- Oi Diego.
- Lembrou que existo? Isso é bom.
- Está muito ocupado pra sábado à noite?
- Ultimamente ando sozinho, carente e abandonado, pior que cachorro de rua sem dono. - disse rindo.
- Nossa, que dramático.
- Quais são os planos?
- Um convite pra um aniversário.
- Não é festinha de criança? - disse rindo.
- É da minha tia.
- Você está de brincadeira comigo?
- Estou falando sério, tia Joana me convidou para o aniversario dela no sábado à noite e faz questão da minha presença.
- E você, como não está a fim de ir sozinho resolveu me convidar?
- Como eu sei que você é um amigão vai aceitar o meu convite.
- O Juliano é convidado pra essa festa?
- Foi ela quem o criou, portanto deve ser um dos convidados principais.
- Foi o que deduzi você é bruxo, hein?
- Por quê?
- Aposto que me convidou porque o Juliano sabe que já tivemos um rolo e vai querer provocar o cara.
- É por isso que eu admiro sua inteligência.
- Você não presta mesmo. - disse rindo.
- Só quero mostrar que também sei andar bem acompanhado.
- O garoto ingênuo está crescendo.
- Então, aceita o convite pra me acompanhar numa festinha de família?
- Eu aceito, o problema é que não respondo por mim. – disse rindo.
- Segura a onda, é reunião de família.
- Aí que mora o perigo.
- Vou ligar pra minha tia e avisar que você vai comigo.
- O Juliano vai me amar depois dessa festa.
- A nossa presença vai ser insignificante, ele deve estar bem acompanhado do namoradinho, até a academia deixou de frequentar.
- No sábado à noite veremos se realmente é isso.
- Pra mim tanto faz, só quero dar um toque nele.
- As 20h00min eu passo aí pra te pegar.
- Combinado.
A semana passou sem muitas novidades. Na sexta-feira à tarde fui ao shopping comprar o presente da minha tia. Estava totalmente em duvida, não sabia o que comprar, foi então que entrei numa loja que vende perfumes e fiquei olhando.
- Comprando perfume pra mim?
Olhei para o lado e dei de cara com Aline.
- Pra tia Joana, é o aniversário dela.
- Não vai me dar um abraço?
- Aqui não é lugar pra essas coisas.
Ela não disse nada apenas sorriu, pegou o perfume que eu tinha em mãos, largou na prateleira e me alcançou outro.
- Este é perfeito pra tia, pode levar que ela vai gostar.
- Obrigado!
Peguei o perfume e fui em direção ao caixa pra pagar, não vi mais ela que seguiu comprando. Saí da loja de perfumes e entrei numa loja de calçados, queria comprar um tênis. Para o meu azar, logo depois ela se aproximou e ficou na minha volta. Eu não tinha assunto com Aline, à presença dela me trazia uma sensação de derrota, era estranho, mas eu não me sentia bem ao lado da minha irmã.
Nem comprei o tênis, saí da loja e ela veio atrás de mim, dava a entender que queria me falar algo, mas não tinha coragem.
- Eu preciso ir Aline, tenho que trabalhar agora.
- Fiquei muito feliz em te encontrar, queria conversar com você outra hora com mais calma.
- Eu não tenho nada pra falar com você.
- Vai visitar a Sabrina e a gente conversa.
- Quando eu me sentir bem pra falar com você, eu te procuro, por enquanto a tua presença me aborrece.
Saí do shopping e nem olhei para trás, se tinha uma coisa que não estava preparado para enfrentar era minha irmã, talvez dela eu tivesse mais mágoa de que do próprio Roger.
Cheguei à academia parecia que tudo rodava, estava tonto, achei que fosse desmaiar ali mesmo no corredor de acesso.
Fui direto ao vestiário, mal entrei e comecei a vomitar, depois de alguns minutos me sentei no chão, esperando que passasse aquele enjoo, até que ouço alguém falar comigo.
- Oi meu amigo, hoje você não está bem, né?
- Acho que tive uma queda de pressão.
- Até aqui eu levei na brincadeira, mas você deve procurar um médico, isso não é legal.
- Estou bem Vagner e muito obrigado por me ajudar mais uma vez.
- Vai num médico garoto.
- Eu vou, prometo.
- Está melhor?
- Sim, tentei levantar e ele me estendeu a mão.
Ele me ajudou a ir até a pia e ficou apoiando meu corpo até eu lavar o rosto. Quando terminei já estava bem melhor.
- Precisa de mais alguma coisa?
- Não, estou bem, vou escovar os dentes pra começar a trabalhar.
Ele sorriu e ficou ali ao meu lado, estava suado, tinha acabado de malhar. Notei que mesmo estando melhor ele continuava preocupado.
Depois que terminei de escovar os dentes e guardei a escova na mochila, foi que ele se convenceu que eu realmente tinha melhorado.
- Que susto você me deu rapaz.
- Desculpa mais uma vez, você é azarado, toda vez que me encontra não estou bem.
Neste momento já tinham mais dois rapazes na minha volta querendo saber o que eu tinha, mas ele gentilmente soube despistar dizendo que era apenas um mal estar porque corri na rua.
Logo depois os dois rapazes saíram e ele voltou a conversar comigo sobre o incidente que acabara de acontecer.
- Você comeu alguma coisa forte que provocou esses enjoos?
- Não, deve ser porque vim rápido.
- Tem alguma coisa errada, ninguém vomita por nada.
- Isso aconteceu porque encontrei uma pessoa que não deveria ter encontrado.
- Alguma paixão mal resolvida?
- Se fosse só isso até que não seria mal, esbocei um sorriso e ele sorriu também.
- Essa tristeza não combina com você.
- Estou bem e desculpe pelo inconveniente.
- Acho que vou ter que me candidatar a ser teu protetor.
- Vou tomar mais cuidado da próxima vez. - disse rindo.
- Esse sorriso significa que já está melhorando e agora posso dar atenção aos meus alunos.
- Você dá aula a tarde?
- À tarde e algumas manhãs para o ensino médio e a noite na faculdade, mas não é todo dia.
