- Esse beijo é um pedido de desculpas, falou tímido.
- Vamos conversar lá no meu quarto?
- Pode ser aqui mesmo.
- Prefiro no meu quarto.
Fomos para o quarto e assim que entramos fechei a porta.
- Qual parte da cama você prefere?
- Eu deito no cantinho, disse ele rindo.
- Melhor assim porque se você quiser me bater, dá tempo de fugir.
- Porque eu bateria em você?
- Uma coisa que vou te contar depois, mas primeiro fala você.
- É sobre a hora que você chegou.
- O que tem demais?
- Você viu alguma coisa?
- Não vi nada porque não sou de ficar bisbilhotando a vida dos outros, mas ouvi porque não tinha como tapar meus ouvidos.
- Desculpa Sandro eu prometo que isso não vai mais acontecer.
- Não precisa me prometer nada eu entendo você.
- Mais não está certo.
- Fica tranquilo e não esquenta com isso.
- É que você é muito novo ainda para entender certas coisas.
- Tenho 17, e você me acha novo?
- Você só tem idade, mas continua sendo o meu irmãozinho.
- Com quantos anos você perdeu a virgindade?
- Acho que foi com 18, 19 anos, não lembro direito.
- Mas você namorou a Viviane desde os 15.
- Namoramos, mas não tinha envolvimento sexual e a partir do momento que começamos a ter aconteceu que ela me traiu.
- Você me surpreendeu.
- Achou que eu fosse um doido por sexo?
- Não, é que nessa idade os hormônios se exalam.
- A minha decisão de manter relações sexuais veio na hora certa, soube aproveitar bem a minha adolescência, beijei muito na boca e não me arrependo de nada, disse rindo.
- Eu te admiro.
- Você já gostou de alguém?
- Mais ou menos.
- Não vai me dizer que você está apaixonado?
- Gosto de muito de uma pessoa e acho que até é mais que isso.
Tiago me olhou assustado.
- Me conta essa história direito.
- Não sou tão inocente quanto você imagina.
- Você já...
- Já transei se é isso que você quer saber.
Ele ficou me olhando com uma cara de bobo como se não tivesse acreditando.
- Não acredito.
- Pode acreditar, não sou mais virgem.
- Nunca vi você com alguma garota?
- E nem vai ver.
Sandro, o que você está querendo me dizer?
- Deixa eu me ajeitar aqui porque quero ficar de frente pra você.
Viramos na cama e ficamos frente a frente.
- Conta pra mim Sandro, o que está acontecendo com você.
Tiago parecia assustado e a minha coragem ficou lá no dedinho do pé do tamanho da unha.
- Lembra uma vez que você disse que estaria sempre do meu lado?
- Lembro sim, mas o que isso tem a ver?
- Tem muito a ver, porque eu escolhi você para ser a primeira pessoa, a saber, meu segredo.
- Segredo?
- Sim Tiago, eu tenho um segredo.
- Que segredo é esse?
Suspirei e fechei os olhos.
- O que é mano, pode falar está me deixando nervoso.
Olhei firme nos olhos dele e criei coragem.
- Eu sou gay.
- O que? Como assim, é gay?
- Eu gosto de meninos, diferente de você que gosta de mulher.
- Isso não pode ser, disse Tiago meio alterado, mas não fez nada contra mim, continuávamos deitados um olhando para o outro.
- Eu sou assim Tiago.
- Você pode estar enganado, é novo ainda, está em fase de descobertas.
- Desde os 11 que eu sinto desejo por meninos.
Tiago me olhava assustado como se não tivesse me reconhecendo e aos poucos seus olhos foram enchendo de lágrimas à medida que a ficha foi caindo até que correu uma por seu rosto.
- Você vai me odiar depois disso? Comecei a chorar.
Tiago ficou calado, apenas chorava, ele não esperava essa revelação e eu fiquei imaginando se não tinha sido precipitado, talvez Roger tivesse razão, até que ele mesmo chorando conseguiu falar com a voz embargada pela emoção.
- Nunca, você é meu irmão, só acho que não foi orientado o suficiente, talvez por estarmos sempre trabalhando, acabamos te deixando um pouco de lado.
- Não foi nada disso mano, eu nasci assim.
- Você vai sofrer com o preconceito das pessoas, ele falava e suas lágrimas corriam pelo rosto.
- Vou sofrer mais se você me virar às costas.
- Eu jamais farei isso.
- A opinião dos outros não me interessa, o meu maior receio é você, o papai, a mamãe e a Aline, não quero perder o carinho de vocês.
- No que depender de mim isso nunca vai acontecer, ele já estava mais calmo e já tinha secado suas lágrimas com a mão.
- Que bom Tiago, você não imagina o nervosismo que eu estava antes de falar.
- Como você descobriu Sandro?
- Quando tinha 11, fui ao banheiro na escola e no momento que estava fazendo xixi um colega meu também estava e eu fiquei olhando o pênis dele e não conseguia desviar minha atenção, a sorte que ele não percebeu ou se fingiu e também sempre fui discreto porque tinha medo.
- O que você fez?
- Na hora nada, apenas não tirava aquela cena da cabeça. Depois que cheguei em casa fui para o banheiro e comecei a me tocar, senti uma sensação gostosa e enquanto fazia isso pensava na forma como ele segurava o pênis com a mão, mesmo em seu estado natural, eu me masturbei até que saiu um líquido do meu pau, nem sabia direito o que era gozar e morria de medo de vocês descobrirem.
- Isso é tão novo pra mim, não sei o que dizer a você.
- Não precisa dizer nada, apenas me ouça. Depois disso passei a me masturbar no banho pensando nele e na escola, toda vez que ia ao banheiro observava de canto de olho se conseguia ver os meninos fazendo xixi, com o tempo veio à educação física e eu via os meninos tomando banho depois da aula, às vezes tinha que fugir, pois passei a ficar excitado ao vê-los e morria de medo de alguém descobrir e debochar de mim no colégio.
- Não dá para acreditar numa coisa dessas, se você não tivesse olhando em meus olhos seria capaz de jurar que estava me pregando uma peça.
- Estou sendo sincero com você, sempre via os meninos beijando as garotas no colégio, olhava aquilo e pra mim não significava nada, mas bastava eu ver um cara coçando o saco já era o suficiente para ficar excitado.
