- Oi!
- Oi, o que você faz aqui tão cedo?
- Posso saber por que ontem você fugiu de mim?
- A tua aproximação com Augusto já está passando dos limites.
- E você vira as costas e foge. Bela atitude!
- O que você queria que eu fizesse?
- Que conversasse, dividisse suas duvidas comigo, mas não preferiu fugir.
- Se fosse eu que estivesse conversando com o Roger na sua frente com certeza você não ia gostar.
- E não ia mesmo, mas com uma diferença, chegaria pra você e falaria frente a frente, é assim que a gente enfrenta os problemas.
- Já não é a primeira vez que você fica de conversinha com ele, qual é verdadeiramente o lance de vocês?
- Eu já te falei, mas você não acredita.
- E o que ele tanto quer contigo?
- E resolve se eu falar alguma coisa? Você só vai se chatear.
- Prefiro ficar chateado a ser um idiota sem saber de nada.
- Eu já disse pra ele não me procurar, mas ontem ele me procurou para fazer uma proposta.
- Eu imagino que proposta ele quer te fazer, me poupe, estou atrasado, tenho que ir pra aula.
- Antes você vai me ouvir, não foi por isso que ontem fugiu de mim?
- Aposto que é só mais uma desculpa dele para te chamar atenção.
- Augusto me propôs sociedade.
- Sociedade?
- Por isso que eu não queria te contar, já vai pôr ideias erradas na cabeça.
- Pois agora eu quero saber, depois decido se é errado ou não.
- Isso não vai te fazer a mínima diferença.
- Jogada de mestre dele pra te atrair.
- Não sou tão ingênuo quanto você imagina.
- E eu não acredito que você está defendendo aquele cara.
- Eu sei muito bem até onde devo confiar nele e não disse que aceitei. Como você tira conclusões precipitadas?
- Ele te ofereceu sociedade assim, do nada?
- É claro que não.
- Então me conte porque até agora você só me enrolou.
- Ele não me propôs sociedade só nos negócios.
- Não?
- Ele me pediu pra voltar, quer vender os negócios aqui e recomeçar noutro lugar longe da família.
- E a namorada dele?
- Terminaram há alguns meses.
- Não é possível que isso esteja acontecendo comigo.
- O que está acontecendo com você? Posso saber?
- Novamente estou sendo jogado pra escanteio.
- Para de se fazer de vítima, você está sendo egoísta.
- Você se vende por meia dúzia de laboratórios e eu que sou egoísta?
- Egoísta sim, eu nem disse se aceitei e você já vem me acusando e também não sou interesseiro.
- Pois eu aposto que você aceitou, perdi o controle e falei alto de mais, chamou atenção das pessoas na rua.
Ele saiu em direção ao carro, só então eu percebi a burrada que tinha feito.
- Me desculpa não quis te ofender.
- Pra mim chega, estou cansado de bancar o idiota.
- Você não pode sair assim.
Ele abriu a porta do carro e eu segurei pelo braço o impedindo de entrar no carro, ainda bem que era cedo e não tinha muita gente na rua.
- Solta o meu braço e me deixa em paz.
- Me desculpa, estou nervoso.
- Nunca pensei que você fosse uma pessoa tão complicada, indecisa e ainda me faz acusações absurdas.
- Eu tenho aprendido muitas coisas e você está me tornando outra pessoa, por favor, vamos conversar. Toda vez que a gente discute sempre fugimos e acabamos guardando o que estamos sentindo.
- Entra no carro que eu te deixo no colégio.
Entrei no carro e seguimos rumo ao colégio, ele estava chateado, dirigia e nem olhava para os lados.
- Não fica chateado comigo, eu fiquei louco quando vi você dando trela pra ele.
- Você não dá a mínima importância para o que eu falo.
- É claro, você também não me conta o que se passa contigo.
- Como não? Eu te contei toda minha vida em detalhes, coisa que nunca fiz com ninguém.
- E porque não me contou que o Augusto estava tentando se reaproximar?
- Pra que? Isso só ia te trazer aborrecimentos sem fundamento, exatamente como está acontecendo agora.
- Eu prefiro assim a ficar neutro na sua vida.
- E você por acaso me conta tudo?
- Eu conto o mais importante.
- E eu também.
- E porque não me contou que o Augusto tinha terminado com a namorada?
- Porque isso pra mim não faz diferença, não quero saber da vida do Augusto e muito menos o que se passa na vida dele.
- Mais fica de conversinha com ele, como fez ontem na academia e os outros encontros que não fiquei sabendo?
Ele parou o carro e deu um soco na direção.
- Posso saber o que você faz comigo, se não confia em mim, hein Sandro?
