GAROTO, EU ODEIO AMAR VOCÊ ~ [26] ~ Aniversario do Luke
As primeiras semanas de aula transcorreram tranquilamente. Minha amizade com Chanel e Taty se fortalecia a cada dia, e eu estava me adaptando a uma nova rotina. Esse ano decidi não me dedicar tanto ao vôlei, apesar de amar as quadras. Precisava focar no ENEM, então reduzi os treinos para apenas uma vez por semana. Nos outros dias, frequentava cursinhos de matérias isoladas e um curso de redação. O curso de redação eu fazia junto com Luke, todas as terças-feiras. O ritual era sempre o mesmo: ele ia para minha casa, a gente ficava junto, almoçavamos, tomava banho e seguíamos para a aula. Não tínhamos oficialmente retomado o namoro – estávamos naquele limbo sem status definido. Evitávamos demonstrações de afeto na frente de outras pessoas, mas quando estávamos sozinhos, era como se nunca tivéssemos nos separado. Yan sabia de tudo, é claro. Eu contava cada detalhe para ele, que sempre me alertava sobre os perigos dessa situação indefinida. – Cuidado, Lucas. Esse tipo de relacionamento "sem rótulos" sempre acaba machucando alguém – ele dizia com frequência. Mas devo admitir que eu era completamente dependente emocionalmente do Luke. Eu simplesmente queria estar com ele, não importava como. Hoje percebo que era uma dependência doentia, tanto para mim quanto para ele. Precisamos nos ferir muito um ao outro até encontrarmos a tão sonhada paz, e esse processo foi extremamente doloroso. Muitas pessoas se machucaram no meio do caminho, mas não vou adiantar as coisas. O carnaval estava se aproximando, o que significava alguns dias sem aula. Coincidentemente, no primeiro dia de feriado, 6 de fevereiro, seria o aniversário do Luke. Faltavam apenas duas semanas e eu já começava a pensar no que fazer para marcar a data. Numa tarde de sábado, estávamos todos na casa de Taty fazendo um trabalho em grupo: eu, Luke, Yan, Isaac, Taty e Chanel. Foi um dia particularmente divertido porque Chanel, em um momento de distração da nossa anfitriã, invadiu o closet da mãe de Taty e pegou alguns saltos e roupas. Logo estava completamente montado, desfilando pela sala como se estivesse em uma passarela de Paris. – Gente, olha como eu fico deslumbrante com esse salto bafo da mãe da Taty! Viado, isso aqui é caríssimo! – exclamava Chanel, andando de um lado para outro da sala com uma desenvoltura impressionante naqueles saltos de pelo menos doze centímetros. – Você ficou um arraso – comentei, abrindo um sorriso largo. – Lucas, meu bem, você devia se montar comigo. Acho que você ficaria um bafo vestido de mulher – Chanel sugeriu, parando na minha frente e me analisando de cima a baixo. – Coitado, não nasci pra isso. Sou discreto, você sabe – respondi, entrando na brincadeira. Taty, que até então tentava manter o foco no trabalho, finalmente se rendeu aos suspiros. – Gente, vamos parar de graça e vamos focar no trabalho. Já, já meus pais chegam e você tá aí com as roupas da mamãe – ela alertou, ajeitando os óculos nervosamente. – Ai, mona, o vestido até eu tiro, mas esse salto ficarei com ele. Já, já eu tiro, preciso aproveitar porque em casa não posso usar salto, né? – Chanel respondeu, dando mais uma voltinha. Luke, que observava a cena recostado no sofá, não conseguia parar de rir. – Eu fico de cara como seus pais não desconfiam nem um pouco de você – ele comentou. – Meu amor, eu sou uma atriz. Em casa eu sou o macho da família, mas fora de casa sou uma loba! – Chanel rebateu com um gesto dramático. Todos caímos na gargalhada novamente. Chanel tinha esse jeito afeminado de falar que era impossível não achar graça. Era refrescante como ela não se importava com o que os outros pensavam, vivendo sua verdade da maneira