Tiago não dizia nada apenas prestava atenção em cada palavra que dizia e às vezes ele ainda me olhava assustado.
- Espero que você não fique com nojo de mim. No início achei estranho me interessar justamente por algo que o meu corpo tinha, mas depois que passei a imaginar como seria excitante o beijo de dois caras, tinha que me masturbar, pois só assim melhorava aquela tensão e até que aos poucos fui me descobrindo sozinho.
- Não vai me dizer que desde essa época você já transava?
- Não, mas tinha paixões platônicas.
- É mesmo?
- Teve dois colegas do colégio que foram protagonistas dos meus sonhos, ficava excitado só de imaginá-los comigo, é claro que isso foi em épocas diferentes, depois que desencantei de um veio o outro, mas nunca passou de sonho e fantasia.
- E... E comigo você sente essas coisas?
- Com você é diferente, não consigo te ver sem ser meu irmão, apesar de que eu nunca te vi pelado, disse rindo, mas o Tiago parecia assustado.
- Menos mal, ele disse sorrindo parecia mais descontraído.
- Eu respeito às pessoas Tiago, por exemplo, o papai eu tenho maior respeito.
- E nossos primos?
- O Junior é um pedaço de mau caminho, mas não rola, onde eu percebo que o cara é hetero nem me arrisco.
- E o Juliano?
- O que tem ele?
- É primo distante também.
- Totalmente distante, ele é sobrinho da tia Joana e é gatíssimo.
- Você teria coragem mesmo sabendo que o cara é sobrinho da tia Joana?
- Calma, porque isso não vai acontecer, apesar de que eu não vejo por que.
- Você me disse que não era mais virgem, foi com Juliano?
- Não, nem dava tempo, a gente mal se falou e eu nem sei se o cara curte.
- Não entendo o que você quer dizer com curte?
- Se ele é assim como eu.
- E ele é?
- Não sei, nem imagino.
- Mas e aquela história de msn quando o Juliano saiu?
- Amizade.
- Como você sabe se a pessoa curte?
- Não tenho muita experiência, mas acho que a convivência e certos detalhes levam a perceber.
- Acho muito complicado tudo isso, homem é bicho difícil de entender, vai por mim, eu sou um e não sou fácil de lidar.
Isso eu sei, não é só chegar e flertar as garotas como vocês fazem, porque se levarem um fora de uma menina e ela sair falando ninguém repara, mas um garoto é diferente, tem que saber se ele gosta também para não se dar mal ou ainda levar uma surra dos Tiago da vida ou então sair comentando e te chamando de viado.
- Você acabou de fazer 17, e sabe mais coisas da vida do que eu com 22 anos.
- É porque você só pensa em mulher e elas são bem mais fáceis de conquistar, se deu certo, beleza, se não deu, a fila anda e o meu mundo é outro, eu analiso muito a personalidade das pessoas.
Tiago apenas sorriu da minha constatação.
- Essa pessoa que você transou.
- O que tem ela?
- Como vocês se conheceram?
- Simplesmente aconteceu, mas eu já gostava dele há muito tempo, porém deixei que a vida se encaminhasse de nos aproximar.
De repente Tiago ficou pensativo olhando dentro dos meus olhos como se me analisasse.
- O que foi?
- É o Roger?
- Por enquanto não me sinto preparado para te dar essa resposta.
- Vou respeitar o seu tempo e quando achar que deve contar me procure.
- Tudo bem, isso eu ainda não estou preparado para te contar.
- Eu quero saber só mais uma coisa, pode ser?
- Claro, pode perguntar.
- Você ainda está com essa pessoa?
Responder ou não responder, pensei, analisei e cheguei à conclusão que não mentiria.
- Sim, mas não vou te dizer quem é.
- Tudo bem, eu saberei entender.
- Obrigado por você ser essa pessoa tão especial, tenho muito a agradecer a Deus por ter me dado um irmão tão lindo de coração.
- Ainda estou assustado, é muita informação pra minha cabeça, me sinto meio perdido.
- Eu sei, fiquei assim quando comecei a me descobrir, ou até pior, pois eu tinha medo de tudo, agora já aprendi a lidar com isso.
Tiago me puxou para um abraço, depois beijou meu rosto e voltou a deitar olhando em meus olhos acariciando meu cabelo com a mão.
- Olhando pra você eu não consigo acreditar ainda.
- Com o tempo você acostuma.
- E você, é o que?
- Como assim?
- Ah você sabe, ativo, passivo.
- Os dois.
- Ele apenas sorriu e calou-se.
- Ter o seu apoio é muito importante pra mim.
- Você pretende contar para o papai, mamãe e Aline?
- Por enquanto não, é muito difícil enfrentar tudo isso, falei pra você porque senti confiança.
- Obrigado por confiar em mim.
- Você me transmite muita paz.
- Eu te amo maninho e isso é tudo.
- E sobre hoje à tarde, fica tranquilo, é um segredo nosso e não precisa deixar de trazê-la aqui, se quiser posso até te dar cobertura.
- Obrigado mano, você não imagina o quanto fiquei chateado com a situação.
- Não precisa seu bobo, vocês não estavam fazendo nada demais.
- Eu sinto como se tivesse fazendo coisas erradas e respeito à casa do papai e da mamãe.
- Eu te entendo, mas você também precisa curtir sua relação.
- A gente sempre vai a motel, hoje que bateu a vontade de experimentar a minha cama, já que não tinha ninguém.
Tiago sorriu e me olhou com uma carinha sapeca, já estava mais a vontade comigo.
- E quanto a você não precisa ter receio de mim, é meu irmão e eu te respeito, pode ser sempre o mesmo comigo.
- Se eu andar de sunga você não vai me atacar moleque, disse sorrindo.
- Não, fica tranquilo.
- Ufa! Até fiquei nervoso com essa conversa.
- Eu notei, sua mão está suando fria.
- Você me deixou nervoso, jamais imaginei que teríamos esse tipo de conversa.
Obrigada, eu te amo muito, muito, muito, muito.
- Você é e sempre será meu irmãozinho do coração.
- Obrigado meus Deus por ter me dado esse anjo de irmão, aproximei e beijei o rosto dele.
