Quem havia dito “graças a Deus” fora um aluno grandalhão que adorava arrumar confusões gratuitas com outros alunos, somente para demonstrar sua superioridade física e dar uns tapas em alguém mais fraco que ele. Ele freqüentava a mesma academia de ginástica que eu. Fazia pouquíssimo tempo que ele estava praticando, mas já havia cortado as mangas da camiseta de seu uniforme para mostrar os “músculos” que sequer existiam. Andava com o peito estufado, punhos serrados e braços afastados do corpo, como costumam se exibir outros colegas seus, de escola, e de academia. Muitos deles faziam uso de anabolizantes.
Eu e o Rafa costumávamos freqüentar a academia de ginástica, mas não éramos fanáticos. Apenas procurávamos manter a boa forma.
- Fabinho, por qual razão você assumiu a culpa do Breno ? – era esse o nome do garoto. Estávamos no corredor aguardando a próxima aula. Eu estava curioso em saber a razão de sua atitude.
- Aquela bicha enrustida é uma covardona e não ia ter coragem de assumir a própria culpa. Não agüentava mais ouvir aquela bruaca falar aos meus ouvidos.
Ele me deu essa explicação meio que gritando e super “indignada”.
Fabinho era muito simpático e seu jeito de falar e comportar-se fazia me lembrar da personagem Vera Verão, do programa a Praça é Nossa, interpretada pelo falecido ator Jorge Lafon, homossexual assumido.
- Ele é bicha, Fabinho?
- Lógico que é – disse gargalhando.
- E como você sabe? Já saiu com ele?
- Deus é pai.. – respondeu rechaçando qualquer possibilidade de um dia ter qualquer relacionamento com Breno – Nem que ele fosse o último bofe da Terra. Eu preferiria sair com uma mulher a ter de dar o meu “edi” para aquela passiva.
Eu ouvia, mas não compreendia o significado das palavras de Fabinho.
- “Perae”, Fabinho. Devagar. Que é edi ?
- Você não sabe mesmo, Lucas?
- Não. Por favor, me diga.
- Edi é cu.
- E bofe?
- Bofe é o cara que curti comer um Edi.
- Passiva?
- Passivo é quem gosta de dar o Edi e Ativo é quem come.- e completou – No caso do Breno, eu nem poderia chamá-lo de bofe porque tenho certeza de que ele é passiva.
- Mas, como você afirma com tanta certeza que ele é gay? Pelo menos você já viu ele em algum lugar GLS? – Insisti em saber.
- Não. Graças a Deus este encosto não freqüenta o meu circuito, pois lá ele não cantaria de galo não. Lá ele seria franguinho. Quero dizer, franguinha.
- Então me fala. Ta me deixando muito curioso. Como você tem tanta certeza para afirmar que o Breno é “bicha”.
- Simples. Uma bicha sempre reconhece outra. - Falou aquilo com tanta segurança, que para mim, pareceu se referir a um “poder” que todos os gays possuíam : identificar seu igual. Uma espécie de leitura de pensamento. Igual se fosse um poder de um herói qualquer de história em quadrinhos.
Eu fiquei surpreso com aquela resposta.
- Lucas, você nunca ouviu falar isso? Que todo gay tem um “radarzinho” embutido na mente que identifica outro gay?
- Nunca ouvi isso.
Nunca tinha ouvido mesmo esta história de radar. Depois disso a ouvi milhares de vezes. Eu mesmo acabaria usando a explicação do “radar” para explicar como identifiquei que este ou aquele cara era gay.
A conversa com Fabinho me deixou assustado,
- Então ele sabe que eu sou gay também? Será que sabe? – Pensava nisso sem parar.
A professora da terceira aula, Biologia, havia faltado. Colocaram uma professora eventual para substituí-la, Ela não deu nada e continuei a conversar com Fabinho. Rodrigo participava da conversa, já que Fabinho sentava-se bem próximo a nós dois.
- Eu não entendo essas gírias de vocês. Confesso que não sabia o que era edi, bofe, passiva.
- Explique mais alguns termos que vocês usam para nós – pediu Rodrigo.
- Deixe-me lembrar. Ah ta... Lembrei.
- Sabem o que é Elza?
- Nome de mulher – falei.
- É nome de mulher. Mas na gíria gay, esta palavra é usada para se referir a uma bicha ladra ou ao roubo. – E explicava – Por exemplo: eu roubo sua carteira, Rodrigo. Então, eu dei a Elza em você. Também se entra aqui na sala uma bicha que é ladra e quero te avisar pra tomar cuidado, então eu digo “cuidado com a Elza”.
- kuakuasuskauskau. Essa foi boa. Conte mais.- eu falei.
Fabinho adorava nos explicar o linguajar que usava com suas amigavas. Os outros garotos da classe jamais lhe deram atenção. Sentiu-se valorizado por não estar sendo discriminado por Rodrigo e por mim.
Desfiou uma relação de diversas gírias gays e seus significados.