mais autêntica possível – pelo menos quando estava longe dos olhos dos pais. Nesse dia aconteceu algo hilário. Chanel ainda estava com os saltos quando Taty recebeu uma mensagem da mãe avisando que estava chegando. Ela entrou em pânico. – Meu Deus, meus pais estão chegando! Tira isso rápido! – ela sussurrou urgentemente para Chanel. O problema é que o salto era tipo gladiadora, com muitas amarrações, e não daria tempo de tirar. Em um momento de desespero criativo, Chanel pegou dois sacos plásticos da cozinha, enfiou nos pés calçados, e voltou calmamente para o sofá. Poucos segundos depois, a porta se abriu e os pais de Taty entraram. Obviamente eles notaram os sacos plásticos nos pés de Chanel, mas educadamente não comentaram nada. Chanel, por sua vez, deu um "boa noite" com a voz mais grave que conseguiu produzir, em um tom completamente diferente do que usava conosco. – Boa noite, senhor e senhora Ribeiro. O trabalho está ficando ótimo, obrigado por nos receber – ele disse, em uma atuação digna de Oscar. Assim que os pais de Taty foram para o quarto, todos explodimos em risadas silenciosas, nos contorcendo para não fazer barulho. – Eu não acredito que você fez isso! – Taty sussurrou, metade horrorizada, metade impressionada. – Querida, eu já disse: sou atriz! – Chanel respondeu, agora tirando os sacos plásticos e começando a batalha contra as muitas fivelas do salto. Depois que ele finalmente se livrou dos sapatos da mãe de Taty, voltamos a conversar sobre o trabalho e outros assuntos. Foi quando o tema do aniversário do Luke surgiu naturalmente. – Gente, então meu niver tá chegando e vai cair mesmo no primeiro dia de carnaval – ele comentou, fechando o notebook. – Tô pensando em fazer uma festinha lá na casa de praia, que tem carnaval. – A praia de Pirangi? – perguntou Chanel, imediatamente interessado. – Sim – confirmou Luke. Os olhos de Chanel brilharam como se tivesse acabado de ganhar um presente. – Ai, vamos! Lá tem o dia das virgens, onde os homens se vestem de mulher e as mulheres de homem – ele disse, empolgado. – Vou montar todas vocês, vou deixar vocês DES-LU-BRAN-TES – pronunciou a palavra "deslumbrantes" separando cada sílaba com um gesto dramático de mãos. – Já tô dentro – respondeu Yan, animado. – Vai chamar quem tanto? – perguntou Isaac, sempre mais preocupado com os detalhes. Luke deu de ombros, como se estivesse pensando na hora. – Então, acho que vou convidar a sala toda. Lá tem muito espaço pra quem quiser dormir. Não pude evitar uma pequena provocação. – Pra quem se fingiu de pobre porque não queria ser popular, as coisas mudaram – falei, meio que alfinetando Luke. Ele me olhou com aquele sorriso de canto que sempre me deixava sem fôlego. – Pois é, mas infelizmente me apaixonei pelo garoto mais popular da escola, virei alvo de fofoca, então sim, quero dar uma mega festa – respondeu, e para minha surpresa, me deu um selinho na frente de todos que me fez ficar completamente vermelho. – Então demorou! Quero um quarto só pra mim, já vou logo avisando – disse Taty, ajeitando os óculos. – E um pra mim também – acrescentou Chanel, já animadíssimo. – Amiga, por favor, leva o que você tiver de coisas: vestidos, saias, makes, saltos. Já vou pensar no meu look. – Então fica combinado – concluiu Luke. – Acho que essa semana vou jogar o convite no grupo da sala, e vou falar com os meus pais. Não quero ninguém por lá, só os empregados mesmo. E assim ficou acertado. Iríamos passar o aniversário do Luke na casa de praia e ficar por lá durante todos os dias do carnaval. Seria um momento perfeito para nos distrair, afinal, tínhamos um longo caminho até o ENEM, e talvez fosse bom interagir com outros alunos da turma, incluindo aqueles