Eu não entendi como tínhamos chegado até aquele ponto. No momento em que ele me contava sobre o Vinícius, se comportava, falava em tom cordial, amigável. Tentou me mostrar que estava calmo em relação a isso, para que eu não achasse que ele tinha ficado mexido com essa ligação. Mesmo quando o mandei à merda, ele foi gentil. Mas chegou um ponto em que o meu exagero causou o dele. Não me perdoei.
Poxa vida, ele disse, enfim, “Eu te amo!” seguido de um “Vamos embora...”. Decepcionante.
À noite, nesse mesmo dia, eu ligo para ele.
- Oi.
- Oi.
- Tudo bem?
- Tudo.
- Escuta, você ainda está chateado comigo?
- Não estive chateado com você. Eu só estou confuso.
- Quanto ao fato de você me amar? - perguntei assustado.
- Não, disso eu tenho certeza. Estou confuso, pois não reconheço a minha reação a isso. Eu me sinto bem em te amar, mas é como eu te disse, não me controlo mais.
- Você não precisa ter medo disso. - falei.
- Sinto como se dependesse de você. Perdi minha autonomia.
- Eu também perdi a minha, mas eu gosto de depender de você, porque você sacia as minhas necessidades como homem e como ser.
- Idem, mas não é simples assim. Eu preciso de tempo para analisar tudo e voltar a me reconhecer, reconhecer quem eu sou agora, reconhecer minhas reações.
- Você está pedindo um tempo? - perguntei.
- Não.
- Mas você disse que precisa de tempo...
- O que eu quis dizer é que você precisa ter calma comigo. Eu posso parecer estranho por esses dias. Principalmente agora que você sabe que eu te amo.
- Eu espero quanto for preciso. Amor é isso.
- Eu sei. Agora eu sei. - ele falou.
- Me perdoa, tá?
- Não esquenta.
- Eu te amo!
- Eu também te amoEntão a vida foi seguindo. Eu o amava, ele me amava e estávamos felizes. Mas chegou a um ponto em que esse jogo de esconde-esconde começou a atrapalhar de verdade.
As minhas constantes saídas com o Caio, mesmo acompanhado por outras pessoas, e as várias vezes em que eu dormia fora de casa causavam curiosidades na minha família.
Os finais de semana eram explicáveis, mas e os outros dias? E depois, fazia tempo que eu não namorava. Explicar era difícil.
O pior era mentir, não porque eu achasse horrível mentir, mas porque a cada mentira eu me impedia de ser verdadeiramente feliz.
Anular-me para que outras pessoas fossem felizes me magoava. Foi o momento mais feliz da minha vida, até então, mas também foi o mais estressante.
- Vai para onde? - perguntou meu irmão.
- Sair.
- Disso eu sei, mas para onde?
- Vou à casa da Claudinha.
- Está comendo?
- Besteira, somos amigos.
- Homem amigo de mulher? Conversa.
- Ela tem namorado.
- Desde quando isso é empecilho?
- Enfim, estou indo. Tchau.
Tudo o que eu queria era passar mais tempo fora de casa e fora do seio da minha família. Quanto mais distante eu estivesse deles, menos explicações eu teria que dar. Mas eu sempre retornava e sempre teria que dar satisfações.
- Eu não aguento mais, Caio. É um saco. Eu choro sempre quando estou em casa, no quarto.
- É assim mesmo, você tem que se acostumar.
- Nossa, pensei que você fosse me dar algum tipo de apoio.
- E estou dando. Quanto antes você se conformar, mais cedo você vai melhorar com essa situação.
- A tendência é piorar.
- É, eu sei.
Festa na casa de amigos é sempre uma boa. Você é quem você é de verdade. Pelo menos deveria ser assim. Principalmente na casa do Tom, onde todos ali sabiam que ele era gay.
O Caio, porém, ficou distante a noite toda. Eu não entendi. Eu o abraçava, mas ele afastava os meus braços discretamente. Ficamos encostados na escada, Claudinha, seu namorado, Caio e eu.
- Quer cerveja? - perguntei a ele.
- Não, valeu.
