Lucas e Marcelo estavam no quintal ouvindo Katy Perry enquanto curtiam uma rodada de cerveja. Colocaram uma mesa ali especificamente para isso. Ainda era cedo, mas eles já estavam animados, principalmente Lucas que estava impossível.
- Sandrinho, o filho pródigo voltou. – disse Marcelo.
- O Sandrinho agora virou um cara responsa. – disse Lucas.
- Eu não voltei e não é proibido me visitar.
- Você receberia essa galera louca em seu apartamento?
- Claro Marcelo, minha casa é aberta a todos os meus amigos.
- Boa, então podemos marcar um surubão. – disse Lucas.
- Vou fingir que não ouvi. – disse brincando com ele.
- Claro meu amor se você não der conta do recado eu dou.
Marcelo caiu na risada e eu tive que dar uns tapas no Lucas pra ele se acalmar.
- Cadê o Pedrão? Ele disse que estaria aqui.
- Foi tomar banho, mas não demora. – disse Marcelo.
Seguimos conversando enquanto Lucas não parava com suas palhaçadas até que o Pedro vem e nos faz companhia.
- Gente! Tem uma coisa errada aqui. – disse Lucas nos interrompendo.
- Não estou vendo nada errado.
- Pedro, você não notou nada diferente?
- Não.
- Aconteceu algo terrível, o passarinho fez ninho na sua cabeça.
- Ah, Lucas deixa de ser otário.
- Calma Pedrão, o Lucas sempre foi assim, o ignore.
- Palhaço de circo, ainda bem que eu não levo a sério, senão ia te dar um soco.
- Quanto elogio, muito obrigado!
- Quando você vai crescer Lucas?
- É só uma brincadeirinha pra descontrair, por favor, galera.
- Cadê o novo morador? Estou louco pra conhecê-lo, nunca o vejo esse cara?
- Se o Lucas não o abduziu, daqui a pouco ele está chegando.
Logo depois chegou Rafael com Letícia, Giovane com Laura, em seguida Adriana e aos poucos a turma foi se reunindo. Fomos na 68. Eu já conhecia, uma vez João e eu jantamos lá, o espaço era agradável e amplo, as entradas muito gostosas, pizzas divinas e as sobremesas também não deixavam a desejar além do atendimento ser ótimo. Rafael soube escolher.
À medida que o tempo ia passando eu ficava mais nervoso, passava das 21:30 e o Juliano não aparecia, chegou 22:00 e nada. Senti-me um derrotado, em alguns momentos com raiva dele e em outros pensava que poderia ter acontecido algo que o impedisse de ir.
A verdade é que ele não foi. Ainda pensei em ir atrás dele, mas não fui. Se Juliano não entendeu o meu recado era porque não estava a fim. A galera ainda foi pra uma balada, mas eu estava chateado demais e fui pra casa.
Em casa tomei um banho e deitei.
Acordei por volta das duas da manhã com uma coceira pelo corpo, acendi a luz pra ver se era mosquito, mas não vi nada, apenas aquela sensação de ter sido picado por um inseto. Tentei dormir novamente e aquilo não passava, fui para o banheiro, tomei outro banho e voltei pra cama, mas não consegui dormir a coceira continuava.
Eram quase cinco da manhã, estava assustado sem saber o que fazer, não queria chamar a Marta, pois ela vivia me assustando e dizendo pra procurar um médico. Foi então que me lembrei do Rafael, mas neste horário provavelmente ele estivesse com Letícia.
Mesmo assim arrisquei já não aguentava mais, isso nunca tinha acontecido antes. Liguei pra ele que demorou a atender, mas atendeu.
- Oi Sandro, o que houve?
- Eu não sei, preciso de ajuda, você está com a Letícia?
- Depois da balada eu vim pra casa, você não está se sentindo bem?
- Não... Estou assustado, não sei o que tenho.
- Calma, eu pego um táxi e vou até seu apartamento.
Rafael chegou o dia já estava amanhecendo. A impressão que tive foi que ele se chocou quando me viu, fui até um espelho que tinha no corredor de acesso ao quarto, mas não vi nada de anormal além do prurido que sentia pelo corpo.
- Deve ser alergia de algum tempero.
- Eu sempre comi de tudo, nunca fui alérgico.
- Vamos à Unimed é aqui pertinho.
- Estou com medo.
- Você não está legal, se quiser eu levo a moto.
