Eu tinha acabado de me formar no ensino médio e a procura de uma faculdade a cursar. Meus pais tinham economizado muito dinheiro, a fim de pagar meus estudos no futuro que tinha chegado. Queria muito escolher a área de matemática. Era fanático em números e queria ter uma profissão a onde levasse esse conhecimento que tinha. Escolhi o bacharelado em matemática e física.
Comecei meu primeiro período empolgado com tudo que poderia surgir na nova fase. Contudo, começou a ser noticiado em todos locais de comunicação que estava havendo um conflito entre duas nações, e uma delas era a minha. Esse fato começou por motivos políticos de conquistas de terras e riquezas. Era uma briga que não queria me envolver, mas acabou acontecendo uma guerra. Fui recrutado. Fui obrigado a servir a pátria. Nessas horas somos obrigados, se não, tem consequências.
A guerra começou a ter efeito no país depois de um mês que já estava em campo de batalha. Meu esquadrão ganhou uma missão, onde foi direcionado a interceptar perto da fronteira. A missão era dentro do território inimigo. Era algo arriscado a se fazer. Estaríamos dentro do país que estávamos em guerra, e com o risco de cair em uma emboscada. Todos os homens do meu esquadrão eram pessoas de boa índole. Meu capitão era uma pessoa que fazia valorizar cada um de nós. Estávamos dentro da floresta há dois dias. Nossa comida era pouca. A água não se tornava problema, pois havia vários lagos e pequenos rios tinham pelo caminho.
A missão era destruir uma pequena estação de energia que fornecia eletricidade para as tropas inimigas nos locais de acampamento. Estávamos juntos ao anoitecer perto da pequena usina. A única coisa que dividia a gente era um acampamento das tropas vermelhas (era cor que os adversários usavam). Montamos um plano de passar despercebidos. O capitão Carlos estava à frente indicando onde cada um devia se colocar quando passássemos longe do acampamento. Senhor Carlos indicava cada ponto estratégico se desse algo errado. Minha função era ser um suporte para o capitão.
Nós separamos em dois grupos. Cada grupo continha três pessoas. Eu estava no grupo do capitão com mais um soldado. O nome dessa terceira pessoa era Gustavo. Eu e o Gustavo tínhamos nos conhecido no exercito. Ele era um rapaz alto, cabelo castanho escuro e com olhos negros. Tinha uma barba só no queixo e um olhar penetrante. Toda vez que olhava para ele, meu corpo vibrava. Nunca tive nada com o Gustavo, mas sempre trocávamos olhares um para o outro.
Nossa operação ocorria bem até que ouvimos uma mina terrestre detonar no lado que o outro time tinha ido. “Falei para aqueles três sempre olharem para estruturas estranhas no chão!” O capitão falava alto para nos dois ouvimos. Ele começou a aumentar o passo e assim, eu e o Gustavo fizemos o mesmo. Quando percebi, já estávamos correndo. Meu coração estava batendo muito forte por causa da corrida que fazíamos. “Eu vi algo nessa direção”, eram as palavras do exercito inimigo. Já tínhamos sido percebidos. O Gustavo começou a aumentar velocidade dos passos e ir uma direção diferente até cair numa armadilha. Era um buraco fundo.
“Você tá bem?”. Era o que perguntava enquanto o via já desacordado. Era uma pergunta idiota a se fazer naquele momento, mas não conseguia pensar direito. Ouvia baralhos chegarem perto de mim. Virei para o lado e descobri que era o capitão. Ele estava ofegante. “Estava procurando vocês dois.” Ele falava com falta de ar olhando para baixo. Começou a balançar a cabeça em negatividade. Indicava o que já sabíamos. Teríamos que deixa-lo para trás. Mas eu queria salvar o Gustavo. Comecei a discutir com o Senhor Carlos que deveríamos tentar algo.
“Nós devemos tentar pelo menos algo, somos seres humanos e não animais.” Ele me olhava sério. Seu olhar era de análise da situação. Nesse tempo, o Gustavo acorda e começa a pedir ajuda. Sua voz é tão alta de desespero que acaba declarando a localização. As tropas inimigas mais uma vez começam, “Por aqui. Eu vou ouvi alguma coisa.” Capitão estendeu o braço para puxar o Gustavo. Com muito esforço, o Gustavo estava fora do buraco.
“Obrigado!” Era a única palavra declarada pelo Gustavo. Começamos a ouvir barulho de mato de quebrando próximo. Senhor Carlos acenou que deveríamos segui-lo em direção a uma mata fechada com arvores densa, uma grande quantidade de folhas e um pequeno riacho com umas árvores fechado o local, assim impedindo a visão quem estivesse debaixo. Estávamos percorrendo a mata até começarem atirar. Vários tiros pegavam nas árvores. Vi um tiro atingir o braço direto do Capitão. Isso foi o suficiente para entrar em desespero. Não sabia o que fazer, somente corria.
