Tiago, Breno e Rafael também compareceram, eles queriam me levar de volta pra Belo Horizonte, mas eu não aceitei, estava gostando do cursinho pré-vestibular e sair naquela altura não valia a pena e também Marta precisava de mim, a mãe dela estava bem doente já nem saia mais da cama.
Voltei ao trabalho e aos poucos fui me readaptando à nova realidade, nas horas vagas me dedicava aos estudos.
Em novembro a mãe de Marta faleceu, já era esperado, pois os médicos já haviam avisado a família.
Nessa época voltei a ficar ruim da garganta, os gânglios do pescoço incharam, quase não podia engolir a saliva. Fui ao medico e ele disse que era infecção, passei quase quinze dias fazendo tratamento.
Eu já havia desistido de seguir arquitetura, lá não tinha uma faculdade que ficasse perto pra frequentar o curso. Resolvi prestar vestibular para Analise e desenvolvimento de sistemas, não era bem o que eu queria, mas dentre os disponíveis foi o que mais gostei.
Fiz o vestibular no início de dezembro e passei. Apesar de não ser o curso desejado, eu estava feliz e até comemorei com Marta que andava meio estranha nesse período.
Um dia antes de fazer a matricula, estava na correria de arrumar a papelada quando fui surpreendido pela visita de Marta.
- Oi Marta, desculpe hoje eu nem te procurei porque estou na correria pra fazer minha matricula.
- É sobre isso que eu vim falar com você.
- Sobre minha matrícula na faculdade?
- Nós precisamos conversar sobre o futuro.
- Como assim, não estou entendendo.
- Eu perdi um filho que era tudo pra mim, mas ele foi tão bom que me deixou outro.
- Eu também te considero como mãe.
- Tenho conversado muito com o Breno e Tiago e eles estão preocupados com você.
- Eles ainda não se acostumaram com meu afastamento.
- Você é um menino maravilhoso, foi à única pessoa capaz de mudar a vida do João, mas precisa seguir seus sonhos.
- Eu estou bem aqui Marta, não precisa se preocupar.
- Vamos ser realistas, nós não estamos bem e pensando em tudo que aconteceu quero te fazer uma proposta.
- Que proposta?
- Vamos retornar pra Belo Horizonte.
- Isso é loucura.
- Não tenho mais nada que me prenda aqui e também preciso reconstruir minha vida e você tem sua família e seus amigos lá.
- E sua irmã?
Tem a família dela e eu jamais vou abrir mão da minha liberdade, não preciso que ninguém cuide de mim e se um dia precisar procuro ajuda num abrigo.
- Até parece que você é pessoa que precise disso.
- A gente não pode prever o futuro, mas se precaver é bom, principalmente com a velhice.
- Você é muito nova e pode até ter mais filhos, que negócio é esse de velhice?
- Sou realista, mas você tem razão, o meu tratamento na velhice não está em questão no momento, mas o seu futuro profissional e sua saúde estão.
- Meus problemas de saúde são por causa das mudanças de temperatura.
- Aqui é muito frio, você não se adaptou ao clima.
- Mas você vendeu a casa em Belo Horizonte.
- Não se preocupe, eu ainda tenho um bom dinheiro guardado, vou vender aqui, ponto comercial vende rápido.
- Nós estamos bem aqui, não sei se esta é a melhor alternativa.
- Eu tenho muitos amigos em Belo Horizonte e você nem se fala.
- Eu nem sei se tem vaga na republica e até conseguir outra é difícil.
- Você pode morar comigo se quiser.
- Eu fico muito feliz com o convite, mas assim como você eu também já aprendi a ter minha liberdade.
- Eu fico muito feliz que você tem superado esses problemas sem se abater, seja qual for sua decisão eu vou te apoiar e ajudar.
Fiquei pensando em tudo que Marta me falou, se por um lado não queria reencontrar Juliano e Roger por outro pensei nos meus amigos, meu irmão que já vivia distante e também agora não tinha mais o João. Depois que ele partiu minha vida ficou vazia, perdi a vontade de sair ou me relacionar com alguém.
Tomei a decisão de voltar e a primeira pessoa que pensei em comunicar foi o Rafael.
- Alô!
- Oi Rafael!
- Quem está falando?
- É o Sandro, não reconhece mais a minha voz?
- Que saudades de você irmão.
- Eu também estou com muita saudade de vocês, como está a galera?
- Pedrão está namorando uma amiga sua.
- Qual?
- Adriana
- Não acredito?
- É verdade e ele está bem empolgado.
- Nossa que legal, e os outros meninos?
- O Marcelo não é de se amarrar em ninguém, já está com uma nova peguete, o Lucas continua na mesma vida de sempre e o Giovane continua com a Laura.
- Estou com muita saudade da galera, e a Letícia?