Dei um longo suspiro, não tinha mais como adiar, peguei meus documentos e fomos.
Cheguei lá e ainda aguardei duas horas pra ser atendido, mas depois que fui chamado correu tudo na normalidade. Falei tudo o que vinha acontecendo desde os primeiros sintomas na Argentina e os últimos acontecimentos. O médico me examinou, mediu minha pressão, isso que já tinham medido minha febre antes de entrar na sala. Escreveu num documento, o qual eu cheguei à conclusão que era um prontuário. Depois de muito escrever ele me receitou um antialérgico, um sabonete e um spray pra aplicar no corpo após o banho. Depois pediu uma série de exames para o dia seguinte.
Saí da clinica por volta do meio dia, estava péssimo. A essas alturas Letícia já estava conosco, pois Rafael tinha combinado de almoçar com ela e não pode ir.
Passamos na farmácia compramos os remédios, o sabonete e voltamos pra casa.
Nem bem entrei em casa e fui direto ao banho. Fiz as aplicações, senti uma melhora, meu corpo refrescou e a coceira já não era tão intensa. Depois segui tomando o remédio.
Rafael não quis voltar pra casa, ficou comigo no apartamento, Breno me ligou dizendo que estava indo pra minha casa, mas dei uma desculpa, disse que ia sair, não queria que ninguém me visse como estava.
- Porque você não quis falar com ele?
- Se eu dissesse pra ele vir, o Breno só ia se preocupar à toa.
- Vamos deitar?
- Tenho até medo de deitar e começar tudo novamente.
- Você precisa descansar e ficar disposto pra fazer os exames amanhã.
- Vou arrumar uma cama pra você aqui na sala, no outro quarto não tem cama.
- E porque não com você?
- Eu não sei o que tenho, vai que seja algo contagioso.
- Se fosse o médico teria falado e para de colocar caraminholas na cabeça.
- Eu estraguei o teu domingo, obrigado por tudo.
- Você é meu melhor amigo, irmão de muitos momentos e nem pense que é um sacrifício o que estou fazendo.
- Você vai comigo fazer os exames?
- Claro irmão, eu vou te acompanhar e não tenha medo isso não é nada demais.
Na segunda-feira pela manhã eu liguei pra empresa e avisei que me ausentaria para fazer alguns exames de laboratório. Tive que faltar no período de experiência. Fiquei chateado, mas não tinha outro jeito, pois mesmo tomando a medicação e aplicando o remédio não deu muito resultado.
Fui ao laboratório e mais uma longa espera. Eles coletaram o sangue, coletei urina, fezes e depois me liberaram, ficaria pronto em quatro dias. Peguei meu atestado e fui trabalhar, mesmo com aquela irritação na pele.
Enquanto aguardava os resultados a coceira era intensa, em algumas horas sentia vontade de chorar, tudo dava errado pra mim.
Não tive coragem de pegar os exames no laboratório, Rafael pegou pra mim. Estava nervoso demais, lembrei do sofrimento da minha mãe e até o fato que havia transado com João sem camisinha. Tudo se passava em minha mente como um filme, era uma verdadeira tortura.
Quando Rafael chegou ao meu apartamento eu estava uma pilha de nervos.
- Então?
- Eu não abri, eles pediram pra levar ao médico.
- Rafael, você é dessa área não me engana.
- Por isso mesmo que eu não li, sou um estudante e posso entender alguma coisa de forma errada.
Eu não sabia o que fazer, estava com aquele papel na mão, mas não tinha coragem de abrir, ele me abraçou, pois estava sentindo meu dilema.
- Vamos voltar na Unimed.
- Amanhã, hoje eu tenho uma prova.
- Vamos hoje, você está nervoso e desse jeito não vai se sair bem na prova
Mesmo relutando contra o medo, eu fui com Rafael à Unimed, era final do mês de maio de 2012, me lembro bem até hoje parecia que estava andando para um caminho sem volta.
Cheguei à Unimed e depois de aguardar uma hora o médico me chamou, minhas pernas tremiam ao entrar na sala, parecia que tinha algo entalado em minha garganta e então Rafael o entregou os exames.
Ele abriu, olhou detalhadamente e foi anotando algumas coisas num papel, no final tive uma surpresa.
- Você precisa baixar o hospital pra fazer exames mais específicos e me entregou um papel já com solicitação de baixa.
Eu não estava acreditando, me faltou o oxigênio, uma lágrima cismou em sair, mas logo me recuperei e então perguntei.