“Ana Cláudia é aquele bicha em que você não pode confiar, é uma pessoa falsa”; “Catarina é a bicha que escuta sua conversa e passa pra frente. Você pensa que ela nem ta escutando sua conversa, que ela está por ali entretida em outra coisa, Mas a bicha ta lá catando tudinho para fofocar”; “Aqüé é dinheiro”; “mona é mulher, mas este é comum e todo mundo sabe”
Dizia tudo de maneira muito engraçada e nos divertíamos muito. Nem vimos a hora passar. Deu o sinal para o intervalo.
Fabinho foi ao encontro das outra panteras.
- Tchau, gatérrimos, - despediu-se.
Desci para o pátio com Rodrigo.
- Vou para a cantina. Ta a fim ?
- Não a fila ta muito grande e nem quero nada. Vou estar lá na arquibancada.
Dirigi-me às quadras descobertas do LG, onde a maioria dos alunos passava o intervalo sentado nas arquibancadas conversando, jogando basquete ou futebol na quadra grande. Podia fazer sol ou chuva, frio ou calor, mas as duas mini-quadras de vôlei estavam sempre ocupadas com muitos alunos se revezando para jogarem. A grande maioria, gay.
De longe já avistei Marcos sentado, tomando sol, meio sentado, meio deitado, uma das pernas flexionada e a outra esticada. Escorava-se em um dos braços e passava a outra mão nos cabelos como que os massageando.
Como eu ficava contente ao vê-lo. Fazia apenas pouco mais de duas horas que havíamos nos falado, mas eu já estava com saudades.
Parei e de longe fiquei o espiando e admirando a beleza daquele gato. Meu gato.
De um lado oposto a Marcos, há uns 20 metros de distância, estava Fabinho. Vi que ele me observava. Notei que ele sacou que eu estava admirando Marcos.
A história do radar me veio a mente novamente. Senti um friozinho na barriga.
Fui até Marcos.
Ele abriu seu sorriso ao me ver.
- Demorou.- Falou.
- Que nada, Você quem estava ansioso.
- E você não estava.
- Preferiria responder com um beijo.
- Ué...beija.
- Ta maluco, é?
Rimos
Aproximou-se um garoto que eu conhecia só pelo apelido, Lê. Ele era da classe de Rafinha.
- Lucas, seu irmão ta lá na diretoria.
- Por quê? Que ele aprontou?
Rafinha não era aluno indisciplinado. Estranhei ele ter ido pra diretoria.
- Ele não foi sozinho. O Gui também está lá.
- Mas, conte o que ocorreu.
- Aplicaram na professora de arte o trote da “mãe dançarina”.
Eu e Marcos nos olhamos como se um quisesse que o outro lhe explicasse o que aquele menino estava falando. Mas ele mesmo nos explicou.
- Vocês não conhecem este trote? È o seguinte o Gui, combinado com o Rafinha, chegou para a professora de arte e disse “ Profesora, já que sua aula é de arte, peça para o Rafinha imitar a mãe dele dançando forró. É muito engraçado e ele adora imitá-la, pois a classe toda se diverte com isso. Ele já fez várias vezes isso e todo mundo riu muito” . O Gui falou tanto que convenceu a professora. “Rafael, por favor, você poderia imitar sua mãe dançando forró, para nós todos aqui da classe?”. Quando ela falou isso, o Rafinha mudou a cara. Fingiu que estava chorando, colocou as mãos no rosto e começou gritar que a mãe dele não tinha pernas. Que precisaram foram amputadas numa operação ocorrida no final de semana. Que ele ainda não tinha se acostumado com isso. Que estava chocado. E saiu da sala berrando. A profesora caiu em desespero. Se sentiu culpado. Começou a chorar e pediu para que chamassem o Rafinha que ela queria se desculpar. Ela ficou tão aflita que todo mundo ficou com medo dela ter um treco. Aí então, o Gui resolveu falar que era uma brincadeira. A mulher ficou furiosa. Mandou chamar o Rafinha no corredor e quase bateu nos dois. Eles pediram desculpas, mas não adiantou. Ela mandou os dois para a diretoria.
Eu e Marcos rimos tanto que chegamos a deitar na arquibancada. Sei que o Rafa tinha exagerado, mas imaginar tudo aquilo foi muito engraçado.
Não demorou muito ele apareceu perto de nós.
- Foi suspenso?
- Já soube, Uca?
- Sim. Foi suspenso?
- Não. Advertência apenas.
- Menos mal. – respondi.
Ficamos os três a conversar. Rodrigo retornou da cantina e juntou-se a nós.
Apresentei Marcos.
- Marcos veio de Campinas, Rodrigo. Ele acha nossa escola meio parada. Ta cheio de idéias aí no cabeção.
- Já conhece o cabeção dele, Lucas? – maliciou Rodrigo caindo na risada.
Não sei como são as meninas quando estão sozinhas conversando, mas os garotos, qualquer papo já transformam em sexo e qualquer termo usado já buscam um segundo sentido malicioso.
- Ainda não. Mas acho que você ta com vontade que ele te mostre. Marcos mostre o cabeção para ele..
- Calma moleques. Não briguem. Eu mostro para os dois. E nem é tão grande assim.