Eu fui abraçar a sua cintura, mas ele se esquivou. Eu fiquei chateado e fui tentar de novo e ele mais uma vez se esquivou.
- Tudo bem?
- Tudo, cara.
- Cara?
- Não posso te chamar de cara?
- Pode, mas você não tem esse costume.
Encostei-me na escada de novo e fiquei tomando minha cerveja emburrado.
O Caio parecia não se importar. Eu estava muito chateado, mas sou daquele tipo de homem que, quanto mais fica chateado com o namorado, mais quer agarrar, beijar, curtir. Mesmo raivoso. Então, eu fui tentar mais uma vez e mais uma vez ele se esquiva.
- ALGUM PROBLEMA, CAIO? - berrei.
- Problema nenhum, cara.
- Cara? Que merda é essa?
- O que está pegando? - perguntou a Claudinha.
- Nada, oras! - responde o Caio amigavelmente.
- Não sei, Cláudia, o Caio que está cheio de frescuras.
O Caio se vira para mim, me olha nos olhos e diz:
- O Vinicius dizia isso!
De inicio me veio a surpresa, em seguida a raiva, mas depois veio a conformação. Eu o provoquei, afinal. Mas não deixei barato:
- Parece que o Vinícius ainda é muito presente na sua vida.
- Não é não, mas sempre tem alguém que me faz o desprazer de lembrar dele.
- Você poderia muito bem não ter falado o nome desse cara aí.
- Digo o mesmo: você poderia muito bem não ter dito que eu era frescurento.
- MENINOS, PAREM DE BRIGAR! - gritou a Claudinha.
Eu cruzei os braços e encostei um dos pés na parede. O Caio deixou para lá e foi ficar com o grupinho de amigos gays do Tom. Ele logo se soltou. Eu o via rindo e conversando de maneira empolgada com os rapazes, mas eu não tinha ciúmes porque todos eram passivos e muito afeminados. Eu sabia que eles não faziam o tipo do Caio. Só fiquei com raiva porque ele me abandonou.
Eu também fiz pirraça e não o procurei mais na festa. Foi quando eu conheci uma menina. Ela era bonita, bem vestida, morena clara e bem falante. Percebi que ela ficou muito interessada em mim, mas me fiz de ingênuo e não dei atenção. Ela era amiga do namorado da Claudinha, portanto, não pude fugir dela, pois as únicas pessoas que eu conhecia ali, além do Caio, eram a Claudinha e seu namorado.
Depois de um tempo, o Caio voltou. Nem parecia que tínhamos nos desentendido, mas também ele não ficou ao meu lado.
- Do que falam? - perguntou ele.
Ele chegou e eu o olhei nos olhos. Fiz uma cara de bravo (charme de namorado). Ele olhou, mas nem ligou.
- Caio, essa é a Vitória.
- Oi, gata, prazer.
- Olá. - disse ela.
O papo foi fluindo, até que num momento de gargalhada, a Vitória se apoia em mim e agarra o meu barco. Ficou o resto da noite agarrada a mim.
- Posso ficar assim, Mar?
- Pode. - disse eu sem graça.
Eu olhei para o Caio e ele não demonstrou o mínimo de ciúmes, nem mesmo quando ela me chamou de “Mar”.
Na verdade ele continuou rindo e sendo o Caio extrovertido de sempre. Até a Claudinha mostrou certa preocupação quando a Vitória me abraçou. A partir daí a coisa piorou. A conversa começou a ficar ao pé do ouvido.
- Mar, você não tem namorada não, né?
- Não.
- Nossa! O que acontece com essas mulheres? Um homem como você solto por aí.
Eu ri. Ri mais pelo nervosismo que pela vergonha. Quanto mais ela falava, mais íntima a conversa ficava. Para adiar o processo, eu me fazia de idiota.
Ela quis ir ao banheiro e chamou a Claudinha com ela. Na certa, foi pedir ajuda, pois eu estava “idiota” demais. Foi a oportunidade que eu tive de falar com o Caio.
- Você não está percebendo isso não? - perguntei bravo.
- Percebi, claro. - disse ele calmamente.
- Não vai fazer nada?
