- Sandrinho!
- Como você está linda, estava louco de saudade de você.
- Vem cá meu amigo, me dá um abraço.
Fui até ela e a abracei, fazia mais de um ano que não a via, Fernanda estava diferente, mais mulher e tinha uma alegria que contagiava a quem estava por perto.
- Como você está?
- Estou bem, tenho muitas novidades pra te contar.
- Eu também tenho novidades.
- Vem, vamos conversar no escritório.
Ela me levou até uma sala grande que ficava nos fundos do mercado.
- Aqui nós podemos conversar a vontade sem ninguém nos interromper.
- Quando o Tiago me falou que você tinha assumido esse mercado eu mal acreditei.
- O Tiago fez muitas mudanças e vem dando certo, mas me conta como você está, veio a passeio?
- Voltei em definitivo, vou morar em Belo Horizonte e fazer faculdade.
- Sinto muito pelo que aconteceu com o João.
- Foi triste, acho que perdi um pouco do brilho que eu tinha.
- Quando vocês começaram a se envolver eu não acreditava que você gostasse tanto dele, só depois que eu passei a respeitar.
- Acho que ninguém acreditava.
- Você gostava muito dele, né?
- Muito, ele era meu parceiro pra tudo, mas não quero pensar nisso, me faz sofrer, vamos falar de coisas boas.
- Claro, me desculpe.
- Tudo bem, e como vai o namoro com o Fernando?
- Ah amigo, melhor impossível.
- Evoluiu tanto assim?
- Bastante, até já tem semente.
- Como assim?
- Você nem imagina o que seja?
- Gravidez?
- Sim, fiz os exames essa semana e deu positivo, estou muito feliz.
- Que maluquice, o que você pretende fazer com uma criança?
- Vou ter o meu filho.
- E o Fernando?
- Ele não sabe ainda, mas acho que vai ficar louquinho quando souber.
- Você gosta dele?
- Muito, e agora depois que soube que espero um filho dele gosto mais ainda.
- E o Rafael?
- Faz parte do meu passado, o Rafa é um bom amigo.
- Vocês já conversaram depois que você começou a namorar o Fernando?
- No final do ano ele estava com a Letícia e os pais na casa da família do Fernando.
- Quem diria que um dia eu fosse ouvir você falando do Rafa com tanta tranquilidade e sem ressentimentos.
- Minha vida agora é outra, o Rafa e eu tínhamos pensamentos diferentes, nunca daríamos certo.
- E quando você pretende contar ao Fernando?
- Combinei de me encontrar com ele hoje a noite, vamos sair para jantar, estou nervosa.
- Eu não conheço muito ele, mas o Fernando me parece um cara tranquilo.
- Ele é muito responsável.
- Isso é amor, estou feliz por saber que você está bem, e seus pais?
- Foram pegos de surpresa, mas estão exigindo que eu conte logo ao Fernando, já vou para o terceiro mês e logo a barriguinha começa a aparecer.
- Amanhã eu quero saber o resultado dessa conversa.
- Se eu não fosse sair com ele hoje ia te convidar pra jantar comigo.
- Não vai faltar oportunidade, essa semana eu vou ficar aqui na cidade.
- Ah que legal, se der tudo certo e vai dar, vou convidar o Fernando pra sairmos uma noite dessas pra colocarmos os assuntos em dia.
Eu mal o conheço.
- O Fernando é um cara legal, você vai gostar dele.
- Que coisa mais maluca, você vai ser mãe e eu imaginava algo totalmente diferente.
- O que você imaginava?
- Sei lá, que você fosse estudar em Belo Horizonte e lutaria pelo Rafael.
- Eu jamais me adaptaria a Belo Horizonte. Não gostei daquela correria, vida agitada, gosto daqui e sou feliz com o que a cidade me oferece.
- Quando você e o Rafael terminaram, fiquei preocupado, pois vi seu sofrimento e como a vida dá voltas.
- Eu quero ter meu filho e se der tudo certo com Fernando, nós ainda seremos uma família.
- Se ele quiser casar por causa da gravidez você vai acertar?
- É claro que não, se ele ficar comigo tem que ser por amor, não quero seguir o exemplo de Aline que fez tudo pra ficar com o Roger.
- É...
- Desculpa, Sandro eu não quis te magoar.
- Não se preocupe você não disse nada demais.
- Falei sim, desculpa.
- Eu tenho que ir agora, você está trabalhando e não quero atrapalhar.