Fazíamos este tipo de piadinha, que na verdade não tinha graça alguma, o tempo todo.
Passou perto de onde estávamos um menino de um XI anos. Devia estudar na quinta série, na parte da tarde. Ele era magrinho e branquinho e mais alto que os meninos de sua idade. Tinha um rosto masculino. Não era bonito. Era completamente afeminado. Tinha o apelido de Globeleza.
Álias, no LG quase “todo o mundo”era chamado por apelidos.
Globeleza era chamado assim porque vivia dançando. Um dia encontrei-o no ônibus e mesmo lá ele se exibia dançando para algumas meninas que conhecia. Não se importava de “dar pinta” em lugar algum, ao contrário, parecia que fazia questão que todos soubessem que ali estava um pequeno gay. Insistia em ensinar passos de dança e balé, que não sei onde aprendia, para outros meninos que também apresentavam gestos afeminados. Fazia isto sempre em sua sala de aula, poucos antes de dar o sinal. Apesar de estudar no período da tarde, que se iniciava por volta á 13 h, Globeleza, quase todos os dias, na saída de nosso turno, 12h20min, eu já o via pronto para a aula.
- Acho que ele chega cedo para poder dar suas aulinhas de dança.- Falei para o Rodrigo que comentou a respeito do fato do Globeleza chegar todo dia tão cedo para suas aulas.
Vimos ele dirigir-se para a biblioteca e continuamos nosso assunto.
- Marcos, estão abertas as inscrições para eleição do Grêmio – Por que você não monta uma chapa? - perguntou- lhe Rodrigo.
- Vocês tem grêmio aqui?
- Temos –falou o Rafa – mas, o grêmio nunca faz nada.
- É Marcos, por que não monta uma chapa? – perguntei incentivando-o.
- Não sei. Sou novo aqui. Nem conheço ninguém Precisaria da ajuda de vocês.
- Que tipo de ajuda? – perguntei.
- Ajudarem na formação da chapa e na campanha para angariarmos votos. Mas, pessoal, na verdade, o que mais me interesso é que a escola tenha mais atividades. Eu não faço questão de participar da diretoria do grêmio, mas, gostaria muito de participar da elaboração de um jornalzinho feito pelos alunos e dirigido para os alunos.
Passamos o restante do intervalo ouvindo Marcos falar de suas idéias e a nos explicar da importância de um informativo dos alunos, que fosse independente da direção escolar.
O intervalo do LG, dizíamos, era o mais longo do Brasil. Além dos vinte minutos regulamentares, após o sinal, os professores demoravam quase dez minutos para saírem da “sala de professores” e ainda demoravam mais um tanto conversando entre si no corredor superior. Como eu já disse, a escola tinha fama de boa, mas quem estudava lá, sabia que sua fama era exagerada, para se dizer bem pouco.
- Marcos, por que você escolheu o LG para estudar quando se mudou para cá? – perguntou-lhe Rodrigo, que já estava bem entrosado com Marcos.
- Primeiro porque é perto da minha casa. Segundo porque falaram que a escola é a melhor daqui da cidade.
- Uhauahuha. Mais um que se deixou levar pela “lenda” do LG.
- Por que lenda, Rafa? A escola não é boa?
- Você ainda não notou? – reperguntou o Rafa.
- Hoje está começando minha segunda semana. Ainda não deu pra saber se é boa ou não.
- E você acha que nesta semana “vai dar”pra saber? – Mais uma vez Rodrigo fazia uma piadinha usando palavras de duplo sentido.
- Acho que nesta semana, sim. – Respondeu- lhe Marcos sem ter percebido a “piadinha”.
- Opa...dá pra mim, primeiro... – falou Rodrigo caindo na risada.
Chamei-os para que subíssemos para a sala de aula, afinal, o sinal já havia soado e até mesmo aqueles professores mais lentos já haviam passado por nós.
Antes de ir para sua sala, Marcos me entregou algo, disfarçadamente, que enfiei rapidamente no bolso para que Rodrigo não notasse.
Logo que me ajeitei em minha carteira, bem escondidinho, tirei do bolso o embrulhinho que Marcos me entregara. Tinha forma arredondada e estava embrulhado em folha de caderno para não chamar atenção – cheguei a esta conclusão quando o abri. Era um bombom, sonho de valsa, com um bilhetinho colado nele, também escrito em um pequeno pedaço de folha de caderno e dobrado tantas vezes até ficar do tamanho de uma borracha de apagar. Aquele bilhete substituía ali um cartão e trazia nele uma linda mensagem:
Lucas,
Como não posso beijá-lo neste momento, que este bombom toque sua boca da mesma forma que gostaria de tocá-la com meus lábios.
Marcos.
PS: O amor que sinto por você continua a crescer. Hoje ele é do tamanho dos 4 dias que nos conhecemos, mas com certeza, chegará ao tamanho de 4.000 dias (ou mais).