- O que eu posso fazer?
- Bem, pelo menos você sabe que a culpa não é minha.
- Sei sim, Marlon. Fique tranquilo. Se você quiser ficar com ela, tudo bem.
Eu simplesmente congelei: congelei meu corpo, minhas reflexões, minhas reações... foi a coisa mais estranha que ouvi.
- Como assim?
- Se você quiser ficar com ela, pode ficar.
- Não entendi.
- Entendeu sim, Marlon, é isso mesmo.
- Por que eu ia querer uma coisa dessas?
- Ah, para despistar.
- Mas...
Eu não tinha o que dizer. Entrei em pane. Não me vinham palavras. A única coisa que eu fazia era girar a cabeça de um lado para o outro, demonstrando a minha falta de compreensão.
Depois as meninas voltaram do banheiro, a Vitória deu um tempo com a gente, depois foi dar uma volta.
- Relaxa, Marlon, eu só disse que você não ia ficar com ela, pois a menina que você é afim também está nesta festa, ok?
- Tudo bem, Claudinha, valeu!
- É a revolução sexual, minha gente. Agora as mulheres também caçam. - disse o Caio ironicamente.
- Caçam mesmo. Principalmente quando o namorado deixa ao vento.
- Ai, Marlon, não faz drama.
Senti-me extremamente ofendido com aquilo. Para mim aquela festa tinha acabado.
- Eu vou embora, você vai? - perguntei irado.
- Vou.
Despedimo-nos de todos e saímos. Entramos no carro, mas foi só o tempo de eu rodar a chave e virar na primeira esquina.
- O que foi aquilo, hein? - perguntei bravo.
- Nada.
- Nada? Você me empurrou para a menina!
- E?
- Como “e”?
- Ué, você queria ficar com menina?
- Como você pode me fazer uma pergunta dessa? Eu não entendo nada!
- Tudo o que você fizer para despistar é bem vindo. Não me preocupo.
- Caio, estamos falando de eu ficar com outra pessoa, de te trair. Ainda mais na sua frente.
- Eu aguento.
- Desculpe, mas eu não tenho esse sangue frio não.
- Tudo bem, amor.
- Tudo bem nada, Caio. Você... você me deu forças para ficar com outra pessoa. Seja homem, seja mulher. Você... não tenho palavras.
- Seja mulher, tudo bem. Seja homem, não.
- FAZ DIFERENÇA? - gritei.
- Faz. Eu sei que você não sentiria prazer com ela.
- É traição!
- É pelo seu bem.
- Meu bem? Eu sei o que é o que me serve de bem. E outra, por que você ficou fugindo de mim?
- Marlon, você não assumiu ainda. Tem que maneirar.
- Estávamos entre amigos, qual o problema?
- Mas tinham pessoas que não sabiam. Como a própria menina mesmo.
- Que se fodam!
- Não é assim, Marlon.
- É assim, sim.
- E se um amigo do seu irmão estivesse nessa festa?
- Que amigo? Está louco? Que amigo do meu irmão viria para uma festa do Tom?
- Vai saber...
- Caio... essa foi a primeira decepção que eu tive com você. - disse eu meio cabisbaixo.
- Decepção? O que eu fiz?
- Me pediu para negar a mim mesmo.
- Mais outro drama?
Mais uma vez me senti ofendido.
- Acha que isso é drama? Me ofende, sabia?
- Ai, ai. Marlon, nessa vida, nós gays não temos tempo para ficar se lamentando não. Não temos tempo de ficar chorando pelos cantos “Oh, que sociedade cruel... Oh, por que meus pais não me aceitam?...”. Vai demorar para você entender que a vida das outras pessoas tem papel incisivo nas nossas. E não importa se você é do tipo de pessoa que acha que os outros são os outros. Você ainda não assumiu, então tem que levar a vida desse jeito mesmo. Acostume-se ou assuma.
- Esse papinho todo é para pedir que eu me assuma logo? - desdenhei.
- Pelo contrário: quero te mostrar os meios de se manter desse jeito por mais tempo.
- E você quer isso?