- Não fica chateado comigo, às vezes eu falo demais.
- Não estou chateado e parabéns pela gravidez.
- Eu gosto de você como um irmão.
- Fique tranquila! Me liga depois que vocês conversarem, quero saber se vai dar tudo certo.
- Torce por mim.
- Claro! Boa sorte.
Saí do mercado e fui dar uma volta pela cidade, era incrível passava o tempo, mas pouca coisa mudava.
Depois do almoço, estava deitado no sofá e de repente senti saudade do Country, foi lá que muitas vezes brinquei quando era criança, tomei um banho e fui até lá.
De longe avistei a pista de skate, lembrei do tempo que brincava com Rafael. Quando eu tinha onze, caí de mau jeito e fui parar no hospital. Minha mãe ficou louca de preocupação achando que eu tinha quebrado um braço ou uma perna, mas não foi nada grave, apenas vários arranhões pelo corpo, fiquei uma semana sem sair de casa.
Lembrei também de quando ensinei o Roger, tanto esforço pra nada criei uma fantasia na minha cabeça em torno dele que jamais existiu. Como eu fui tolo, falei pra mim mesmo.
O que você disse? – perguntou um garotinho de uns 11 que estava sentado perto de mim nas arquibancadas.
- Nada não, apenas pensei alto.
- Você é daqui?
- Já morei aqui, mas brinquei muito nessa pista quando tinha sua idade.
- Você sabe skate?
- Alguma coisa eu sei, faz tempo que não pratico.
- Você podia me ensinar.
- E o instrutor daqui?
- Tem que pagar e não tenho dinheiro.
- Você tem skate?
- Tenho um velho que um garoto me deu.
- Você quer aprender?
- Quero.
Os olhinhos do garoto brilharam com a perspectiva de aprender algo tão simples, fui com ele até a casa dele que ficava num bairro bem pobre, o skate dele não tinha condições de uso, estava com problema nas rodas.
- Esse skate não tem condições de andar.
- O garoto me disse que era só dar uma ajustada, se você entende, tenta consertar pra mim.
- Não tem como, ele não serve mais.
- Ah, eu queria tanto aprender.
Fiquei pensando no garotinho, quando eu tinha a idade dele, se recebesse um não desses ficaria chateado durante meses até que aparecesse outra coisa que me chamasse atenção.
- Que tal, um skate novo?
- Você vai comprar um pra mim?
- Você não quer aprender?
- Quero.
- Então vamos passar na loja e você escolhe um bem legal.
- Obrigado moço.
- O meu nome é Sandro e o seu?
- Tales.
- Você quer ser meu amigo?
- Você já é meu amigo, vai me dar um skate novo.
Compramos o skate e retornamos pra pista, o Tales estava muito feliz, Peguei o skate dele e dei algumas dicas e ele foi aprendendo, me empolguei e acabei esquecendo à hora, voltei pra casa já estava anoitecendo.
No dia seguinte Fernanda me ligou, estava feliz, pois Fernando aceitou bem a notícia da gravidez e apesar do choque disse que assumiria o filho.
Fiquei feliz por eles e também estava empolgado com meu mais novo amigo, que me ligava a todo instante querendo saber se podia ensiná-lo.
Durante a semana passei horas no Country ensinando o Tales. No final ele já estava sabendo se virar sozinho. Fiquei feliz fazendo esse gesto, me sentia bem e cada dia que passava ia descobrindo um novo Sandro que até então eu tinha abandonado desde que conheci o Roger.
No sábado à noite jantei na casa dos pais da Fernanda, Fernando estava presente e o conheci melhor, era um cara centrado e atencioso. Neste dia ele a pediu em casamento, achei precipitado da parte dele, mas os dois estavam tão empolgados com o namoro e a gravidez que deixei de lado o meu pessimismo.
Depois eles me convidaram para ir numa balada, mas eu não fui não estava empolgado pra festas, Assim que eles saíram, voltei pra casa, mas não estava com sono, era uma noite muito quente, olhei pra piscina e decidi colocar uma sunga.
Aproveitei que Tiago e Paula dormiam e fiquei horas brincando na água até de madrugada, fazia tempo que não tinha tanta paz à minha volta.
Enquanto nadava fiquei pensando o que faria da minha vida, tinha que conversar com o Tiago sobre a compra do apartamento e precisava urgente arranjar um emprego. Pensei no Breno, mas seria abuso, já que tive a oportunidade de trabalhar com ele e acabei saindo, mesmo assim decidi procurá-lo quando voltasse a Belo Horizonte.