- O que eu tenho doutor?
- Com esses exames não foi possível ter um diagnóstico claro, preciso de outros e pra isso você precisa ficar internado.
Saí do médico arrasado e sem saber o que tinha, as respostas foram muito evasivas.
- Vamos pra casa ou a outro lugar? Nós precisamos definir algumas coisas.
- Eu não vou pra hospital nenhum, esse médico está louco.
- Ficou maluco! Nós precisamos decidir entre Tiago ou Aline, pelo menos um deles precisa saber que você não está bem.
- Eu não quero preocupar o Tiago com meus problemas.
- Então Aline.
- Não, eu quero conversar com a Marta.
- Então liga pra ela
Liguei pra Marta e disse que precisava conversar, ela tinha aula e ficou de passar em meu apartamento após sair do colégio.
- Tenho que passar na republica e pegar umas roupas, você se importa?
- Eu quero ir pra casa, mas você pode ficar com a moto e fazer suas coisas.
- Eu te deixo em casa depois vou avisar na farmácia sobre minha ausência, passo na republica pego minhas coisas e volto.
- E eu vou perder o meu trabalho, logo agora que tinha tudo pra dar certo.
- Eles vão entender, não pense nisso agora.
Rafael me deixou em casa e depois saiu. Fiquei pensando no Tiago, se eu não o avisasse ficaria chateado. Estava totalmente perdido, nervoso, só tinha vontade de chorar até que peguei no sono.
Acordei com o som da campainha, achei que fosse Rafael e fui atender.
Oi, disse Juliano a minha frente.
- Oi, como você descobriu onde moro?
- Breno me deu o endereço, posso entrar?
- Achei que você não quisesse mais falar comigo?
- Eu precisava resolver algumas coisas antes dessa conversa.
- Entra.
Ele entrou e começou a observar tudo.
- Bonito seu apartamento, ótima localização e bem ajeitadinho, tem seu toque.
Eu dei um sorriso, ele era bem observador. Pra fazer um ambiente aconchegante, não precisa ter muito dinheiro, basta ter criatividade. Vi um modelo semelhante na empresa e fiz a decoração mesmo não sendo um profissional formado.
- Obrigado.
- Eu quero conversar com você sobre aquele dia.
- Esquece aquele dia, foi um ato impensado.
- Eu não achei.
- Desculpa por ter bagunçado sua vida.
- Depois daquele dia eu percebi que estava cometendo o mesmo erro pela segunda vez, me desculpa, agi movido pela mágoa.
Ele aproximou de mim e tentou me beijar, mas eu me afastei já não sabia mais o que queria pra mim, principalmente depois da consulta médica.
- Eu não posso.
- Porque, você ficou magoado comigo porque não fui à pizzaria?
- Não!
- Então o que é?
- Juliano, por favor, me deixa em paz. - abri a porta pra ele sair.
Ele ficou olhando sem entender, foi em direção a saída, tomou a porta de minhas mãos e fechou-a.
Juliano sorriu e me puxou para perto pela cintura, me beijando em seguida. Eu não tive mais como reagir, queria tanto quanto ele, embora tivesse medo do futuro. Ele desceu uma de suas mãos pelas minhas costas enquanto a outra me apertava contra seu corpo. Seus lábios quentes moviam-se com calma junto aos meus, deixando o beijo ainda mais intenso.
Beijamos-nos por mais algum tempo até que eu lembrei que ele disse que estava saindo com outro cara, tentei romper o beijo, mas ele apenas mordeu meus lábios, e antes que pudesse fazer qualquer coisa, sua língua já se movia novamente contra a minha.
Ele mesmo interrompeu o beijo e sem permitir que eu falasse algo, apenas me conduziu até o sofá e voltou a me beijar, de forma que ficamos deitados, porém agora com mais energia, ele jogava seu corpo contra o meu, podia sentir o contato de seus músculos, ele estava me desejando tanto quanto eu.
Esqueci completamente que o Rafael chegaria a qualquer momento, meus lábios ardiam estava excitado e ao mesmo tempo sofria uma vertigem no corpo provocado pela coceira, sentia que ele queria mais, então o afastei.
- Calma, nós precisamos conversar.
- Conversar o que? Nós queremos e nada nos impede.
- Eu quero muito, mas tem algumas coisas acontecendo comigo que não sei se vale à pena.