- Não importa se eu quero ou não. Na verdade para mim tanto faz. O problema é que você ainda não está seguro sobre isso. Eu só estou te ajudando, te dando apoio para permanecer como hétero.
- Que horror!
- Um dia você vai perceber que todo o meu sacrifício é para o seu bem. Se vai me agradecer, é outra história, mas vai cair em si quando notar que as suas lágrimas não vão comover ninguém.
Como uma pessoa, que conquistou meu coração, poderia ser a mesma a dizer palavras tão duras? Como o mesmo Caio, que possui uma legião de admiradores, pode ser o mesmo cara que me trata com frieza justamente quando estou mais carente?
- Você conseguiu, Caio. Parabéns! - comecei a chorar - Estou chorando e, pelo visto, você não se comove.
- Eu me comovo sim. Me vejo em você em épocas passadas. Mas não vou te consolar. Não hoje.
- Afinal de contas, namorado só serve para transar e para empurrar um companheiro para uma traição, não é?
- Não vou alimentar essa discussão.
- Você me surpreende cada vez mais.
- Não vou fazer o seu jogo.
- QUE JOGO? ESTÁ MALUCO? - gritei irado.
- Não.
- Sai do meu carro, Caio.
Ele não pensou duas vezes e, como se nada tivesse acontecido, ele abre a porta do carro e vai descendo calmamente. Quando ele põe o primeiro pé no chão, eu o interrompo, puxo sua perna para dentro e travo a porta. Ele fica calado, eu enxugo minhas lágrimas.
- Não negue que a sua atitude me fez inferior. Não negue que você me anulou hoje.
- Não vou negar nada, não falo mais nada.
- Eu quero uma explicação.
Ele ficou calado.
- Eu exijo, Caio. Você me deve isso. Tudo o que eu fiz por você...
- Não te devo nada, Marlon. - disse calmamente.
- DEVE E PAGUE AGORA! - gritei mais uma vez.
Eu o olhei, então. Ele me olhou em resposta. Ele agitou a cabeça de um lado para o outro, demonstrando negação. Estalou os lábios, desdenhando do meu choro. Fez um “tsc, tsc, tsc” e continuou:
- Eu estou aqui para te apoiar, para te fortalecer... - eu o interrompi.
- Você... - ele me interrompe imediatamente.
- Você disse tudo o que poderia dizer. Agora é minha vez!
Ficamos calados.
Eu fiquei assustado com a imperiosidade dele; ele calou-se para se certificar de que eu tinha me calado.
- Você é imaturo, ingênuo, bobo, tolo, estúpido, idiota e há vários outros adjetivos que posso te oferecer. - ele tecia o discurso calmamente - Mas te ofereço o adjetivo de infantil. Infantil, pois lembra infância, que lembra juventude, aprendizado. Vou parecer arrogante agora, mas que se dane: você tem que aprender muito comigo. Você está na condição de “enrustido”, como dizem, por opção sua. Você não se sente seguro para assumir o que você é e eu acho isso normal, acho isso natural. Na minha época, eu sabia que ser gay era errado - ele disse a palavra “errado” com os dedos indicando as aspas - e eu vivia triste, chorando pelos cantos, pensando em fugas. Mas eu logo percebi que ninguém ligava. Ninguém se importava e ninguém sentia o que eu sentia. E por isso eu fui chorar mais? Por isso eu fui dar uma de filósofo e indagar o porquê de o mundo ser assim? Não estou dizendo para você ser amargo, mas te peço para cair na real. Se tem uma coisa que eu odeio é gay chorão. Gay que não cai na real. Mas tem uma coisa que eu aprovo e muito: apoio mútuo. Todo mundo precisa de apoio, e eu me considero o seu. E sou com todo parazer. E mesmo que você chore até o fim da sua vida e fique questionando o porquê de o mundo ser do jeito que é, eu vou estar aqui. Mas não admito gays que pausam nessa fase dos “porquês”.