- Está bem, às vezes surge uma briguinha ou outra, mas depois tudo volta ao normal, e você?
- Trabalhando e estudando.
- Esse não é o Sandro que conheço. – disse rindo.
- Aqui no meu trabalho tem uma galera legal, mas eu não tenho vontade de sair, aproveito o tempo livre para estudar.
Ah deixa eu te contar, tem morador novo na casa.
- Entrou no meu lugar?
- Entrou no segundo semestre do ano passado.
- E como ele é?
- Pelo visto o antigo Sandro ainda está bem vivo dentro de você. – disse rindo.
- Oh maldoso, é só curiosidade, mas me conta como ele é?
- Ah, normal.
- Isso é jeito de definir alguém?
- Você sabe que eu não me ligo nessa área, pra mim barbado é tudo igual, mas ele é moreno e vive pra cima e pra baixo com o Lucas.
- Hummmmmm...
- Não sei de nada.
- Vou ter que falar com Lucas pra saber direitinho sobre essa amizade.
- Oh, não me comprometa.
- É tão bom saber de vocês, estou com muita saudade.
- Quando você vem nos fazer uma visita?
- É sobre isso que estou ligando, Marta me convidou pra voltar e eu pensei bem e decidi mudar.
- Sério?
- Sim, estou voltando a morar aí.
- Nossa Sandrinho, eu sempre achei sua mudança pra Argentina uma loucura, o Tiago deve estar muito feliz.
Ele ainda não sabe, mas com certeza ficará muito feliz.
- A galera vai adorar a novidade.
- A grande maioria sim, mas eu não sei se vou gostar de reencontrar algumas pessoas.
- Você está falando da Aline?
- Estou falando dos meus ex, vai ser desagradável reencontrá-los.
- Você ainda não superou isso?
- Já, mas mesmo assim é chato.
- Seguido o Roger vem aqui e se reúne com a galera.
- Ele ainda está com o Vitor?
- Eles estão sempre na mesma turma do Lucas.
- Pelo visto ele não mudou em nada, e o Juliano?
- Às vezes eu o encontro na academia.
- Será que o Augusto está com ele?
- Daí eu não sei. – disse ele rindo.
- Bom, mas não foi pra falar sobre eles que eu te liguei, na verdade quero te pedir dois favores.
- Pra você voltar, eu faço até mais.
- Eu estou verificando pela Internet, mas às vezes estando perto é mais fácil encontrar algo bom.
- Sandro, nós somos como irmãos, diz logo o que você quer.
- Quero que você investigue pra mim se tem algum vestibular especial que eu possa fazer em janeiro.
- Em faculdade particular têm vários.
Verifica pra mim e já se informa sobre as mensalidades, quero ter uma base de quanto vou gastar caso eu passe.
- Você não pode demorar pra se inscrever.
- A inscrição eu faço pela internet e se não der, eu te passo uma procuração.
- Você está a fim de encarar uma particular?
- Vou fazendo aos poucos até passar na publica ou no Enem.
- Você não fez o Enem no ano passado?
- Não consegui, estava sem cabeça pra nada, mas agora eu quero me dedicar integralmente aos meus estudos.
- É impressão minha ou você está bem mudado?
- Acho que mudei um pouquinho. – disse brincando com ele.
- Ah irmão, nem acredito que você está voltando, isso é muito bom. Vai querer um cantinho aqui na republica?
- A galera é legal, mas vou preferir o meu próprio cantinho.
- Pretende comprar algum apartamento?
- Eu preciso conversar com o Tiago, ainda não decidi se vou comprar ou alugar.
- Você tem a herança dos seus pais, porque não aproveita e compra.
- Eu não posso fazer nada sem conversar com o Tiago, ele quer comprar minha parte no mercado, mas eu acho esse assunto tão desgastante e também nem sei se ele tem todo o dinheiro pra me pagar.
- O que vou dizer pode ser chato, o Tiago é muito legal, eu gosto muito dele, mas este é o momento de investir em você.
- Você está certo.
- Você pode contar comigo para o que for preciso.
- Eu sei e por isso quero pedir um segundo favor, se você ver um apartamento pequeno que não seja muito caro, anota os telefones e me avisa?
- Claro irmão, fica tranquilo.
- Foi muito bom ter falado com você, mas agora eu preciso desligar.
- Quando você vem?
- Tenho que acertar as contas na empresa e resolver os trâmites da mudança, mas se precisar viajar para o vestibular eu vou primeiro que a Marta.
No final de Dezembro acertei minhas contas na empresa, eles foram legais comigo e me dispensaram como se tivesse sido demitido e ainda tive direito ao seguro desemprego, que ia me facilitar até me organizar novamente em Belo Horizonte.