que não faziam parte do nosso círculo mais próximo. Luke avisou no grupo da sala e acertou tudo com seus pais. Minha mãe autorizou que eu passasse os dias lá, e ficou combinado que nosso grupinho chegaria na sexta à noite. A festa oficial do aniversário seria no sábado à tarde – um churrasco com muita bebida, música ao vivo e todos os alunos da sala, inclusive Carlos, o que me deixava um pouco apreensivo. Na noite de sexta, dormi sozinho com Luke. Fizemos amor e entreguei a ele seu presente de aniversário: um ursinho de pelúcia no formato de uma bolinha marrom, porque eu o chamava carinhosamente de "bostinha", e um mini álbum com nossas fotos. Ele sorriu bobamente para mim e me beijou. Nossos beijos sempre eram incríveis, e nunca me canso de dizer isso. Naquele momento, parecia que tudo estava finalmente se encaixando entre nós. No sábado pela manhã, o pai de Luke apareceu para organizar as coisas. Ele tinha ido levar as carnes, bebidas e o pessoal que trabalharia na festa. Ajudei no que pude, enquanto a mãe de Luke também chegou e montou uma mesa bem bonita com doces e bolos. Luke reclamou um pouco, dizendo que queria algo simples, mas os pais acabaram transformando aquilo em um grande evento – eles sempre gostaram muito de festejar. À tarde, pouco a pouco, as pessoas foram chegando. Carlos e Camille apareceram juntos, o que me causou um frio na barriga. Não sei por quê, mas tinha certeza de que eles poderiam causar algum problema. Preferi não me aproximar; ainda estava estranho com Carlos, e com Camille nem se fala. Os gêmeos Theo e Thomas também vieram, entre outros alunos. A festa foi seguindo seu curso. Comemos, bebemos, e notei que Luke se mantinha estranhamente distante de mim. Às vezes eu tentava me aproximar dele, mas ele parecia me evitar. Não sabia se era impressão minha ou efeito do álcool, mas decidi deixar para lá e não dar mais atenção a isso. Fiquei conversando com Taty e Chanel, que estava deslumbrante com uma roupa toda de paetês. Quando estávamos juntos, era impossível não rir. Chanel falava de tudo e de todos, secava os meninos mais bonitos sem qualquer discrição e fazia comentários hilários sobre cada pessoa que passava. Foi nesse clima de descontração que Taty fez uma revelação surpreendente para mim e para Chanel. – Queria beijar a Karla, mas não sei se ela é do vale – confessou, olhando discretamente para uma garota loira que conversava animadamente com um grupo do outro lado da piscina. – Sério? Ela é belíssima, olha aquele loiro natural e aqueles olhos verdes – comentou Chanel, analisando a garota como um crítico de arte. – A gente se olha sempre, mas não sei qual é a dela – continuou Taty, nervosa. – Tô com medo de chegar e levar um fora e sair no Gossip que sou sapatão. Chanel abriu um sorriso malicioso. – Meu amor, deixa comigo que eu sei resolver isso com algumas doses. A noite já havia caído, e várias pessoas tinham ido embora. Permaneceram apenas aquelas que iriam dormir por lá. Minha sorte foi que Camille tinha partido, porém Carlos continuava presente, com um olhar distante. Volta e meia nossos olhares se cruzavam rapidamente, mas logo eu desviava. Não queria ter problemas de ciúmes com Luke. Foi quando Chanel teve uma ideia que mudaria completamente o rumo da noite. – Vamos brincar de banheira do Gugu na jacuzzi do Luke, quem topa? – ele propôs em voz alta. A noite avançava e todos pareciam mais relaxados após algumas bebidas. Foi quando Chanel sugeriu irmos para a área da jacuzzi nos fundos da casa. O lugar era amplo, com uma banheira enorme que comportava facilmente dez pessoas. — Geeente, vamos fazer uma brincadeirinha para esquentar as coisas! — anunciou Chanel, jogando o cabelo para o lado com um gesto