***O conto trata-se de uma série, sugiro ler os capítulos anteriores***
Aquele segundo semestre prometia fortes emoções...
Emoções essas que começaram com as provocações nas mensagens do Eric e que lutei para ignorar. Nos dois tempos de sua aula, eu pus toda a minha concentração no novo período literário a ser estudado. Algumas questões sobre o poeta francês François de Malherbe, Eric deixara escritas no quadro para que a turma respondesse. Respondi a todas conforme o texto no livro e em nenhum instante troquei olhares com ele para o bem estar do meu coração.
- Les étudiants qui ont terminé les exercices peuvent laisser la feuille sur mon bureau - ele avisou para todos.
(Os alunos que concluíram os exercícios podem deixar a folha na minha mesa)
Alguns se levantaram e foram até a mesa dele entregando a folha incluindo o Frederik, o representante da turma. Ao passar por mim, gentilmente pedi à ele que entregasse a minha folha junto da sua.
- Bien sûr que oui! - ele sorriu, juntando as duas e continuou caminhando até a mesa.
(Sim, claro!)
Frederik entregou as duas folhas e ao ver a minha, Eric me lançou um olhar atravessado como se esperasse algum tipo de explicação por eu não ir pessoalmente até a sua mesa.
Faltando alguns minutos para a sua aula terminar, enquanto eu lia concentrada um poema do autor, meu celular vibra novamente. Aquilo não podia estar acontecendo. Bufando, eu desbloqueio o celular.
- Desde quando eu tenho uma aluna preguiçosa a ponto de não vir até aqui me entregar uma folha?
Me vi forçada a responder.
- Desde o momento em que ela recebe "ameaças" do professor sobre o tamanho da saia!!!
Joguei o celular dentro da mochila e de imediato o sinal tocou. Ao olhá-lo, Eric sorria discretamente me olhando de relance enquanto guardava os seus pertences na mochila saindo logo em seguida se despedindo da turma. Ele conseguiu me irritar!
***
>>Estarei aí com a Melissa na hora da saída sem falta, filha! Vou ter atendimentos até as três horas hoje então dá tempo de irmos te buscar. Vou passar em casa para buscá-la.
- Justo hoje, mãe? - digitei em resposta ao áudio.
>>Sim filha, além disso, o seu pai também deve chegar cedo em casa. Vai ser bom porque nós três estaremos juntos e você poderá nos contar tudo sobre suas férias. Não é bom?
- Verdade - tive que concordar.
>>Então tá combinado. Às cinco da tarde estarei aí na porta do colégio, ok?
- Tá bom.
- Beijão meu anjo, te amo.
- Também te amo, mãe.
Encerrei a conversa na mesa do refeitório com o prato do almoço terminado na minha frente. Sem encontro às escondidas hoje. Ainda olhando a tela, recebo uma mensagem da Meli.
- Já tá sabendo né????
- Já amiga, falei com a minha mãe agorinha.
- Uhuull, amei o convite dela! Finalmente vou conhecer o seu colégio!
- Sim.
- Quê que vc tem?
É incrível como que por mensagem, dá para rastrear o estado de espírito de uma pessoa e Melissa era sagaz nisso.
- O Eric conseguiu me irritar hoje em sala de aula logo no primeiro dia.
- Puts! Sério? Ele fez o quê?
- Vou te mostrar.
Tirei print das gracinhas dele do início da manhã e enviei pra ela.
- PUTA QUE PARIU HAHAHAHAHAHAHAHAHA - ela respondeu segundos depois - EU TÔ PASSANDO VERGONHA NO MEIO DA RUA RINDO ALTO!
- Pode rir. Foi engraçado e excitante mesmo, pior que eu nem sei se vou conseguir sentir raiva por muito tempo - suspirei enquanto digitava.
- Você já falou com ele sobre hoje?
- Ainda não. Nem sei como ele vai reagir.
- Tomara que eu consiga ver ele por aí. Na sexta feira, com o escuro da boate foi tudo muito rápido! Mais tarde a gente se vê amiga, tenho que ir agora. Beijão.
- Beijo.
Saí da mesa, levando a bandeja do almoço até o local específico que se recolhe os pratos com os restos de comida e, depois de usar o banheiro, segui para o jardim externo do colégio onde é mais tranquilo do que o pátio na hora do intervalo. O lugar é muito lindo. Possui aqueles típicos bancos de praça na cor branca, um canteiro de flores e árvores que dão muitas sombras em dias quentes. Me sentei embaixo de uma dessas árvores para descansar quando recebo uma mensagem dele.
- Você tá aonde?
- Descansando no jardim do colégio - respondi seca.