- Qualquer coisa de ruim que acontecer com você, na rua ou na escola, promete que vai me contar?
- Prometo.
- Outra coisa muito importante.
- o que é?
- Você usou camisinha?
- Usei e fica tranquilo que eu me cuido.
- Você é o meu bebê e não quero que nada de ruim te aconteça.
- Não vai acontecer estou bem e feliz.
- Eu percebo, parece até que está apaixonado.
- Por enquanto eu só posso dizer que estou feliz.
- Eu confio em você e respeito sua privacidade.
- Obrigado por tudo mais uma vez.
- Vamos comer? Essa conversa me deu fome.
- Cadê o papai e a mamãe?
- Foram jantar fora com a família do Paulo, mas tem comida na geladeira, vamos lá que eu aqueço.
- Está prendado hein? Estou dizendo que logo vai casar.
- Por enquanto não.
Ele levantou e deu um tapa na minha bunda.
- Oh aqui é área proibida hein?
- Vai se ferrar o moleque, sou seu irmão bato onde quiser, posso até dar uma surra.
- Não tem coragem.
- Me provoca para ver se não tenho coragem.
Fomos para a cozinha, Tiago aqueceu a comida e depois jantamos. A partir desse dia ele passou a ser tudo pra mim.
Dormi em paz naquela noite, estava tranquilo comigo mesmo, já não me sentia sozinho, tinha meu irmão a quem poderia contar e dividir minhas angustias.
Acordei no dia seguinte com uma tremenda dor no corpo, deveria ser efeito das brincadeiras do final de semana, além de uma ressaca danada que me tirava totalmente à vontade de levantar e ir para a escola.
Quando saí no portão Rafael e Fernanda já me aguardavam.
- Que cara de ressaca é essa? Perguntou Rafael.
- É efeito do final de semana, disse Fernanda.
- Bom dia pra vocês também.
- Ah bom dia idiota, disse Rafael rindo da minha cara de sono.
- Bom dia Sandro, pelo visto além da festa teve outras comemorações, disse Fernanda.
- Teve sim, por quê?
- É que agora ele tem o novo amiguinho e está deixando os velhos amigos de lado, disse Fernanda.
- Vocês estão com ciúmes só porque arranjei um novo amigo?
- Você não é mais o mesmo, mal tem tempo para tomarmos banho de piscina, nem nos acompanha mais ao country, disse Fernanda.
- E jogarmos videogame? Esse nem se fala, faz dias que você não me chama para uma partidinha, disse Rafael.
- Vocês tem razão, vou me dedicar um pouco mais aos dois, estão muito carentes.
Os dois começaram a rir, percebi que o Rafael às vezes olhava com um jeitinho diferente para Fernanda, será que tinha evoluído algo entre os dois.
Na saída ao meio dia notei Roger estacionado com seu carro em frente à escola, Rafael e Fernanda estavam comigo, fiquei sem graça em deixar meus amigos sozinhos, não sabia o que fazer, mas com certeza ele não gostaria que os convidasse para uma carona e também eu não tinha esse direito a final o carro era dele.
- Não vou voltar com vocês.
- Vai pegar carona com Roger? Perguntou Fernanda.
- Ele está me esperando do outro lado da rua.
Mostrei a ela, porém, antes que eu fosse até ele, observei Larissa atravessando a rua e indo ao encontro dele, fiquei sem graça com meus amigos e sem entender o que estava acontecendo.
- Acho que você perdeu a carona, disse Rafael sorrindo.
- Vou com vocês, respondi desapontado.
- É, parece que a professora Larissa resolveu fazer as pazes com ele, Fernanda olhou pra mim e sorriu.
- Vamos? Convidei-os e fiquei sem graça.
Fernanda, Rafael e eu saímos pela rua, andando a pé nossa casa era perto da escola.
Durante o trajeto fiquei pensativo tentando imaginar o que os dois conversavam, será que o Roger voltaria com Larissa?
- Sandro? Ouvi meu nome sendo chamado, olhei para o lado era o Rafael.
- O que aconteceu? De repente você ficou mudo e calado nem presta atenção no que falamos.
- Não é nada, vocês falaram comigo?
- Perguntamos se você vai trabalhar hoje à tarde, disse Fernanda.
- Vou sim, por quê?
- Estávamos pensando em aproveitar a piscina com você.
- Pode ser no final da tarde?
- Pode sim, Fernanda sorriu e agradeceu.
- Sandro! Escuto meu nome novamente, agora não era nem Rafael e nem Fernanda, olhei para o outro lado da rua era o Roger em seu carro.
- Roger está chamando por você, disse Rafael.
Olhei para eles e fiquei dividido se ia ao encontro dele ou não, estava com raiva de Roger, mas por outro lado curioso para saber o que ele ainda queria com Larissa.
- Vou falar com ele, no final da tarde nos encontramos lá em casa.
- Combinado, disse Fernanda.
- Por mim tudo bem, disse Rafael.
- Combinado então, disse e saí em direção ao carro de Roger.
- Oi meu sacaninha, disse ele assim que me aproximei.
- O que você queria com Larissa?
- Calma, entra aqui no carro.
Entrei e ele ficou me olhando como se me analisasse e eu estava bufando de raiva.
- O que houve está nervosinho?
- Você consegue me deixar assim e esse seu jeito de agir me machuca.
- Eu sou assim e você me conhece.
- Você e a Larissa voltaram?
- Não.
- Então o que ela queria com você?
- O nosso lance é outro.
- Que lance?
- Vamos pra minha casa e a gente conversa melhor.
- Sua mãe não está em casa?
- Ela almoça no trabalho.
Fomos pra casa dele, na minha cabeça só tinha uma questão, qual era o lance dele com Larissa?
Assim que entramos foi à primeira coisa que falei.
- Fala tudo, eu não aguento mais ou você pensa que sou bobo e não percebo as coisas.
- Não tem nada, Larissa e eu somos apenas amigos.
- Você está mentindo pra mim Roger, seja sincero, por favor.
- O que você ganharia com isso? Esquece, não estou com você, então é o que importa.
- Quando você viajou eu vi um monte de camisinhas na sua mala.
- E daí? Eu detesto ser controlado. O que você ganhou bisbilhotando as minhas coisas?
- Porque você faz isso comigo?
