chama nele. Seu rosto se contorceu com raiva. Ele começou a meter com mais força. Com maldade. A intenção era me machucar, mas não conseguiu. Só me fez achar mais cômicas suas investidas.
Quando ele gozou, tentou ainda meter mais, todavia o pau foi amolecendo e logo escapuliu de dentro. Eu me ajeitei, coloquei de novo a calça e me virei para ele. Ricardo estava visivelmente frustrado.
"Não fica assim… a culpa na verdade é minha. Na época, eu era muito novo e inexperiente. Vc era de longe a minha melhor foda… mas o tempo passou. Outros homens vieram. Alguns melhores que você. Então é comum eu sair um pouco frustrado. As lembranças eram melhores."
Ele balbuciou algo, que não entendi e nem fiz questão de tentar.
"Não me leve a mal, como disse ,não guardei mágoa de você. Pelo contrário, sou grato por me ensinar algumas coisas. Vc me foi muito útil… mas esse tempo acabou. E está na hora de você seguir em frente. Peço que não se estenda aqui muito tempo. Coisas vão mudar aqui na fazenda e não o quero mais aqui."
Apenas apoiei a mão em seu ombro e saí , sem esperar resposta.
Dormi bem naquela noite. Na manhã seguinte, fui até a casinha anexa, onde morava o sr Sílvio, pai de Olavo e capataz da fazenda.
"Oi sinhô Fábio. Meu Deus, como o senhor está crescido. Ficou um.homem bonito"
"Obrigado Silvio" e sorri.
"Então agora é o sinhô o responsável pela fazenda." Parecia muito satisfeito.
"Na verdade era sobre isso que gostaria de conversar. Eu não tenho experiência e nem tempo para isso. Ninguém conhece esse lugar melhor que o senhor. E gostaria de colocar o senhor para tomar conta daqui. Promover para administrador "
Ele não respondeu, ainda assimilando. Eu continuei.
"Eu virei aqui pelo.menos uma vez por mês, para ver a contabilidade. E só. Vc tem total liberdade de administrar o solo e os demais empregados. Pode morar na casa grande a partir de hoje. Ou continuar aqui, vc decide. Mas acredito que será melhor lá, para acomodar sua família com mais conforto. Até mesmo Olavo. "
Nesse momento ele baixou a cabeça, envergonhado.
"Sinhô, eu agradeço muito mesmo, mas acho que vc não sabe, meu filho foi expulso por sua mãe, por roubar a fazenda. Há tempos que não o vejo. E queria pedir desculpas ao senhor pelo que ele fez".
Então essa era a justificativa que minha mãe havia dado para mandar embora. Provavelmente só não mandou a família toda pois precisava de Silvio, que sempre foi um homem de integridade e competência. E pelo que parece, Olavo não contou ao pai a verdade. Preferiu levar a fama de ladrão a de viado. Mas aquilo não me dizia respeito. Eu não estava em condições de julgar ninguém. Mas também não estava satisfeito em deixar aquela injustiça assim.
" Não é verdade, senhor Silvio. Olavo na vdd aceitou aquilo para me proteger. Eu fiz uma besteira quando criança e ele ajudou a me cobrir. Me protegeu a custa do seu emprego. Eu o fiz jurar que não contaria a ninguém. Eu era medroso e egoísta. Sou eu quem devo desculpas. Por favor, chame seu filho, faça as pazes com ele. Até por que, você vai precisar ter alguém a quem passar todo o seu conhecimento. Toda a sua família é muito bem vinda em minha fazenda a partir de hoje."
Os olhos do senhor se encheram de lágrimas
"O sinhô é muito bom, sinhô Fábio."
"Não, não sou" e saí
Promover Silvio foi uma de minhas melhores decisões. A fazenda prosperou em seus cuidados. E sempre que eu ia ver a contabilidade, encontrava tudo em ordem. Aos poucos, depois de muitos anos, comecei a ver aquele lugar como meu segundo lar.
Uma boa história. Agradabilíssimo de ler. Enredo bom...a narração é que alguns momentos fica ligeiramente capenga...mas no resultado final é boa.Vou ler os capítulos iniciais.