- Vou ficar te esperando no nosso lugar de sempre, ma petit.
O carinho dele comigo me quebrava de todo jeito. A irritação sumia feito névoa.
- Não vai dar pra ir.
- Porque não???
Enviei um áudio falando da minha mãe e da Meli vindo me buscar e os motivos.
- Logo hoje?
- Pois é, não tinha como negar.
- Tudo bem. Ainda hoje eu te falo quando podemos nos ver.
- Tá bom.
- Je t'adore, ma petite* ...
- Moi aussi, prince*...
Impossível odiar Eric Schneider.
***
Fim do primeiro dia de aula. A professora de Biologia já havia deixado a sala quando eu estava de pé, arrumando o meu material na mochila e me preparando para sair. Ao chegar perto da saída, no corredor, avisto um furacão ruivo de short jeans e blusa vermelha na minha direção, sorridente, correndo de braços abertos.
- Aaah, amigaaa - Melissa me abraçou e rodopiamos juntas no meio dos alunos que tentavam se desviar da nossa euforia. Chegou e falou baixinho perto do meu rosto dando saltinhos - Cadê ele? Cadê? Cadê? - perguntava olhando ao redor.
- Eu não sei dos outros horários do Eric, amiga - respondi também em voz baixa - só decorei o meu horário.
- Você ainda tá chateada com o seu professor gato??
- Não! Foi só naquela hora mesmo. O Eric consegue me desarmar.
- Ah, que bom!
- Cadê a minha mãe?
- Saí do carro, antes dela ir estacionar, pra vim te encontrar. Ela já deve estar lá fora. Vem!
Saímos juntas de braços dados até a portaria quando avisto minha mãe com o chaveiro do carro entre os dedos e mexendo no celular.
Helena Toledo, 39 anos, Esteticista. Posso dizer que o corpo chamativo nas curvas eu herdei dela. Infelizmente não a sua altura. Minha mãe, mesmo com seus 1.70 cm, ostentava um par de saltos scarpins pretos fazendo parecer uma top model. A calça também preta de couro destacava os quadris e o bumbum. Não destacou mais porque a blusa na cor verde musgo com a manga de um ombro caído cobria ambos o suficiente. Os cabelos pretos até a altura dos seios também era algo nosso em comum, com a diferença dela usar uma franja bem fina. Como falei antes, eu herdei os olhos azuis das minhas duas avós mas o azul da minha mãe também chamava a atenção. A pele, um pêssego de tão firme e bem cuidada. Muitos pensam que eu e ela somos irmãs.
Todos esses atributos dela atraíam olhares discretos dos alunos em sua direção. A típica mamãe gata? Era ela.
- Oi mãe - me aproximei sorrindo.
- Oi, meu anjo lindo! - ela parou de olhar no celular e me abraçou com o braço direito dando um beijo apertado no topo da minha cabeça - Como foi hoje? E esse rostinho triste?
- Não, imagina - respondi rápido - só o cansaço de sempre.
- Ah sim. Então, falei com seu pai agorinha, daqui a pouco ele está encerrando o expediente.
- Que bom.
- To ansiosa para você contar tudo sobre Viena. Quem sabe não damos uma escapada até lá em Dezembro.
- A cidade é linda, mãe. Certeza que você vai amar.
- Dona Helena, posso rapidinho comprar um saquinho de pipoca? - Melissa pediu - tem pouca gente na fila.
- Claro, meu amor, nós vamos com você!
Seguimos nós três até a fila da carrocinha de pipoca e enquanto esperávamos a nossa vez, conversávamos amenidades. De repente, os olhos da minha mãe se voltam na direção do portão da escola meio que hipnotizados.
- Meu Deus, que rapaz bonito!
Eu e Melissa nos entreolhamos fixo em cumplicidade. Sabíamos a quem ela estava se referindo.
- Quem mãe? - perguntei fazendo a desentendida.
- Aquele loiro ali, de óculos, falando no celular perto do portão. Parece um galã de cinema.
Me recusei a olhar na mesma direção que ela olhava. Eu sentia o meu corpo derreter.
- Você conhece ele, filha? - ela perguntou. Melissa permanecia muda.
Não tinha jeito. Precisei olhar apenas para confirmar de quem ela estava falando. Sim, era ele mesmo.
- Ele é o professor Eric Schneider, mãe - respirei fundo e me virei novamente revirando os olhos - Dá aula no colégio.
- Ele dá aula pra você?? - ela questionou curiosa franzindo a testa.
- Sim, de Literatura Francesa.
- Jura??? - sorriu surpreendida - Ah, então vocês duas me dêem licença. Vou lá falar com ele e me apresentar - E saiu, voando no salto como se tivesse em uma passarela, indo na direção dele.