Nisso eu me coçava e ele percebeu.
- O que você tem?
- Eu não sei, mas também não adianta esconder, logo você vai ficar sabendo.
Peguei o encaminhamento do médico e os exames que ele havia me entregado e mostrei ao Juliano.
- O que é isso?
- Eu estou doente, mas não sei ainda o que é. O médico foi evasivo nas explicações e isso me leva a pensar que é algo grave.
Ele pegou os exames e começou a olhar enquanto isso eu me coçava, tive que colocar o spray na frente dele, estava ficando louco com aquela coceira.
- O que eu tenho Ju?
- Seus leucócitos deram abaixo do normal.
- E o que isso quer dizer?
- Só analisando melhor, por isso ele pediu a baixa.
- Isso quer dizer que eu posso ter alguma doença grave?
- Depende de cada pessoa, não fica pensando em coisas negativas, pode ser apenas um descontrole do seu organismo.
- Essa coceira que eu tenho não é alergia.
- Pode ser uma alergia originada desse problema.
- Estou com medo, minha mãe morreu de câncer e você acompanhou o sofrimento dela.
- O caso dela era diferente.
- Você entendeu porque eu não queria te beijar?
- Entendi, mas fica tranquilo essa coceira não é contagiosa.
Ele fez um carinho no meu cabelo, eu precisava daquele gesto, foi bom, estava assustado e louco de medo de ter algo que me fizesse sofrer como minha mãe.
- Achei que você estivesse com raiva de mim?
- E fiquei, mas agora já nem sei mais o que pensar.
- Eu não quero mais me afastar de você.
- E se eu estiver doente?
- Vai depender de você é claro, mas se isso acontecer, nós vamos vencer juntos. Eu te amo Sandro e já sofri muito por estarmos afastados.
- Eu tenho medo do que possa acontecer comigo, mas eu também quero muito.
- Então não me exclui mais de sua vida, me deixa participar de tudo.
O abracei e voltamos a nos beijar, depois ficamos deitados no sofá até que fomos interrompidos pelo som da campainha.
- Você está esperando alguém?
- O Rafael, ele vai dormir aqui, vou abrir a porta pra ele.
Ele largou minha mão que estava segurando e eu fui abrir a porta.
- Demorou, estava dormindo?
- Não, estava com ele. – mostrei o Juliano que estava sentado na poltrona.
- Atrapalho?
- Atrapalha nada, entra ai. – o puxei pela mão pra entrar logo no apartamento.
- Tudo bem Juliano?
- Tudo e você.
- Estou bem, espero não estar atrapalhando.
- Você não atrapalha Rafael, contei tudo a ele.
- Fez bem.
- A partir de hoje eu vou cuidar do Sandro, faço questão de estar com ele na hora da baixa no hospital.
- Que bom, meu maior desejo era que vocês se acertassem, os dois se amam embora sejam teimosos e insistem em dizer que não.
Ele tinha razão, Juliano apenas sorriu e eu cheguei à conclusão que era verdade.
Juliano jantou conosco e depois foi embora. No dia seguinte teria aula logo cedo. Apesar de tudo eu estava feliz, nossa reconciliação não foi da forma como imaginei e desejava, mas ele estava comigo e eu me sentia mais forte pra enfrentar o que fosse necessário.
Marta chegou já era quase meia noite, achei estranho Breno estava com ela.
- Marta?
- O que foi parece que viu um fantasma?
- Pensei que você viesse sozinha?
Fiquei em duvida se falava o que estava acontecendo, mas não seria justo com Breno que sempre me ajudou em momentos importantes, além de ser um grande amigo.
- O que foi moleque? A minha companhia não serve. – disse ele já me abraçando.
- Você seria a última pessoa a imaginar que estaria com Marta.
- Ela me disse que vinha conversar com você, então ofereci uma carona e resolvi te fazer uma visita.
- Desculpa Breno, não estou fazendo pouco em você, só estranhei.
- E aí de você se estivesse lhe daria uma surra.
- Tem alguma coisa pra comer nessa casa? Estou louca de fome. – disse Marta.
- Acho que o Rafael deixou alguma coisa pronta na cozinha antes de deitar.
- O Rafael está aqui?
- Dormindo no meu quarto.
Breno ficou me olhando desconfiado e só então eu percebi a confusão que ele estava fazendo.
- Eu o convidei para passar a noite comigo, porque não estou me sentindo bem.
