Ma Petite Princesse (Minha Pequena Princesa) IX

Sinopse: O primeiro momento entre Nívea e Eric é marcado pela inexperiência e pânico que rodeiam a jovem. No entanto, o ocorrido acaba se tornando motivo de ameaça seguido por uma chantagem em que segredos podem ser prestes a serem revelados.


(Leiam os capítulos anteriores)


Momentos afetuosos e de intimidade entre um casal acontecem desde que o mundo é mundo. E no meu caso, meus pais eram a prova. Quando criança, eu presenciava meu pai sempre muito carinhoso com a minha mãe: lhe dava um beijo na testa ao sair e ao voltar do trabalho, em aniversários de ambos e de casamento eles se presenteavam, sendo que minha mãe recebia flores pela manhã e saíamos para passear. Troca de abraços intensos e andar de mãos dadas eram coisas comuns entre eles. No entanto, beijo na boca eu vi raríssimas vezes. Me lembro uma vez quando era criança, me sentei ao lado dela no sofá, eu deveria ter uns oito anos e lhe perguntei:

- Mãe, você e o papai se beijam igual a gente vê nos filmes?
- Claro que sim, meu amor. Quando estamos sozinhos sem ninguém por perto - ela me olhava e respondia amorosamente.
- E quando vai ser a minha vez de beijar igual nos filmes? - a curiosidade inocente.
- Você ainda é muito novinha pra pensar nessas coisas, meu anjo. Tudo tem a sua hora.
-  A sua hora foi com o papai?
- Foi sim. E a sua hora vai demorar a chegar. No momento, as bonecas barbies estão no seu quarto te esperando para brincar.

Sete anos foi o tempo de espera.

Meus lábios carnudos pela primeira vez estavam experimentando um beijo. Os lábios dele selados aos meus. Eu sentia todo o meu corpo dormente ao mesmo tempo em que ele parecia flutuar. O professor Eric roçava a boca com pequenos selinhos lentamente querendo sentir o meu sabor. E eu não reagia, apenas tremia. E se afastou, ainda que mantendo uma certa proximidade entre o seu rosto e o meu... Nós nos olhávamos tomados pela anestesia causada pelo que acabara de acontecer. Desviei o olhar tomada pelo constrangimento, agarrei meu material e rapidamente saí do carro em passos acelerados sem olhar pra trás. Eu tentava buscar o ar que parecia me faltar. A chuva perdera força mas se fazia presente. Toquei o interfone, rapidamente o portão se abriu e passando pela portaria correndo, cheguei ao elevador que se encontrava no térreo onde eu entrei ficando escorada na parede. Entrei em casa feito um furacão e no meu quarto comecei a processar o que tinha acontecido: o meu primeiro beijo! Vindo de um homem mais velho e proibido pra mim! Eu andava de um lado para o outro, tocando os meus lábios ainda um pouco trêmulos. Estava com os pensamentos tão voltados para aquele momento, que custei a ouvir o meu celular tocar dentro da mochila.
Fui ver e era minha mãe me ligando. Precisava me acalmar antes de atender. A chamada se perdeu. Novamente tocou. E então atendi.

- O-oi mãe...
- Filha, o que houve tô te ligando tem uns 15 minutos e nada de você atender.
- A-ah, desculpa o celular estava na mochila e eu não ouvi.
- Sua voz está estranha, tá tudo bem?
- Tá, tá tudo bem.

Tudo ótimo, meu professor tinha acabado de me dar um beijo.

- Você já está em casa? Como fez pra chegar?
- Sim, já cheguei. Peguei um Uber como você me falou.

E o motorista mais lindo da face da Terra não me cobrou nada, apenas um beijo.

- Ah que ótimo, fico tranquila agora. Tenho mais duas clientes e depois tô indo pra casa. Vou levar uma comida bem gostosa para jantarmos juntas tá bom? Um beijo.
- Tá bom. Beijo.

E desligamos. Olhei no visor e a hora marcava 19h15. Sentei na cama ainda uniformizada e minha mente se voltou para o que aconteceu. Toquei levemente os meus lábios e lembrei dele unido a mim. O perfume tipicamente masculino que usava... As palavras ditas...

"Une petit princesse..."

Para ele, eu era uma pequena princesa.

Eu precisava dividir isso com alguém. Tirei meus sapatos e meias molhados com o intuito de relaxar. E me voltei para o celular abrindo o áudio.

>"Melissa, tá em casa? Você tá sozinha?" - a minha voz tremulava.

Poucos segundos, veio a resposta.

>"Oi, amiga. Estou com o Felipe. Ele está estudando no quarto. Que voz é essa? Tá tudo bem?"

- Posso ir na sua casa? - mal conseguia digitar.
- Pode sim. Vem.

Foi apenas o tempo de calçar os meus chinelos e sair disparada até o apartamento do lado. Toquei a campainha com certa insistência.

- Tô indo! - era a voz dela do outro lado.

No exato instante em que Melissa abriu a porta, me agarrei em seu pescoço fechando em um abraço. Ela correspondeu no mesmo instante aflita.