- MÃE, PELO AMOR DE DEUS, NÃO FAZ ISSO! - falei quase gritando. Em vão.
- Melissa, me diz que isso não aconteceu! - cobri meu olhos com uma das mãos na tentativa de ficar invisível.
- Tá acontecendo amiga, ele desligou o telefone agorinha! - me confirmou.
Ao me voltar para aquela cena, vejo minha mãe se aproximando do Eric lhe tocando de leve no braço, estendendo a mão em um cumprimento que ele, simpático e sorrindo discreto, retribuiu. Ele a olhava atentamente enquanto ela gesticulava com o celular e o chaveiro nas mãos. Os olhos dele se desviavam ligeiro entre ela e a mim que observava distante.
- Filha, vem cá!!! - me chamou de onde estava.
- Tudo bem mãe, eu te espero aqui! - acenei.
- Vamos lá agora - Melissa agarrou no meu braço me puxando - Eu te disse que queria ver ele de perto!!!!
Fui literalmente sendo arrastada pois eu não sentia as minhas pernas tamanho era o pânico e a vergonha que eu sentia. Ao nos aproximarmos, Eric me olhou terno e sorrindo em meio à minha mãe que não parava de falar.
- Então, meu anjo, estou contando pro seu professor que você é aluna daqui desde criancinha!
- É, mãe, legal - sorri forçado de cara fechada, sentindo meu pescoço ferver e Eric tentando não rir daquela situação totalmente inesperada para nós dois.
Melissa continuava pendurada no meu braço direito, com a cabeça encostada no meu ombro onde eu tenho certeza que senti um fio de baba. Devia estar surtando internamente, observando a beleza do Eric dos pés à cabeça.
- A Nívea é a minha melhor aluna, Senhora Toledo - Eric afirmou - Você e o seu marido possuem uma filha de ouro.
- Ela é o meu orgulho. Por isso que eu e o pai dela a mimamos desde sempre! - olhou pra mim, piscando com os dois olhos, me jogando um beijinho e fazendo um carinho no meu rosto.
- Tenho certeza que sim. - ele balançou a cabeça afirmando e sorrindo fechado pra mim em sarcasmo.
Eu podia ouvir a nossa discussão de sábado gritando na cabeça dele.
- Podemos ir embora, mãe? O trânsito até em casa deve estar nojento.
- Verdade, minha querida, vamos sim. Professor Eric - lhe estendeu a mão novamente - foi um prazer conhecê-lo. Infelizmente eu não participo com mais afinco das atividades escolares da Nívea porque eu trabalho muito. Mas se ela é a sua melhor aluna, sei que está em ótimas mãos.
- O prazer foi todo meu - ele a cumprimentou firme - e sobre ela estar em ótimas mãos, a senhora está certíssima.
Ótimo, que um buraco se abra agora na minha frente para eu me jogar dentro dele. Gênio da lâmpada, cadê você? Só te peço um desejo! UM!
- Vamos, mãe! - peguei em seu braço querendo ir para longe dali.
- Mas espera, a Melissa não ia comprar pipoca?
- Tem problema não, Dona Helena. Perdi a vontade - a ruiva falou me salvando daquela situação.
- Tchau, professor! - me despedi rapidamente - Até semana que vem.
- Tchau - me respondeu com um meio sorriso e continuou a me observar enquanto nós três atravessávamos a rua onde estava o carro da minha mãe.
***
Já se passava das dez da noite quando finalizei os meus estudos, organizei algumas coisas no quarto e vejo o telefone vibrar na cama. Era um áudio do Eric. Peguei o aparelho e fui para dentro do banheiro privado trancando a porta. Meu coração reage de imediato com tudo relacionado a ele. Sentada no chão perto da pia, com os fones devidamente colocados, clico para ouvir:
>>Uma coisa sou obrigado a admitir: sua mãe é maravilhosa.
Reviro os olhos e suspiro fundo.
- É, eu sei - digito junto a um emoji de olhos revirados - Mas você sabe que ela é casada né? Lembra disso? - perguntei ironicamente sentindo uma pontinha de ciúme.
- Eu sei, ma petit - ele respondeu - eu só tenho olhos para a filha da Senhora Helena Toledo. Ela sim me tira o sono.
Àquela altura de relacionamento, Eric sabia o que fazer para me conquistar todo dia um pouco: além dos seus beijos e seus toques, as suas palavras de carinho e desejo me faziam ir ao céu.
- Você já tá indo dormir? - ele perguntou.
- Daqui a pouco.
- E vai dormir vestindo o quê?