- Espero que você tenha procurado um médico, cansei de falar.
- Vou preparar algo pra vocês comerem, enquanto isso nós conversamos.
- Espero que você não se importe que eu participe da conversa.
- Claro que não, de um jeito ou de outro você vai saber!
Fomos pra cozinha, a própria Marta preparou um arroz carreteiro.
- O aroma está ótimo.
- Marta cozinha bem, você perdeu uma bela cozinheira com a mudança dela.
- Isso e verdade.
- Come com a gente?
- Obrigado Marta, mas eu já jantei.
- Come um pouquinho e nos faz companhia.
- Ah Breno, você fica me instigando, vai que eu aceito.
- Mais é claro que aceita, vou servir seu prato e tem que comer tudo.
Ele me serviu e jantamos em paz.
Após o jantar, Marta sentiu meu nervosismo e iniciou a conversa.
- Desde que cheguei sinto você ansioso, o que está acontecendo, Sandro?
Nem falei, apenas peguei os exames e a papelada do médico e entreguei a eles. Os dois ficaram estáticos sem entender.
- O Tiago precisa saber disso. – disse Breno.
- Eu não quero preocupá-lo com meus problemas, por isso quis conversar com Marta.
- Ele precisa saber Sandro. – Disse Marta.
- Pode não ser nada, vou só preocupá-lo à toa.
- Se não for nada será melhor ainda, mas o seu irmão precisa saber,
- Você quer que eu converse com o Tiago?
- Você faria isso por mim, Breno? Não quero alarmar o Tiago e se conversar com ele, eu vou chorar e vai dar tudo errado.
- Apenas liga pra ele e o resto deixa comigo.
- Obrigado Breno!
- Quando você vai para o hospital? – Questionou Marta, eu sentia que ela estava assustada, mas não queria deixar transparecer.
- O Juliano vai me levar amanhã à tarde.
Eu lutei contra as lágrimas, mas não aguentei e comecei a chorar, Marta veio ao meu encontro e me abraçou.
- Cadê o cara forte que me fez voltar a estudar e encarar a vida de um jeito diferente?
- Estou com medo.
- Para com isso, Sandro. – falou o Breno de forma autoritária, até Marta se surpreendeu com sua reação.
- Levante a cabeça e encare os problemas de frente, não se sinta derrotado diante das dificuldades.
Ele se levantou e saiu sem se despedir, Marta ficou olhando sem saber o que fazer.
- Vá atrás dele, ele está precisando de ajuda.
- Você precisa mais de mim do que ele.
- Eu conheço o Breno, ele sentiu e não admite que meu choro faça sentido, mas eu já estou bem. Ele tem razão, nada resolve o meu nervosismo.
- Você está bem mesmo?
- Estou e qualquer coisa o Rafael está no quarto.
Depois que eles saíram, fui para o banheiro, tomei um banho e apliquei o spray, já estava melhor e fui dormir tranquilo, mas antes lembrei do Juliano, ele estava comigo e nada ia me abalar.
Peguei meu celular e mandei uma mensagem pra ele “já estou com saudades nem podemos curtir nossa reconciliação”.
Logo depois ele respondeu, “eu também queria estar aí, fique tranquilo e se ficar triste me liga”.
Depois dessa resposta eu não poderia ficar triste, pelo contrário apesar do medo, queria muita alegria pra minha vida.
No dia seguinte Rafael saiu cedo pra faculdade, liguei para o meu trabalho e avisei que precisaria me ausentar por problemas de saúde. Como não tinha nada pra fazer, deitei novamente, mas logo fui acordado pelo toque da campainha.
- Será que eu posso tomar café com você?
- Claro Breno.
Ele trouxe pães, queijo, presunto e duas garrafinhas de suco, assim que chegou fomos pra cozinha.
- Eu quero pedir desculpas por ontem à noite.
- Não precisa, você tinha razão.
- Eu fui muito rude, não posso julgar o que você está sentindo porque eu não sei o que é passar por isso.
- Foi bom pra mim, você me fez ver a situação de outra forma.
- Que bom, eu gosto muito de você.
- Eu sei, parece meu pai.
Ele caiu na risada, serviu nossos copos, pegou mais algumas coisas na geladeira e sentamos para comer.
- Agora falando sério, nós precisamos ligar para o Tiago.
- Eu vou ligar e dizer que preciso falar com ele amanhã, marco aqui em casa ao meio dia e ai vocês conversam.