Uma semana depois Rafael me passou os dados da faculdade e também me passou informações sobre um apartamento bem legal, mandou as fotos para eu ver. Coloquei os olhos e adorei, senti que ali seria minha futura casa.
Dia 10 de janeiro de 2012 foi a minha volta pra Belo Horizonte. Ao desembarcar no aeroporto fiquei emocionado ao ver a galera da republica me aguardando, além deles estavam Breno, Adriana, Letícia e Laura minha prima.
Tiago nem sabia que eu estava de volta, pedi a todos para não contarem, queria fazer uma surpresa pra ele, mas antes eu tinha uma prova de vestibular.
De tanto Laura insistir fui pra casa da tia Joana, meu único receio era encontrar Juliano, ainda não me sentia preparado para reencontrá-lo. Depois de nossa despedida antes da viagem, nunca mais nos falamos e durante todo esse tempo ele não me ligou, mas eu não podia reclamar porque também não o procurei.
Fiquei quatro dias na casa da tia Joana e ele não apareceu, apesar de que algumas vezes escutei a tia falando com ele ao telefone.
Quatro dias após meu retorno à Belo Horizonte, eu dava um passo pra minha tão sonhada faculdade de arquitetura, fiz o vestibular e na segunda-feira já fiquei sabendo do resultado, na terça fiz minha matrícula, parecia um sonho, que no futuro mais uma vez seria interrompido.
Depois que fiz a matrícula fui atrás do Tiago, estava com saudade dele e de alguns amigos, desde que viajei não voltei mais a minha antiga casa.
Cheguei à cidade e fui direto ao mercado. Quando entrei na porta senti a diferença, Tiago tinha modificado tudo, era outros funcionários, a grande maioria jovem, o qual não os conhecia.
A entrada para o escritório já não era mais a mesma, pois a escada simplesmente sumiu. Fui até a recepção e uma garota me atendeu, fiquei sabendo seu nome pelo crachá, Vera, fiscal de caixa.
- O Tiago está?´
- Você é fornecedor?
- Sou irmão dele.
Ela me olhou desconfiada, pegou o telefone e logo o Tiago desceu uma escadaria que ficava do lado inverso que era a antiga e veio ao meu encontro.
Ele mal acreditou quando me viu.
- Ah! Não acredito!
- Saudades!
Ele veio ao meu encontro e nos abraçamos em frente à recepção e aos caixas que ficaram nos olhando sem entender o que estava acontecendo. Alguns funcionários que me conheciam já sabiam do que se tratava, mas eram poucos.
- O que deu em você, maluco?
- Não resisti à saudade e vim te ver.
- Vem comigo.
Subimos a escada e entramos no novo escritório, era bem diferente da época do papai, o Tiago tinha facilidade pra tratar de negócios, tudo parecia tão simples, a gente sentia a diferença até no ambiente.
- Estou impressionado com as mudanças no mercado.
- Eu mudei algumas coisas, mas não esqueci sua parte.
- Não estou pensando nisso, mas estou admirado com sua visão de negócio, você transformou isso aqui.
- E não trabalho tanto como antes.
- Ainda bem, e a Paula?
- Está por aí, ela gosta de ficar circulando pelo mercado.
- E a Fernanda?
- Ela assumiu uma das filiais.
- Você decidiu manter às outras filiais?
- Não me desfiz de nada que era do papai, pelo contrário, ampliei. Fernanda cuida de um e os outros dois contratei pessoas qualificadas pra cuidar.
- Mano, eu te admiro.
- Se você quiser pode assumir um dos mercados.
- Eu agradeço, mas quero me dedicar ao meu sonho que é fazer arquitetura.
- É triste ver você morando tão longe da gente.
- Tenho uma novidade pra te contar.
- Que novidade?
- Estou de volta.
- Que maluquice é essa?
- Marta me convidou pra voltar e eu aceitei, sábado fiz vestibular em BH, ontem peguei meu resultado e hoje já realizei a matrícula.
- Ah mano, não mente pra mim.
- É sério, voltei na semana passada, fiz vestibular no sábado e hoje me matriculei.
- Para de brincadeira Sandro, está a fim de brincar comigo?
- É sério, olha o meu comprovante de matricula.
Peguei o comprovante na mochila e mostrei a ele que só assim se convenceu que não era mentira.
Você está falando sério seu doido?
- Não acredita mais em mim.
- Ah, não é isso, você estava tão decidido que eu pensei que não voltasse mais.
- Eu só voltei porque Marta insistiu.
- O que motivou vocês a voltarem?
- Marta estava preocupada comigo.
- Preocupada em que sentido?
- Nada demais, ela achou que deveria seguir meus sonhos.
- É só isso?
- Claro.
- Sinto que você está me escondendo alguma coisa.
- Não estou escondendo nada, deixa de ser desconfiado, Tiago.
- Eu gosto de sinceridade, então vamos fazer como era antes de você viajar.