Fiquei calado, ele estava bravo seu rosto ficou vermelho de um momento para outro e logo seus olhos lacrimejaram.
Ficamos os dois em silêncio até que ele foi se acalmando, ligou o carro e seguiu mais duas quadras até chegar ao colégio.
- Desce do carro você está atrasado, disse ele ainda com lágrimas nos olhos.
- Azar pro meu atraso, não posso sair e deixar você desse jeito.
- Você pouco se importa comigo, pode ir.
- Eu me importo mais do que você imagina, passei uma noite péssima pensando no que estava acontecendo com a gente.
- Então porque não confia em mim?
- Eu já confiei muito nas pessoas e o retorno que recebi foi traição.
- Não me compare aos outros, eu sempre te respeitei.
- Eu sei, mas sou inseguro e tenho receio de passar por tudo novamente. Você sabe disso.
- Nunca te dei motivos pra duvidar de mim e parece que você tem prazer em me esculachar.
- Você tem essa mania horrível de me esconder às coisas.
- Só porque não te falei de uma conversa com Augusto? E você que nem me deu oportunidade de falar e saiu fugindo como um louco?
- Você me viu observando vocês e nem assim foi atrás de mim.
- Queria o que? Que eu chamasse atenção dos teus colegas de trabalho dentro da academia, não esqueça que você precisa daquele emprego.
- Na hora tudo que eu pensei foi que você estava me trocando por ele.
- Para de ser inseguro, eu já te dei provas o suficiente pra saber que jamais faria isso.
- Eu reconheço que você sempre foi legal comigo, estou de cabeça quente e quando fico assim faço besteiras.
- Não é fugindo que vamos resolver nossos problemas, ontem eu fiquei muito chateado com você, passei mal à noite pensando se tudo que a gente viveu até aqui valeu a pena.
- Você está nervoso, não decida nada sem pensar.
- Quando eu penso que a gente está encaminhando para um relacionamento saudável, acontecem essas coisas e você me deixa muito inseguro, eu não gosto disso.
- Você vai desistir de mim por eu ser complicado?
- Não sei mais o que pensar, vai pra aula você está atrasado.
- Eu não vou te deixar sozinho.
- Não sei mais o que fazer, é muito complicado entender o que se passa na sua cabeça.
Tem um monte de coisas acontecendo na minha família. Eu quero te contar antes que você saiba por outra pessoa e tire conclusões erradas.
- Do que você está falando? - disse ele limpando as lágrimas, já estava bem mais calmo.
- O que eu vou te contar pode até facilitar sua decisão sobre a proposta do Augusto.
- Eu não aceitei e jamais aceitaria a proposta do Augusto.
- Talvez você mude de ideia depois de saber o que tenho pra falar.
- E o que você tem pra me contar?
- Roger e Aline se separaram.
Ele baixou a cabeça pensou alguns segundos em seguida olhou pra mim.
- Separaram?
- Sim.
- Como você soube?
- Meu pai me contou naquele fim de semana do show do Jorge e Mateus.
- Então foi por isso que o Tiago brigou com ele?
- Não conversamos sobre isso naquela noite, mas acho que foi.
- O Roger te procurou?
- Nos encontramos por acaso.
- Acaso...
- Eu estava na parada de ônibus e ele chegou pra falar comigo.
- Você quer que eu acredite que ele foi falar contigo numa parada de ônibus e foi por acaso?
- Foi o que aconteceu, estava lá ele chegou e quis me dar uma carona eu não aceitei, depois ele saiu e do nada apareceu na parada.
- O que vocês conversaram?
- Ele me falou que tinha se separado e estava morando na academia.
- E o que mais?
- Mais nada, eu fui trabalhar e ele ficou lá na rua.
A aparência do Juliano era péssima, ele estava pálido, não esperava por aquela notícia, mas eu preferi ser honesto, embora não tivesse obrigação já que ele também me escondeu sobre as propostas do Augusto.
- Eu quero que você jogue limpo comigo, Sandro.
- Estou sendo sincero com você.
- E depois disso ele te procurou?
- Ontem ele ligou pra academia, mas eu não dei conversa, era o telefone do meu trabalho e não quero confusão.
- É bom o Breno nem saber disso porque senão é capaz de te demitir, o Roger é concorrente dele.
- Eu sei, por isso tratei em desligar o telefone.
- Tenho que ir agora já está no meu horário.
- Quer almoçar comigo?
- Não posso tenho um trabalho complicado pra apresentar à tarde, hoje nem vou almoçar.
- Vai ficar sem almoço?
- Vou comer um sanduíche no bar.
- Então a gente se vê a noite.
- Vai que você já está se atrasando para o segundo período.