- Eu não fiz nada, te dou carinho, estou sempre presente, o que mais você quer?
- Quero que você demonstre amor por mim.
- E eu não demonstro?
- Você é cheio de mistério, tem horas que eu nem sei se te conheço direito.
- Eu só vejo a vida de uma maneira diferente, não me prendo a ninguém, mas isso não quer dizer que não goste de você.
- Você e Larissa transaram esse final de semana?
- Não é bem como você está imaginando.
- Então fale a verdade.
- Já disse, eu gosto muito de você, esquece o resto.
- Fala Roger.
- Dei uma carona pra ela no sábado depois da festa, fazia tempos que não ficava com uma mulher, eu gosto, tenho desejo e acabou que rolou.
E ainda teve coragem de transar comigo à tarde?
- São situações diferentes.
- O que existe de diferente? Eu não consigo compreender.
- Sinto vontade de manter relações sexuais tanto com homens como mulheres, mas gosto de você e com ela é só sexo, porém eu preciso me satisfazer, senão piro da cabeça.
Eu tava decepcionado com o Roger, não conseguia nem olhar na cara dele, peguei minhas coisas e saí sem falar nada, nem olhei para trás, precisava por minhas ideias em ordem. Ele ainda perguntou se não queria que o deixasse em casa, mas não respondi.
Minha raiva era tanta que tinha um nó na garganta, não conseguia chorar de tão nervoso e decepcionado que estava, foi quando andando pela rua meu telefone começou a tocar, olhei era o Diego, nem lembrava mais dele achei até que estivesse esquecido de mim.
Pensei se atendia ou não, na verdade, não estava com cabeça para falar com ninguém, mesmo assim, resolvi atender.
- Alô!
- Oi Sandro, essa semana nós já vamos retornar para Belo Horizonte, gostaria de encontrar com você antes da volta.
- Tudo bem, podemos marcar então.
- Pode ser hoje à tarde?
- À tarde eu trabalho, mas se você quiser pode vir a minha casa no final da tarde, convidei dois amigos meus para tomar banho de piscina.
- Combinado então, só me passa o endereço.
Passei o endereço a ele e combinamos de nos encontrar no final da tarde.
Quando cheguei a casa, encontrei o Tiago almoçando. Meus pais como de costume já tinham almoçado e estavam descansando.
- O que houve? Ele me perguntou quando me viu de cara amarrada.
- Não houve nada, por quê?
- Eu te conheço e sei que não está bem.
- Não precisa se preocupar comigo, estou bem.
- Serve ai e vem me fazer companhia.
Depois que servi meu prato sentei à mesa com ele para almoçar.
- Você não confia em mim?
- Confio, mas não é nada demais, estou bem, porém cansado.
- Tem certeza?
- Tenho.
Se você quiser falar comigo é só dizer, estou disposto a te ouvir e ajudar.
- Obrigado mano!
- Vai nos ajudar no mercado agora à tarde?
- Vou sim, no final da tarde convidei Rafael, Fernanda e Diego para um banho de piscina.
- O Diego, filho do Paulo?
- Sim, por quê?
- Hoje o papai estava me falando que o Paulo contou a ele que é pai do Roger, você sabia disso?
- Sabia, fui eu que ajudei o Roger a encontrá-lo.
- Você é muito amigo do Roger, né?
- Somos amigos e quase parentes.
- Mano, seja sincero comigo.
- Desculpa, não entendi.
- O cara que você está envolvido é o Roger.
- De onde você tirou isso?
- Não precisa enganar a si mesmo Sandro, eu percebo que seu lance com Roger vai além de amizade, é a única pessoa com quem vejo você se importar e sempre que pode está com ele.
- Promete guardar segredo?
- Sou seu irmão e estou aqui para ajudar.
- É ele sim.
A fisionomia do Tiago mudou, ele fez uma cara de decepcionado, ficou me olhando sério como se pensasse em algo.
- Você gosta dele, né?
- Muito, é como eu te falei, estou apaixonado.
- Conheço pouco do Roger, mas eu não vejo nele um cara que se amarra em alguém, você me entendeu?
- Entendi.
- Não que seja contra, mas ele vive enrolado com Larissa e fora outras meninas que eu já vi pegando em bailes.
- Compreendo a sua preocupação, mas eu gosto dele e não sei o que fazer?
- Logo que você me falou, desconfiei dele, mas eu conheço o Roger pegador de mulher, nem imaginava que ele ficava com caras também.
- Hoje ele me disse que gosta de se relacionar com mulheres, mas gosta de mim.
- E você vai se contentar com migalhas, mano?
- Ele gosta de mim e sempre foi muito legal comigo.
- Gosta, mas não pensa duas vezes antes de ficar com uma mulher, raciocina bem mano, se é isso que você quer?
- Na verdade eu queria que ele ficasse somente comigo.
- Parte pra outra, eu sei que agora posso estar sendo cruel, mas essa relação só vai te trazer sofrimento.
- Eu gosto dele.
- Lembra a minha situação com a Viviane, foi exatamente assim que começou e no fim era uma traição atrás da outra.
Só em lembrar o que Tiago passou comecei a chorar, será que o Roger teria coragem de continuar me traindo?
- Não chora, não gosto de ver você assim, levanta a cabeça e pensa bem o que deseja pra sua vida.
- Ele transou com a Larissa no dia do meu aniversário, falei em prantos e não consegui esconder aquilo do meu irmão.
- Não acredito que ele teve coragem de fazer isso?
- Hoje ele me contou depois que o pressionei.
- E você ainda tem duvida se não quer se afastar dele?
- Não é fácil assim Tiago, eu gosto dele, amo!
- Já passei por essa experiência, não caia no mesmo erro que eu.
- Não sei se consigo me afastar dele depois de tudo que vivemos juntos, ele me mostrou tantas coisas legais.
- Acontece assim mesmo, é legal, maravilhoso, mas e as traições você vai conseguir suportar?
- Não! Estou péssimo depois que soube e não foi a primeira vez, quando ele viajou para Belo Horizonte encontrei várias camisinhas na mala dele.
- Isso já é uma prova que você tem que se afastar dele.
- Mas eu o amo.
- Desculpe dizer, mas isso não é amor, é doença, pensa bem Sandro, você é um menino bonito não se rebaixe a tanto.
