- Não!
- Caramba, você é mau!
- Você acha que estou errado em querer comandar minha vida?
- Não, mas existem outras maneiras de fazer isso sem brigas.
- Não quero que ele seja um segundo Roger na minha vida.
- Você nem pode comparar o Juliano ao Roger, há muita diferença.
- O Roger sempre foi bacana comigo, mas ele tem receio de se relacionar é difícil entender a cabeça dele.
- Você acha que ele te ama assim como o Juliano?
- Acho que sim, mas tem medo.
- Não acho correto você descontar suas frustrações no Juliano, porque você não o dispensa de vez?
- Porque eu gosto dele.
- Não consigo te entender.
- O Roger mesmo com todas as cachorradas é especial pra mim, ele me ensinou muitas coisas e o Juliano, todo esse amor e carinho que ele sente por mim me atraem, mas não é só desejo, é algo mais que eu não sei explicar.
Você é muito complicado, mas quem sou eu pra te julgar, mal consigo entender os meus problemas.
- Seus problemas são fáceis de resolver.
- Quem dera, a Fernanda é complicada demais.
- Ela é sempre tão simpática, calma, nem parece.
- E é para os outros, mas quando o problema atinge os objetivos dela, a coisa é completamente diferente.
- Você está sofrendo, né?
- Chateado, já pensei até em terminar.
- Terminar por quê?
- Não nasci pra ser comandado por mulher meu amigo.
- Poxa Rafael, você está sendo radical demais.
- E você? Não expulsou o Juliano daqui por tão pouco?
- Foi diferente, ele saiu porque quis e eu não gostei da atitude dele, tinha que tirar satisfações.
- Talvez você tenha razão, mas não justifica.
Aqui é muito quente, né?
- Bastante, vai sentir falta da piscina.
- Mudando de assunto, tem como você verificar lá na farmácia se tem uma vaga pra mim? – ele trabalhava numa farmácia como atendente.
- Posso verificar, só tem um problema.
- Qual?
- As vezes tem que trabalhar em final de semana.
- Não tem problema, preciso arranjar algo pra ganhar uma grana nessa cidade.
- E o Tiago não te ajuda?
- Vai ajudar, mas eu não sei ficar parado, quero trabalhar.
- Você está decidido mesmo, hein?
- Não quero ser um peso para o meu irmão.
- Eu vejo pra você, vai tomar banho agora?
- Não, por quê?
- Estou precisando de um.
- Eu também, mas estou muito cansado vou descansar um pouco.
Meu telefone que estava no armário começou a chamar insistentemente, mesmo assim fiquei deitado, achei que fosse o Juliano.
- Não vai atender ao telefone? – disse Rafael procurando uma roupa para vestir após o banho.
- Deve ser o Juliano não estou a fim.
- Atende Sandro, pode ser o Tiago ou seu pai.
- Nem pensei nisso, vou atender.
Levantei, fui até o armário peguei o telefone e atendi sem olhar quem era.
- Alô!
- Estou aqui na esquina da sua casa vem me ver.
- Não vou!
- Se não vier, vou pra frente da casa e começo a buzinar até você aparecer.
- Você não teria coragem de fazer isso?
- Você sabe que eu tenho, vem ao meu encontro.
Rafael atento observava minha conversa com Roger e balançava a cabeça em sinal negativo.
- Eu não vou Roger.
- Estou indo aí, disse e desligou o telefone.
- Não acredito que você vai ao encontro dele?
- Se eu não for ele vai armar um escândalo aqui na frente.
- Deixe-o fazer isso, chamamos a polícia e resolvemos o assunto rapidinho.
- Não quero chegar aqui já causando escândalo com os vizinhos.
- Não é você Sandro, é ele que está te atormentando.
- Tive uma ideia.
- Que ideia?
- Vem comigo?
- Você quer que eu vá junto ao encontro dele?
- Faz isso por mim Rafael?
- Não acredito que vou me prestar a este papel?
- Por favor, você é o único amigo em que confio.
Está certo, se for pra ele te deixar em paz, eu vou.
- Fui com Rafael ao encontro dele que já estava em frente a casa com o carro estacionado na calçada.
- Sandro, você veio.
- O que você quer comigo?
- Porque trouxe o Rafael?
- Pra você me deixar em paz de vez e não tentar nada contra mim.
- Acha que eu teria coragem de fazer algo contra você?
- Não sei. Há pouco você ameaçou de fazer um escândalo aqui na frente.