- Deve ser bem cansativo.
- Eu gosto dessa rotina cansativa ajuda a esquecer dos problemas, e você estuda?
- Estudo pela manhã no terceiro ano do ensino médio e faço cursinho para o vestibular aos sábados.
- Garoto estudioso! Amanhã espero te encontrar com uma carinha mais alegre, essa está triste demais.
- Bom trabalho pra você.
Ainda bem que do pessoal que trabalhava comigo na academia ninguém ficou sabendo o que aconteceu. Assim que sentei para trabalhar tomei um paracetamol pra dor de cabeça e logo já estava bem novamente.
Fiquei distraído preenchendo algumas fichas e quando me dei conta o Breno estava atrás de mim me observando.
- Oi Breno, não tinha te visto.
- Eu percebi, quer carona?
- Hoje não dá, vou numa festa.
- Nossa, que novidade, eu nunca vi você falando em festa que não fosse à do casamento do seu irmão.
- Isso só prova que eu estava errado, se tivesse me divertindo e saindo com meus amigos, talvez não me decepcionasse tanto com as pessoas.
- Quando as coisas tem que acontecer, acontece em qualquer lugar, fosse de um jeito ou de outro você também teria decepções.
- Por isso tomei uma decisão e daqui pra frente ninguém me segura.
- E onde é essa festa?
- Numa republica de uns amigos do Marcelo.
- E quem é o Marcelo?
- Ele mora comigo, mas também vão mais dois colegas e a namorada de um deles.
- Você está certo em se divertir, mas toma cuidado.
- E você vai pra casa?
- Meu refugio sagrado. - disse rindo.
Na saída meus amigos já me aguardavam, Laura estava de carro e nos levou até a festa.
Chegamos lá e já tinha uma turma assando carne, muita gente na volta da piscina, som ligado a todo vapor. Na festa tinha turmas de outras repúblicas tanto rapazes como garotas, ao todo deveria ter umas cinquenta pessoas, a bebida alcoólica já rolava solta. Era a primeira festa que eu ia nesse estilo, logo de inicio levei um susto, pois não estava acostumado com toda aquela badalação.
A maioria do pessoal se conhecia da faculdade, intrusos assim como eu eram poucos. Nem bem entramos na festa, Marcelo já se aproximou de uma garota e ficaram conversando perto da piscina.
Pedro e Giovane foram acertar nossa contribuição com os organizadores da festa. Eu como não conhecia ninguém, sentei num banco ao lado de Laura e fiquei apenas observando. Enquanto esperávamos os meninos voltarem, aproveitei para falar com ela e me desculpar. Eu tinha quase certeza que Laura estava chateada comigo por usar amizade dela com Juliano para me aproximar dele.
A tia me convidou para o aniversário dela.
- E você vai?
- Pensei em não ir, mas depois decidi que sim.
- O Junior chega amanhã pela manhã, vai uma galera ao aeroporto para recebê-lo, você não quer ir conosco?
- Vou só à festinha, acho que a recepção no aeroporto é para os mais chegados.
- Que bobagem, Sandro, você é da família.
- Eu queria aproveitar esta oportunidade e te pedir desculpas.
- Desculpas por quê?
- Por me aproveitar da sua boa vontade pra me aproximar do Juliano, acho que você ficou chateada comigo.
- Eu não fiquei chateada, só prometi ao Ju que não ia mais me meter na vida dele.
- Mesmo assim eu agi errado, me desculpe.
- Da minha parte você não precisa se preocupar porque eu entendi, só fiquei triste porque o Ju não merecia ser usado.
- Você acha que eu o usei?
- Não foi completamente sincero, isso me chateou muito, porque dei maior força pra ele lutar por você.
- Ele também não foi tão inocente nessa história.
- Você se aproveitou da fraqueza dele pra tentar atingir o Roger.
- O Roger? Eu não tenho mais nada com ele faz tempo.
- Seja sincero comigo Sandro, se o Roger tivesse dito que largava tudo pra ficar com você o Ju não teria menor chance.
- Ele não teve o mínimo de paciência comigo.
- Ah Sandro, não seja injusto, quantas vezes eu vi o Ju fazendo de tudo pra te agradar e você não dava a mínima pra ele.
- Culpa dele, quando foi pra ficar comigo, disse que assumiria os riscos.
- Porque você não admite pra si mesmo que errou?
- No começo eu me aproximei dele pra atingir o Roger, mas depois foi diferente.
- Então lute por ele.
- Depois do que ele me fez no apartamento, jamais eu vou me aproximar dele novamente.
- O que aconteceu?
- Prefiro nem falar porque me dá nojo, quero esquecer aquele dia.
- Eu não sei o que houve, mas o Ju é um cara honesto, não é por ser meu primo irmão, mas nós crescemos juntos e sei da índole dele.
- Ele que fique com aquele engomadinho, os dois se merecem.
- O Ju ficou muito magoado com você, está crente que a aproximação de vocês foi um erro e eu me senti culpada, pois tive a infelicidade de tentar aproximá-los.
- Com certeza o Augusto fará a diferença.
- Ele está bem mudado, e como eu prometi ao Ju não quero mais dar palpite na vida dele.
- Justo você que sempre foi contra o Augusto, agora está amiguinha dele também?
- Se a pessoa fizer o Ju feliz é meu amigo e o Augusto está fazendo de tudo pra que isso aconteça.
- Sabe qual é a real, o Juliano achou que eu fosse correndo atrás do Roger quando se separou, foi afobado, precipitado e preferiu cair nos encantos do engomadinho, mas pra mim, isso agora pouco importa.
Saí de perto dela e fui pra onde tinha uma turma bebendo, me juntei a eles que logo me ofereceram uma bebida e fiquei bebendo com aquele pessoal por mais de hora.
Meu celular começou a vibrar no bolso, estava meio tonto, mas ainda sóbrio. Apesar de meio grogue, atendi ao telefone e fiquei surpreso.
- Oi
- O oi desculpa eu te ligar nesse horário.
- Estou numa festa, onde você está?