- Meu Deus, amiga, você tá tremendo. Que que houve? Calma, fica calma! - e fazia um carinho pelas minhas costas tentando me acalmar.
- Olha pra mim! - se afastou um pouco e olhando o meu rosto - Você tá pálida! Me fala o que houve!
- Me leva pro seu quarto, por favor - minha voz faltava.
- Levo, vem comigo - e pegou na minha mão - Deus do céu, você tá gelada.

Entramos no quarto e pela cama, vários livros e cadernos espalhados. Melissa tirou tudo de cima e passou para a mesa de estudos para que eu pudesse me sentar. Eu não conseguia me acalmar por nada. Ela sentou-se ao meu lado e me pegou pelas duas mãos.

- Pronto, agora conta.
- Você tinha razão - me virei olhando para ela.
- Eu tinha razão sobre o quê? - ela me olhava com atenção.
- Sobre o Professor Eric - falei sentindo um aperto na garganta.
- Ah, meu Deus... Nívea... - estava tentando imaginar o que havia acontecido.
- Eu saí do colégio às 18h porque esperei a chuva passar - eu não sabia como começar então relatei do início.
- Certo - ela me olhava e balançava a cabeca positivamente.
- Chovia muito.
- Sim.
- Liguei pra minha mãe pedindo para ela ir me buscar mas ela não podia. Estava trabalhando.
- Ok. E pensou em um Uber?
- Pensei. Mas sairia mais caro devido ao mau tempo sendo que eu moro perto.
- Concordo.
- Então eu saí do colégio e fui andando bem devagar, mesmo sabendo que demoraria mais tempo a chegar em casa.
- Sim... E?
- Depois de um tempinho andando, ouvi um carro buzinando mas não dei importância.

Melissa me olhava angustiada.

- Quem estava nesse carro, Ni? - ela fez a pergunta sendo que já sabia a resposta.

Eu engoli em seco.

- Ele me chamou, desceu do carro e me ofereceu uma carona até aqui.
- Não acredito... - os verdes olhos se transformaram em dois faróis - E VOCÊ ACEITOU?
- Ele insistiu. A chuva estava muito forte.
- Jesus amado... Continua, pelo amor Deus!
- Viemos conversando. Disse que eu o havia impressionado mas era por causa das minhas notas.
- Aham, sei - o tom irônico veio junto à fala.
- Mas é verdade. Sendo professor ele tem acesso a isso.
- Tá, continua.
- Conversávamos coisas bobas pois com o trânsito engarrafado era um jeito de passar o tempo. Aí ele ficava me olhando. E eu tinha vontade de desaparecer.
- Você está certa, eu tinha razão.
- Me deixou aqui na portaria e depois de ter agradecido, ele disse que não era nada e não deveria ter feito o que fez.
- Não mesmo.
- E aí depois de elogiar meu rosto... Aconteceu... Ele me beijou.

Melissa empalideceu igual a mim. Ela não tinha palavras.

- Ele é completamente diferente do homem que eu vejo em sala de aula, Meli.
- Como assim, diferente? - ela questionou ansiosa.
- É tranquilo, conversa calmamente... É até bem simpático.
- Meu Deus... Tá, mas e o beijo? Me conta! Ele te agarrou à força?
- Não! Acariciou o meu rosto e me beijou.
Foi lento, apenas os meus lábios e os dele.
- Aaaaiii, que lindo, amiga!!! - ela sorria.
- Foi, mas... Quando ele se afastou eu saí de dentro do carro quase que correndo.
- Você se assustou, isso é normal. Foi seu primeiro beijo!
- Eu não esperava por isso.

Nós duas estávamos tão entretidas na conversa que não percebemos que havia mais alguém no quarto. Ao olharmos para a porta, Felipe estava em pé nos olhando com a cara fechada.

- Então é isso? O seu professor abusou de você, Nívea? - me perguntou incisivo.
- QUEM TE CHAMOU NA CONVERSA? - Melissa se levantou aos berros.
- A porta estava aberta então fiquei perto da parede do corredor e ouvi tudo.
- SAI DAQUI! ISSO NÃO TEM NADA A VER COM VOCÊ!

Jamais pensei que iria ver a Melissa tomada pela raiva daquele jeito.

- Esse criminoso tem que ir pra cadeia! - disse enfático - se aproveitando do cargo para abusar de uma aluna. E menor de idade!
- Ele não abusou de mim, Felipe! - falei angustiada em meio às lágrimas que já rolavam pelo meu rosto - Foi... só um beijo...
- Eu já disse pra você sair daqui!!!  SAI!!!

E a ruiva partiu pra cima dele lhe dando socos e empurrões. Ele a segurou pelos punhos tentando contê-la, mas parecia que a força dela era sobrenatural. Não tive outra opção a não ser segurá-la pela cintura para que ela se afastasse.