- Foi à maneira que encontrei de você aparecer, acha que eu iria buzinar aqui na frente?
- Você já fez isso uma vez, porque não faria outra?
- Quero conversar, mas não precisa da presença do Rafael.
- O Rafael fica.
- Fica tranquilo Rafael, vou apenas conversar com ele.
- Eu só saio se o Sandro dispensar minha presença.
Vou dar um voto de confiança a você.
- Pode confiar.
- Obrigado Rafael e desculpe por atrasar o seu banho.
- Não demora.
- Fica tranquilo, será rápido disse Roger.
Rafael entrou em casa e nós ficamos na rua em frente ao carro.
- Vamos entrar no carro, ou você quer dar uma volta?
- Quero que seja rápido preciso descansar, amanhã inicia minhas aulas.
- Vamos entrar no carro, fica melhor de conversar.
- Eu entro, mas vamos conversar aqui na frente.
- Eu aceito.
Vou pedir pela última vez pra você me deixar em paz. Não acho correto vivermos nos encontrando enquanto estou tentando algo novo com Juliano.
- Eu sei que não adianta pedir, mesmo assim insisto, não fique com ele.
- E vou ficar esperando você a vida inteira até que se decida por algo que nunca vai acontecer?
- O que você quer que eu faça pra provar meus sentimentos?
- Tome uma atitude, não vou ficar com você enquanto estiver casado, já falei isso, parece que não me entende, insiste e acaba tornando minha vida um inferno.
- Eu só queria que você entendesse minhas razões.
- Você era um cara livre, entrou nessa de casamento e ferrou tudo, porque não pensou nisso antes de cometer essa burrada?
- Eu precisava me casar, a cidade inteira comentava sobre nós e a partir do momento que casei com Aline eles te deixaram em paz.
Não me venha com essas desculpas furadas que não cola.
- Foi verdade, me aproximei dela pra despistar, depois ela ficou grávida e acabei me envolvendo.
- Em nenhum minuto você pensou no mal que estava me fazendo. Cara, você se envolveu com a minha irmã, tem noção de como fiquei?
- Me perdoa Sandro.
- Difícil você falar em perdão depois que peguei você e minha irmã, praticamente nus quando tive a maldita ideia de entrar naquele quarto pra deixar a Sabrina.
- Eu estava bêbado não me lembro de nada.
- Mentira ou você pensa que me engana? Diz que me ama e ao mesmo tempo vive pendurado na minha irmã, antes eu achava que o casamento de vocês era fachada, mais o idiota aqui precisava ver com os próprios olhos a traição dos dois.
- Você também estava com Juliano, praticamente me escorraçou do mercado naquela tarde.
- Isso não justifica, e você ainda teve coragem de chamar o Juliano e eu de traidores?
- Perdi a cabeça quanto soube que vocês estavam juntos,
Você e Aline me traem há muito tempo, um me conta uma história o outro me conta outra e o idiota aqui sempre caindo na conversa de vocês como um palhaço.
- Eu sempre procurei ser sincero, disse que meu casamento com ela era aberto e é, mas isso não quer dizer que deixei de gostar de você.
- Pra mim chega Roger, estou cansado de ouvir sempre as mesmas coisas, você não vai me enganar mais do que já fez.
- Deixa pelo menos eu ser seu amigo.
- Você? Meu amigo? Chega a ser irônico e comecei a rir da frustração daquela conversa.
- Sou complicado em demonstrar meus sentimentos, mesmo assim, te trouxe um presente.
Ele abriu à gavetinha do carro e me entregou uma caixa quadrada.
- O que é isso?
- Abre e vai descobrir o que é.
Abri a caixa e dentro tinha um troféu que ele ganhou logo que inaugurou a academia.
- Esse troféu é seu.
- Quero que seja seu.
- Não posso ficar, é algo de muito valor pra você e também o Juliano não vai gostar que eu fique com um presente seu.
- Dá pra você esquecer o Juliano alguns minutos enquanto conversamos?
- Estou com ele Roger e é sério.
- Aceita o meu presente? Estou dando de coração.
- Que fique claro: isso não muda nada entre nós.
- Esse presente é pra te trazer sorte de hoje em diante.
Ele segurou minhas mãos e tentei afastá-las.
- Quando você precisar de alguém me procura.
- Em que sentido você diz?
- Em todos os sentidos, não vou mais te procurar e atrapalhar sua vida como você diz, mas vou estar sempre disponível, não tenha orgulho em me procurar.