Sempre via em cenas de filmes para adolescentes na “sessão da tarde” ou em episódios de “Malhação”, meninas sonhadoras, com rostinhos de princesas, receberem declarações de seus “príncipes”, tão desejados, e se emocionarem caindo em lágrimas, ou pulando e gritando enquanto abraçam a melhor amiga, ou ainda, simplesmente suspirando fundo, de olhos fechados, enquanto seguram a mensagem com as duas mãos, apertando-a junto ao peito e se lembrando do rosto do “amado” sempre sorridente.
Achava tudo aquilo uma tremenda babaquice e algo totalmente irreal. Não acreditava que alguém pudesse ficar tão “emocionado”, ao receber uma mensagem de amor, mesmo que fosse de alguém que amasse. Algumas palavrinhas, mesmo que bem combinadas, não poderiam mexer tanto com ninguém, por mais tola e ingênua que fosse a pessoa.
A mensagem de Marcos e seu bombom me fizeram ver o quanto eu estava enganado e pouco sabia sobre o amor.
Meus olhos se arregalaram. Senti meu coração disparar. Minhas mãos transpiravam e tremiam. Não esperava tal surpresa. Achei que Marcos foi ousado, corajoso em registrar seu amor a outro moleque num papel e assiná-lo. Primeiro a música que cantou para mim, em sua casa. Agora esta linda declaração junto com um beijo materializado em bombom. Eu não sabia como manifestar a felicidade que senti. Eu não sabia se chorava de tanta alegria ou se pulava e gritava enquanto abraçaria meu amigo Rodrigo, sentado bem ali ao meu lado. Como eu não podia fazer nada disso ... simplesmente apertei a mensagem de Marcos junto ao meu peito, fechei meus olhos, dei um suspiro e lembrei-me de seu lindo rosto e seu belo sorriso.
Como é gostoso amar e ser amado – pensei.
Podia parecer um babaca, “a princesinha da sessão da tarde vestida de cuecas”, mas eu estava muito feliz e isto que me importava.
Fiquei contente ao lembrar que dali a poucas horas veria meu “amado” novamente.
Abri meu olhos para pegar o bombom, que deixara sobre a mesa, iria colocar aquele “beijo” em minha boca imediatamente.
O bombom não estava lá.
Fechei meus olhos por poucos segundos – raciocinava - assim, só poderia ter pegado meu “beijo” alguém que fosse muito rápido, o Flash, por exemplo, ou alguém que estivesse muito perto de mim.
Algué muito perto de mim ???
- Esse corno não se atreveu a fazer o que to pensando que fez? – Xinguei em pensamento e olhei para o meu lado direito com uma expressão de ódio. Tinha já a certeza de quem era o autor do furto.
- Ta procurando isso? – Rodrigo me fez esta pergunta, enquanto apontava com o dedo indicador esquerdo a metade do bombom, que segurava ainda envolto no papel vermelho, na mão direita. Falava mastigando metade de meu “beijo. No rosto uma expressão de cinismo e um sorriso irônico de quem perguntava sabendo qual a resposta.
- O seu guloso filho de uma puta !!! Quem mandou você comer este bombom? – Voei em cima de Rodrigo tentando segurar sua mão direita para salvar a metade restante de meu beijo, mas ele foi mais rápido, e como um soldado arremessando uma granada, jogou a metade restante do bombom para dentro de sua boca.
Enquanto ainda o segurava e o chacoalhava de raiva, o palhaço com a boca cheia e babando muito - como acontece quando mastigamos uma grande quantidade chocolate de uma só vez - rindo muito, me disse:
- Você colocou o bombom em cima da mesa, fechou os olhos e começou a gemer. Estava transpirando e vermelho. Pensei que estivesse passando mal e não queria mais comer o bombom.
- Passando mal vai estar você, seu cínico, a hora em que eu te pegar. Já que você é o gulosinho vou enfiar um abacaxi inteira na sua goela abaixo e fazer você cagá-lo ao contrário.
Apesar de ter ficado puto da vida com o Rodrigo, e nem mais conversar com ele no restante das aulas, no final do período já estávamos “de boa” novamente, pois a brincadeira que ele fez comigo, roubar meu bombom, muitas vezes eu também já havia feito com ele.
Pena que ele se “vingou” de mim, justo quando recebo o primeiro presente que Marcos me enviara.
Coloquei o bilhetinho de Marcos escondido entre a capa dura e o papel que encapava o livro que usávamos na aula da Diaba.
Meio dia e vinte soou o sinal, como sempre, despedi-me de Rodrigo ali na sala mesmo. Ele estava com pressa, pois iria ao dentista ajustar o aparelho.
Enrolei-me um pouco ajustando meu material na mochila, já não tinha mais ninguém na sala quando Marcos, com se sorriso de sempre, surgiu à porta.
- Vai dormir aqui hoje?
- Não. Já estava de saída.
- Que achou de meu presente?
Quando ele me perguntou aquilo, novamente fiquei com raiva de Rodrigo. Não poderia dizer para o Marcos que o “beijo” dele fora parar na boca de meu amigo. Poderia achar que eu fizera “pouco” de seu presente e de seus sentimentos.
- Foi o sonho de valsa mais doce que já comi.