Acordei no domingo por volta das 11 horas da manhã. Desci e não tinha ninguém em casa, Tiago e Paula quando não estavam no mercado visitavam os pais dela. Fui até a cozinha, preparei algumas torradas e fiz um lanche.
Não tinha nada para fazer então liguei o computador do Tiago e acessei o meu face, fazia tempo que não entrava, mas a curiosidade falou mais alto.
Entrei na página do Roger, ele estava diferente da última vez que nos encontramos, abri as fotos dele, tinham muitas da academia, algumas dele com a filha, o filho recém nascido que achei bem parecido com ele e algo que me chamou atenção. No status dele estava escrito “Meu Brother Especial” e uma foto com Vitor logo abaixo.
Os dois estavam abraçados e sorridentes, o que não me surpreendeu, pois eu sempre desconfiei da amizade deles e aquela dedicatória só me fazia ter mais certeza que os dois tinham algo mais.
Entrei na página do Juliano assim como fiz na do Roger, engraçado que eu já não tinha mais raiva dele, era como se a qualquer momento fossemos nos encontrar e tudo voltaria a ser como antes, mas logo me lembrei de nossa última conversa, ele me falou tantas coisas, foi tão verdadeiro que só agora depois de um ano consegui perceber o quanto fui injusto com ele.
Entrei nas fotos dele e acessei um álbum com seus colegas de faculdade era uma festa e pela data me dei conta que era o encerramento de final de ano.
Entrei em outro álbum já não tão recente quanto ao anterior com fotos dele e de outras pessoas num laboratório, consegui ver pelos comentários que era um seminário para estudantes de oncologia em São Paulo.
Em outro álbum tinha uma foto dele com a sobrinha, filha da Rosane, irmã dele com a legenda “minha sobrinha”, nessa foto tinham vários comentários o parabenizando pela beleza da menina, mas algo me chamou atenção, no comentário de uma garota dizia: fofinha, mas o tio é mais lindo, achei muito sem graça porque ele concordou e ainda colocou uma figurinha de feliz.
Entrei no perfil da garota e descobri que ela estudava na mesma faculdade que ele e cursava farmácia, mas não consegui ver nada demais, apenas algumas brincadeiras dela com os amigos.
Voltei ao perfil do Juliano e segui olhando as fotos. Tinha uma bem recente, de janeiro, ele estava na praia com Laura, Giovane, Junior e uma garota que não a conhecia. Na legenda dizia: Guarapari, família e praia, o melhor da vida.
Fiquei tentando imaginar quem era aquela garota que estava com eles, com certeza não era da família, pois conhecia as primas de Laura e Junior.
Mexi em todo álbum dele e notei que excluiu tudo que se relacionavam a mim, as fotos que por muito tempo estiveram em seus álbuns já não estavam mais. Talvez por egoísmo fiquei chateado por alguns instantes, mas depois me dei conta que se ele não estava mais com Augusto talvez já estivesse com outra pessoa e tinha o direito de ser feliz.
Saí da página dele e resolvi bisbilhotar a do Augusto, só encontrei fotos dele com a família e algo que também me chamou atenção, tinha uma postagem dele com a descrição “Estou carente” e logo abaixo uma foto dele no Cristo Redentor no Rio de Janeiro. Nessa foto tinham vários comentários, principalmente de mulheres. Teve uma que colocou: eu tenho a solução para o seu problema, outra postou, está carente porque quer.
No pouco tempo que acessei o face do Augusto notei que ele gostava de ser o centro das atenções, na verdade eu já tinha percebido isso nas vezes em que o avistei com Juliano.
Resolvi deixar a vida dos outros de lado e cuidar da minha, fui olhar os apartamentos para venda, mas deixei o face aberto. Estava distraído curtindo os apartamentos quando notei a telinha do bate papo sinalizando que alguém queria falar comigo, olhei e tive uma bela surpresa.
- Está vivo ainda? – dizia uma mensagem do Diego.
- Dieguinho, saudades!
- Sumiu da civilização, por onde você anda?
Contei tudo a ele o que aconteceu com o João e o período que fiquei na Argentina.
- Agora entendo porque você sumiu, sinto muito pelo João.
- Ainda estou traumatizado pelo que aconteceu, mas quero recomeçar.