Olhei pra ele e notei sua aparência abatida, uma sensação horrível se abateu sobre mim, não queria sair do carro, tinha a impressão que se saísse de perto dele, Juliano faria uma loucura, mas também já havíamos dito tudo o que tínhamos para dizer um ao outro e forçar a barra seria pior.
Quando entrei na sala de aula a professora me olhou de cara feia, ela já tinha distribuído um trabalho para a turma, explicado como deveria ser e qual o objetivo a atingir. O prazo de entrega era no final do trimestre e como fiquei sem dupla ela me mandou fazer com João Pedro.
Não gostei da indicação ainda mais que ele continuava hospitalizado e as demais duplas já poderiam começar o trabalho e também nossa ligação era péssima, ele não gostava de mim e eu não gostava dele, isso era recíproco.
Fui até a professora e tentei argumentar, disse que nossa relação não era amigável, mas não houve jeito, ela disse que seria bom para nos integrarmos, que um dos objetivos do trabalho era esse.
Ao meu entendimento ela estava forçando uma situação a qual não me sentia confortável, sugeri então fazer o trabalho sozinho e ela não aceitou, disse que o conteúdo foi elaborado para ser de duplas, resumindo, fiquei louco de raiva e ela me expulsou da aula.
Tive que ir pra direção e ainda ouvir um sermão, a sorte que eu já era maior de idade e eles não tinham como chamar os responsáveis. Fique sentado na sala da orientadora até acabar a aula daquela chata.
Enquanto aguardava comecei a pensar se de repente não era melhor eu tentar uma aproximação com João Pedro, assim todos os nossos problemas de brigas e empurrões se resolveriam, quem sabe agora que ele estava por baixo não era a oportunidade para nos aproximar.
Depois que acabou aquele período voltei pra aula, mas antes encontrei com a professora no corredor.
- Já está mais calmo? Questionou ela.
- Pensei melhor e cheguei a uma conclusão.
- Que conclusão você chegou?
- O João Pedro é grosso, ofende a mim e aos meus amigos, mesmo assim estou disposto a dar uma segunda chance a ele, mas e se ele não aceitar como eu fico na sua disciplina?
- Ele vai aceitar, vá pra aula que você já está atrasado e caprichem no trabalho.
Ela saiu toda imponente batendo o salto do sapato no chão, nem olhou para trás e eu tive que voltar pra aula com o desafio de me aproximar do João Pedro
Nem bem entrei, Christian e Adriana viraram para o meu lado querendo saber o que estava acontecendo comigo.
- E aí meu? A professora ficou possessa contigo, disse Christian.
- Ela reclamou depois que saí?
- Ela quase surtou, disse Adriana.
- E agora o que você vai fazer? Questionou Christian
- Vou fazer o trabalho independente se for com aquele idiota ou não.
- Eu acho que está na hora de vocês se aproximarem, sugeriu Christian.
- Ficou maluco, aquele garoto é doido, disse Adriana.
- Ele não é o bicho e se o colégio quer essa integração entre os alunos, não custa tentar.
- Pois eu acho que o Sandro não deveria se aproximar dele.
O Professor de literatura que já estava na sala e pediu para mantermos silêncio, pois estávamos atrapalhando o andamento da aula.
Eu estava saindo da aula quando meu telefone começou a chamar, era o Tiago.
- Oi maninho saudades!
- Oi, parece que você adivinhou que estava precisando falar contigo.
- Você nem lembra que tem irmão seu chato, disse ele brincando comigo.
- Eu não ligo toda hora porque é caro, mas você mora no meu coração.
- E o que você quer falar comigo?
- Estou com alguns problemas e você é a pessoa que eu sempre posso contar.
- É o Roger, eu aposto.
- Apesar de você ter me escondido sobre a separação dele com Aline, eu te afirmo que não é o Roger.
- Então o que é?
Contei a ele tudo que aconteceu na aula, a conversa que tive com a professora e por fim sobre a ideia de me aproximar do João Pedro.
- Ah mano, se esse cara já te ameaçou isso pode ser perigoso.
- Esse é o meu receio.
- Se você quiser eu falo com a direção do colégio a professora não pode te impor isso.
- Não quero chegar a esse extremo, só em último caso.
- E o que você pretende fazer?
- Vou fazer e trabalho e tentar me aproximar dele.
- Se ele te ameaçar ou algo parecido eu quero saber de tudo.
Prometo te manter informado, agora eu quero saber outra coisa.
- Ah, eu sabia, aposto que é o Roger.
- Porque você não me contou o real motivo da briga de vocês?
- Porque você está começando uma nova fase e tem andado muito bem depois que se afastou dele.
- Eu só fiquei admirado foi de você entrar a sério na briga para defender Aline.