teatral. Todos riram da forma como ela se expressava, exagerando nos trejeitos e fazendo caras e bocas. Ela explicou que jogaria dez pedrinhas decorativas no fundo da jacuzzi e escolheria duplas que teriam que mergulhar para pegá-las. — A regra é a seguinte, amores — continuou ela, gesticulando animadamente. — Uma pessoa mergulha para pegar as pedrinhas e a outra tem que segurar, digamos... estrategicamente. As risadas aumentaram com o tom sugestivo na voz dela. — Vamos começar com... — ela fez uma pausa dramática, observando o grupo — Yan e Isaac! Venham, meus queridinhos! Os dois se entreolharam meio encabulados, mas acabaram entrando na brincadeira. Isaac mergulhou tentando pegar as pedrinhas enquanto Yan o "segurava", entre risos e gritos dos outros. — Agora... Taty e Karla! Mostrem para esses meninos como se faz! As duas entraram na banheira já gargalhando. Karla mergulhou com determinação enquanto Taty tentava "segurá-la", mas ambas estavam mais rindo do que competindo. Chanel aplaudia e narrava cada movimento com comentários exagerados e hilários, arrancando gargalhadas de todos. Meu coração acelerou quando percebi que meu nome seria o próximo. — E agora... — ela fez uma pausa teatral, movendo os olhos de mim para Luke — Lucas e Luke! Vai ser interessaaante! Engoli em seco. Luke me olhou com um sorriso tímido, mas não recusou o desafio. Entramos na jacuzzi enquanto Chanel jogava as pedrinhas. — Você mergulha ou segura? — perguntei a Luke, tentando soar casual. — Você mergulha — ele respondeu com um meio sorriso. — Tenho bons reflexos para segurar. Quando mergulhei, senti as mãos dele nos meus ombros primeiramente, mas enquanto eu me esticava para alcançar as pedrinhas no fundo, suas mãos deslizaram pela minha cintura. Não consegui me concentrar direito nas pedrinhas. Cada toque parecia enviar uma corrente elétrica pelo meu corpo. Consegui pegar apenas quatro antes de voltar à superfície. — Uhhhh, parece que alguém ficou nervosinho! — brincou Chanel, fazendo todos rirem. Carlos foi o próximo, junto com uma garota da sala. Eles pareciam à vontade com o contato físico, o que provocou assobios do resto do grupo. — Isso é muito fácil — disse Theo, cruzando os braços com um ar de superioridade. — Concordo — completou Thomas. — Vamos dificultar um pouco. — O que sugerem, gêmeos terríveis? — perguntou Chanel, visivelmente interessada na proposta. — Nós dois segurando a pessoa que mergulha — propôs Theo com um sorriso que não consegui decifrar. — Aaaadorei! — exclamou Chanel, batendo palmas. — Eu serei a primeira cobaia! Sem hesitar, ela pulou na jacuzzi entre os gêmeos. Os dois a "seguraram" enquanto ela mergulhava, provocando gritinhos e risadas quando voltava à superfície. Era evidente que estavam se divertindo com os toques. — Agora é a vez do Luke! — anunciou Chanel, saindo da água com o cabelo grudado no rosto, mas sorrindo satisfeita. Luke pareceu hesitar por um momento, mas logo entrou na água com os gêmeos. Observei enquanto ele se posicionava entre os dois, e senti um aperto no peito. Algo me dizia que aquilo não terminaria bem para mim. Luke mergulhou enquanto os gêmeos o "seguravam". Thomas tinha as mãos nos ombros dele, mas Theo estava claramente mais ousado, com as mãos deslizando pelas costas de Luke. Quando Luke emergiu, percebi a troca de olhares entre ele e Theo. Foi como se o tempo parasse. De repente, sem nenhum aviso, Theo puxou Luke para si e seus lábios se encontraram em um beijo intenso. Thomas não pareceu surpreso; pelo contrário, sorriu como se aquilo fosse esperado. Fiquei paralisado. O som das risadas e conversas ao redor parecia distante, como se eu estivesse submerso. A cena se desenrolava na minha frente como