Como é ruim mentir. Quanto mais para a pessoa que você gosta. Mas naquele caso, que mais eu poderia fazer?
- Adorei sua mensagem. Você é uma pessoa surpreendente. Junto de você sinto uma nova emoção a cada dia.
- Espero que sejam boas emoções.
Ao dizer isso se aproximou de mim para beijar-me.
- Aqui não.
- Mas não tem ninguém no andar. Todos alunos e professores já desceram.
- Mas não é isso. Já, já as tias da limpeza sobem para varrerem as salas de aula.
- To doido pra te dar um beijo.
- Marcos, me siga.
Levei Marcos até um banheiro que ficava ao final do corredor e que não era usado pelos alunos, pois há tempos estava com problemas de encanamento. Não sei a razão que não o arrumavam. Como não era usado, as tias da limpeza não entrariam ali. A porta do banheiro estava trancada, mas qualquer chave a abria, como acontecia com as portas de várias salas do LG. Todos os alunos sabiam disso, menos o diretor, que pelo jeito se “preocupava muito” com a segurança da escola.
Coloquei a chave da porta de minha casa na fechadura, dei uma forçadinha, fez um barulho, pois a porta estava emperrada devido a ser pouco utilizada, mas abriu.
Entramos, fechamos a porta, Marcos já foi me encostando na parede, soltei a mochila no chão e começamos a nos beijar. Falávamos bem baixinho, pois o alertara que embora as tias não entrassem ali, poderiam nos escutar quando estivessem varrendo o corredor.
- Temos de ser rápidos – disse – pois, logo já começam a subir os alunos da tarde.
Eu e Marcos nos beijávamos bem coladinhos um ao outro. Escondidinhos, quietinhos e com muito fogo os dois. Esfregávamos nossas malas uma nas outras balançando e empurrando nossos quadris em movimentos contínuos que fazia cada vez mais aumentar nosso tesão. Comecei a beijar o pescoço de Marcos, depois a orelha e enfiava uma de minhas mãos dentro de sua bermuda esfregando-a em sua bunda. Ele por sua vez, também não perdeu tempo e desabotoou minha bermuda, que caiu no chão, me deixando somente de cueca (preta)e camiseta (branca, uniforme). Meu pau, de muito duro, mostrava-se já parcialmente para fora. Marcos agarrou-o e o apertou com força. Tirei também sua bermuda e ele também ficou de cueca (verde escuro) e camiseta da escola. Também agarrei seu pau colocando-o para fora da cueca. Beijávamos-nos e nos masturbávamos em total silêncio. Não emitíamos um gemido sequer, para não sermos ouvido por ninguém de fora.
Estava muito bom tudo aquilo.
O fato de estarmos e um local público, de podermos ser pegos e punidos, e pior que isso, o fato “daquilo” que fazíamos poder se tornar notícia no LG, caso alguém nos visse, tornava ainda mais excitante aquele nosso momento.
Não desgrudávamos nossas bocas, A língua de Marcos travava uma guerra contra aminha, para disputarem qual adentraria a boca do outro. Os movimentos de nossas mãos segurando nossos pênis eram cada vez mais acelerados.
Pela nossa respiração ofegante poderia ser percebido que estávamos prestes a gozar.
Eu já não estava mais agüentando.
- Pare.
- Que foi, Marcos?
- Tem alguém aqui dentro.
- Não pode ser. Estava trancado você viu.
Conversávamos sussurrando.
Os banheiros da escola possuíam uma pequena parede que se localizavam bem de frente para a porta, de tal modo que quando esta estivesse aberta, quem estivesse fora não poderia ver quem estivesse dentro do banheiro. Eu e Marcos estávamos namorando neste pequeno corredorzinho que se formava entre esta parede e a porta fechada.
- Tem gente aqui sim - Insistiu Marcos.
Colocamos nossas bermudas e adentramos ao banheiro.
Não havia ninguém na área onde se localizavam a pia e o mictório.
- Vou olhar os boxes.
Abaixou-se e olhou pelos vão existentes na parte inferior das paredes dos boxes. Um dia vim saber que estes espaços são obrigatórios por questões de segurança, para evitarem que algum aluno, principalmente as crianças, ficasse trancado no banheiro por algum motivo qualquer.
Marcos verificou os quatro boxes vazios. Fez isso olhando da abertura do primeiro boxe em direção ao último. Via os quatro vasos sanitários, quatro cestos de lixo e mais nada.
- Não tem ninguém mesmo. Foi apenas uma impressão minha devido a estar com medo de sermos pegos. Acho melhor irmos embora agora mesmo, Lucas.
Adoro cinema, TV, filmes de qualquer tipo, séries, minisséries, desenhos, etc. Inúmeras vezes vi no cinema e na TV o “bandido” subir no vaso sanitário para tentar se esconder do “mocinho”, ou vice-versa. Lembrei-me disto quando já havíamos aberto a porta do banheiro para sair. Tranquei-a novamente.
- Espere.
- Que foi, Lucas?
- Vamos dar mais uma olhada.
- Você já viu que não tem ninguém. Eu me enganei. Vamos embora, Lucas, senão seremos pegos.