- Eu agradeço, mas não vou precisar, agora tenho que ir. Boa noite!
Já ia me retirando do carro quando ele veio ao meu encontro, me abraçou e tentou me beijar.
- Não, melhor assim, me afastei e saí do carro.
Entrei em casa estava só o Rafael, já tinha tomado banho e estava deitado em sua cama.
- E aí?
- A mesma coisa de sempre, disse que não vai me procurar mais, mas eu duvido.
- O que é isso? – ele viu a caixa na minha mão.
- Um presente que ele me deu.
- Hum, acho que o Juliano dançou mais uma vez.
- Engano seu, cada vez mais tenho convicção que é com ele que eu quero ficar.
- Tomara que ele entenda esses presentinhos do ex.
- Você acha que ele não vai entender?
- Acho que não.
- Não vejo nada demais, é só um troféu.
- É, mas você brigou por ele comprar a cama e o armário, no entanto aceita um presente de grande valor sentimental do ex.
- Acho melhor não falar nada pra ele.
- Você precisa decidir o que quer da vida ou então deixa o Juliano livre pra viver a vida dele.
Eu quero ficar com ele, Rafael.
- Não falo mais nada.
- Melhor, vou ligar pra ele e pedir desculpas pela grosseria de hoje à tarde.
Peguei o telefone saí do quarto e liguei.
- Oi!
- Oi Juliano, está muito chateado comigo?
- O que você quer?
- Pedir desculpas e combinar de sair com você amanhã.
- Depende do horário, tenho aula o dia todo e à noite tenho academia.
- Tudo bem, então fica pra outro dia.
- Vamos fazer assim, nos encontramos amanhã no final da tarde, não vou à academia.
- Então encontro você no seu apartamento.
- Eu passo ai e te pego.
- Oba! Vou esperar por você.
- Não foi dormir ainda?
- Não, primeiro vou tomar um banho.
O que você está fazendo?
- Estudando um pouco.
- Está sozinho?
- Você me dispensou.
- Que dó, eu fui mau com você.
- Vai ter que me compensar.
- Em dobro, mas antes preciso te contar algumas coisas e acertar outras.
- Que coisas?
- Amanhã você vai saber.
- Não vai matar minha curiosidade.
- Não senhor! Agora vou tomar banho e dormir.
- Sonha um sonho bem excitante comigo.
- Não sei sonhar, disse rindo.
- Melhor assim, posso te proporcionar um sonho acordado.
- Uau, eu tenho que desligar agora, beijos!
- Beijos!
Fui deitar com a sensação que tinha feito algo errado, queria me desvincular de vez do Roger, mas ele insistia e eu não sabia dizer um “NÃO” simplesmente lhe virando as costas ou sendo insensível como muitas vezes ele foi comigo.
Eu tinha muita mágoa, mas não conseguia guardar ressentimentos. Aquela sensação de consciência pesada, que tinha feito algo errado seguia tirando minha paz, o Juliano não ia aceitar, era o único pensamento que vinha na minha cabeça, porque Roger tinha que me dar aquele presente? Porque ele não me deixava em paz? Fiquei pensando por horas e tomei uma decisão.
Tinha que me desfazer daquele presente, mas não queria encontrá-lo mais uma vez, como eu ia fazer? Passei horas conversando com meus pensamentos durante a noite. Foi então que me lembrei de devolver pelo correio e assim me livrava de vez daquele problema.
Acordei cedo pela manhã, estava ansioso, era o primeiro dia de aula, será que meus novos colegas me tratariam como na antiga escola? Um calafrio percorreu meu corpo e só ao pensar em ser humilhado novamente já me desanimava, pensei em minha mãe e toda sua luta pra eu nunca baixar a cabeça para as pessoas, tinha que mostrar o meu valor e elas tinham que aprender a me respeitar.
Enquanto tomava banho meditava sobre meus ex-colegas.
- É Sandro você tem que encarar sozinho essa batalha.
Pensei nas palavras de minha mãe.
“Mesmo que esteja derrotado levantei a cabeça, não deixe se intimidar e vá em frente.”
- Você tem razão dona Silvia, não é à toa que sou seu filho.
- Obrigado mãe, por estar sempre comigo!
E como minha mãe um dia me orientou. Refiz-me de coragem e embora nervoso, estava preparado para enfrentar qualquer situação que viesse pela frente.
Quando cheguei ao quarto Rafael já se preparava para a faculdade, ele estudava pela manhã e trabalhava a tarde e à noite.