- Como eu disse naquela noite, a vida é de vocês, não me meto mais com exceção de quando afeta a Sabrina.
- O Roger me contou que foi Aline quem o machucou primeiro com um alicate de unha.
- Isso não justifica o desrespeito dele com a filha. Você acha certo um cara casado andar biscateando moças e rapazes enquanto tem uma família para cuidar?
- Foi a Aline que aceitou essas condições.
- Não estou me referindo a Aline, se ela não tem amor próprio problema é dela, pensei na Sabrina que não tem culpa de ter pais completamente doidos.
- Eu só acho que você brigou com ele a toa, isso é um problema que ele e Aline têm que resolver.
- Eu fiz pra defender a Sabrina e o Roger só vai dar valor ao que falei pra ele no momento em que tiver a rejeição da filha.
- E o papai?
- Anda triste com tudo que está acontecendo.
- São aqueles problemas depressivos?
- Eu não sei ao certo, marquei uma consulta, mas não precisa se alarmar, ele está bem.
- E a Paula?
- Está na correria ajeitando tudo para o nosso casamento.
- Nossa, está perto né? O tempo passa rápido.
- Você já almoçou?
- Que nada, estou no colégio ainda.
- Vou desligar então, tenho que almoçar e hoje estou cheio de entregas.
- Mano, não trabalha demais, viu.
- Nem vem com esse sermão que não cola.
- É sério, pensa no que estou te falando.
- Beijo maninho e não pensa demais.
- Dá um beijo na Paula, no papai e outro pra você.
Desliguei o telefone e saí rumo à saída do colégio, porém ao sair notei o carro do Roger parado na calçada.
Fiz de conta que não vi e segui meu trajeto, porém alguns minutos depois, eu senti um puxão no meu braço.
- Vai me ignorar?
- Não quero papo com você.
- Eu sei que errei e talvez meus erros nem tenham perdão, mas ser desprezado dói demais e não combina com você desprezar alguém.
- Não liga mais para o meu trabalho, o Breno fica de olho e eu preciso do meu serviço.
- Vem trabalhar comigo.
- Você tem mente fraca, só pode.
- Você só não vem trabalhar comigo por causa do Juliano, não é mesmo?
- Ele é legal comigo, me respeita e também merece respeito.
- É isso que você quer pra sua vida? Eu tenho certeza que não.
- Eu não consigo te entender, o que você quer comigo afinal?
- Quero que tudo volte a ser como era antes.
- Se realmente você quer ficar comigo, comece a mudar e muito, pois hoje entre nós existe um abismo e agora me dá licença, estou com fome e quero almoçar.
- Você vai se arrepender de me esnobar desse jeito.
- Por quê? Vai ficar com o Vitor?
- Viu só como você se interessa por mim?
- Me interesso sim, mas não da forma como está imaginando, sexo eu encontro em qualquer lugar, não é disso que eu preciso.
- O Juliano te dá não é?
- Não vamos baixar o nível estamos no meio da rua.
- Foi você que começou e pelo visto ele deve estar te fazendo muito bem, pois até arrogante você ficou depois que ele passou a te comer.
- Vai à merda seu idiota, me deixa em paz.
- Escuta bem o que eu vou te dizer.
- Eu não quero saber.
- Vou dizer mesmo assim.
- Some da minha frente, não quero saber de nada.
Você não ama o Juliano com paixão, entrega, tesão, isso você sente por mim e por ele eu tenho certeza que é mais um amor fraternal, ele se preocupa com seus problemas, age como um irmão e você aceita numa boa porque é bom, mas isso não é amor de verdade.
- O que você sabe da minha vida?
- A verdade dói quando não queremos vê-la, mas fica no teu mundinho com teu namoradinho de faz de conta.
- Imbecil! Você se acha importante na vida dos outros, mas não aprende a respeitar as pessoas.
Saí andando e deixei-o parado no meio da rua. Depois que tudo passou um nó se formou em minha garganta e comecei a chorar, ele não ia bagunçar minha vida novamente, peguei o telefone e liguei para o Juliano.
- Oi, você pode me atender?
- Estou estudando para aquela apresentação que eu te falei.
- Liguei pra saber como você está?
- Estou um pouco chateado, mas estou bem.
- Que bom! Boa sorte na apresentação.
- Você queria me dizer alguma coisa?
- Nada demais, quero apenas que você saiba que estou sempre contigo e você pode contar comigo.
- É muito bom ouvir isso, principalmente vindo de você, mas agora eu realmente preciso me concentrar.
- Está certo, beijos.
Ele desligou o telefone e nem me mandou um beijo, ogro!
À tarde fui pra academia, nem bem cheguei e o Edu veio me perguntar se estava bem.
- Boa tarde Sandro, melhorou?