- Falar é fácil Tiago.
- Eu sei que não é, mas pra que se humilhar desse jeito?
- O Paulo quer conversar comigo, quem sabe se o Roger tendo a chance de mudar financeiramente, a cabeça dele mude?
- Mesmo assim, mas não se engane porque pode até piorar.
- Porque você acha isso?
- O Paulo é bem de vida e pode oferecer uma condição social totalmente diferente da que Roger está habituado e ele pode querer aproveitar essa liberdade bem mais do que tem agora.
- Você quer dizer que ele tendo dinheiro vai querer sair mais e se divertir?
- E porque não?
- O Roger não é disso, ele não quis o dinheiro do pai.
- Não esqueça que o Paulo está na cidade e provavelmente já entrou em contato com ele.
- O Paulo me disse na festa que queria falar comigo, provavelmente vai tentar uma aproximação ou um acordo com ele.
- Então, pensa bem no que falei.
- Obrigado mano!
- Não precisa me agradecer.
- Mesmo assim é muito bom poder desabafar.
- O que importa pra mim é a sua felicidade, disse rindo e levantando da mesa.
O Tiago foi muito legal comigo, depois da nossa conversa o acompanhei até o mercado e embora suas palavras fossem sábias eu não conseguia ver a situação igual a ele.
Tive uma péssima tarde no trabalho só pensava no Roger, porque ele tinha que agir daquele jeito? Dei graças a Deus quando chegou meu horário de saída e fui pra casa.
Cheguei junto com Rafael e logo depois foi a vez de Fernanda, fomos para a piscina e com meus amigos consegui esquecer um pouco dos problemas.
Sandro, tem um moço aí e quer falar com você, disse a empregada interrompendo nossa conversa, só então lembrei que tinha marcado com o Diego.
Saí da piscina e fui ao encontro dele do jeito que estava.
- Uauu que gato? Disse Diego assim que me viu, por um instante esqueci que ele era meio maluquinho.
- Tudo bem Diego, o cumprimentei de longe.
- Quero um abraço, disse ele de braços abertos.
- Estou molhado.
- E daí? Eu não me importo, disse ele sorridente.
Diego nem me deixou responder, veio ao meu encontro e me abraçou, ele estava quente, pude sentir o calor de seu corpo junto ao meu, confesso que fiquei nervoso.
- Fiquei com saudades, disse ele ao meu ouvido enquanto me abraçava.
Ele conseguiu me deixar tenso e tratei em me afastar.
- Você é muito doidinho.
- Nem acreditei quando você me convidou para vir à sua casa.
- A final você é da família.
- Fiquei muito feliz com esse convite e ainda tive que ir numa loja comprar uma sunga, disse ele rindo.
- Porque não falou, poderia te emprestar uma.
- Bem que seria uma boa, mas aí era muito abuso.
- Como bom anfitrião não ia deixar você na mão.
- Da próxima vez faço questão de pegar uma emprestada.
- E haverá próxima vez?
- Claro, quando eu te visitar, você vai se negar a me receber?
- É claro que não.
- Também posso convidar você a passar um final de semana comigo em BH, o que acha?
- Seria muito legal, mais eu nunca saí de casa pra muito longe.
- Não é tão longe de carro e de ônibus é tranquilo, dá pra dormir à vontade na viagem.
- São muitas horas de viagem, mas bem que eu gostaria.
- É mesmo?
- E porque não?
- Então o convite está de pé para o mês que vem, vai ser meu aniversário, você aproveita e já vai à festa.
- Apesar desse jeitinho maluco, eu simpatizei com você.
- Vamos pra piscina?
Mostrei o vestiário ao Diego para ele se trocar a vontade e quando retornava encontrei Fernanda e Rafael na água. O casal estava no maior amasso e um beijo de tirar o fôlego, assim que me aproximei bati palmas e chamei atenção dos dois.
- Lindos! Quero saber as novidades e devem ser muitas.
- Era isso que nós queríamos contar, disse Rafael abraçado a ela.
- E quando começou?
- Na sua festa de aniversário, disse Fernanda.
Tive vontade de perguntar pelo Eduardo, mas Rafael com certeza ficaria chateado.
- Finalmente os dois pararam de birra, estou muito feliz que se acertaram.
- Nós vamos tentar, disse Fernanda, o Rafa é muito teimoso e ciumento.
- Ele gosta de você, nunca duvide disso.
- Valeu pela força parceiro, mas como você soube?
- Só um cego não percebia suas crises de ciúmes e indiretas.
- Olá disse Diego aproximando de onde estávamos.
Ele usava uma sunga branca que chamava atenção, combinava com sua pele morena o deixando muito bonito, seu volume se destacava por baixo do tecido, respirei fundo e voltei minha atenção para o casal que conversava com ele.
- Essa água está com jeito de estar muito gostosa, disse ele.
- Entra aqui e experimenta falei para ele que de forma espontânea atirou-se à piscina e saiu nadando, ele nadava bem, ao certo já teria feito escola de natação.
- Delicia de água, disse ele ao atravessar a piscina a nado.
- Você nada bem.
- São horas nadando nas piscinas do Minas tem que dar em alguma coisa.
- Nossa que legal! Você frequenta o Minas? Perguntou Fernanda.
- Meu pai é sócio, mas a minha preferência é a piscina de casa, tem mais privacidade.
- Ah mais no Minas deve ter muitas gatinhas, disse Fernanda.
- Tem muitas, mas eu gosto mesmo é de nadar.
- Quando o Sandro me visitar, podemos ir ao Minas, falou ele aproximando de onde estava sentado na escada.
- Eu nem me decidi e você já está fazendo planos?
- Você não vai ter coragem de recusar meu convite.
- Vou pensar, mas ainda tenho que falar com a minha tia pra ficar na casa dela.
- Não senhor, vai ficar lá em casa comigo.
- E seus pais?
- Geralmente eles vão passar os finais de semana na praia no Espírito Santo.
- E você fica de dono da casa? Perguntou Fernanda.
- Não é maravilhoso?
- Que perigo, disse ela e começamos a rir.
Ficamos na piscina até ao anoitecer, Rafael e Fernanda foram embora e o Diego ficou comigo.
- Se você não se importa vou tomar um banho para tirar o cloro da piscina.