- E o que você pretende fazer agora?
- Voltei pra BH, fiz vestibular pra arquitetura, passei e já estou matriculado.
- Foi à melhor coisa que você fez e parabéns finalmente você conseguiu passar.
- Não foi como eu queria, pois passei na particular, mas vou ver se consigo uma bolsa pelo Prouni.
- Vai ter que passar no Enem.
- Vou me preparar, esse ano eu vou conseguir.
- Estou gostando de ver essa determinação.
- E você já encontrou um inglês que valesse a pena?
- Estou de bem com a vida.
- Hum... E isso quer dizer o que?
- Estou curtindo uma pessoa bem interessante, mas não tenho pressa.
- Então, um retorno ao Brasil é algo descartável?
- Totalmente, estou trabalhando e estudando, daqui ninguém me tira.
- Que maravilha, já está virando um cidadão britânico.
- Estou batalhando pra isso.
- Que bom, fico feliz em saber que você está bem.
- Não tem sido fácil, já sofri bastante, tive algumas frustrações, mas estou na batalha.
- E seus pais?
- Continuam os mesmos, a distância ajuda na convivência. rsrs
- É por isso que você não volta?
- Não é só por isso, tem coisas bem interessantes aqui. rsrsrsrs
- Não soube mais do Mauricio?
- Às vezes conversamos pelo face.
- Não me diga que ainda há esperanças?
- Da parte dele talvez, mas eu estou em outra e pra haver algo entre nós novamente, ele teria que atravessar o oceano sem planos de volta.
- Você está certo, não vale a pena lutar por alguém que não está a fim.
- Principalmente pra quem é casado e tem dois filhos.
- Nossa, ele já tem outro?
- Dois meninos.
- Admiro a naturalidade com que você fala da vida dele.
- Estou em outra Sandrinho, o Mauricio já era.
- E esse outro, como é?
- Outra hora eu te conto os detalhes, agora tenho que sair com a galera pra uma balada.
- Oh vida boa.
- Sou filho de Deus. rsrsrsrs
- Aproveita e não some.
- Olha quem fala, passa meses sumido e ainda faz cobranças quando dá sinal de vida.
- Prometo não sumir mais.
- Vou cobrar.
- Pode cobrar.
Neste dia conversei com Tiago sobre a minha situação e ele me fez uma proposta que gostei.
Ele compraria o apartamento no meu nome, assumiria as prestações e no final abateria o valor do montante que me devia. Gostei da proposta, ficou bom para os dois.
Na segunda-feira Tiago foi comigo até BH, olhamos alguns apartamentos, mas eu gostei mesmo daquele que o Rafael havia me passado os dados. Acabei comprando aquele e enquanto a documentação não ficou pronta tive que voltar pra casa com Tiago, pois tia Joana estava na praia em férias.
Naquela mesma semana Marta me ligou avisando que havia vendido a loja e viria depois de resolver toda a papelada da venda. Aproveitei e pedi pra ela vender a moto, ela me lembrava o João e ao mesmo tempo me fazia sofrer.
O início das aulas estava previsto para início de fevereiro, já estava ansioso pra começar, a sorte que a papelada do apartamento ficou pronta antes de iniciar e pude finalmente me estabelecer. É claro que Tiago comprou o básico pra iniciar minha vida, como geladeira, fogão, microondas, uma cama e um armário pra colocar minhas roupas.
Era apenas o básico, pois ele estava pagando Aline e tinha minha faculdade que ia bancar até eu conseguir emprego. Matriculei-me pra cursar três disciplinas e assim não ficava muito caro.
Apesar das poucas condições eu me sentia feliz e estava pronto pra iniciar uma nova etapa, tinha minha liberdade e era dono do meu cantinho.
Entrar novamente em uma sala de aula foi diferente, já não tinha mais a malandragem de adolescente, aquele sentimento que você é o máximo e tudo é fácil de resolver já não tinha mais. Agora tinha o peso da responsabilidade, a mensalidade era cara e o futuro profissional com certeza exigiria o máximo de atenção, era o peso do compromisso de saber aonde se quer chegar.
Ao entrar no prédio da faculdade senti que uma longa batalha me aguardava, já começou pelo primeiro dia de aula que foi tenso, estava muito nervoso, todos eram estranhos e só não foi mais porque enquanto procurava a sala encontrei um velho conhecido que falou comigo.
- Está nervoso?
- Um pouco, eu te conheço de algum lugar só não me lembro de onde.
