Eram quase quatro da tarde quando a Marília me ligou.
- Renato, eu e os meninos da banda estamos ensaiando. Eu sei que você não pode cantar por enquanto, mas você pode tocar, pelo menos... E tipo, acho que isso vai te distrair um pouco.
Pensei por alguns segundos se deveria ir ou não. Então decidi ir, afinal eu precisava me distrair e começar a seguir em frente.
Caminhei até a casa da Marília e ela estava na porta da casa. Acenou para mim e entrou na garagem da vizinha, onde a banda ensaiava.
Entrei um minuto depois dela e não acreditei no que estava vendo.
O Alex com uma guitarra na mão em frente a um dos microfones e começou a tocar...
Parecia uma realidade alternativa...
Como era possível? Eu o deixei no aeroporto...
Ele já deveria estar a milhares de quilômetros, mas a música que ele começou a cantar me fez parar de pensar em toda e qualquer tipo de lógica. Era tarde demais para raciocinar.
Eu já estava envolvido pela mesma magia que me envolvia sempre que ele cantava.
Enquanto eu ouvia a sua voz, nada mais no universo importava e só existia eu e ele...
- Eu não podia partir antes de tentar mais isso... Me escondi do meu pai, fugi do aeroporto, consegui superar meu bloqueio pra te cantar que “eu farei qualquer coisa para mudar tudo isso” e eu “vou nos manter juntos custe o que custar!”
A Música dizia tudo; ele mudaria por mim... E eu sabia disso. Só me restava acreditar mais uma vez no poder do amor e arriscar tudo pra tentar ser feliz!
Eu me aproximei dele, lacrimejando e perguntei :
- Custe o que custar?
- Custe o que custar!
Olhei dentro dos seus olhos verdes misteriosos e vi que eu estava diante do Alex que eu sempre amei. E eu tive certeza de que dessa vez seria para toda a vida!
Nos beijamos.
O beijo mais doce e especial de toda a nossa vida!
EPÍLOGO
Depois desse momento nossa vida não foi fácil.
O pai dele quis matá-lo, porque uma passagem para os Estados Unidos custa uma fortuna...
Ele comprou outra passagem para dali uma semana.
Ele se foi.
Quanto a mim, só me restava acreditar que ele seria fiel.
Pelos seis meses restantes do intercâmbio, nós conversamos por MSN e e-mail todos os dias.
Quando ele voltou, finalmente pudemos ficar juntos.
Eu passei no vestibular de medicina e ele passou em música e biologia.
Ele fez terapia ainda por dois anos.
Nós demoramos a voltar a fazer sexo; sempre com muito cuidado para só fazermos sexo quando realmente estivéssemos em um momento legal e nunca por puro desejo, para não alimentar as dificuldades do Alex.
Nosso namoro já teve altos e baixos, mas ele nunca me traiu.
E assim nós temos levado até hoje.
Ele sabe que eu escrevi esse conto, mas nunca quis lê-lo, pra não lembrar de coisas que não foram tão boas.
FIM
HISTÓRIA DA HISTÓRIA
Gostaria de compartilhar com vocês a história dessa história:
Na universidade eu fiz vários amigos e logo descobri que na minha turma havia um casal gay, Pablo e Eduardo.
Fiquei amigo deles.
Após vários meses de convivência eu contei a eles a minha história com o Alex e com o Carlos e eles acharam demais eu ainda namorar meu primeiro namorado.
Certa noite, estávamos estudando juntos e entramos no Orkut com o fake de um deles e lemos alguns contos eróticos.
Percebemos, juntos, que havia várias histórias eróticas, mas muitas eram romances.
Foi então que tivemos a ideia de criar um conto fake. O nome do conto seria “Espiando o Vizinho” e nós compartilhamos fantasias e algumas experiências homossexuais que eu transformei em um conto erótico.
Brincando com as palavras e a fantasia dos leitores, criei um conto que alguns dias depois tornou-se muito mais lido do que eu esperava. Foi então que eles me encorajaram a contar a história do meu namoro.
No início eu achei que seria uma bobagem, mas alguns meses depois eles me fizeram ver que a minha história daria até um belo livro, se eu quisesse publicar, mas eu nunca nem imaginei nada assim, até porque não sou escritor.
O argumento que me convenceu foi:
“Você namora com o seu primeiro namorado, que conheceu por coincidência, antes do primeiro dia de aula do 1º ano ensino médio. E você já está no quarto ano da faculdade, sem falar em toda aquela história da sua banda e da viagem dele para os EUA... E ah! Espera... Você é gay e saiu do armário por causa de uma tragédia com seu segundo namorado!”
Ok. Eles tinham razão... Eu tinha muita história pra contar, mas se eu ia escrever, não queria escrever no mesmo tom vulgar que escrevi “Espiando o Vizinho”.
Optei por escrever minha história de forma romanceada e musical.
Mudei alguns detalhes. Mesmo já sendo assumido e não tendo nenhum problema com isso, a minha futura profissão de médico exige de mim certa discrição em relação à minha vida particular.
Por isso, mudei nomes, lugares, criei paisagens, tudo para mascarar o lugar, época e principalmente a identidade das pessoas envolvidas.
O resultado foi um conto que teve muitos leitores, mas que infelizmente teve seu desenvolvimento atrapalhado pelo ritmo pesado do curso de medicina e pela saúde da minha mãe.
Outra coisa que me chamou a atenção foi o tamanho do conto. Nunca esperei que ele se tornasse tão longo.
Talvez eu tenha exagerado nos detalhes e nos diálogos. Mas uma história real envolve pessoas e não personagens, por isso não existem papeis e sim vidas a serem contadas.
Muitas histórias que se misturaram com a minha foram “filtradas” desse conto porque se eu fosse contar tudo não iria terminar tão cedo.
Só para citar algumas dessas histórias:
* Os vários problemas com namorados da minha mãe.
* A separação dos pais da Marília.
* O suicídio do irmão mais novo do Carlos, cinco semanas depois da morte do irmão. A mãe deles quase morreu de desespero. (nesse conto eu fiz que esse irmão dele nem existia...)
Enfim... Já deu pra perceber que muita coisa ficou de fora.
Uma das minhas preocupações, enquanto escrevia o conto, foi marcar a mudança que ocorreu na minha vida nessa época.
Assim eu iniciei o conto escrevendo de um jeito mais simples, com muitas reticências, em um ritmo mais acelerado, na verdade até mais erótico e terminei de outro, com uma escrita mais romântica, puxando para o emocional e para as reflexões.
Não sei se todos os leitores perceberam, mas eu tentei.
Não sei se o final do conto agradou a todos...
Talvez o problema de um conto real, é que os finais são reais e nem sempre a realidade satisfaz tanto quanto o desfecho de uma história fictícia.
De qualquer forma gostaria de agradecer a todos que leram meu conto!
Cada um de vocês carrega agora uma parte de mim.
Espero que lembrem sempre com carinho desse romance que se passou “Entre Livros e Paixões”.
Beijo.
<<< FIM>>>
Uma história real
Esse conto vai está no meu top 3, porém de uma maneira muito especial, Nunca um história me fez refletir tanto, além de tem alguma particularidades semelhante a minha vida, como mangas, transas, amizades e até morte de um grande amigo na sua juventude e no sonhos com pessoas que tanto sinto saudades que sei que vem me visita em sonhos!!! Gratidão