- Eu também quero tomar um banho.
- Você pode utilizar o banheiro do vestiário, lá tem chuveiro.
- E porque não posso utilizar o seu?
- Não tem problema, se você não se importa de esperar eu tomar o meu banho?
- Tranquilo, só assim eu conheço o seu quarto.
- Então vamos subir?
- Vamos.
Fui à frente e ele me acompanhou, estava nervoso, era a primeira vez que um desconhecido entrava em meu quarto quando estava sozinho em casa, mas o Diego era da família e minha mãe não ia criar caso por causa disso ou ia?
Entrei e em seguida ele entrou e começou a analisar.
- Desculpe se tem alguma coisa fora do lugar, durante a tarde eu trabalho e não gosto que a empregada arrume o meu quarto.
- É mesmo?
- Eu gosto de arrumar o meu cantinho, assim não corro risco de perder nada, se deixo um objeto num lugar, sei que da próxima vez que precisar estará ali.
- Você é surpreendente, o meu quarto é todo bagunçado e quando procuro alguma coisa nunca acho.
- Vou tomar meu banho, fique a vontade.
Peguei uma roupa na cômoda, uma toalha e fui para o banheiro, enquanto isso Diego ficou no meu quarto, a situação era inusitada, não estava sabendo lidar com aquilo, em alguns momentos me sentia meio embaraçado e sem saber como agir e falar.
Tranquei a porta e tomei um banho rápido para liberar o banheiro e ele pudesse tomar seu banho, não queria que minha mãe chegasse e o encontrasse somente de sunga no meu quarto, no mínimo seria uma situação muito estranha.
Quando retornei, Diego olhava pela janela do quarto que tinha uma visão bem bonita da cidade à noite.
Assim que entrei no quarto ele voltou sua atenção para mim e ficou me analisando sem falar nada.
- O banheiro está desocupado.
- Beleza, disse ele voltando a si e pegando sua roupa.
- No banheiro tem toalha dentro do armário, pega uma.
- Obrigado!
Enquanto Diego tomava banho organizei algumas coisas no quarto, tinham alguns cadernos e livros espalhados por cima da cama. Quando retornou já vestia sua roupa, ele era muito bonito de longe chamava atenção até que me pegou o admirando.
- O que foi?
- Nada, por quê?
- Estava me admirando?
- Não era nada disso, essa roupa combina com você.
- Não precisa ficar vermelho, disse sorrindo.
- Nada a ver, estou assim porque hoje peguei sol.
Ele ficou rindo e não disse nada.
- Você gosta de beber?
- Não muito, por quê?
- Poderíamos ir num barzinho tomar uma bebida, pode ser cerveja, chopp, que tal?
- Acho melhor não, daqui a pouco meus pais chegam do mercado.
- Você é bem caseiro? Perguntou ele sentando na beira da minha cama.
- Cidade pequena é assim mesmo.
- Por isso eu quero passar um final de semana com você, vai ser bem legal.
- Você tem muitos amigos em BH?
- Tenho uma galera legal, às vezes a gente sai para se divertir, vamos a algumas baladas.
- Deve ser legal.
- Você nunca foi a uma balada?
- Não, às vezes saio com Tiago em algum baile, mas ele está sempre com a namorada e eu não me sinto muito bem em atrapalhá-los.
- É chato segurar vela para os outros.
- Eu não gosto.
- Você precisa sair mais, conhecer novos horizontes, é legal.
- Eu gosto do meu cantinho me sinto bem aqui.
- Porque você não conheceu o outro lado ainda.
- Você é estranho, né?
- Ao contrario Sandro, você que é estranho, muito fechado, precisa se libertar um pouco mais.
Achei-o muito atrevido, quase falei a ele, mas analisando bem me calei e pensei, Diego tinha razão, eu não estava vivendo minha vida como gostaria, por mais de ano vivi em função do Roger, será que valeu a pena? Eu ainda não tinha essa resposta apesar de amá-lo.
- O que foi? Falei demais?
- Não, você está coberto de razão.
- Quero te levar numa balada comigo quando for a BH.
- Você quer fazer tanta coisa num final de semana, será que vai dar tempo?
- Se não der, você volta novamente, mas se prepare para voltar exausto pra casa.
- Você insiste tanto que já estou convencido, eu vou.
- Ótimo! E vai ficar lá em casa.
- Eu não quero dar trabalho.
- É meu convidado, faço questão que fique lá em casa.
- Então eu vou.
Posso te fazer uma pergunta de cunho pessoal?
- Claro, quero ser seu amigo e entre nós não precisa haver segredos.
- Sabe o Roger?
- Meu meio irmão?
- Sim, vocês já se encontraram depois da festa?
- Meu pai vai falar com ele essa noite, vocês são amigos né?
- Somos, fui eu que o ajudei a encontrar o Paulo.
- Ele é meio estranho.
- Como assim?
- Quando Roger foi nos procurar, papai o convidou para ficar hospedado lá em casa, mas ele não aceitou.
- O Roger é assim mesmo, mas ele é legal.
- Eu sei, encontrei com ele numa balada.
- É mesmo?
- Ele ficou com uma de minhas amigas, acabou ficando na casa dela, acho que uniu o útil ao agradável, disse ele sorrindo e eu fiquei com cara de bobo e aos poucos ia conhecendo o Roger.
- E seu pai? O aceitou bem?
- O velho não é fácil, primeiro achou que ele fosse um golpista, mas diante dos fatos acabou se dando conta que fez burrada no passado.
- E como eles estão agora?
- Na mesma, papai quer ajudá-lo a colocar um negócio por conta própria ou fazer uma faculdade, a final ele é filho não tem porque trabalhar em uma oficina mecânica.
- Eu acho que ele não vai aceitar.
- Não sei, eles ficaram de se encontrar hoje à noite para conversar.
- Tomara que eles se acertem.
- Tomara, porque agora eu tenho um motivo a mais para voltar aqui, tenho um meio irmão e um amigo do peito.
- Obrigado pela minha parte.
- Vamos sair um pouco, andar pelo centro e você pode me mostrar à cidade que eu não conheço.
- Dois dias aqui e ainda não deu tempo de conhecer?
- Fica mais interessante quando estamos acompanhados, você não concorda comigo?
- Você me convenceu, vamos!