- Você quer que eu te acompanhe no hospital hoje à tarde.
- Eu já combinei com Juliano, não precisa.
- Vocês estão juntos novamente?
- Nos acertamos ontem à noite.
- Que bom, eu não costumo me meter na vida de ninguém, mas acho que vocês estão certos.
Depois do café liguei para o Tiago e combinei de nos encontrarmos no dia seguinte, ele achou estranho queria saber o que era, mas eu o enrolei, não estava a fim de falar, na verdade não sabia nem o que dizer.
Breno saiu e eu fui arrumar algumas roupas pra levar pro hospital, procurava não pensar muito pra não ficar triste.
Por volta das onze horas Juliano me ligou.
- Estou saindo da faculdade, vou almoçar com você.
- Então vem, quero namorar um pouco antes de ir para o abatedouro.
- Está bem humorado isso é bom.
- É preciso senão eu fico doente de vez.
- Sem demora estou chegando.
Uns quarenta minutos depois tocaram a campainha, era ele.
- Bem pontual.
Ele tinha algumas sacolas nas mãos, mesmo assim, aproximou de mim e me deu um selinho.
- Trouxe um presente pra você.
- Mas eu nem estou de aniversário.
Ele me entregou um pacote, não era muito grande, mas nem pequeno. Abri e dei de cara com um cachorrinho de pelúcia, parecia de verdade e junto no mesmo pacote uma embalagem de bombons da Cacau Show que eu adorava.
- O cachorrinho é pra te acompanhar, ele vai trazer sorte e vai te ajudar toda vez que você ficar triste.
- Ele é lindo.
- Gostou?
- Nossa eu adorei.
- Quem sabe um dia nós não temos um de verdade.
Nossa ele fazia planos para o futuro, fiquei pensando, mas logo voltei atenção para o meu presente.
Sorri e abracei o meu cachorrinho, ele era tão fofo, com certeza seria meu grande companheiro.
- Será que eu posso levá-lo para o hospital?
- E porque não?
- Não sei, podem achar que é coisa de criança.
- Se você se sente bem, deixa os outros pensarem o que quiser.
- Você tem razão. Ah, obrigado pelos bombons.
- Você os adora, mas já sabe, não pode comer muito.
- Obrigado por tudo Ju, eu...
Ele entrou, fechou a porta e levou uma mão em meu rosto, acariciando-o.
- Diga o que você queria dizer, eu quero muito ouvir.
- Eu te amo, falei atrapalhado.
Ele sorriu, pegou os presentes de minhas mãos e colocou-os em cima do sofá, depois voltou ao meu encontro, me abraçou e me beijou com carinho. Logo nossas línguas se acariciavam de modo lento, tornando o beijo ainda mais gostoso. Levei as mãos aos seus cabelos, os acariciando e ele segurou minha cintura.
Ficamos por um longo tempo nos beijando, eu queria aproveitar a oportunidade que a vida estava me dando, embora não quisesse admitir, mas tinha a sensação que nunca mais seria a mesma pessoa depois que baixasse o hospital.
Depois de alguns minutos, separamo-nos devagar, ele ficou olhando meus olhos com ternura. Encostou-me delicadamente na porta e me beijou novamente. Suas mãos subiram pelo meu corpo e foram para os meus cabelos, os acariciando. Separávamos-nos por falta de ar e logo voltávamos a nos beijar e os beijos, aos poucos, ficavam mais urgentes.
- Posso pedir uma coisa pra você, antes de ir para o hospital.
- Claro.
- Estou com vergonha.
- Vergonha, de mim? – disse rindo.
- Não tem porque, né? Somos adultos e sabemos bem o que queremos.
- Fala amor.
- Eu quero fazer amor com você antes de sair daqui.
Ele soltou um sorriso lindo e contagiante. O abracei e fui retribuído, mas logo ele se afastou um pouco e me beijou. Um beijo calmo, doce, sem pressa, exatamente como desejei naquele momento.
Antes de terminarmos o beijo ele foi logo tirando minhas roupas, depois foi tirar sua camiseta, mas coloquei minhas mãos sobre as suas, o impedindo e comecei a tirar cada peça. Ele apenas sorria.
Quando terminamos, novamente ele me beijou. Em seguida o conduzi em direção ao quarto. Nem bem entramos, deitei sobre a cama e ele deitou-se sobre mim.