- Em casa.
- Você está bem?
- Estou com vontade de fumar.
- Não faça isso vai prejudicar o tratamento.
- Eu queria falar com você.
- Agora?
- Onde eu posso te encontrar?
- Fica em casa, eu vou até aí.
- Não demora.
O João estava muito estranho, era tarde da noite, mas foi eu a pessoa que ele se lembrou de pedir ajuda.
Chamei um táxi enquanto procurava meus amigos pra avisar que estava saindo, encontrei Marcelo aos amassos com uma garota, Pedro com outra, fui até Giovane e Laura que bebiam deitado num sofá.
- Laura, avise os meninos que eu já vou?
- Que jeito você vai?
- Vou pegar um táxi.
- Porque você não espera pra ir com a gente?
- Estou a fim de ir embora e não quero estragar a festa de vocês.
Não dei muita explicação pra ela e saí. O táxi que já me aguardava na rua me levou direto para a casa do João Pedro, toquei a campainha e ele veio me atender.
Nem bem fechei a porta, ele me abraçou, estava feliz como eu nunca tinha visto antes. Era perceptível que ele havia se drogado.
- Cadê sua mãe?
- Está dormindo e fica quieto ele dizia rindo.
- Você se drogou de novo?
- Você demorou, agora é tarde.
- Vim o mais rápido que pude.
- Vem comigo que eu quero te mostrar uma coisa.
Ele me estendeu a mão e me levou até o quarto dele. Estava com receio de sua mãe não gostar quando me visse na casa.
Já no quarto dele, olhei ao redor estava tudo bagunçado, roupas pelo chão, gavetas do armário aberta, o computador ligado e um cheiro estranho no ar.
Apesar de ainda tonto, tentei juntar um pouco daquela bagunça, mas ele me impediu e me jogou na cama. Totalmente possuído pelo efeito da droga me beijou de uma forma furiosa e ao mesmo tempo com desejo. Eu também estava bem elevado no álcool, não estávamos em nosso juízo perfeito, parei de pensar na mãe dele, nas drogas e me entreguei a própria carência.
Fui totalmente envolvido pelo beijo, ele tirou minha camiseta, ainda tentei impedi-lo, mas ele estava sentado em cima de minhas pernas e me empurrou na cama, tirou sua camiseta e entre um sorriso e outro voltou a me beijar.
Ele me segurava com força como se eu fosse fugir a qualquer momento. Sem meu juízo normal, percebi que estava curtindo cada pegada, mesmo assim tentei tirá-lo de cima de mim assim que me lembrei da mãe dele.
- Para com isso João, a sua mãe.
Ele não me ouvia, foi então que dei um empurrão nele e consegui me sentar na cama. Ele levantou de um jeito estranho, parecia furioso, foi até a porta e fechou a chave.
Fiquei com medo que ele fosse tentar me agredir, estava totalmente drogado, mas ele se aproximou de mim novamente e voltou a me jogar na cama.
A única coisa que escutei claramente foi quando ele disse, eu te quero.
Segurei a cabeça dele pra tentar fugir, mas ele tinha uma força incontrolável, conseguiu me envolver totalmente, primeiro até tentei sair, mas acabei deixando rolar e ele voltou a me beijar como antes.
Já não oferecia mais resistências, ele deitou por cima de mim abriu minha calça, colocou a mão por dentro de minha cueca e ficou me masturbando até que começou um clima muito bom entre a gente. Logo depois ele foi beijando meu pescoço, chupando meus mamilos e descendo mais beijou minha barriga.
Não conseguia esboçar reação, ele terminou de tirar minha roupa, segurou meu pau masturbando com as mãos e de repente começou a chupar. João nunca admitiu, mas ele já tinha experiência, senti pela pegada que não era sua primeira vez com outro cara. Ele ficou um bom tempo me chupando, lambendo até que veio pra cima de mim e virou na cama ficando por baixo. Ele apenas sorria, estava feliz e eu entrei na dele e retribui tudo que tinha feito comigo.
Ele me virou de lado e começou a passar a mão no minha bunda. Colocou o pau dele na entrada, ficou roçando e tentou penetrar daquele jeito, mas o juízo me chamou pra terra.
- Tem camisinha?
- Porra!
Mesmo reclamando ele levantou esbravejando e colocou a camisinha, pedi pra ele ir devagar, pois o notei ansioso demais. Senti muita dor quando ele me penetrou, não resisti e pedi para trocamos de posição. Fiquei na posição de frango assado, ele veio por cima e já foi introduzindo sem muita paciência e começou a se movimentar. Doeu mais um pouco, comecei a me masturbar até que passou a dor e pude curtir. Não sei se foi o efeito da droga, mas ele foi bruto em seus movimentos, não se importou se eu estava sentindo prazer ou não e só parou quando gozou.
Fiquei totalmente inerte na cama, minha cabeça estava num turbilhão, efeito do álcool, do sexo, da droga, nem tinha parado pra pensar na mãe do João que provavelmente tinha escutado alguma coisa.
Ele pelo contrário, parecia bem, tirou a camisinha e deitou abraçado a mim que continuava de olhos fechados tentando entender o que fiz.
Saí da cama sem o João perceber e fui ao banheiro que tinha no quarto dele, ainda estava meio tonto, cambaleando sob o efeito do álcool.
Liguei o chuveiro, tomei um banho e tentei tirar todo e qualquer pensamento da minha cabeça. Depois voltei pra cama. João dormia nem parecia que tinha ingerido droga. Dessa vez parecia diferente, ele não estava triste como no outro dia. Acabei pegando no sono sem entender o que tinha se passado entre a gente.
Acordei pela manhã com muita dor de cabeça, olhei para o lado pensando que tinha sido apenas um sonho ou um pesadelo, mas era real, o João dormia tranquilamente.
- Meu Deus o que eu fiz? E agora, como vai ser daqui pra frente?
Foi o primeiro pensamento que me veio à mente, João era um cara problemático e aquela transa só ia trazer problemas pra nossa relação que não era das melhores.