- Não lembra as vezes que te salvei na academia?
- Mais é claro, você é o...
- Vagner.
- Claro, da academia, o professor salvador.
- Vai fazer faculdade aqui?
- Sim... Não me diga que você dá aulas aqui?
- No turno da noite.
- Só espero não precisar de socorro tão cedo.
- Isso é bom. – disse ele rindo.
- Não quero pagar mico novamente.
- Fiquei triste quando você sumiu da academia, o que aconteceu?
- Morei um ano na Argentina.
- Argentina, já estive em Buenos Aires a passeio é linda.
- Eu morei em Paso de Los Libres.
- Eu conheço, é um belo lugar.
- Sim, mas eu não me adaptei ao frio.
- Aquela região é muito fria por causa do rio Uruguai.
- No inverno chove bastante e é muito frio.
- Seja bem-vindo vou entrar, tenho reunião agora.
- E eu nem sei se hoje vai ter aula?
- Relaxa! Primeiro dia é assim mesmo
Entrei na sala. Já tinham algumas pessoas lá. Todos me olharam quando entrei, morri de vergonha e sentei na primeira cadeira que vi.
- Está nervoso? – ouvi uma voz feminina ao meu lado e virei o rosto pra cumprimentar a garota.
- Um pouco.
- Isso deve ser normal, eu também estou nervosa.
- Acho que sim.
- Você é tímido ou é assustado mesmo? – disse ela rindo.
- Um pouco dos dois.
- Acho que arranjei um bom amigo, meu nome é Sandra.
Comecei a sorrir e ela me olhou surpresa sem entender.
- Desculpe, não é nada contra o seu nome, mas o meu é Sandro.
- Jura?
- Sim.
- Vamos formar uma bela dupla, você gosta de sertaneja?
- Gosto de musica pop, mas curto uma sertaneja também.
- Eu amo Paula Fernandes.
- Eu não conheço as músicas dela.
- Ela é da minha terra, se você quiser eu posso te levar num show dela.
- Você é sempre espontânea com as pessoas?
- Só de quem eu gosto e você é daqui de Belo Horizonte?
- Sou de uma cidade do interior, mas já morei em BH em 2010, no ano passado morei na Paso de Los Libres na Argentina e agora estou de volta a BH.
- Eu sou de Sete Lagoas, sou nova aqui na cidade e estou morando numa republica.
- Legal, eu também já morei em republica, a galera faz muita bagunça.
- Por enquanto estou me adaptando, as garotas me falaram que em algumas republicas rolam altas festas.
- Isso é verdade, na republica que eu morei a galera não fazia festas, mas rolava muita bagunça.
- Acho que vou me dar bem aqui, você é muito legal, posso ser sua amiga?
- Claro, se quiser posso te apresentar meus amigos.
- Eu aceito, adoro uma galera divertida.
- Você trabalha?
- Por enquanto não, mas quero conseguir alguma coisa pra cobrir meus gastos pessoais.
- Eu também estou procurando emprego.
- Você disse que morou em republica, não mora mais?
- Saí quando fui pra Argentina e agora estou comprando meu apartamento.
- Nossa, deve ser legal morar sozinho.
- É minha primeira experiência.
- Oh, fiquei sabendo que vai ter uma festa para os calouros, você vai comigo?
- Vou sim, preciso me socializar na faculdade.
- Ainda bem que no turno da noite não tem trote.
- Se prepara porque na festa vão aprontar pra nós.
- Desde que não coloquem ovo com farinha no meu cabelo, o resto vale tudo.
- Quando é a festa?
- Vai ser sábado agora! Vou beijar muito uhuuu!
- Gostei muito de você, apesar de ser louquinha, acho que vamos ser bons amigos.
Logo depois começou a aula, pensei que no primeiro dia seria só apresentação, mas não foi nada disso, já começou pra valer e senti que seria bem complicado.
No dia seguinte fui procurar o Breno na academia, aproveitei e matei a saudade dos antigos colegas que ainda trabalhavam lá, Edu continuava firme com ele já a Poliana montou uma escola de dança em parceria com Breno, mas ainda continuava com algumas turmas.
- Que surpresa boa!
- Será que aqui ainda tem um lugar pra mim?
- As portas desta casa estarão sempre abertas pra você, vamos ao escritório.
Fomos pra sala do escritório, não sei se ele estava falando sério ou se era pra me animar, mas eu senti que de repente poderia voltar a trabalhar na academia.