- Às vezes eu durmo sem nada.
Sério mesmo que eu enviei essa mensagem?
O áudio dele veio em forma quase que imediata.
>>Ah, então quer dizer que aquela mocinha que ficou nua pra mim quase que um fim de semana inteiro também fica peladinha no próprio quarto? Quando você ia me contar?
- Você tem razão príncipe, esses meses todos juntos e sabemos muito pouco do que cada um de nós gostamos. Mas agora você sabe: gosto de ficar nua no meu quarto.
- E os seus pais sabem disso?
- Eu só fico assim depois que eles vão dormir. Por sorte, ontem à noite eles vieram no meu quarto falar comigo chegando de viagem e eu estava de pijama.
- Entendi... Muito interessante saber.
- E daqui pra frente só pra você.
- Mesmo? Então me prova.
- Como?
- Me manda uma foto agora do seu corpinho nu delicioso.
- O quê??? Não vou fazer isso!!!
- E porque não?
- Você vai mostrar para os seus amigos!
- Eu mostraria sim, ma petit, se eu fosse um adolescente imbecil. Manda uma foto, vai...
- Você jura que vai guardar só com você?
- Juro.
- Então espera aí.
Saí do banheiro, tirei a blusa branca e calcinha rosa que eu usava. Fiquei de frente para o espelho e fiz uma pose jogando o quadril esquerdo para o lado e tirei várias selfies com o celular bem na direção do rosto para que ele não aparecesse. Reparei que estava mais gordinha. Vovó me enchendo de doces e outras iguarias francesas nas férias, o resultado não poderia ser diferente. Sentei na cama e enviei todas para o Eric.
- Pronto, pode escolher aí.
- Tô com a mão no meu pau agora tocando uma bem gostosa pra você. Quer ver?
- Não. Não ligo pra isso. Te enviei apenas porque você pediu.
- Você é um vulcão adormecido, ma petit. E precisa entrar em erupção urgente.
- A erupção aconteceu, Eric. Na sexta-feira por várias vezes naquela noite. Depois no sábado e também no domingo de manhã.
- Mas ainda falta despertar muitas coisas em você, princesse. Só não sabe disso ainda.
- Tá bom, vou acreditar - digitei respirando fundo - Quando a gente se vê essa semana?
- Na 5a feira você pode ir?
- Posso.
- Te espero lá. Melhor você ir dormir, agora. Bonne nuit, mon ange.
- Bonne nuit, mon Prince.
Encerrei a conversa e fiquei incomodada com o meu corpo nu ao me ver no espelho. Me lembrei do que a Melissa havia me dito e então enviei uma mensagem pra ela.
- Meli, tá acordada?
- Ainda sim. Fala.
- Acha mesmo que eu levo jeito pra dança?
- Porquê? Se animou em fazer aula?
- Acho que sim. Tô me achando cheinha.
- Eu tô te achando normal mas se vc quer perder peso, tudo bem. A dança é mais divertida que fazer academia.
- Você se matricula na aula comigo?
- Claro, sozinha você não iria conseguir mesmo. Tem que aprender a rebolar a bunda! E aí, quando aprender, vai sentar e rebolar na vara do seu professor gato e fazer ele gozar em você por cima.
Enquanto eu segurava o celular com uma das mãos, apoiei a minha cabeça com a outra fazendo o típico gesto facepalm da internet.
- Meli, por Deus, isso nem passou pela minha cabeça! Deixa de ser doida!
- Os áudios que você me enviou de tudo que rolou entre vocês dois, só teve o básico. Sim, ficaram no papai e mamãe e oral porque foi sua primeira vez, ok! Mas falta mais pimenta em você.
- Eu nem sei porque eu ainda te ouço...
- Porque eu sou sua melhor amiga. Fica tranquila! Amanhã eu vou agitar isso pra gente.
- Tá bom. Boa noite amiga.
- Boa. Beijão.
Melissa não existe.
Deixei meu celular na minha mesinha de cabeceira do lado da cama, apaguei a luz do quarto deixando apenas o abajur aceso e me deitei na cama me cobrindo com o edredom, olhando para o teto pensando naquele primeiro dia de retorno à minha rotina. Meu professor e meu amante pela manhã, minha mãe no fim da tarde e minha melhor amiga à noite. Os três foram responsáveis pelas fortes emoções somente no primeiro dia do segundo semestre.
Continua...
Nota da autora: Capítulo leve sem grandes emoções e excitações. Vamos em frente com um saltinho no tempo na trama se fazendo necessário? Então vamos!
*Eu te adoro, minha pequena
*Eu também, príncipe...
*Boa noite, meu anjo.
gostoso demais