- Melhorei, foi só uma indisposição.
- ontem o Breno perguntou por você e eu disse que não estava se sentindo bem.
- Obrigado pela força.
- Ah, o Juliano estava te procurando, disse a ele que você tinha saído antes porque não estava bem.
- Eu já falei com ele, obrigado!
- Boa tarde Sandro, você está bem? Perguntou Breno.
- Estou bem, me desculpe ter saído ontem sem avisar.
- O Edu me falou, fique tranquilo.
O Breno saiu e eu assumi meu posto, neste dia mal deu para falar com a outra recepcionista e já tinha gente para atender.
Eu estava tranquilo passando informações de preços para um rapaz quando alguém chega por trás e tapa meus olhos com as mãos, levei um susto não sabia quem era e nem havia motivos para alguém fazer aquele tipo de brincadeira.
Por instinto levei minhas mãos aos olhos e toquei nas mãos da outra pessoa, era difícil acreditar, mas eram mãos de homem. Instintivamente no mesmo instante puxei as mãos da pessoa e logo uma gargalhada chamou atenção de muitos na academia, olhei para trás era o Alexandre, ele ria muito e o cara que eu estava atendendo também ria, não sabia se era da brincadeira ou do fato em si. Olhei para o fundo da academia e o Breno estava com uma feição que parecia o incrível Hulk só faltava ficar verde e sair quebrando tudo.
Não tive tempo nem de reagir e o Alexandre já foi cumprimentar o cara.
- Olá meu nome é Alexandre e o seu qual é?
- João Carlos.
- João Carlos é meio fora de moda, que tal Joca? – o cara deu uma risada, não estava entendendo nada.
- Tai Joca! Gostei do seu nome, quando você começa?
- Eu nem sei se vou começar, estou apenas me informando.
- Ah não! Vem fazer ginástica na academia do Breno, ele vai fazer isso aqui bombar.
- Estou pensando em fazer musculação.
- Além da musculação faz aeróbica é bom pra se soltar.
- Não, não, acho que musculação está de bom tamanho, sou marmanjão pra fazer aeróbica.
- Isso é coisa de machão brega, você tem que fazer, a mulherada dá em cima.
- É mesmo?
- Sim, eu faço todo dia e elas ficam loucas atrás de mim.
Eu não sabia o que fazer, até então ele estava sendo gentil até demais pra um desconhecido e quando dei por mim Breno estava atrás de nós.
- Oi Breno, esse é o Joca ele está querendo fazer musculação, mas eu disse pra ele fazer aeróbica.
- Alexandre, deixa o rapaz decidir o que ele quer, disse o Breno com uma calma que até me surpreendi.
- Ah não, ele tem que fazer aeróbica, ou então Jump.
A cena não era de rir, mas era cômico, o Breno estava totalmente desconfortável, ele era todo certinho, já o irmão era totalmente destemperado.
- Alexandre, por favor, venha comigo.
- Ah Breno, deixa de ser brega.
- Venha Alexandre, vamos conversar lá no escritório.
- Lá eu não vou você vai me mandar pra casa.
- Prometo que não, venha comigo.
- Vai com ele Alexandre, se o Breno está dizendo que não vai te mandar pra casa é porque ele está sendo sincero.
- Eu vou porque é você que está me pedindo, que fique bem claro.
- Isso, vai com ele.
- Gostei de você Joca, a gente ainda vai se encontrar na academia.
Ele estendeu a mão e cumprimentou o cara, em seguida saiu com o Breno e eu voltei a atender o rapaz.
- Desculpa pelo transtorno.
- Ele é bem extrovertido.
- E muito querido, mas às vezes ele acha que aqui todos são conhecidos.
- Eu gostei dele, só não gostei da indicação pra aeróbica, acho isso coisa de mulher.
- Tem muito homem que faz, mas isso é da escolha de cada um.
- Já decidi, vou fazer minha matricula para musculação e vou ficar de olho nessa aeróbica, vai que o Alexandre tem razão.
Fiz o matricula do cara, o Breno tinha receio do Alexandre, mas ele era um grande incentivador, pois o cara estava bem indeciso e no pouco contato que teve ele se decidiu pela musculação.
O Breno cumpriu a parte dele, pois logo em seguida eu vi Alexandre nos aparelhos fazendo musculação, ele era muito divertido estava sempre mexendo com um e outro, por um lado era bom, deixava o ambiente mais descontraído.
Menos descontraído eu fiquei quando entrou Augusto na academia, ele me encarava como se estivesse feliz pela minha atitude da noite anterior. No mínimo ele percebeu que não gostei do encontro dele com Juliano. Ele passou direto pra musculação e eu fiquei feliz.