E ele nem esperou eu respirar e continuou:
- Merda! Não há ninguém por nós. Não defendemos tanto a ideia de que somos homens, mesmo sentindo atração por outros homens? Então sejamos esses homens, que defendemos tanto, e vamos à luta. Seja dentro ou fora do armário. Não estou dizendo que sou contra a luta pelo preconceito. Pelo contrário, sou a favor que se reprima qualquer tipo de opressão, mas nós só vamos conseguir isso quando pararmos de sentir pena de nós mesmos. Você não se sente à vontade em assumir para a sua família. Ótimo! Não me oponho a isso, sei o quanto é difícil. Mas você quer mesmo ficar seguro dentro do seu armário? Assuma as consequências e as encare como homem. Você acha que ficar com aquela menina hoje seria traição? - ele soltou uma risadinha irônica - Besteira. E é por isso que você me parece infantil. Há gays que procuram a própria morte por não aguentar mais viver sobre pressão e daí me aparece você, um cara que tem tudo na vida, cheio de dengo dizendo “Ah, assim você me ofende!”. Me poupe, Marlon! Repito, estou aqui para o que der e vier, mas aprenda que a vida é alicerçada por regras. Quer quebrá-las? Não me oponho. Vai ser difícil? Com certeza. Você aguenta? Sinceramente? Acho que não. E isso tudo não quer dizer que eu não te ame. Isso tudo quer dizer que eu te amo o suficiente para saber que eu tenho que fazer sacrifícios para que você seja feliz. Você acha que foi fácil para eu vir aquela menina agarrada ao seu braço? Você acha que eu fiquei contente quando te autorizei a ficar com ela?
Ele tomou uma pausa, respirou fundo e prossegui falando:
- Muitos gays passam por toda essa barra sozinhos. Você tem a mim. Esses gays enfrentam diariamente o chamado mundo-cão e fazem coisas piores para não serem banidos de seus círculos sociais. Para mim, esses gays são homens de verdade, homens que merecem o meu mais sincero respeito. E mais uma vez vou parecer arrogante: eu sou um desses, apenas sou um rapaz novo, mas sou. Não me venha dizer que eu firo os seus sentimentos, quando te autorizo para ficar com uma mulher. Ora, fique se quiser e se não quiser, problema seu. As consequências você assuma depois. E esse depois não tarda a chegar. Logo-logo os seus pais vão cobrar seriamente uma namorada e te questionarão o porquê de você estar a tanto tempo sozinho. E isso será o começo. As pessoas que te circundam farão o mesmo. Se você acha que, quando estamos apenas nós dois em um lugar público, você pode fazer comigo o que quiser, mas quando está com os seus amigos você vai ser outra pessoas, esqueça essa ilusão.
Ele pausou mais uma vez e disse:
- Nossa! Eu tenho mais mil coisas para te dizer, mas eu cansei. Se você quiser ir para casa chorar e me enfiar culpa goela abaixo, faça isso. Depois venha me dizer quem é o verdadeiro culpado pela sua agonia: se sou eu, o namorado frio e insensível; a sociedade cruel; ou se é você. Mas só para te poupar, eu te respondo: eu até posso ter uma parcela de culpa, mas reagi segundo as suas atitudes; a sociedade realmente é cruel, mas se você quiser mesmo perder o seu tempo culpando-a, boa sorte, ela não te dá a mínima; e por último, você... você é único culpado dos três que pode realmente fazer alguma coisa.
Eu não esperava que um dia o Caio fosse tão frio comigo. Ouvi tudo calado, com as lágrimas escorrendo pela minha face. Depois de todo o sermão, ele concluiu:
- Não sei se fiz certo ou se essa foi a hora certa de te dizer isso. Mas agora já foi. Fique bem, tente descansar e dirija com cuidado.
Ele foi abrindo a porta para sair do carro, mas eu o detive:
- Para onde você vai?
- Vou pegar um táxi. É melhor.
- Pára, Caio. Eu te levo.
- Não, eu vou de táxi.
- Caio... - ele me interrompe.
- Amanhã você me liga. - e desceu do carro.
Senti falta de um abraço, de um carinho, um beijo... Faltou calor humano. Talvez aquelas palavras secas fossem necessárias, mas faltou afeto. Pelo menos eu senti isso. Eu tentei não chorar quando cheguei em casa, mas foi inevitável.