- Firme pra recomeçar?
- Estou com muita vontade.
- Eu sempre achei que você cometeu um grande erro indo pra Argentina, desculpa se o que vou dizer vai te magoar, mas eu sempre fui sincero e não vai ser agora que deixarei de ser.
- Você já havia me dito isso.
- Você poderia ter evoluído em muitas coisas neste ano em que ficou afastado.
- Eu sei, mas não me arrependo.
- Por outro lado, vejo que você evoluiu, está mais humilde e isso te fez bem.
- Eu era meio orgulhoso mesmo.
- Você saiu daqui um garoto guiado por impulsos e está voltando um adulto consciente.
- Eu te dei muito trabalho quando trabalhei aqui.
- Deu trabalho, mas também aprendi muita coisa com você.
- Mesmo assim errei algumas vezes por achar que eu sempre era o certo e os outros é que erravam.
- Você queria que as coisas acontecessem rapidamente e a vida não é assim, às vezes encontramos algumas barreiras que nos obrigam a desviar caminhos, mas que bom que essa experiência foi útil pra te mostrar que as coisas não são como queremos.
- Eu estava olhando a academia quando cheguei e vi que muitas coisas mudaram por aqui.
- Sim, a Poliana, por exemplo, evoluiu e o Edu também.
- Eles são formados em educação física, merecem.
- E você, quer voltar?
- Tem vaga pra mim?
No momento não, mas eu tenho um amigo que tem um escritório de arquitetura e está precisando de um auxiliar.
- Breno, mas isso é bom demais e vai me ajudar muito com a faculdade.
- Não se esqueça que independente de qualquer coisa sou seu amigo.
- Poxa, eu não sei nem como te agradecer, como você conseguiu isso?
- Quando Rafael me disse que você estava voltando, logo imaginei que precisaria trabalhar.
- Adivinhou.
- É claro que eu gostaria muito de ter você comigo, mas seria egoísmo da minha parte, academia não é o seu forte apesar de ser um ótimo atendente.
- Eu me dedico você sabe.
- Eu sei, mas quero ver você voando alto e pra isso nada melhor que seguir na sua área, mesmo que seja apenas como auxiliar.
- Eu sei e nem posso exigir mais que isso, pois além de não ter experiência, estou iniciando a faculdade.
- Isso não quer dizer que você precise se afastar de mim.
- Claro que não e eu só não faço academia porque não tenho mais o que emagrecer.
- Você é tão magrinho que é capaz de sumir e isso eu não quero. – disse ele brincando comigo.
- E nem eu.
- Vai morar aonde?
- Já estou morando no meu apartamento.
- E o que está achando de morar sozinho?
- Por enquanto não posso falar nada, não faz nem uma semana que mudei.
- Vai se acostumando a conversar sozinho. – disse ele rindo.
- Vou estar tão ocupado que não terei tempo pra fazer isso.
- No começo é assim, mas depois acostuma e quando você menos perceber está conversando consigo mesmo.
- Depois que o João se foi eu fiquei sozinho e já estou me acostumando.
- Tudo é uma questão de adaptação.
- Já na republica era difícil de alguém se concentrar.
- Eu não sei como você aguentava.
- Eu gostava, mas agora estou num momento em que preciso de paz e tranqüilidade.
- E você vai precisar, o meu amigo é muito legal, mas também é exigente.
- Como você?
- Mais que eu, você ainda vai sentir falta de mim como patrão.
- Já senti neste ano que passou, apesar de que eu fiz alguns amigos bem legais lá no sul, pena que o lugar é muito frio.
- Sandro, com a sua simplicidade você faz amigos por onde passar.
- Muita generosidade da sua parte.
- Estou sendo sincero, você tem um grande futuro pela frente e depende apenas de suas forças.
- Você é um grande amigo não sei nem como te agradecer.
- E a Marta?
- Está voltando, ela precisa resolver toda papelada antes de vir.
- Se ela precisar de alguma coisa pode contar comigo.
Passei o telefone da Marta pra ele, Breno foi muito legal comigo, me entregou uma carta de recomendação para entregar ao amigo dele já na próxima semana.
- Preciso ir agora, tenho aula a noite, não se esquece de me visitar.
- Digo o mesmo, eu gosto muito de você.
Dei um abraço nele e saí flutuando pela rua, meu corpo caminhava, mas a mente fazia planos para o futuro.