Neste dia o Juliano não apareceu na academia, meu coração apequenou-se era o sinal que ele ainda continuava magoado, pois era raro ele faltar, minha noite já não foi mais a mesma sem a presença dele, parecia que tudo era estranho pra mim.
Cheguei a republica e dei de cara com Marcelo conversando com uma garota no portão, não era Carla, mas também naquele dia pra mim pouco importava com quem ele conversava, meu pensamento estava longe tentando imaginar porque Juliano não tinha ido à academia e porque não atendia meus telefonemas, toda vez que ligava caía na caixa postal.
- Oi Sandrinho, que cara é essa?
- Oi Pedrão, estou um pouco cansado e você, quais as novidades?
- Teve uma senhora aqui, ela estava te procurando.
- Uma senhora, ela disse o nome?
- Ela disse que depois voltava a te procurar.
- Nossa quem será?
- Não sei, ela é magrinha, alta, acho que pinta o cabelo de loiro.
- Por acaso o nome dela é Vera?
- Ela não disse o nome.
- Tudo bem! Pedrão, eu posso te fazer uma pergunta?
- Claro! Entre nós não tem cerimônia.
- Você tem visto minha irmã?
- Vejo todo dia na faculdade.
- E você tem conversado com ela?
- Ultimamente temos conversado bastante.
- E por acaso ela comentou alguma coisa sobre a separação?
- Disse que está atravessando uma crise no casamento, mas porque esse monte de perguntas?
- Nada não, eu só queria saber como ela está reagindo.
- Ah Sandro, então porque você não procura por ela?
- Ela não gosta muito de procurar a família, acho que prefere de viver isolada.
- Não é o que ela diz, se bem que Aline fala pouco sobre a vida pessoal.
- E o que ela diz?
- Que vocês não aprovam o casamento dela e por isso se afastaram.
- Você é bem amigo dela, né?
- Almoçamos quase todos os dias no mesmo restaurante.
- Sabe que eu cheguei a pensar que vocês poderiam ter alguma coisa?
- Em que sentido?
- Sei lá, envolvimento amoroso?
- Sua irmã é apaixonada pelo marido.
- Então rolou algo entre vocês?
- Acho que aí você está avançando o sinal.
- Desculpa Pedrão, não foi minha intenção me meter na sua vida, vou para o meu quarto.
Entrei no quarto e tentei novamente ligar para o Juliano caiu na caixa postal, não era possível que ele teria coragem de ir atrás do Roger novamente. Fiquei pensando e lembrei-me da Laura, liguei pra ela.
- Oi Sandrinho, pra você me ligar devem ter anunciado a terceira guerra mundial.
- Muito boa sua piada, mas não tem nada a ver com minha ligação.
- Aposto que é o amor, disse ela rindo.
- Estou preocupado com Juliano ele não foi à academia e nem atende ao telefone, você sabe dele?
- O Ju me disse que precisava apresentar um trabalho bem complicado.
- Ele me disse, mas porque não apareceu na academia?
- Vocês brigaram?
- Discutimos por algumas coisas que andam acontecendo.
- O Ju gosta de se isolar quando está chateado, mas não deve ser nada demais.
- Nossa briga foi feia.
- Se eu soubesse dele te falaria, mas ele não me disse nada.
- Pela manhã ele não estava bem, estou preocupado.
- Dá um tempo e amanhã vocês conversam.
- Tenho medo que ele tome decisões erradas, gosto muito dele pra permitir que isso aconteça.
- Eu sei que você está aflito, mas ficar nervoso não adianta nada.
- Só em conversar com você já me deixou melhor, eu sei que qualquer decisão que ele tomar vai falar contigo.
- Sandrinho, o Ju é louco por você, se acalma.
Fiquei mais calmo depois que falei com Laura, tomei um banho e deitei tentando dormir, mas não consegui. O Rafael também não chegava e estava me preocupando, afinal BH é uma cidade grande onde tudo pode acontecer e qualquer coisa fora do normal já me deixava nervoso, principalmente se você liga pra pessoa e não atende ao telefone.
Era quase uma da manhã quando ele chegou.
- Nossa cara, isso são horas de chegar?
- Não brinca que você está acordado por minha causa?
- Custava atender meus telefonemas, fiquei preocupado.
- Desculpe, eu estava com a Letícia e não podia atender.
- O namoro está tão bom assim que nem pra atender os amigos tem mais tempo?
- O celular estava no silencioso por isso não atendi, disse ele rindo.
- A farra deve ter sido boa, você não é de voltar tarde desse jeito.
- Da próxima vez eu juro que te aviso pra não perder sua noite de sono.
- Nem é por isso, você é meu irmão e eu fico preocupado que te aconteça alguma coisa.