Sentimos que mantivemos distância de tudo. Os tiros tinham parado. Nosso capitão já se encontrava correndo mais devagar. Sabia que deveríamos realizar os primeiros socorros naquele instante.
- É noite. Você não vai precisar realizar os primeiros socorros. – Capitão falava direcionando olhar para mim, pois já estava pegando os instrumentos para realizar isso. Nisso, ele levanta a camisa mostrando que tomou mais dois tiros na barriga. Meus olhos saltaram, e logo em seguida, abaixei a cabeça. Fiquei calado. – Preciso que vocês voltem e reportem o que viram.
Acenamos com a cabeça indicando que concordávamos com a situação. Capitão explicou que deveríamos ficar escondidos enquanto distraia a tropa inimiga. O Gustavo foi o primeiro a se esconder. Ele correu para longe da gente, ficou escondido debaixo das folhas secas. Comecei a pegar a lama para passar por todo meu corpo, enquanto capitão vigia olhando para todos os lados. “Pegue”, olhei para sua mão e era sua medalha. “Quero que fique com isso”, falava baixo enquanto me preparava para esconder. “Não volte por mim. Quero que vocês dois vivão.”
Os tiros voltavam com tudo. Capitão me empurrou e gritou, “Corre!” Não pensei duas vezes. Meus planos eram me esconder dentro da mata, debaixo das folhas secas, mas não daria tempo de fazer isso. Corri para água. Entrei devagar. Contudo, comecei a tirar rapidamente a lama do meu corpo. A imagem de lama na água começou a ficar nítida, e entrando em desespero. Direcionei-me para debaixo de umas arvores, onde ficava escuro total. Fiquei ali debaixo. A escuridão da noite estava o meu favor.
“Nós mostre para onde eles foram? Sei que há mais de vocês por aqui.” Era um soldado inimigo segurando o capitão. Senhor Carlos se mantinha calado e sempre olhando para o chão. O inimigo perguntou mais uma vez e preparou a arma para atirar. Mais uma vez perguntou, e nada.
Ele atirou.
Aquele tiro não era como os outros. Me assustei na hora. Todo meu corpo tremeu no momento do disparo. Estava no escuro presenciando tudo. Uma execução. Coloquei a mão na boca para não gritar. Comecei a chorar nesse momento. A única coisa que pensava, “Queria estar em casa. Maldição!”.
A noite era longa. Permanecia na água, pois ainda continuavam procurando os intrusos. A alça que segurava a bolsa de primeiros socorros, tirei para amarra-me numa raiz das árvores, a fim de não sair do local em virtude da água ser corrente. Procurei um apoio. Tentei dormir ali. Tentei muito, mas não conseguia. Meus olhos sempre estavam atentos para as lanternas no meio da mata. Estavam procurando, e tinha medo que me achassem.
O sol tentava aparecer na noite e me encontrava distante nos pensamentos. Não consegui dormir nada. Minha atenção estava voltada a procura insaciável do exercito inimigo por mim. “Será que tinham achado Gustavo? O que será feito comigo quando me acharem? O que vou fazer?”, essas eram as perguntas martelando minha cabeça. Queria tanto minha casa.
O sol ainda não tinha aparecido, mas já se encontrava claro. Comecei a sair da água e caminhar mais ainda para dentro no terreno do exercito inimigo. Estava com fome e cansado. Minhas pernas tremiam a cada passo que dava. Minha cabeça doía e meus olhos estavam para fechar de tanto sono.
Acabei alcançado o destino que meu esquadrão tinha. A usina estava na minha frente, mas eu que estava destruído. Voltei a caminhar, a fim de manter distancia por dentro da mata. Tinha caminhado uns quatro quilômetros, quando comecei a visualizar um pequeno córrego. A água estava cristalina e uma pequena porção de areia. Dava para perceber que era meio funda uma parte e outra rasa. Atravessei e voltei para mata. Porém, o ambiente começava a mudar. A mata estava mais dispersa. Não estava mais tão fechada. Tinha um caminho aberto que dava acesso a determinado córrego que tinha passado. Como se fosse uma área de lazer.
Minhas pernas ficavam sem força no momento. Procurei apoio numa árvore. Meus olhos estavam se fechando. “O que faz aqui?”, era uma voz grossa e perto de mim. Virei para trás e tinha um homem mais alto que eu. Estava só de short e uma sandália nos pés. Cabelo meio grande e uma barba por fazer. Peito meio peludo e pele clara. Antes mesmo que pudesse responder, meu corpo perdeu forças. Meus joelhos tocaram o chão. Antes mesmo que o resto do meu corpo tocasse no chão, senti braços me segurarem e me suspender com facilidade. “Vou cuidar de você”, foi o que ouvi antes de apagar de vez.