Levantei da cama e observei que meu celular piscava na mesinha do computador, olhei, tinha várias mensagens e ligações do Marcelo, do Rafael e até da Laura. Só então lembrei que não tinha avisado que ia pra casa do João Pedro.
Na mesma hora liguei para o Rafael.
- Oi Rafael.
- Onde você está?
- Estou na casa de um amigo.
- Poxa Sandro, que tipo de amigo você é, está a fim de me matar de susto?
- Desculpa Rafael, sou bem cuidadoso quanto a horários, sempre te cobro isso e acabei me passando.
- A galera está preocupada com você, cara.
- Avisa que estou bem e pede desculpas por mim.
- Quando você vem pra casa?
- Daqui a pouco, só preciso resolver um problema aqui.
Desliguei o telefone, fui para o chuveiro e comecei a chorar, como eu pude fazer isso com meus amigos. Tiago e papai com certeza viriam pra cima de mim como um furacão fazendo cobranças.
Quando saí do banho já estava melhor, João dormia. Eu queria conversar com ele antes de sair, mas não queria acordá-lo. Não tinha como esperar mais, precisava ir pra casa e enfrentar as consequências da minha noite.
Ao chegar à sala dei de cara com a mãe dele, ela já me aguardava, ou seja, estava a par do que tinha acontecido durante a noite. Que vergonha, não sabia onde enfiar minha cara.
Onde está o João?
- Dormindo! A senhora me desculpa, não tive intenção de bagunçar sua casa.
- Ontem eu não estava bem da gripe, tomei um remédio e me deitei, acordei no meio da noite com o barulho da campainha.
- João me ligou no meio da noite, disse que estava com vontade de fumar.
- Ele já tinha fumado quando você chegou?
- Já.
Ela sentou e pôs a mão na cabeça, fiquei com pena dela.
- Senhora, sobre o que houve eu queria me explicar.
- Não precisa explicar, não sou boba pra fingir que nada aconteceu.
- Mesmo assim eu peço desculpas.
- Eu não sei mais o que fazer, ela começou chorar.
- Ele precisa de ajuda.
- Eu faço tudo o que eu posso por ele.
- Nas poucas vezes em que conversamos e ele estava sóbrio, sempre reclama da solidão.
- Ele tem depressão vive em tratamento, mas parece que nada resolve.
- Estou me sentindo mal em ter desrespeitado sua casa.
- Se não fosse você seria outra pessoa.
- Ele costuma trazer outras pessoas pra dentro de casa quando está sob o efeito de droga?
- Não é sempre, mas ele trás.
- Eu pensei que a senhora nem soubesse que ele... A senhora sabe.
- O pai dele não aceita, os dois vivem em conflito.
- O importante é que a senhora o apoia, senão seria pior ainda.
- Sozinho ele não consegue enfrentar os problemas. Agora mesmo estava bem, tinha deixado depois da internação, mas essa já foi à segunda recaída.
- Dessa vez foi menos danosa que a outra.
- Isso não existe, Sandro. Agora ele acorda e fica depressivo.
- Estou me sentindo culpado pelo que aconteceu essa noite, as coisas não podiam ser assim.
- Não se culpe. O João não admite, mas ele gosta de você.
- Ele me disse que a senhora fez de tudo pra me aproximar dele.
- Você é um bom amigo e vai ajudá-lo.
- Eu tenho medo de me envolver com isso.
- Você pode me chamar de egoísta, mas maior que o medo é vida do meu filho.
- Eu preciso ir agora, estou com um problemão em casa pra resolver.
- Posso te ajudar em alguma coisa?
- Esse problema eu tenho que resolver sozinho.
- Queria que o João tivesse a sua coragem, se precisar de mim, me liga.
Fui pra casa pensando no que diria ao Rafael, não devia satisfações a ele, mas tínhamos um elo de amizade, um cuidava do outro, além disso, tinham as regras da republica que eu tinha quebrado.
- Oi Sandro, virou boêmio?
- Não brinca Lucas, cadê o Rafael?
- Foi à padaria, mas não demora, ele está uma fera com você.
- Vou falar com ele e explicar tudo.
- A farra estava boa?
- Não brinca Lucas.
- Você está com uma cara de ressaca, versão Lucas II melhorada.
- Deixa de ser palhaço, Lucas.
- E o Rafa diz que eu que sou o mau exemplo, agora tenho um professor.
- Vai se fuder o palhaço.
- Ah, finalmente resolveu dar sinal de vida.
- Oi Rafael.
- Oi Rafael? Você deveria levar uma surra.
- Eu sei que errei, mas posso explicar.
- Eu já escutei isso varias vezes do Lucas, espero que de você seja a primeira e a última. O que aconteceu?
- Fui à casa de um amigo, peguei no sono e me esqueci de avisar.
- Que falta de consideração, acordei de madrugada você não estava na cama, fui atrás do Marcelo, Pedro e Giovane, todos dormiam. Queria que eu pensasse o que?
- Eu sei que errei me desculpa.
- Poxa, aqui nós somos uma família, combinamos assim desde o começo, temos regras e serve pra todos. Não é proibido dormir fora de casa desde que avise.
- Você está certo, isso não vai acontecer novamente.
- Imagina se o Tiago fica sabendo de uma coisa dessas?
- Você não vai contar pra ele?
- É claro que não, não sou dedo duro de amigo e nossos problemas nós resolvemos aqui.
- É por isso que eu te amo.
- Não apela, porque eu estou muito chateado com você.
- Me perdoa, por favor.
- Vou te perdoar porque foi à primeira vez, vê se não me apronta outra.
- Prometo!
- Esse papel de farrista é do Lucas, não preciso de mais um pra me dar dor de cabeça.
- Pra você ver como não sou único na face da terra. – disse o Lucas sorrindo.
- Nós três fundamos essa republica, temos que dar exemplo.
- Você está coberto de razão.
- Sandrinho, eu preciso de umas aulas ando muito caseiro.
- Os dois sosseguem o facho, senão eu dou o fora da republica.
- Você teria coragem, Rafael?
- Ele teria Sandro.