- Meli, pelo amor de Deus, para com isso.
- SÓ PORQUE É UM ESTUDANTE DE DIREITO DE MERDA, SE ACHA O BONZÃO DA JUSTIÇA? É ISSO? POIS VOCÊ É UM BABACA, ISSO QUE VOCÊ É! - e lhe apontava o dedo tomada pelo ódio. Os cabelos vermelhos criaram vida enquanto ela tentava sair dos meus braços que a continham.

- Melissa, se acalma, por favor! - pedi à ela.
- Pode me chamar do que quiser, sua histérica! O meu pai vai saber de toda essa conversa que eu acabei de ouvir entre vocês duas!

Eu gelei com aquela ameaça. Eu não queria que o professor Eric fosse tratado como um abusador. Ele não era, pois eu permiti o beijo de certo modo.

- Isso! Faz isso mesmo! Conta para o seu paizinho tudo o que você ouviu e eu conto pra ele o nosso segredinho. CONTA! - ela gritou em contra - ataque.

O meu flagrante na varanda. Não podia ser outra coisa. Eu assistia àquela discussão com minha mente em meio ao turbilhão de acontecimentos daquele fim de tarde. Meu estômago parecia revirar.

- Tá falando de quê, Melissa? - larguei da cintura dela. Eu precisava jogar a isca.
- NADA - Felipe me rebateu, olhando para ela tomado pela raiva - A minha irmã é louca!
- Ah claro, agora eu sou a sua irmã! Para o meu padrasto eu também sou! E ele ficaria uma fera em saber que o filho querido dele, futuro delegado de polícia, entra no quarto da irmã caçula quase todas as noites para trepar bem gostoso com ela!
- CALA A BOCA - ele a pegou pelos dois braços a sacudindo - VOCÊ É UMA MENTIROSA!

Felipe era puro ódio nos olhos. Ele sabia que Melissa estava falando a verdade. E finalmente o relacionamento entre os dois se revelava diante dos meus olhos.

- Você não tem como provar! Prova o que tá falando! Vai ser a sua palavra contra a minha! - continuou a sacudi-la com força.
- Me solta! - ela conseguiu se desvencilhar das mãos dele - Eu falo e mostro.
- Como assim, mostra? - a expressão dele ficou atônita e foi recuando aos poucos.
- Sim, eu mostro - ela calmamente se sentou na cama mantendo serenidade na  voz  - no início, eu filmei sem que você soubesse, era apenas uma fantasia minha. E de agora em diante eu tenho um álibi.

Piscou pra ele e sorriu debochado.

- Me dá agora o seu celular! - ele exigiu.
- Claro, meu amor - ela o pegou e estendeu pra ele - mas que belo Delegado de bosta você vai ser. Acha mesmo que eu ia deixar tudo o que eu tenho dando sopa por aí? Vai em frente, apaga do meu celular e do meu notebook também. Os vídeos originais estão muito bem guardados comigo.

Felipe olhava pra Melissa. Ele não sabia o que fazer.

- Você é uma cretina!
- Sou. Mas que tu ama foder há quase um ano e meio. Conta sim pro seu pai sobre a Nívea e o professor dela. E eu acabo com você.

Felipe respirou fundo e saiu do quarto feito um foguete, seguindo para o dele de onde se ouviu um estrondo no bater da porta.

- Tá mais calma? - Melissa se virou pra mim, enxugando a umidade das minhas lágrimas no rosto.
- Não sei, tenho medo dele falar pro pai dele. Acho que eu vou vomitar.
- Ele não vai falar. É louco por mim e pelo meu corpo.

Acabei sorrindo de canto levemente ruborizada com o comentário.

- Agora você já sabe sobre nós dois - ela me olhava de modo tranquilo.
- Na verdade eu já sei tem um tempinho - abaixei o olhar envergonhada.
- Ah é? Como você sabe? - me perguntou intrigada.
- Da varanda do meu quarto, eu vi vocês dois na rede da varanda daqui do seu - e apontei com os olhos na direção do lado de fora.
- Aaaahh sim - me sussurou baixinho - É a nossa fantasia transar ao ar livre. Nós amamos.
- Sua mãe e o pai dele não sabem? - eu precisava perguntar o principal dessa história maluca.
- Nem sequer imaginam. Mas um dia eu te conto tudo. O dia hoje foi inesquecível pra você.

Diante de todo aquele embate, por alguns instantes eu esqueci o que tinha me acontecido.

Meu primeiro beijo.

E em poucos dias, eu encontraria o responsável por ele.

Continua...


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Comentários


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notório Comentou em 21/02/2021

Agora sim li todos os outros 8 é realmente é uma saga incrivelmente sensacional !!! Parabéns !!! Aguardo continuação !!!

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notório Comentou em 18/02/2021

Acabei de ler este capítulo da série e aguçou em mim a curiosidade pela história. Vou ao primeiro capítulo. Muito bem escrito !! Votado !!!




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Ficha do conto

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Nome do conto:
Ma Petite Princesse (Minha Pequena Princesa) IX

Codigo do conto:
173169

Categoria:
Heterosexual

Data da Publicação:
16/02/2021

Quant.de Votos:
4

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