- Bom dia! Como passou a noite?
- Estranhei um pouco, muito calor.
- Aqui é assim mesmo.
- Não se esquece de ver aquele lance do trabalho pra mim.
- Vou verificar, mas seria legal você montar um currículo.
- Estou sem computador, mas vou providenciar.
- Parece preocupado?
- Receio do que vou encontrar pela frente.
- É normal, você vem de uma experiência traumática.
- Vamos tomar café?
- Já tomei café, mas te acompanho até a sala, disse rindo.
- Hoje à tarde marquei de encontrar com Juliano, talvez volte mais tarde.
- E bom saber, eu chego entre 22:00 e 23:00 então você nunca vai me encontrar em casa fora desse horário.
Cheguei à cozinha encontrei o Lucas tomando café.
- Bom dia, tem aula agora?
- Agora pela manhã e no horário da tarde estou livre.
- Boa vida!
- Ah meu filho batalhei para conseguir uma bolsa e você está preparado para iniciar?
- Um pouco nervoso, mas pronto para a batalha.
- Isso mesmo seja persistente.
- Lucas, você sabe dizer onde tem uma agência do correio aqui perto?
- Pega a rua aqui em frente e dobra à segunda quadra a direita, é pertinho.
- Obrigado Lucas! Bom, acho que está na hora de enfrentar meus fantasmas.
- Vai tranquilo que dá tudo certo
Antes de sair peguei a caixa com o presente do Roger e coloquei junto com meu material, fiz o caminho que Lucas me indicou para achar o correio e depois fui para o colégio, era perto e dava para ir andando a pé, ficava a três quadras da república, porém numa rua paralela.
Cheguei ao colégio e ao ultrapassar o portão senti uma dor no estômago, era um trauma que precisava superar, fui caminhando lentamente em meio a pessoas desconhecidas. Tudo era diferente, estranho, a quantidade de alunos era o triplo ou até mais que minha antiga escola, muita gente procurando sua sala de aula, rostos totalmente estranhos pra mim. À medida que andava minhas pernas tremiam, tinha a sensação que ia desmaiar, era um misto de medo e vergonha, por momentos dava vontade de sair correndo e não voltar mais ali, mas eu queria ser alguém, tinha que lutar pelos meus objetivos, queria chegar à faculdade e pra isso precisava me livrar do ensino médio.
Finalmente consegui chegar a um grande mural onde tinham cartazes colados na parede, quase não tinha espaço para chegar devido ao acúmulo de alunos procurando sua sala.
Estava distraído olhando onde ficaria minha sala quando alguém colocou a mão no meu ombro, levei um susto e olhei para trás, era o Christian.
- Achei que estava vendo uma miragem disse ele rindo.
- Não me diga que você estuda aqui?
- Há muito tempo, vou fazer o último ano do ensino médio.
- Eu também! Então podemos estar na mesma sala?
- Não estamos porque acabei de ver minha turma e não tem nenhum Sandro na minha aula, mas com certeza seremos colegas em turmas diferentes.
- Que coincidência encontrar alguém conhecido logo de início?
- Acho que a tua sala será ao lado da minha, dá uma olhada ali naquela lista, era a listagem da outra turma que estava ao lado da dele e realmente eu estava lá.
- É, parece que seremos vizinhos de porta, disse rindo.
- O bom é que você já conhece a escola e já deve ter sua roda de amigos.
- Eu tenho, mas você pode se unir a nós nos intervalos.
Por enquanto estou conhecendo território, disse rindo nervoso.
- Vamos pra sala?
- Vou acompanhar porque não conheço como e a escola por dentro.
- Eu te mostro onde fica sua sala.
- Obrigado Christian, você não imagina o quanto estava nervoso em recomeçar.
- Eu acho que também ficaria, toda mudança provoca essa reação na gente.
- Deve ser por isso mesmo.
Se ele soubesse que meu medo era outro, mas não revelaria meu segredo, ele era meu amigo, porém não tínhamos intimidade para tal.
Christian me acompanhou até a porta da sala. Naquele momento ele foi um anjo que me ajudou num momento difícil, é sempre mais fácil superar nossos traumas acompanhando de alguém mesmo que essa pessoa desconheça totalmente seu passado.