- Esqueci que agora tenho um irmãozinho que se preocupa comigo.
Ele veio até a minha cama e bagunçou meu cabelo.
- Estou falando sério seu bobo.
- Desculpa, desculpa, desculpa.
- Está desculpado, mas que não se repita.
Ele ficou rindo e eu também tive que achar graça da situação.
- Estou cansado vou dormir, disse ele se atirando na cama dele.
- A Letícia está te fazendo um bem danado, nunca te vi tão apaixonado e olha que eu pensava que você era louco pela Fernanda.
- Eu te disse que meu lance com ela era sério.
- Que bom, ela é uma garota legal, diferente da irmã que não gosto dela.
- A Patrícia é legal e você não gosta dela porque foi a fim do Juliano.
Não tive respostas pra ele, talvez tivesse razão.
- E a Fernanda não te ligou mais?
- Vive ligando, mas acabou.
Ele levantou e começou a trocar de roupa para dormir.
- Ela deve estar sofrendo.
- Eu sei, mas não posso fazer nada por ela, vamos deitar?
- Vamos né, depois que você quase me mata de preocupação.
Ele deitou morto de rir, era um bobo apaixonado a felicidade estava escrito em sua testa.
No dia seguinte fui para o colégio e comecei a pensar numa forma de me aproximar do João Pedro. Decidi visitá-lo no hospital, faria essa tentativa, se não desse certo entregaria meu trabalho sozinho e agiria conforme o Tiago me falou.
Após a aula fiz um lanche na rua e, seguida fui até o hospital. Ao entrar senti o trauma de quando minha mãe esteve internada. Embora o clima fosse péssimo, criei coragem e fui andando até chegar à ala em que ele estava.
A porta do quarto estava fechada, tentei bater, mas faltou coragem e resolvi voltar, porém uma enfermeira viu e me chamou.
- Ei, rapaz!
- Oi, é comigo?
- Sim, eu vi que você na porta daquele quarto, fez menção de bater e depois saiu sem falar com ninguém.
- Um amigo meu está internado naquele quarto.
- Como é o nome do seu amigo?
- João Pedro.
- Vem comigo, ele deve estar com a mãe.
Fiquei sem reação e acompanhei a enfermeira, em segundos passou na minha cabeça se ele não ia me expulsar do quarto.
A enfermeira entrou e ela estava certa, a mãe dele o acompanhava.
- Boa tarde senhora, esse rapaz veio visitar o João Pedro, disse ela.
Ele estava deitado na cama, virado para o lado da parede, dormindo.
- Entra moço.
- Me dá licença.
- Qual o seu nome?
- Sandro.
- Você é de onde? Nunca te vi com meu filho?
- Sou da escola, somos colegas de aula.
- Entra aí, o João está dormindo, é efeito dos remédios.
- Ele tem faltado aulas, estamos preocupados.
- Já veio alguns colegas visitá-lo.
- Fiquei sabendo na aula, e como ele está?
- Está melhor agora, mas poderia ter morrido.
- O João é meio temperamental.
- Como ele é na escola com os amigos?
- Tem o grupo dele.
- Que provavelmente vive o mundinho deles e implicam com todos.
- Conheço pouco o João para tirar conclusões sobre ele.
- Comigo você pode ser sincero, quero ajudar o meu filho a ser alguém melhor.
- Ele tem poucos amigos, a maioria tem medo dele.
- E você não tem medo?
- Tenho e não tenho ao mesmo tempo, desde que nos encontramos ele sempre foi meio agressivo e procurei manter distância, mas quando fiquei sabendo que estava internado, senti necessidade de vê-lo.
- O João precisa de amigos assim como você.
Embora a mãe dele me tratasse bem estava me sentindo um intruso naquele quarto.
- Ele está dormindo, acho que já vou.
- Fique mais um pouco.
- Tenho que trabalhar daqui a pouco.
- Você trabalha?
- Trabalho numa academia de ginástica.
- Gostei muito de você, volte a procurar o João ele precisa fazer novos amigos.
- Eu volto outra hora, preciso falar com ele sobre um trabalho.
- Obrigado pela visita! Meu filho vai ficar feliz ao saber que veio visitá-lo.
Não disse nada a ela, mas com certeza ele ia odiar.
Saí do hospital e liguei para o Juliano, dessa vez ele atendeu.
- Oi!
- Está chateado não atende minhas ligações?
- Tem como você ir à minha casa depois da academia, precisamos conversar.
- Você está estranho, o que aconteceu?
- Agora estou em aula não posso falar, mas tarde a gente conversa.
- Você não vai à academia?
- Hoje não, te espero lá em casa.
Desligou o telefone me deixando no vácuo.