um pesadelo em câmera lenta. Luke não resistiu ao beijo. Pelo contrário, percebi que ele correspondia com entusiasmo, passando a mão pelo corpo do Theo. Senti meu rosto queimar e algo apertar minha garganta. Não conseguia desviar o olhar, por mais que aquilo rasgasse algo dentro de mim. A brincadeira continuava para os outros, mas para mim, naquele momento, tudo havia acabado. Discretamente, saí da área da jacuzzi. Ninguém pareceu notar minha ausência, todos entretidos demais com a cena ou com suas próprias conversas. Fui para um canto afastado do jardim, sentindo o ar frio da noite contra meu rosto molhado – não só pela água da jacuzzi, mas também pelas lágrimas que começavam a cair sem que eu pudesse controlar. Fiquei ali no canto do jardim por alguns minutos, tentando me recompor. Foi quando Yan apareceu, caminhando devagar em minha direção. — Tá tudo bem, cara? — ele perguntou, encostando-se à parede ao meu lado. Enxuguei rapidamente o rosto, esperando que ele não percebesse as lágrimas. — Tá sim. Só precisava de um pouco de ar — menti. Yan me olhou com aquela expressão de quem não acredita em nada do que acabou de ouvir. — Relaxa, Lucas. É uma festa, todo mundo tá só se divertindo — ele deu um tapinha no meu ombro. — Não leva nada muito a sério, beleza? Concordei com a cabeça, tentando forçar um sorriso. — Vamos voltar? O pessoal tá animado — ele propôs, já se virando para retornar à a área onde todos estavam. Respirei fundo e o segui. O que mais eu poderia fazer? Não queria parecer o dramático que estraga a festa. Quando voltamos, o grupo tinha saído da jacuzzi e agora se reunia em círculo na sala. Cada um com um copo na mão, bebendo e rindo alto. Meus olhos procuraram imediatamente por Luke, que estava sentado entre os gêmeos. Quando nossos olhares se cruzaram, ele rapidamente abaixou o rosto. — Chegaram bem a tempo! — exclamou Chanel, batendo palmas para chamar a atenção de todos. — Vamos brincar de Verdade ou Consequência! Todos pareceram aprovar a ideia, e logo o círculo se formou no centro da sala. Sentei-me entre Yan e Carlos, o mais longe possível de Luke e os gêmeos. A brincadeira começou leve, com perguntas bobas e desafios simples. Taty teve que contar sua primeira paixão, Carlos teve que imitar um macaco, Karla revelou sua maior mentira. Nada demais aconteceu até que chegou a vez de Thomas girar a garrafa. O gargalo apontou diretamente para Luke. — Verdade ou consequência? — perguntou Thomas com um sorriso malicioso. — Consequência — respondeu Luke sem hesitar, talvez já sabendo o que viria. — Quero que você beije o Theo. Um beijo de verdade — disse Thomas, provocando uma onda de "uuuhs" pelo círculo. Luke não pareceu surpreso ou incomodado. Pelo contrário, sorriu de forma provocativa, virou-se para Theo e, sem qualquer hesitação, puxou-o para um beijo intenso. Não foi um selinho rápido. Foi demorado, profundo, como se estivessem sozinhos no quarto e não rodeados por dez pessoas. Algo quebrou dentro de mim. Sem pensar duas vezes, levantei-me bruscamente. — Vou para o quarto — anunciei, sem olhar para ninguém em particular, e saí o mais rápido que pude. Mal tinha chegado na porta da casa quando ouvi passos atrás de mim. — Lucas, espera! — era Carlos. Suspirei profundamente, sem me virar. — Agora não, Carlos, por favor. — Calma, eu tô indo embora — ele se aproximou, ficando à minha frente. — A festa não tá boa pra mim. Se quiser ir lá pra casa, podemos ir. Havia algo no olhar dele, um convite claro para algo mais que apenas uma saída da festa. — Não vou — respondi secamente. Carlos soltou uma risada amarga. — Parece que você não será o escolhido pra dormir com o aniversariante — disse ele com veneno na voz. Senti meu sangue