- Finalmente, disse ele com um largo sorriso nos lábios.
Saí com o Diego e surpreendentemente ele andava de carro.
- Que carro é esse?
- Eu aluguei.
- Qual a sua idade? Perguntei admirado.
- Tenho 18 e já tenho carteira.
- Eu jurava que você tinha a minha idade.
- Um ano a mais, sou mais velho e já viu, vai ter que me obedecer.
- ha ha ha, sonha.
Saímos de carro para o centro da cidade, antes passamos no mercado e avisei meus pais que ainda trabalhavam.
- Toma uma cervejinha comigo?
- Sou menor de idade, não vão querer me vender cerveja.
- Tenho meus truques, vamos?
- Espero que eu não me arrependa.
- E para acompanhar, come um xis comigo?
- Eu sempre janto em casa.
- Sempre tem uma primeira vez, aceita?
- Você tem o dom de me convencer, aceito.
Fomos para o bar, era um dos mais frequentados no centro da cidade, chegamos e logo o Diego fez os pedidos, nem perguntaram minha idade, talvez pelo fato que o Diego era bem extrovertido.
- Me explica qual truque você fez que nem se quer questionaram minha idade.
- Fui simpático com eles, às pessoas gostam de ser bem tratadas.
- Você estuda?
- Claro e muito, senão meus pais me põem pra fora de casa, disse rindo.
- Eu também estudo, mas é porque gosto.
- Você já está na faculdade?
- Não, estou terminando o segundo ano do ensino médio, e você?
- Ele sorriu em seguida respondeu, faço direito.
- Só poderia ser, é filho de pais advogados.
Faço porque gosto, mas o Paulo não é meu pai biológico apesar de que pra mim é como se fosse, ele me criou com minha mãe.
- Muito bacana da parte dele.
- Meu pai biológico faleceu quando eu tinha três, minha mãe ficou viúva, mas logo depois conheceu o Paulo e desde meus cinco, ele passou a morar conosco e me trata como filho.
- Legal, mas ele nunca soube que tinha um filho perdido pelo mundo.
- Até o Roger aparecer lá em casa, essa possibilidade nunca foi cogitada e até minha mãe se surpreendeu.
- E ela aceitou numa boa?
- Sim, foi ela que o convenceu a procurar o Roger.
- Bacana a atitude de sua mãe.
- Por falar neles olha quem está chegando?
- Olhei para trás e dei de cara com Paulo, Andreia e Roger.
Eles entraram e vieram direto à nossa mesa, Roger me olhava de cara amarrada e eu não me importei, não estava fazendo nada demais.
- Sandro, que bom reencontrá-lo, tudo bem com você?
- Tudo bem Paulo, e você?
- Estou bem, ontem jantamos com seus pais.
- Fico muito feliz, papai sente falta da família reunida.
Depois foi a vez de Andreia me cumprimentar, ela foi muito simpática como já havia sido no dia do meu aniversário.
Achei que Roger não fosse me cumprimentar, mas pelo contrário, ele cumprimentou e agiu como se não tivesse conversado comigo ao meio-dia.
- Tudo bem Sandro?
- Tudo e você.
- Tudo bem.
A fisionomia dele era indecifrável. Não sei se pelo jantar com o pai ou se era por me encontrar naquele bar com Diego
- Pelo visto você e Diego já ficaram amigos, disse Andreia.
- Convidei o Sandro para o meu aniversário.
- E você aceitou Sandro?
- Sim, se não for incômodo.
- Imagina, será bem-vindo à nossa casa, assim como fomos bem recebidos aqui.
- Nós vamos para o restaurante, vocês não querem nos acompanhar? Convidou-nos Paulo.
- Acho que a conversa é de vocês e vamos atrapalhar, disse Diego.
- Você tem razão filho.
Eles foram para o restaurante que ficava no segundo andar do estabelecimento e Roger sempre calado, apenas seguiu-os.
- Não disse que esse meu meio irmão é estranho.
- Acho que ele não está à vontade com seu pai.
- Ele não tirava os olhos de você.
- É porque somos amigos, deve ter estranhado nossa aproximação.
- Faz tempo que vocês se conhecem?
- Um ano e alguns meses, por quê?
- Parece que ele não gostou de me ver com você.
- Impressão sua.
- Pode ser mesmo, eu ainda não o conheço a ponto de julgá-lo.
- Onde vocês costumam se divertir nessa cidade?
- Na verdade não tem muitas opções, mas têm os bares, alguns clubes fazem bailes aos sábados e tem o country, lá tem camping, jogos, piscinas, pista de skate, é legal, a turma jovem costuma se reunir nos finais de semana ou até mesmo durante a semana.
- Eu não sei se me habituaria a morar numa cidade assim.
- A única diferença que em Belo Horizonte o fluxo de pessoas é maior.
- É bem diferente, lá tem mais opções para diversão.
- Nem se compara, até em desenvolvimento, a faculdade daqui tem poucas opções de curso.
- Por falar nisso, você já pensou em algum curso quando terminar o ensino médio?
- O curso que eu quero não tem aqui.
- E qual curso você pretende?
- Arquitetura.
Em BH tem muitas opções nesse curso.
- O problema é como estudar num lugar distante.
- Existem várias opções, tem muitas republicas, a casa de seus tios e se quiser pode morar lá em casa, disse sorrindo.
- Com meus tios não daria certo e com vocês é uma hipótese fora de cogitação e em republica não sei se me habituaria convivendo com outras pessoas com hábitos diferentes dos meus, não que tenha alguma coisa contra, mas porque sou tímido demais.
- Conheço vários amigos meus que moram em republica e são maravilhosos.
- Eu sei disso, o problema é que sou bem reservado.
- Eu acho que você tem que se libertar mais.
- Eu tenho liberdade até de sobra, mas não sou espontâneo como você, por exemplo.
- Você é como um passarinho preso na gaiola, se sair não vai saber o que fazer.
- É quase isso.
- Se você quiser eu posso te ajudar.
- Ajudar como?
- Tenho alguns contatos com meus colegas e amigos, se você se interessar posso te passar o telefone deles.
- O problema também é minha família, não sei se eles aceitariam.
- Seria bom, você poderia para o próximo ano ingressar no pré-vestibular e seguir estudando normal, se não passar no vestibular, vai te ajudar e também vai servir como experiência.