Tomei um banho e fui estudar até que ouvi alguém batendo palmas na frente da casa. Fui ver quem era e tive a desagradável surpresa de ver a mãe do Roger.
- Boa tarde!
- Boa tarde Sandro! Ontem eu te procurei e seu colega me disse que estava trabalhando.
- Ele me disse, só não imaginava ser a senhora.
- Não vai me convidar para entrar?
- Não posso demorar, tenho que trabalhar daqui a pouco.
- Não vou me estender.
Pensei na educação que minha mãe me deu e seria muita sacanagem deixá-la do outro lado do portão sem atendê-la, embora soubesse que nosso assunto provavelmente me traria aborrecimentos.
- Entre, por favor.
Ela entrou a começou a olhar em tudo que sua visão alcançava, pedi para sentar-se e fiquei esperando pra saber qual era o sermão da vez.
- A casa de vocês é bem organizada.
- Mesmo sendo seis homens dividindo o mesmo espaço, batalhamos para mantê-la em ordem, mas acredito que a senhora não veio aqui para falar sobre a casa.
- O motivo da minha visita você já sabe.
- Se o assunto é o Roger, a senhora perdeu seu tempo.
- Escuta o que eu tenho a dizer.
- A senhora não gosta de mim e não sou obrigado a ouvir sermão na minha própria casa.
- Me escuta, por favor, disse ela alterando a voz.
- Seja breve porque preciso estudar.
- Tenho sofrido muito desde que o Roger completou 16, vivia triste e abatido, no inicio eu pensava que era a ausência do pai, mas depois descobri que ele tinha um amiguinho, viviam juntos inclusive na escola até que um tempo depois o outro garoto sumiu.
- Ele me falou que teve um caso quando tinha 16 mais não me deu detalhes.
- A mim ele nunca contou, mas eu sei que foi ali que começou a vida dupla do meu filho. Eu sabia de tudo, toda mãe que ama seu filho sabe das coisas que acontecem na vida dele. Assim como sua mãe soube e te apoiou, eu não tive a mesma coragem, sofri muito, pedi a Deus pra tirar essas coisas da vida do Roger, ela começou a chorar.
- A senhora quer uma água?
- Um copo, por favor.
Alcancei o copo de água e ela seguiu falando.
- Quando ele não estava com os amigos e o via triste, já sabia o que estava acontecendo, nunca fiz nada na esperança dele encontrar uma garota legal, o Roger um menino inteligente, esperto, sempre atencioso não merecia uma coisa triste dessas.
- Porque a senhora está me contando isso?
- Você vai entender. Aquela fase passou, pensei que finalmente meu filho estava livre dessa maldição, ele namorou algumas meninas até que completou 18 anos e começou a sumir de casa por uma noite, um dia. Nunca o questionei, mas fui atrás para ver o que era e descobri que ele se encontrava com um senhor já de idade que poderia ser pai dele, o cara era casado, foi o maior desgosto da minha vida, fiquei louca e tratei em afastá-lo. Foi fácil, ele era casado e vivia bem com a esposa. Ameacei de contar tudo à mulher dele e ele se afastou do Roger. Foi então que surgiu a Larissa ele parecia bem interessado nela, achei até que fossem se casar, mas ai eu descobri que seu pai era primo do Paulo e sugeri a ele se aproximar de Aline, ela era a garota perfeita e também seria um meio dele se aproximar do pai.
Ele sabia disso?
- Se ele soubesse não aceitaria, fiz de tudo pra ele se aproximar de Aline, mas ai ele vocês se aproximaram e desde que te conheceu o assunto dele em casa era você, terminou o namoro com Larissa e eu até incentivei porque queria saber onde estava o Paulo, mas depois me dei conta que meu filho não podia voltar àquela vida triste de antes, então comecei a incentivá-lo a se aproximar de Aline novamente, ele vivia na sua casa e foi assim que aconteceu.
- E a senhora conseguiu.
- Ele nunca se conformou com esse afastamento e me joga isso na cara toda vez que discutimos. Eu não aguento mais ver o meu filho sofrer queria tanto que a vida dele fosse normal como qualquer rapaz que é feliz com a esposa.
- A senhora não precisa se preocupar comigo porque nunca fui um estorvo para o Roger.
- Eu sabia que podia contar com você.
- Não sei por que a senhora perdeu seu tempo vindo até aqui?
- Roger vai te procurar e vai insistir, mas eu não posso permitir uma loucura dessas logo agora que estava indo tudo bem.
- Boa sorte pra sua ignorância.
Depois que ela saiu senti muita raiva e aos poucos fui entendendo o quanto estava cercado de gente que não valia nada, por isso o Roger era uma pessoa tão complicada e indecisa, isso vinha de berço.