Fiquei pensando, se o Rafael saísse nossa vida não seria mais a mesma, ele era nossa referência na republica. Mesmo com pouca idade, sabia estabelecer a ordem na casa.
Bom, já que passou a hora do sermão, você poderia matar a curiosidade do Luquinhas e me dizer onde passou a noite?
- Deixa de ser enxerido, Lucas.
- Está na cara que ele passou na cama de alguém, e eu nem quero saber de você se metendo em encrenca, Sandro.
- Fica tranquilo Rafael, eu não fiz nada de errado.
- Da próxima vez me convida, Sandrinho.
- O Bruno não tem dado conta do recado?
- Daquele ali eu não pego nem suspiro.
- Eu não sei onde eu estava com a cabeça quando aceitei morar com vocês.
- Rafa, você nos ama é por isso. - disse o Lucas brincando com ele.
- Eu deveria estar com algum problema mental, só pode.
Fui até ele e o abracei mesmo não retribuindo o abraço. O Rafael estava chateado de verdade e o Lucas fazia brincadeiras o deixando mais nervoso ainda.
Ver o Rafael chateado comigo, estragou o meu dia, aliás, eu estava desnorteado e com aquela sensação de ter feito algo errado, de estar entrando num caminho sem volta.
Tomei um banho e saí para o cursinho. Antes passei pelos meninos na cozinha que estavam tomando café, tive a sensação que todos me olhavam com ar de reprovação.
No cursinho não foi diferente, Christian percebeu que eu não estava legal, mas ele andava de olho numa garota e na hora do intervalo foi conversar com ela. Adriana percebeu meu abatimento veio falar comigo.
- O que você tem?
- Nada!
- Estou vendo que você não está bem.
- Quero ficar sozinho com meus pensamentos.
- Eu vou ficar aqui, mas não vou falar nada.
Ela ficou sentada num banco ao meu lado sem dizer nada e eu fiquei naquela inércia, não pensava no que tinha se passado e sim no medo de perder as pessoas que eu amava. Era estranho, por um lado tinha a sensação de liberdade e por outro me sentia um derrotado.
Voltamos pra aula e eu sempre com aquela sensação, mas depois fui melhorando principalmente quando recebi uma mensagem do Tiago no meu celular dizendo que estaria me esperando em frente ao prédio do cursinho quando saísse.
Na Saída Adriana me acompanhou, dava pra perceber pelo olhar dela que estava preocupada comigo.
- Melhorou?
- Estou melhor, meu irmão vem me buscar, vou te apresentar pra ele e a noiva.
- Legal! Esse é o amigo que eu amo.
Tiago me ligou e fomos até o estacionamento onde eles estavam.
- E ai maninho, saudade garoto.
Fui até ele e o abracei. Eu precisava daquele abraço, do calor da família, estava me sentindo muito sozinho, depois abracei meu pai e a Paula.
- Pai, Tiago, Paula, essa é Adriana minha melhor amiga aqui em Belo Horizonte.
- Se é amiga do meu filho é minha também. Muito prazer, João.
- Muito prazer seu João, nós temos um colega de aula que tem o seu nome, só que é bem o contrário do senhor.
- Muito bagunceiro?
- Bagunceiro, chato, mesquinho e idiota, vive perturbando o Sandro.
- Sou o Tiago irmão mais velho dessa fera.
- Você é muito simpático, prazer!
- E eu sou a Paula, o Sandro já deve ter falado na cunhada chata.
- Você também é muito simpática, prazer!
- Vamos almoçar? – disse o Tiago.
- Vou me despedir de vocês e Sandro, a gente se vê na segunda-feira.
- Vem conosco Adriana. – Paula a convidou.
- Não, que isso gente, vou almoçar em casa.
- Vem com a gente Adriana, somos pessoas simples assim como o Sandro. – disse o Tiago.
- Acho melhor você aceitar. – falei pra ela.
- Ah gente obrigada, vocês são muito simpáticos, então vou ligar pra minha mãe.
- Avise sua mãe e diga que depois a deixamos em casa. – disse papai.
Adriana ligou pra mãe dela e avisou que ficaria conosco. Eu estava tão bem ao lado da minha família que aquele momento parecia uma festa.
Fomos numa churrascaria perto da Pampulha, Adriana olhou assustada, ela não tinha o dinheiro pra pagar, me chamou para um lado e falou no meu ouvido.
- Sandro, vai ser muito caro, não tenho dinheiro pra pagar.
- Fica calma que a gente dá um jeito.
- Que jeito?
- Se a minha família está te convidando é porque eles vão pagar.
- Eu fico com vergonha, nem os conheço direito.
- Fica tranquila e vamos pra mesa.
Voltamos pra mesa, mas o Tiago percebeu que ela não estava à vontade.
- Adriana, não se preocupe, eu vou pagar a conta.
- Ai que vergonha eu nem perguntei onde vocês iam almoçar e aceitei sem me preocupar com o valor.
- Você é nossa convidada, fique tranquila.
- Uma simpatia de menina. – disse papai.
- Então vamos almoçar? – convivei-os.
- Vamos esperar mais um pouquinho meu filho, convidei sua irmã.
Não falei nada, mas perdi o foco, não esperava encontrar Aline, justo num momento em que eu não estava bem e papai percebeu meu desconforto.
- O que foi filho?
- Não é nada pai, Aline faz da família.
- Vamos aguardar um pouco, ela já deve estar chegando.
Enquanto esperávamos por Aline, algumas lembranças da noite passada voltaram a me atormentar. Aquela transa ainda estava ali, presente como se fosse um alerta ligado, não conseguia tirar da cabeça a forma como João me dominou por completo, era como uma droga penetrando meu corpo. Eu poderia ter dado um basta, mas deixei me envolver completamente. Burro, burro, burro! Era isso que eu gritava em pensamentos, tentando me livrar de tudo aquilo.
Levantei da mesa e fui até o banheiro lavar o rosto, logo depois Tiago vem atrás de mim e me enche de perguntas.
- Você está bem, mano?
- Estou sim, vamos voltar.