- Não. É rapidinho.
Voltamos a verificar os boxes, mas desta vez abriríamos a porta de cada um deles.
Empurrei a porta do primeiro e estava vazio. Fizemos a mesma coisa no segundo, também vazio. No terceiro, nada. Quando se abre a porta do quarto boxe nos assustamos e demos um passo para trás. Apesar de estarmos procurando alguém, não estávamos preparados para encontrá-lo.
Em cima do vaso sanitário do último boxe estava sentado e com as pernas recolhidas, chorando baixinho, mas intensamente, um aluno magricelo e alto, que eu conhecia – Globeleza. Em pé no vaso, segurando-o para não fugir, com a mão esquerda, enquanto tapava sua boca com a direita, um aluno grandalhão e bem mais velho que o Globeleza, e que eu também conhecia – Breno.
- Que você ta fazendo com o moleque, Breno?
- Não se metam nisso. É negócio meu com ele.
Enquanto o desgraçado do Breno esbravejava, puxei pelo braço o Globeleza para junto de nós, fora do boxe. Ele sentou-se no chão segurando na perna esquerda de Marcos. O garoto estava muito assustado.
Marcos se abaixou, enxugou os olhos do Globeleza e acalmando-o perguntou seu nome.
- Globeleza – disse soluçando e segurando o choro.
- Seu nome e o não apelido.
- Diego, mas pode falar Globeleza mesmo. Não ligo.
- Diego, o que ele estava fazendo com você. Por que ele estava o prendendo aqui no banheiro?
Enquanto Marcos conversava com Diego me postei na porta do boxe em que ainda estava Breno, escorando minha mão esquerda no batente da porta em sinal de que ele não sairia dali enquanto não permitíssemos
O machão da escola, que vivia batendo em moleques mais fracos, não ousou a se arriscar sair dali. Permaneceu imóvel e quieto.
Marcos mais uma vez perguntou para Diego, que também se mantinha em silêncio.
- Diego, fique tranqüilo. Pode confiar em nós. Queremos apenas te ajudar. O que ele queria de você?
Apesar de até aquele momento, Diego, ou Globeleza, não ter dito uma palavra que esclarecesse o ocorrido, tanto eu como Marcos, tínhamos uma grande desconfiança do que estava ocorrendo naquele boxe.
Marcos insistia para que Diego respondesse e quando ele demonstrou que falaria algo, Breno gritou.
- Conta a verdade prá eles, Globeleza. Vamos, diga a verdade.
Parou de chorar e olhou com raiva para Breno.
- Vou dizer a verdade sim. Você queria me obrigar a te chupar.
- Ahh !!! ...desgraçado. – Xinguei Breno e já fui em sua direção enchendo-o de tapas e socos em sua cabeça, que mantinha abaixada e coberta com as mãos, para se proteger, e chutes em suas pernas.
- Perae...pára um pouco. - Gritou ele.
Eu estava com muito ódio daquele cara. Já não tinha simpatia por ele por saber que era um covarde que vivia batendo em moleques menores que ele. Também já havia me deixado puto na aula da Diaba, quando o Fabinho assumira algo que ele havia feito. E agora, saber ainda que ele estava ali abusando sexualmente de uma criança. Queria mais era matá-lo.
Parei de socar aquele saco de banhaa para perguntar novamente ao Diego.
- Diego, que ele ta falando?
- Foi eu quem o chamei aqui sim.
- Por que você o chamou? – agora era Marcos quem perguntava, meio que espantado com a resposta de Diego.
Diego abaixou a cabeça acanhado e não respondeu a Marcos.
- Fala prá ele, veadinho, porque você me chamou aqui.
Quando ele chamou o Globeleza de veadinho, dei-lhe um murro em sua boca que de tão forte cortou minha mão em seus dentes. Mas, tive o gostinho de ver o sangue de sua gengiva escorrer pelo seu queixo.
- Não xingue mais ele. Senão você vai sair daqui de maca – Ameacei-o.
- Diego você precisa nos falar – disse-lhe Marcos calmamente – pois a polícia vai te perguntar estas mesmas coisas.
- Polícia?!? – perguntou Breno assustado – Fale prá eles logo, Globeleza.
- Não quero que chamem a polícia, nem falem nada prá ninguém. Não contém nada nem pro diretor. Fui eu quem o chamei até aqui. Eu queria chupar o pau dele. Mas, depois eu não quis mais e ele queria me obrigar. Quando ouvi vocês entrarem, quis sair, mas ele me segurou e tapou minha boca para que eu não pudesse chamá-los.
- Estão ouvindo? Ele quem me chamou, Faz dias que fica me dando sinal de que queria fazer uma chupeta para mim - falou isto e fez o gesto que, segundo ele, Diego fazia para convidá-lo para sexo oral.
- Mas ele não quis mais e você quis obrigá-lo. Você não podia forçá-lo.
- E eu ia bancar o palhaço dele? Ficou me chamando vários dias e quando eu aceito, bem na hora h, queria me deixa com o pau na mão. Ninguém me “tira” assim não.