- É tentador, mas eu não sei se me adaptaria morar longe de casa e com estranhos.
- Às vezes pode ser legal, tem mais liberdade. Morar com os pais é bom, mas tem horas que eles sufocam demais.
- O problema sou eu que sou diferente.
- Você se adapta, a não ser que tenha alguma namorada aqui na cidade e não quer deixar para trás.
Por um instante pensei no Roger, como poderia viajar e deixá-lo para trás, será que eu teria coragem?
- Tem? Perguntou ele sério.
- Não, sou muito novo ainda.
- Bem que você faz, tem mais é que aproveitar a vida.
- Você não é de se ligar a ninguém, não é mesmo?
- Já gostei muito de uma pessoa, mas ela se casou.
- Nossa cara, eu não imaginava que você tão novinho já tivesse passado por isso.
- Um dia se houver oportunidade eu te conto.
- Faz tempo que isso aconteceu?
- No ano passado, mas hoje estou bem e já me reestruturei novamente.
- Fico feliz que você se recuperou rapidamente, deve ser horrível.
- É horrível, mas em primeiro lugar eu me amo e dei a volta por cima.
- Você é surpreendente.
Ele ficou me olhando sério e mais uma vez tive a impressão que estava me analisando.
Depois que comemos e xis e terminamos a cerveja, Diego me convidou para dar uma volta pela cidade.
- Eu não conheço nada nessa cidade, você é meu guia, disse sorrindo.
- Claro.
Ficamos andando de carro pelas ruas já estava quase tudo deserto, era mais de dez horas da noite até que Diego notou uma praça no centro da cidade e parou o carro.
- Vamos descer aqui?
- Está vazia, pode ser perigoso.
- Deixa de ser medroso, ele disse, saindo do carro e eu o segui.
Andamos por aquela praça deserta até que encontramos um banco.
- Vamos sentar ali.
- Vamos e se nos assaltarem não tenho muita coisa.
- Você é muito medroso, tem que se arriscar um pouco mais, disse ele me encarando.
- Nesse ponto somos diferentes.
- Bem diferentes, mais eu notei uma coisa desde que nos avistamos pela primeira vez.
- O que?
- Promete que não fica magoado comigo se fizer uma coisa?
- Depende, não sei o que você quer fazer.
- Posso deitar minha cabeça no seu ombro?
- Ah é isso, pensei no Roger, mas ao mesmo tempo o imaginei com Larissa.
- Posso?
- Por mim tudo bem.
Diego chegou bem próximo envolveu meu corpo com seu braço e deitou sua cabeça em meu ombro, foi estranho, senti o cheiro do meu xampu no seu cabelo, ficamos muito tempo naquela posição e ele falando sobre sua vida em Belo Horizonte, até que uma hora parou de falar e ficou me encarando. Por um instante achei que ele fosse me beijar, mas era coisa da minha cabeça, tinha bebido cerveja, não era acostumado com álcool e não estava no meu estado normal.
- Vamos embora? Amanhã cedo eu tenho aula e já está tarde.
- Você vai ao meu aniversário?
- Vou, já disse que ia.
- Não vai se arrepender até lá?
- Porque você diz isso?
- Gostaria muito de te conhecer melhor e queria mostrar um pouco da minha cidade, afinal você me mostrou a sua e foi muito atencioso comigo.
- Eu disse que ia e vou.
- Se você não for, vou ficar muito magoado.
- Pode confiar, se eu prometi, é porque vou cumprir.
- Vamos voltar pra casa, você deve estar cansado, estudou, trabalhou e já é tarde.
Na verdade eu nem estava cansado, mas não me sentia confortável, era como se estivesse enganando o Roger e ainda tinha que conversar com ele.
- Talvez amanhã meus pais voltem à BH e gostaria de ver você antes de ir.
- Pela manhã eu tenho aula, mas depois é só me ligar.
- Eu olhei o meu msn e você não me adicionou ainda.
- É verdade, como eu disse, entro pouco.
- Não se esquece de mim.
- Você está muito carente, disse sorrindo.
- Acho que sim, estou precisando arranjar um namoro e rápido, disse ele sorrindo.
Diego me deixou em frente ao portão de casa, antes de subir ainda conversei um pouco com meus pais e contei as novidades da noite, depois subi para o meu quarto, tomei um banho, escovei os dentes e quando estava pronto para deitar, lembrei-me de colocar o celular para espertar, só então vi que tinham algumas mensagens e ligações do Roger. Apesar de ainda estar muito magoado com ele, eu retornei a ligação.
- Oi Roger, você me ligou?
- Liguei, mas pelo visto estava muito ocupado.
- E estava mesmo, seu irmão é muito simpático.
- Não estou pra brincadeira Sandro, disse ele falando ríspido quase gritando.
- Nem eu, não pense que esqueci a história da Larissa.
- Então é assim agora? Larissa e eu não temos nada, já te falei isso.
- E o que você está me cobrando?
- Eu te falei que não queria aproximação sua com o Diego, porque você está fazendo isso? Está a fim de me provocar?
- Não estou a fim de nada e você não é meu dono e nem meu namorado.
- Ainda bem, porque você parece um biscate.
- O que você disse?
- Eu vi você se oferecendo para o Diego naquele bar.
- Isso prova que você não me conhece, Diego é meu amigo, não resisti e comecei a chorar.
- Amigo? E vai à festa de aniversário dele?
- Não vejo nada demais.
- Você é idiota ou o que? Não percebe que ele se aproximou só pra te comer?
- Você está me ofendendo.
- Deixa de ser sonhador garoto ou acha que ele pode se apaixonar por você?
- Apenas saí com um amigo para tomar uma cerveja e comer um xis.
- Você é muito ingênuo e não percebe que o Diego é um baita espertalhão e só quer se aproveitar.
- Você não tem o direito de me ofender desse jeito, não sou seu brinquedinho que pode manipular a hora que bem quer.
- Eu gosto de você, é diferente.
- Você é um egoísta.
- O que está acontecendo aqui? Disse Tiago entrando no meu quarto e vendo meu choro.
- Tenho que desligar.
Foi só o que consegui dizer. Desliguei o telefone e fiquei olhando para o meu irmão sem saber o que fazer.