- Estou te achando abatido, o que está acontecendo, Sandro?
- Não é nada demais.
- Eu te conheço e sei que não está bem.
- Não estava preparado pra esse encontro com Aline.
- Eu notei que você já não estava bem desde o estacionamento quando nem sabia que Aline viria para o almoço. Fala pra mim mano, o que é?
- Eu tive um pouco de dor de cabeça, foi só isso.
- Sobre a Aline, tenta entender, ela é nossa irmã e o papai não se sente bem vendo vocês como dois inimigos.
- Você está certo, vamos voltar.
- Você e Juliano ainda estão separados?
- Estamos e acho que não tem retorno.
Ele fez um cafuné na minha cabeça e voltamos pra mesa, Aline já havia chegado e conversava com Papai, Paula e Adriana. Sabrina estava com ela, não tinha como negar que era filha do Roger, tinha os mesmo traços dele no rosto.
Tiago foi até Aline e a abraçou enquanto que eu dei apenas um oi de longe, fui até a Sabrina que estava sentada na cadeirinha para criança, dei um beijo no rosto dela e sentei ao lado de Adriana.
Estou feliz em ver meus três filhos reunidos novamente na mesma mesa, tenho certeza que se Silvia estivesse aqui estaria muito feliz.
- Eu também estou muito feliz pai e tenho uma coisa a dizer pra vocês.
- Posso saber o que é minha filha?
- Estou fazendo de tudo pra retomar o meu casamento e quero muito o apoio de vocês.
- Eu não acredito Aline, depois de tudo que você nos contou, ainda vai ter coragem de voltar com o Roger?
- Ora Tiago, o que passou ficou pra trás e ele precisa de mim.
- O problema é que depois você vem reclamar que está sofrendo.
- Eu sei Tiago e também fui culpada por muita coisa que aconteceu.
- Gente, vamos aproveitar que a família está reunida e almoçar numa boa.
- Eu acho que a Paula tem razão, esse tipo de problema não é algo para ser debatido num restaurante, além do mais temos uma convidada e não tem nada a ver com os problemas da família.
- Que convidada, Sandro? Uma pirralha você quer dizer?
- Aline, cale a boca e respeite as pessoas, não foi essa educação que eu te dei.
Ela se calou diante do sermão do papai, ele ainda pediu desculpas a Adriana, Tiago também se desculpou e eu deixei pra conversar com ela depois com mais calma, a ofensa da Aline não foi pra Adriana, o intuito dela foi me atingir.
Em respeito ao papai e ao Tiago que nos reuniram na maior das boas intenções me calei e permaneci o restante do almoço em silêncio. Adriana também não disse uma palavra estava com vergonha, talvez chateada e deslocada por não conhecê-los.
Depois do almoço convidei-a para dar uma volta, sentamos numas floreiras que tinham na frente do restaurante e aproveitei para falar com ela.
- Eu queria te pedir desculpas pela grosseria da Aline.
- O erro foi meu Sandro, não deveria ter ficado, nem os conheço direito.
- A intenção da Aline não foi te atingir, era pra mim aquela indireta.
- Você não se dá bem com ela?
- Teve um momento que fomos irmãos e bons amigos, mas faz muito tempo que não temos aproximação.
- Por isso você nunca fala dela?
- Também.
- Ela mora aqui?
- Mora, mas é como se não morasse.
- Como assim?
- É uma longa história que outra hora eu te conto.
- Triste isso, né?
- Quem sofre é o papai, o sonho dele é ver os filhos unidos novamente.
- O Tiago e a Paula são legais, gostei deles.
- Bem diferente da Aline, mas não fica chateada.
- Fica tranquilo, estou bem e também gostei muito do seu pai.
- Vamos voltar, eles já devem estar saindo.
Voltamos e enquanto Tiago pagou a conta, papai e Paula, ajudaram Aline a levar Sabrina até o carro dela. Depois Tiago foi até ela e a abraçou antes de partir.
Eu não fui até ela, fiquei aguardando com Adriana no carro do Tiago. Se eu já estava péssimo fiquei mais ainda depois da provocação de Aline. Senti pena de Adriana que na maior inocência, talvez num momento de empolgação por ver minha felicidade ao estar com minha família aceitou o convite e no final ainda foi humilhada.
Logo depois eles voltaram. Paula ainda se desculpou com ela e reforçou o convite para passar um final de semana com eles em minha cidade natal.
Pedi pra o Tiago me deixar na republica antes de irem pra casa da minha tia. Não queria ir desde cedo, com certeza tinha muita badalação e eu não estava a fim de festas, até já tinha me arrependido de ter convidado o Diego pra ir comigo, por mim já não ia mais a lugar nenhum.
Cheguei na republica não tinha ninguém, só pensava na festa de logo mais, não estava com a mínima vontade de encarar o Juliano com o namorado, mas ao mesmo tempo queria ver como ele estava, era um misto, um sentimento confuso e ao mesmo tempo sádico.
Mesmo contra vontade fui separar uma roupa para vestir. Ao passar pela porta do quarto do Pedro e do Marcelo notei que estava entreaberta e a luz estava acesa. Bati pra não ter a surpresa de pegar um deles na cama com alguma garota, mas ninguém me atendeu.
Entrei no quarto e notei que o note do Pedro estava ligado, tenho a péssima mania de desligar tudo que encontro pela frente pra não gastar energia. Fui desligar o equipamento, mas no momento que mexi no computador notei que estava em cima de um envelope que me chamou atenção, pois tinha o nome de um clube bem conhecido de belo horizonte para público adulto. Curioso e enxerido abri para ver o que tinha dentro, levei um susto, era dinheiro, nem olhei o valor. Coloquei tudo no lugar e deixei como estava.
Fui para o meu quarto pensando que dinheiro poderia ser aquele, não era um envelope cheio de dinheiro, mas deveria ter umas quatro ou cinco notas de cinquenta reais. Tentei tirar aquilo da minha cabeça, lembrei-me do incidente na churrascaria e me senti na obrigação de ligar para Adriana.