- Mesmo que ele tenha feito tudo isto, cara, não acha que ele é muito novo prá você? – Gritou Marcos –
- Que novo nada. Que pequeno o que, Este moleque é mais rodado que a van que traz os alunos surdos - Os alunos portadores de deficiências auditiva eram trazidos por vans da prefeitura, pois vinham de bairros, as vezes distante, e nossa escola era o pólo de atendimento a estes alunos em nosso município. - Ele já viu mais pinto que o urologista aí da frente - Havia um consultório de urologia bem próximo do LG, era sair da escola e já avistar a placa com o nome e a especialidade do médico. Breno não estava sendo original, usara uma piada que todo moleque do LG usava quando queria desqualificar alguma menina.
Entendi o que se passava na cabeça daquele moleque. Apesar de ninguém ter o direito de forçar ninguém a nada, muito menos sexo, aquela situação seria de qualquer forma constrangedora para ele. De vítima, poderia passar a vilão da história.
- Olha aqui seu filho de uma cadela vira lata, você vai embora daqui porque o Diego pediu. Por mim, eu te arrastava pelo asfalto até o 2º DP. Você ia chegar lá com este bundão inteiro esfolado. E quando os outros presos soubessem de suas gracinhas iriam arrombar este seu cuzão com um cabo de vassoura.
Nunca fui violento. Sou contra violência e nem achei correto ter batido no Breno nesse dia. Acho que a última vez que tinha me envolvido em briga física ainda estava no prezinho. Mas, tudo aquilo me deixara com muito ódio e queria descarregá-lo em murros, tapas e xingamentos sobre aquele cafajeste. Não conseguia me controlar de jeito nenhum.
O Breno, como muitos, achava que pelo fato do Globeleza ser “bichinha”, bastaria apresentar-lhe um pinto e pronto, ele cairia de boca.
Caiu do cavalo.
As pessoas de uma forma em geral pensam que os “veados” não escolhem os homens. Eu mesmo pensava assim. Achava que bastava aparecer alguém disposto a sair com um gay, a comê-lo ou a lhe dar a pica para chupar, que este já ficava feliz da vida e abriria suas pernas e boca para o cacete que se apresentava.
Somente após eu me descobrir homossexual é que pude desfazer duas idéias erradas que eu tinha e que a grande maioria dos heterossexuais tem: A primeira é esta, de que o gay não escolhe seus parceiros. Tendo pinto, ele pega qualquer um. E a segunda é de que não existia sentimento, amor num relacionamento entre dois homens. Que tudo se resumia apenas em sexo, Que nem beijo existia. Que ser veado era apenas uma grande putaria.
Breno se movimentou para ir embora, porém, parou, passou as costas da mão direita nos lábios para limpá-lo e depois a observou. Olhou a mancha de sangue extraído de sua boca sujando sua mão. Mostrou-a para mim e para o Marcos, fez uma cara de ódio.
- Isso não vai ficar assim não. Agora vocês estão “fudidos”, comigo. Pensam que eu não sei de nada? Pensam que não escutei vocês dois se agarrando e se beijando aí atrás da parede? Suas bichas. É por isso que vocês estão defendendo ele, né? Vocês são bichas iguais ao Globeleza.
- Diz só uma coisa Breno – falei calmamente - Em quem as pessoas acreditarão? Em nós que livramos uma criança de ser abusada, ou no abusador que inventa uma história para se vingar?
- Você pensa que sou burro, Lucas? Sei que nem você, nem seu “namoradinho”, irão contar nada prá ninguém. Ele – apontou para o Diego - te pediu e você tem “dózinha” dele. Sei que não vai querer que a fama de chupeterio deste moleque se espalhe pela escola. Então, cara, ninguém saberá nada a meu respeito.
- Quer dizer então, que só quem perderá com esta história toda somente será eu e meu “namoradinho”? – Indagou-lhe Marcos.
- Exatamente. Você, que chegou ontem aqui na escola e já quis dar uma de bom e o seu amiguinho. Os dois veadinhos, ou se preferirem, homossexuais, para não pensarem que estou xingando vocês.
O covardão, tranqüilo com a impunidade, agora já estava ousado e irônico.
- Cara, vou te explicar algo que parece que você não sabe. Homossexual é a pessoa que tem relação sexual com alguém do mesmo sexo. Exatamente o que você queria fazer. Então, cara, você também é homossexual, ou, veadinho. como você se referiu. Não são só três veadinhos que estão neste banheiro, eu, Lucas e Diego. Tem mais um quarto veado aqui dentro. Ele se chama Breno.
- Eu não sou veado não. Ele ia me chupar e mais nada. Isso não tem nada de mais. Deixar chupar não tem nada a ver.
- Na sua cabeça, apenas. Apenas nessa sua cabecinha. – Falou Marcos com bastante firmeza.
- Bem, mas pra encerrar o assunto, Breno. Já que eu e o Marcos estamos “fudidos” mesmo, só nos resta uma coisa então...
- O que? – perguntou o burro do Breno sem prever o que Marcos estava prestes a fazer.