ferver. Por um momento, quase aceitei ir com ele, só para não ficar ali, só para não ter que ver Luke com os gêmeos. Mas em vez disso, apenas dei as costas e segui para o quarto. Joguei-me na cama e fiquei encarando o teto. Os sons da festa continuavam lá fora, risadas e música, como se nada tivesse acontecido, como se meu mundo não estivesse desmoronando. Não sei quanto tempo fiquei assim até Taty entrar no quarto, sorrindo de orelha a orelha. — Consegui! — ela sussurrou animada, sentando-se na beirada da cama. — Beijei a Karla! Estou tão feliz que nem sei como explicar. Forcei um sorriso para ela. — Que bom, Taty. Ela parou, finalmente notando meu estado. — Está tudo bem com você? — Não — confessei. — Não gostei de ver o Luke beijando o Theo. Duas vezes. Taty abriu a boca para dizer algo, mas nesse momento a porta do quarto se abriu novamente. Luke entrou, cambaleando levemente. Estava visivelmente bêbado, os olhos um pouco vidrados, o cabelo despenteado. Taty olhou de mim para ele e rapidamente levantou-se. — Eu... vou ver como a Karla está — murmurou, e saiu fechando a porta atrás de si. O silêncio que se seguiu foi esmagador. Luke me encarava, parado junto à porta, sem dizer nada. Eu o encarava de volta, sentindo a raiva crescer dentro de mim. — Então é assim? — perguntei finalmente, minha voz saindo mais alta do que pretendia. — Você beija qualquer um na minha frente? Não tem respeito? Luke arregalou os olhos, como se não acreditasse no que acabara de ouvir. — Respeito? — ele repetiu, a voz subindo várias oitavas. — RESPEITO? — gritou, avançando para o centro do quarto. — Você ficou com meu irmão e quer falar de respeito? — Isso foi diferente! E foi antes de... — Antes de quê? — ele me interrompeu, pegando um porta-retratos da mesa de cabeceira e jogando-o no chão. O vidro estilhaçou-se. — A gente não namora, Lucas! Você confundiu as coisas! — Luke, não faz isso — pedi, levantando-me da cama. — Fala baixo, por favor. — Não vou falar baixo! — ele gritou, derrubando agora uma luminária. — Você não manda em mim! Quem você pensa que é? Tentei me aproximar para acalmá-lo, mas ele recuou como se meu toque pudesse queimá-lo. — Luke, por favor, vamos conversar direito — implorei, sentindo as lágrimas voltarem aos meus olhos. — Não tem nada pra conversar! — ele pegou um livro e o arremessou em mim. — Sabe de uma coisa? Vou dormir com os gêmeos! Aquilo me atingiu como um soco no estômago. — Luke, você tá bêbado, não sabe o que tá falando... — Sei muito bem! — ele caminhou até a porta, tropeçando levemente. — Eles devem ter algo muito melhor a me oferecer do que dormir aqui com você. Tô sem paciência! E com isso, ele saiu, batendo a porta com tanta força que achei que ela iria quebrar. Fiquei parado no meio do quarto, cercado pelos cacos de vidro e objetos espalhados, sentindo como se algo dentro de mim também tivesse se quebrado irremediavelmente. Me joguei de volta na cama e deixei as lágrimas correrem livremente. O que tinha acontecido com a gente? Como tínhamos chegado a esse ponto? Talvez Yan estivesse certo, talvez eu tivesse levado tudo muito a sério. Ou talvez, só talvez, eu tivesse sido o único a sentir algo de verdade. Chorei até não ter mais lágrimas, com os sons da festa ao longe servindo como uma trilha sonora cruel para o meu coração partido.
Faca o seu login para poder votar neste conto.
Faca o seu login para poder recomendar esse conto para seus amigos.
Faca o seu login para adicionar esse conto como seu favorito.
Denunciar esse conto
Utilize o formulario abaixo para DENUNCIAR ao administrador do contoseroticos.com se esse conto contem conteúdo ilegal.
Importante:Seus dados não serão fornecidos para o autor do conto denunciado.