- Oi Sandro!
- Liguei só pra saber como você está?
- Como é bom saber que você se preocupa comigo.
- Você é minha melhor amiga, fiquei preocupado.
- Estou bem e nada vai mudar o que eu sinto por você.
- Que bom, então nos falamos na segunda.
- Beijos, e aproveita a festinha da sua tia.
- Obrigado!
Depois que falei com ela, deitei e dormi até a hora de ir pra festa. Acordei por volta das sete da noite, tomei um banho e quando Diego chegou já estava terminando de me arrumar.
- Uhuuu, é hoje que nós vamos arrasar.
Diego estava sentado na minha cama quando entrei no quarto.
- Que é isso, invasão de privacidade?
- O Pedro me autorizou a entrar. – disse rindo.
- O Pedro está aí?
- Estava de saída quando eu cheguei, mesmo assim ele me autorizou a entrar.
- E se eu entro pelado no quarto?
- Seria um belo colírio para os meus olhos e também não seria novidade pra mim.
- Pra nossa amizade de hoje, não rola.
- Não rola porque estou indo viajar, senão bem que dava pra tentar.
- Já estou com confusões demais em minha cabeça pra me envolver com amigos.
- Com tudo isso não deixa de ser gostoso.
- Quem, eu?
- Claro, hoje, por exemplo, você está um tesão. – disse rindo.
- Nem é pra tanto assim, você está melhor que eu.
- Tenho que caprichar, talvez seja a última festa que vamos juntos.
- Você não vai ao casamento do Tiago?
- Vou, mas você já arrumou companhia, deu um chute no traseiro do Dieguinho.
- Que maldade, eu já tinha combinado com o Breno. Também foi a única maneira dele ir à festa.
- Na verdade você quis fazer um agrado ao patrão.
- Hoje você está afiado, hein! – disse rindo.
- Estou brincando malinha.
- Só você mesmo pra me fazer rir depois desse dia caótico.
- Estou notando uma ruguinha de preocupação em seu semblante, mas logo a gente dá um jeito nisso. Juliano que nos aguarde.
- Não é nem por causa dele.
Parei de me arrumar e deitei na cama do Rafael e ele começou a falar.
Eu notei esse desanimo desde que cheguei, até te provoquei pra ver sua reação e mesmo assim continua apático.
- A Aline me aprontou de novo, contei a ele o lance que ocorreu na churrascaria.
- Na boa Sandro, não dá importância pra Aline, ela não bate bem.
- Insultou minha colega de aula e de cursinho.
- Ela deve estar pensando que você e Roger estão juntos.
- Será?
- Só pode, esquece Aline e vá viver sua vida.
- É o que eu tento, mesmo assim ela consegue me atingir.
- Não fica assim, termina de se arrumar senão vamos chegar atrasados.
- Aconteceu outra coisa também que foi pior que o insulto de Aline, vou nesse aniversário porque já tinha te convidado, mas não estou com a mínima vontade.
- Ah, não diz isso Sandro e o chega pra lá que vamos dar no Juliano?
- Não vou fazer mais nada pra provocar o Juliano.
- Por quê?
- Eu não sirvo pra ele.
- O que aconteceu pra você ficar desse jeito?
- O Juliano tem razão em pensar que não sirvo pra ele.
- Tá maluco?
- Eu preciso desabafar senão vou enlouquecer.
- Me conta o que houve?
- Eu fiz uma merda sem tamanho.
- O que você fez pra estar desse jeito?
- Eu transei com o João Pedro, meu colega. Aquele que eu pedi pra você investigar sobre ele.
- Eu lembro, mas e daí?
- Eu não deveria ter feito isso.
- Não estou entendendo o porquê dessa preocupação. Aconteceu, esquece e bola pra frente.
- Não é bem assim.
- Pera ai, não me diz que você está gostando desse cara?
- Não, mas estou envolvido com ele.
- Explica melhor essa história.
Tudo começou com ele me ofendendo, depois me beijou no colégio, mas sempre me tratou com desprezo. Quando ele foi internado, nos aproximamos e ficou meio que um jogo toma lá da cá, um provocando o outro até que essa noite eu estava um pouco elevado no álcool e ele sob o efeito de drogas e aconteceu.
- Esquece isso Sandro, a vida continua.
- Você não entendeu, ele é um cara complicado.
- Siga sua vida e pronto.
- Eu gosto dele, tenho pena porque é um cara totalmente desestruturado, o pai não o aceita, ele próprio não se aceita.
- E você quer ajudá-lo?
- Não sei te explicar, mas estou envolvido e sinto que não posso abandoná-lo.
- Ele tem pai, mãe, porque você precisa se envolver com alguém complicado assim?
- Têm momentos que ele é uma pessoa bacana, ontem mesmo antes de se drogar, fui eu a primeira pessoa que ele se lembrou de pedir ajuda.
- Ah Sandro, eu sempre te apoiei e dou maior força quando você está mal, mas sei lá cara, essa relação não é legal.
- Eu sei, por isso que estou mal.
- E o que isso tem a ver com o Juliano?
- Se ele chegou à conclusão que eu só sirvo pra sexo porque vou lutar? O Juliano não tá nem ai pra mim.
- O Roger eu até concordo que só te quis pra sexo, mas o Juliano foi diferente e você sabe.
- É a mesma coisa, ele me trocou pelo ex.
- Você é que sabe, mas mesmo assim vamos à festinha, vai que acontece alguma surpresa legal.
- Eu vou porque prometi a minha tia e devo muito a ela.
- Então vamos e deixa os pensamentos negativos longe desse corpo.
- Como é que vou viver longe de você?
- A internet existe pra isso.
- Não é a mesma coisa e você é a única pessoa que me sinto a vontade pra falar abertamente dos meus problemas.
- Você pode sempre contar comigo e agora vamos, é feio chegar atrasado.
A festa era no salão de festas do prédio onde minha tia morava. Logo na entrada observo um pequeno grupinho conversando, entre eles Tiago, Paula, Giovane, Laura, Junior meu primo, Augusto e junto deles Juliano sorrindo no meio da roda.