- Eu te amo. – Sussurrou em meu ouvido, beijou meu pescoço e eu senti um arrepio com o contato de sua barba.
- Eu também te amo. – Respondi também num sussurro. Ele sorriu e acariciou meus cabelos.
- Tem certeza que é isso mesmo que você quer?
- Absoluta. Eu quero fazer você muito feliz.
Ele beijou meu rosto e meu pescoço, lacei minhas pernas em seus quadris e podia sentir o toque de seu sexo junto ao meu. Viramos na cama e passei a beijar seu peito. Juliano fechou os olhos quando comecei a passar a ponta da língua em seus mamilos que logo ficaram rijos, fui beijando sua barriga, até chegar a seu membro e ele ofegou. Comecei a chupá-lo e logo ouvi um gemido. Ele segurava em meus cabelos com um pouco mais de força até que sentou na cama, me fez deitar e ficou por cima de mim novamente.
- Pela primeira vez estou nervoso. – disse ele rindo e beijando meu rosto.
- Por quê?
- Porque você está com essa reação alérgica, tenho receio de prejudicá-lo.
Voltei a beijá-lo e tomou coragem e ai nem parecia o mesmo cara que antes estava tenso. Com carinho ele foi introduzindo um dedo e fazendo movimentos circulares enquanto me beijava. Fazia tempo que eu não tinha relação, senti um pouco de desconforto quando ele introduziu o segundo dedo. Ele foi até sua mochila e pegou lubrificante, depois disso só relaxei. Ele colocou a camisinha e foi introduzindo seu membro devagar, às vezes parava, estava com receio de me machucar, mas eu me sentia bem e o beijava para incentivá-lo a continuar. Quando ele conseguiu já estava suado e começou a se movimentar.
Teve um momento em que ele parou e ficou alisando meu rosto.
- Está tudo bem, amor?
- Estou ótimo, meu corpo até parou de coçar.
Ele deu um sorriso e seguiu com movimentos firmes, ainda interrompeu a relação mais uma vez pra ver se realmente eu estava bem. Ele foi muito carinhoso e atencioso comigo, logo eu gozei somente com o contato de seu corpo sobre o meu e ele ainda demorou um pouco até chegar ao clímax.
Depois ele deitou sobre mim, soltando o peso de seu corpo me deixando um pouco sem ar. Ele beijou meu ombro, acariciei seus cabelos e ficamos nessa posição apenas relaxando.
Depois de alguns minutos, ele levantou o rosto e sorriu para mim.
- Eu te amo. – ele aproximou e beijou meus lábios.
Passei as mãos em seu peito e ele lentamente foi saindo de cima de mim, em seguida ele me ofereceu sua mão e me levou até o chuveiro, ligando-o.
Senti o calor da água quente em meu corpo, ele me abraçou por trás e depositou alguns beijos leves em meu pescoço. Depois pegou o sabonete e começou a me ensaboar, passava lentamente por todo o meu corpo, e me beijava a todo instante. De repente, peguei bem forte pela cintura, e encostei-o na parede. Enquanto a água caía, beijava seu pescoço e sua boca. Peguei o sabonete e fiz o mesmo com ele. Nossos corpos estavam colados com a água morna caindo enquanto seguíamos nos agarrando por um bom tempo.
- Vem. - disse ele me estendendo a mão.
Saímos do Box, ele pegou uma toalha e começou a passá-la lentamente por meu corpo, me secando.
Fechei os olhos aproveitando os carinhos. Em algumas partes, ele dava lentos e demorados beijos antes de secar. Assim que terminou, peguei a mesma toalha e comecei a fazer o mesmo com ele.
Colocamos nossas roupas e ele me conduziu até a cozinha.
- Precisamos comer alguma coisa antes de sairmos.
- Estou sem fome.
- Nada disso, você vai se alimentar.
Ele pegou uma panela e foi logo preparando um arroz com carne de galinha. Depois de uns quarenta minutos estava pronto. Ele serviu meu prato e me fez comer.
- Está gostoso. – falei.
- Viu, e você não queria comer.
Almoçamos em silêncio. Eu estava nervoso e sentia que ele também estava embora não demonstrasse.
Depois que terminamos, ele lavou a louça enquanto escovei os dentes e dei uma ajeitada no quarto antes de sair.