Entrei na sala de aula e meu sangue subiu a cabeça, as maçãs do meu rosto ficaram vermelhas em meu corpo tinha calafrios, agora não tinha o Christian e a cada passo que dava, sentia que olhares curiosos se fixavam em mim, não olhei para os lados, segui firme em direção do lugar que escolhi e sentei na fileira perto da janela, inerte até o professor entrar.
A primeira aula era de língua portuguesa e a professora seguindo um velho ritual que sempre detestei veio com a ideia de cada um se apresentar, como eu estava na primeira fila fui o primeiro, tive vontade de sair correndo, mas na hora me uni de coragem e comecei a falar o que veio na minha cabeça, disse meu nome e a cidade de onde vinha.
Logo que falei o nome da minha cidade alguns engraçadinhos começaram a rir no fundo da sala.
- Esse é o caipira da turma, disse um garoto ao fundo, ele deveria ter unsLogo os outros caíram na risada e outro complementou, parece bixa é todo estranho e novamente risos e mais risos, até que a professora com muito custo calou a turma.
- Hoje é o primeiro dia de aula e eu não admito preconceito na minha turma, fiz um pedido que cada um se apresentasse somente isso, não pedi palpite de ninguém e gosto muito do respeito entre os colegas, portanto menino qual é seu nome?
- João Pedro ele respondeu com ar de poucos amigos para a professora.
- João Pedro, por favor, peça desculpas ao seu colega, senão não precisa nem frequentar minha aula.
- A senhora está me ameaçando professora?
- Não, mas estou avisando que no meu método de avaliação conta também a disciplina e o respeito e essa escola preza por isso.
- Eu já vim expulso da outra escola e essa aqui será o de menos.
- É assim que você quer ser alguém na vida?
Professora, eu posso falar?
- Claro Sandro.
- Eu gostaria de me apresentar melhor, sou caipira sim, vim de uma cidade do interior onde conheço muita gente que batalha para vocês terem o que comer diariamente, o alimento não cai do céu como mágica, ele tem que ser cuidado e preparado para ser saudável. E esses caipiras que trabalham diariamente são seres humanos iguais a todos aqui, pensem bem antes de atirar pedras em quem vocês não conhecem.
- Isso mesmo Sandro, muito bem colocado, são exemplos assim que eu quero de vocês e agora vamos continuar a apresentação e esquecer o episódio.
Depois que a professora falou, João Pedro calou-se e a turma ficou em silêncio total.
O Restante da aula foi calmo, mas tensa pra mim, senti que ia ter problemas com o João Pedro. No intervalo fiquei com os amigos do Christian. Entre eles uma colega da minha sala a Adriana, ela era legal, pediu desculpas por sua participação nas risadas e disse que gostou do meu jeito.
Depois do intervalo retornei pra aula junto com Adriana, que resolveu sentar numa classe atrás da minha, senti que nela teria uma amiga
No último período aproveitei que o professor de história tinha dado um trabalho de revisão, fiz rapidamente e depois escrevi um bilhete para o Roger sobre a devolução do presente, foi simples e direto, era mais ou menos assim.
“Pensei bem a noite passada e decidi não ficar com seu presente, estou com Juliano e não vou magoá-lo, não me procure mais, quero dar outro rumo a minha vida e pra você desejo sorte com as escolhas que fez.”
Saí da aula e fui direto ao correio antes que fechasse, coloquei o bilhete junto com o presente e mandei entregar por AR. Depois disso fui pra casa, estava aliviado de ter me livrado daquele pesadelo, mas algo me preocupava e era sobre o acontecimento pela manhã na escola, será que novamente passaria por preconceito de colegas?
Fui para casa, almocei e conversei com o Lucas sobre os afazeres da nossa república.
Depois do almoço Lucas saiu e eu dei uma ajeitada na casa, não gostava de estar parado. Quando estava quase terminando liguei para o Juliano era umas três da tarde deveria estar no intervalo da aula, resolvi arriscar.
- Oi Sandro!
- Estou atrapalhando?
- Estamos no intervalo.
- Que bom, estamos combinados para hoje à tarde?
- Quando sair da aula passo aí pra te pegar.
- Vou aguardar, temos muitas coisas para conversar.
- E como foi à aula?
- Depois eu conto tudo.
- Está triste?
- Não é tristeza, mas chateado com algumas coisas.
- Já imagino o que seja.
- Não é com você, é comigo mesmo.
- Você está estranho.
- Depois a gente se fala.
- Combinado, beijo!
- Beijo!
Este Sandro é muito complicado, não sabe o que quer , se fosse eu o Juliano daria um chega pra lá neste garoto besta