Tive vontade de voltar e nem entrar na festa, mas Diego me impediu de sair. Logo minha tia veio até onde estávamos e nos deu um abraço. Em seguida entreguei o presente a ela e depois fez questão de nos levar até o Junior que aparentemente continuava o mesmo, parecia mais adulto, responsável, porém nas brincadeiras e palhaçadas nada tinha mudado.
- Sandrinho... Quanto tempo?
- E aí Junior tudo bem?
- Estou ótimo e você está diferente não é mais aquele garotinho de antes.
- O tempo passa e a gente cresce.
Depois que o abracei, apresentei o Diego a ele, falei da viagem do meu amigo e os dois ficaram conversando.
Em nenhum momento me pareceu que Juliano estava interessado com minha presença, enquanto cumprimentei o Junior, disfarçadamente notei que ele saiu do grupo.
Diego engatou uma conversa com Junior e eu fiquei com Tiago e Paula, mas o Augusto estava com eles e a presença dele me aborrecia.
Foi então que resolvi circular pela festa e toda vez que tentava me aproximar do Juliano, ele dava um jeito de se esquivar. Uma hora falava com a tia, em outra conversava com amigos da família e até aquele momento não consegui nem dar um oi pra ele.
Cansei-me daquele jogo e saí da sala a procura de um lugar menos barulhento, Diego continuava firme no seu bate-papo com Junior. Fui até uma salinha e fiquei debruçado numa janela olhando o jardim do condomínio.
Durante muito tempo fiquei naquele lugar curtindo o silêncio. Às vezes passava um ou outro, fumavam e voltavam pra festa e eu ali, pensando em tudo que estava acontecendo comigo até que de repente ouço a voz do Augusto e Juliano o acompanhava.
Escondi-me atrás da cortina e fiquei observando a conversa deles.
- Aceita um cigarro? – disse o Augusto.
- Você sabe que eu não fumo. – disse Juliano.
- Vou acender um, você não se importa?
- Vamos voltar pra festa, minha tia vai notar minha ausência.
- Eu vi você fugindo do garotão.
- Apenas tentei evitar aborrecimentos.
- Isso é bom porque eu não quero te dividir com ninguém, disse o Augusto tentando abraçar o Juliano. – senti nojo dos dois.
- Aqui não Augusto, alguém pode nos ver.
- Ninguém vai notar e novamente tentou abraçar o Juliano que novamente o afastou.
- Vou voltar pra festa.
Juliano saiu e ele ficou no jardim, acendeu um cigarro e eu tratei de sair dali, estava me sentindo totalmente sem graça, um verdadeiro idiota escutando conversa dos outros atrás das portas. Voltei pra festa e encontrei Diego me procurando.
- Onde você estava?
- Dei uma volta pelo salão pra observar o movimento.
- E essa cara de tristeza?
- É a que eu tenho, mas vem cá, que conversa foi aquela com o Junior? – ele sorriu.
- Nada demais, ele apenas estava me dando uns toques, sobre como são as coisas na Inglaterra.
- Engraçado, ele não está no Canadá?
- Venenoso. - disse rindo
- Sei não, já me disseram que ele gosta de mulher, mas desconfiei do papo.
- Ele já esteve na Inglaterra e estava me contando sobre como é a vida por lá.
- Sei.
- Não é dessa vez, pode acreditar. Nada a ver.
Ele falou no meu ouvido caiu na risada e eu também acompanhei. Só neste momento, notei que Juliano nos observava, assim que olhei pra ele, desviou atenção e saiu no meio das pessoas.
- Juliano estava nos observando. – Diego falou baixinho perto do meu ouvido.
- Acredita que eu quase peguei um beijo dele com Augusto lá no jardim.
- Então está explicado o porquê da tristeza.
- Fiquei com nojo deles.
- Sandro, ele gosta de você mesmo estando com o Augusto.
- Se ele gostasse de mim, não estava com aquele idiota.
- Eu acho que o Juliano está tão em duvida quanto você estava quando se aproximou dele.
- Então ele me enganou, pois sempre disse que gostava de mim.
- Não o julgue sem saber o que está acontecendo.
- E porque ele não me diz?
- Eu não sei, mas eu sinto que ele gosta de você.
- Não estou nem aí pra ele e só não saio dessa festa porque minha tia ainda não serviu o jantar.
- Estou te achando muito desanimado, precisamos dar um jeito de agitar esse corpo.
- Está difícil.
- Depois da festa podemos ir numa boate e dançar até cansar, que tal?
- Nem pra isso estou animado.
- Pois pode se animar porque nós vamos dançar.
O jantar transcorreu normal, mas eu não estava no clima da festa, saí da mesa e fui pra uma salinha onde tinha uma tv ligada e algumas pessoas assistiam. Logo depois veio o Diego e ficou debruçado no encosto do sofá já que todos os lugares estavam ocupados e ficamos ali por um longo tempo.
Já estava quase convidando o Diego pra ir embora quando colocaram uma musica e começaram a dançar, foi então que eu me animei e ignorei totalmente a presença do Juliano. Dancei muito com Diego, nem me importei se falariam alguma coisa a nosso respeito, não estava fazendo nada demais além de dançar com um amigo.
A festa acabou e continuávamos dançando, meus tios já tinham arrumado todo o salão. A maioria do pessoal já tinha saído, mas meus primos e eu seguíamos dançando. Ao todo eram umas dez pessoas.
Meus tios colocaram umas cadeiras perto da pista e ficaram ali sentados apenas nos observando. Junto deles tinha mais alguns parentes que eram irmãos e irmãs da minha tia.
Augusto que era muito puxa saco, foi até minha tia e convidou ela para fazer parte da dança. Quando os dois começaram a dançar, Juliano saiu e foi em direção ao banheiro, e eu num momento insano decidi ir atrás dele.
Entrei no banheiro e vi que ele estava numa cabine, então fui até outra e fiz xixi estava com vontade. Quando saí, ele já estava na pia lavando as mãos, virou para o meu lado e ficou me encarando.