- Isto, seu desgraçado. Falou ao mesmo tempo em que começou a socar Breno.
Deu apenas um murro na boca de Breno, depois passou a “apenas” dar-lhe tapas na cara, empurrões e chutes.
Breno chorou e pediu para Marcos parar. Até eu que já havia socado aquele patife estava já sentindo dó dele.
Breno estava com a cabeça arriada se protegendo dos tabefes e dos “croques” de Marcos, quando ele pegou sua orelha e o levantou até que ficasse nas postas dos pés.
- Você pense bem no que vai falar quando sair deste maldito banheiro. Você não me conhece, não sabe de onde venho e não sabe do que sou capaz – Marcos falava isso como se fosse um grande chefão do crime organizado, o Don Corleoni do Poderosos Chefão - Quer espalhar que sou veado, espalhe. Mas, depois, suma da área, pois quem vai estar fudido é você. E agora saia daqui já.
Breno se levantou depressa, não falou mais nada e quando se virou para sair, Marcos deu-lhe ainda um chute em sua bunda. Ouvimos o gritar e foi embora.
- Nossa!! – exclamou, Globeleza.
- Que foi, Diego? Nossa, o que? – perguntei a ele.
- Que macho é este que você arrumou, heinm. Queria ter um namorado assim. Me abana Jesus e apaga a luz.
O moleque era fogo mesmo.
- Diego você não pode mais fazer estas coisas. Você é muito novo – Expliquei para ele – E ainda mais aqui dentro da escola.
- Vocês também estavam “fazendo” aqui dentro da escola.
- Eu sei. Agimos errado. Poderíamos ter sido pegos e nem sei o que seria de nós. Mas, mesmo assim você é muito novo, garotinho.
Eu falava com ele de forma muito carinhosa, pois realmente eu fiquei preocupado com aquele garoto. E continuei.
- Você já pensou o que poderia acontecer se não estivéssemos aqui? Você poderia ser obrigado a fazer muita coisa que não quisesse.
- Se vocês não aparecessem eu ia dar uma mordida e arrancar o pinto dele.
- E em reação, ele poderia até te matar. – Falou Marcos seriamente, sem querer assustar Diego e sim relatando o que acontece em situações em que a vítima reage ao violentador.
Diego continuava a se explicar.
- Vocês fala que eu sou criança, mas eu tenho vontade de pegar os caras. Que posso fazer? – Nos perguntou se isentando de qualquer culpa.
- Faz assim então. Pega uns garotinhos de sua idade e que curtem o lance também.
- Deus me livre de sair com pirralho. Não sabem fazer nada. Eu tenho que ficar ensinando tudo. Não tem um pelo no saco e os pintinhos deles são muito pequenos.
Eu não sabia mais o que argumentar. A realidade é que a maturidade sexual se apresenta em idades diferentes em pessoas diferentes. Não aparece aos XIV anos apenas para todo mundo, como diz a lei escrita lá por volta de 1940.
Aquele moleque tinha a libido à flor da pele. Mas seus desejos poderiam colocar em risco a vida de outras pessoas e sua própria segurança também.
- Como você entrou aqui? Perguntei a Diego.
Ele riu.
- Do mesmo jeito de vocês, usei minha chave.
Antes de irmos embora, Diego já estava bem mais calmo. Perguntei se ele precisava de alguma coisa e se não queria mesmo denunciar Breno. Ele disse que não. Aproveitei para tirar uma curiosidade que guardara pra mim e perguntei o que o fizera desistir de chupar Breno bem na hora H.
- Ahh – Disse ele todo esnobe, nem parecendo o moleque choroso que vimos naquele banheiro – Ele tinha uma nequinha feia e fedida. Achei pequena e fiquei com nojo. Então desisti.
Dei muita risada.
Deixamos o Globeleza e no caminho prá casa Marcos me perguntou.
- Que é nequinha?
- Neca é pinto. Nequinha é pintinho. Ele quis dizer que o Breno tinha um pau pequeno.
- Ah ta. Mas, como você sabe isso?
- Fabinho. A Fabi, a pantera que estuda na minha classe. Ela ta me ensinado o dicionário gay inteiro. Tenho aulas todos os dias. Você sabe o que é Elza ? Então...
Fomos andando e eu fui contando para Marcos todos os verbetes que havia aprendido com o Fabinho.
- Pelo menos agora somos bilíngües – Disse ele quando se despediu e foi para sua casa.
- Marcos... - Chamei-o.
Estava já a uns oito metros longe de meu portão.
Ele se virou para ver o que eu queria.
Beijei a palma da minha mão e a soprei em sua direção. Ele esticou a mão no ar e depois a fechou como se e tivesse pego meu beijo voando. Depois encostou as duas mãos uma na outra, como se segurasse um passarinho e levou meu beijo até sua boca.
Sorriu. Sua marca registrada. Deu uma piscada e disse: MSN. Acenou com a mão e foi para sua casa.
Eu já sabia agora o que era paixão.
Passei pelo portão de casa, cantando em voz alta.
“O amor está no ar; Em tudo que passar...”
CONTINUA...