- Você é desconfiado, hein?
- Eu conheço você como ninguém e percebo claramente quando me esconde algo.
- Não é nada demais, eu não me adaptei ao clima e a Marta achou melhor voltarmos.
- Me explica melhor essa história.
- Tive alguns problemas de garganta, só isso.
- Você foi ao médico?
Fui, mas a Marta se preocupa sem necessidade.
- Foi só garganta mesmo?
- Foi.
- Não deve ser nada demais.
- É claro que não.
- A Paula vai ficar feliz em saber que você voltou.
- Vocês ainda não encomendaram um sobrinho pra mim?
- Ainda não, Paula e eu precisamos nos estruturar primeiro, um filho é muita responsabilidade, ela teria que parar de trabalhar e enquanto não acertar tudo com você e Aline não dá pra pensar.
- Você está certo, a vida é feita de etapas.
- E como você está reagindo ao que aconteceu?
- O pior já passou, agora estou me curtindo.
- O que você sentia pelo João era muito forte.
- Era um amor diferente, sem cobranças, traições, algo puro, mas que acabou.
- E o que você pretende fazer agora?
- Me dedicar à faculdade e procurar serviço.
- Não foi nesse sentido que falei.
- No momento meu coração está sofrido e fechado pra qualquer relação, o João ainda está muito presente, não me sentiria bem se me envolvesse com alguém e nem tenho vontade.
- Curte essa fase, mas não demora a sair desse luto, isso não faz bem a ninguém.
E a Aline como está?
- Está bem, nós já temos um sobrinho, nasceu em dezembro.
- Ela deve estar feliz.
- Pela primeira vez a vejo animada com alguma coisa, está reagindo à separação e eu torço pra que ela vire essa página de vez.
- Ela já montou a escola?
- Está começando, tem um cara que a está ajudando, ele é professor.
- É sócio dela?
- Acho que não, Aline é muito cuidadosa com o que é dela pra se comprometer com uma sociedade.
- Nem sei por que pergunto, Aline não gosta de mim.
- Ela não te ligou depois que você viajou?
- Não.
- E você ligou pra ela?
- Não, eu não fiz nada pra ela, porque deveria ligar?
- Talvez porque são irmãos.
- Ela não me considera.
- Não é possível que vocês vão viver o resto da vida como inimigos.
- Ela me culpa pelos problemas dela com Roger.
- Aline já não está nem ai para o Roger.
- Ele é o pai dos filhos dela.
- É o pai, mas não é o dono dela.
- Você não gosta dele, né?
- Posso ser sincero?
- Claro.
- O Roger conseguiu desunir nossa família, eu sei que Aline é birrenta, orgulhosa e até complicada de tratar, mas vocês nunca tinham brigado até ele surgir entre os dois jogando um contra o outro.
- Não quero falar sobre isso, me faz lembrar coisas que eu quero esquecer.
- Sandro... Cunhado quanto tempo. – disse Paula entrando no escritório e vindo me abraçar.
- Você está bonita, elegante, o Tiago está te tratando bem.
- E ai dele que não me trate, Sandrinho.
- Ah, isso é verdade, ninguém mandou casar.
- Saudades, cunhado... O que você tem feito da vida?
- Estou voltando pra perto de vocês.
Vem morar aqui? Ah que legal Sandrinho.
- Vou morar em Belo Horizonte.
- Estou feliz pelo seu retorno e o Tiago agora já pode parar de chorar.
- É mesmo, mano?
- É intriga dela. – disse ele rindo.
- Ele não sabe viver longe de você, Sandrinho.
- Eu também sentia muita falta de vocês e dele principalmente, acho que foi a pessoa que mais senti a ausência foi você meu irmão.
- Você vai passar essa semana conosco?
- Se não atrapalhar, vou.
- E desde quando você atrapalha, a piscina está sentindo sua falta.
- E eu dela.
Naquele mesmo dia voltei a minha antiga casa, ao chegar senti uma taquicardia. Aquela casa me trazia muitas lembranças boas, estava do mesmo jeito que vi na última vez que estive ali, Tiago havia conservado tudo como antes, a única diferença que se notava era o toque pessoal que Paula havia dado a alguns detalhes na decoração, mas o restante continuava igual.
A primeira coisa que fiz foi colocar uma sunga e curtir a piscina que era a minha parte favorita na casa e como era bom poder curtir tudo aquilo novamente.
CONTINUA….
____
Pessoal estamos na reta final, ainda vai ter alguns capítulos não falta muito mas tmb não falta pouco! Vamos começar agora uma nova etapa do Sandro, ele maduro, dono de si entre outras coisas! O amadurecimento dele eh mto bonito e essa história com o João Pedro fez ele crescer bastante! Enfim não esqueçam de comentar rssss!