Fomos para o hospital no carro dele. No trajeto ele sempre me fazia uns carinhos no rosto. Ao chegarmos, ele deixou o carro no estacionamento, pegou uma mochila com minhas coisas e entramos na ala do hospital que atendia os convênios. Fizemos o trajeto em silêncio, meu coração batia acelerado, tentava não pensar em coisas negativas, mas o medo me consumia.
Ele acertou tudo na recepção e logo em seguida fui encaminhado para um quarto. Juliano sempre comigo, eu olhava pra ele e via seu semblante de preocupação até que chegamos.
Alguns minutos depois veio uma enfermeira com uma prancheta na mão, me indicou a cama e em seguida começaram a me preparar para os exames.
Juliano ficou comigo mais um pouco e depois saiu, tinha uma prova no final da tarde e tive que ficar sozinho no hospital.
No final da tarde, meu medico apareceu e junto com ele veio mais dois. Eu procurei não pensar porque tanto médico na minha volta. Um deles me solicitou um ultrassom do abdômen, não entendi muito bem, mas como eu havia falado que sentia fortes dores no estômago talvez ele resolvesse verificar. O outro médico me pediu uma biopsia da pele, eu nunca até então tinha ouvido falar nisso, me assustei de vez e perguntei pra que era esse exame? Ele me acalmou e disse que não era nada conclusivo e eles tinham que tirarem todas às duvidas e não era pra ter medo que podia confiar neles.
Depois que saíram aqueles médicos entrou outra médica e perguntou se eu sentia dor nos gânglios. A princípio disse que não, mas depois lembrei que na Argentina meus gânglios incharam e senti muita dor, na época tratei como dor de garganta oriunda de um resfriado. Ela aproximou da cama onde estava e começou a apalpar toda a região do meu pescoço e no final mais um ultrassom.
Eu já estava entrando em desespero com aquele monte de médico na minha volta quando Marta chegou pra ficar comigo, nossa senti um alívio, nunca a presença de alguém foi tão importante pra mim.
- Martinha, você não abandona, né?
- Eu tinha aula, mas pensei, ele deve estar precisando de mim.
Eu estava realmente assustado, não imaginava que quando o medico falou em baixa que seria aquela intensidade de exames, lembrei da minha mãe e o pavor foi maior ainda.
- Marta, segura na minha mão.
Lembro direitinho que ela pegou uma cadeira e sentou ao meu lado na cama e me ofereceu sua mão e assim ficamos por longas horas, até as enfermeiras me buscarem para fazer os primeiros exames.
Naquela noite, Marta passou comigo no hospital, mas ainda recebi a visita de Rafael, Juliano e o Breno que pegou a chave do meu apartamento pra esperar o Tiago no seguinte.
Eu desconfiava que todos eles já soubessem o que eu tinha, mas não queriam me contar. Passei uma noite péssima, tive dores no estômago e vomitei muito.
Marta ficou comigo até o Tiago chegar. Quando ele entrou na porta do quarto e senti seus olhos de pavor, não resisti. Ali eu vi que tinha algo muito grave acontecendo comigo. Ele foi até a minha cama e me abraçou sem dizer nada, apenas me consolou, pois eu perdi totalmente o controle e chorava desesperadamente, precisou uma enfermeira aplicar um sedativo para eu me acalmar.
Quando acordei ainda estava meio tonto devido o efeito do sedativo, mas tive a nítida impressão que Aline estava ao meu lado
Aline?
- Oi meu irmão porque você não me disse que estava doente?
- E ia fazer diferença, nós nunca conseguimos nos acertar, você morre de ciúmes do Roger. Tem medo que eu vá tirá-lo de você.
- Me perdoa Sandro.
- Porque você tem raiva de mim?
- Eu já tive, mas ai eu percebi que estava sendo injusta com você, me desculpa.
- Você gosta dele não é?
- Eu já tentei esquecê-lo, mas não consigo.
- Então não me culpa pelas atitudes dele.
- Eu sei que o culpado nem é ele, talvez eu mesma, mas na hora da raiva eu descontava tudo em você porque ele ainda te ama.
- Ele nunca me amou.
- Porque você diz isso.
- Porque toda vez que conversamos, ele diz que você é diferente e se vocês têm dois filhos é porque ele a ama.
- Não vamos falar nisso agora.
- Eu preciso falar porque não quero mais discórdia entre nós.
- O Roger não consegue deixar de se encontrar com outras pessoas.
- Ele é assim, nunca vai assumir o outro lado e vai zelar pela família como sempre fez. Você já deveria saber disso.