- Outra hora nós conversamos com mais calma.
- Eu estou com o Juliano.
- Vocês voltaram?
- Sim, ele tem sido muito legal comigo e eu estou curtindo muito embora esteja com esse problema.
- Você o ama?
- Se eu não o amasse não estaria feliz nesse momento, ele sempre me trouxe paz, tranquilidade e o principal, amor, demorei muito pra entender isso, mas hoje eu compreendo que é ele que eu amo e é com ele que vou ficar.
- Eu preciso ir agora, tenho aula daqui a pouco, mas nossa conversa ainda não acabou.
- Manda um beijo pra Sabrina.
- Se cuida.
Ela saiu e me deu um beijo no rosto, fazia uns três anos que não trocávamos um gesto de carinho. Depois dessa conversa franca que tive com Aline, eu não senti mais raiva dela, ao contrário, queria viver em paz, lutar para me livrar logo daquele hospital, retomar minha vida ao normal e curtir o meu namorado que nem tive tempo de aproveitar.
Depois que Aline saiu, as enfermeiras me levaram pra fazer um exame. Foi horrível, tive a sensação de queimor pelo corpo, minha cabeça parecia em chamas, a sorte que meia hora depois melhorei daquela sensação.
Aquela noite Tiago passou comigo no hospital, mas eu não estava bem, tive febre e meu corpo coçava muito.
No dia seguinte obtive uma melhora devido às altas doses de remédio que tomava. No final da tarde Juliano apareceu.
Oi! Como você está?
- Melhor agora que você chegou.
- Que dramático, já fez todos os exames?
- Eu até já perdi a conta, eles analisaram todo meu organismo.
- É normal, não fique assustado.
- Você estava em aula?
- Até a pouco, estou morto de cansado, mas também louco de saudades de você
- Eu também, queria um beijo agora pra amenizar tanto sofrimento.
- Aqui é complicado, mas não é impossível.
Ele olhou em direção a porta, se aproximou e me deu um selinho, em seguida se afastou, mas ficou segurando minha mão.
Uma enfermeira entrou no quarto e nos pegou de mãos dadas, não nos importamos, não estávamos fazendo nada demais, ela mediu minha febre, minha pressão, anotou na prancheta que ficava aos pés da cama e saiu.
Juliano apenas a acompanhou com o olhar e depois que ela saiu ele caiu na risada.
- Você viu a cara que ela fez quando nos viu de mãos dadas?
- Não sei por que a cara de espanto, você poderia ser meu amigo, meu irmão. Nada a ver, povo sem noção.
- Tiago me disse que ontem você teve uma crise?
- Foi só uma reação, por falar nisso, cadê ele?
- Foi no bar do hospital comer alguma coisa.
- Ju, seja sincero comigo, você sabe o que eu tenho?
- Eu desconfio, mas não tenho certeza.
- Não minta pra mim, eu tenho algo muito grave.
- Não estou mentindo amor, se eu soubesse não lhe esconderia algo tão grave. Também estou tenso com essa situação.
- Então segura minha mão.
- Gostou né? E se a enfermeira nos pega novamente?
- Se isso acontecer, eu conto pra ela, que é o único jeito que tenho de curtir meu namorado.
Alguns minutos depois a porta do quarto se abriu era o Tiago.
- Atrapalho vocês?
- Aqui é impossível alguém atrapalhar. – falei e ele sorriu.
- Está melhor, maninho?
- Sim, me desculpa não ter lhe contado que estava doente. – quis chorar e ele me interrompeu.
- Hei, para com isso, não quero choro.
- Eu não queria fazer você sofrer, já sofreu com a doença dos nossos pais, a morte deles e agora eu nem sei o que eu tenho.
- Eu não quero que você pense em coisas tristes, entendeu?
- Como não falar se eu sinto que tem algo grave acontecendo comigo.
- Seja o que for eu não quero você choramingando as escondidas.
- Ele tem razão, Sandro. Você precisa manter a calma.
Estávamos os três conversando no quarto quando entrou o médico.
- Tudo bem meu jovem, ainda deseja saber o que você tem?
- Por favor, doutor, isso é o que eu mais quero, não vejo a hora de voltar pra casa.
- Você vai voltar, mas por enquanto terá que ficar aqui até controlarmos o seu organismo.
- O que eu tenho afinal de contas?
- Você tem um linfoma.
- Não, eu não quero morrer como a minha mãe, diga que é mentira, eu não tenho câncer, não quero ter.
Eu chorava desesperado, Juliano tentava me conter, ele me abraçou e tentou me acalmar, mesmo assim xinguei o médico.
- Fica calmo, isso só vai piorar as coisas.
- Eu não quero morrer Juliano.
- Você precisa ficar calmo e ouvir o que o doutor tem a dizer. Vai ser importante pra sua recuperação.
Ele conseguiu me acalmar e voltou a ficar sentado ao meu lado segurando minha mão. Tiago virou o rosto pra eu não ver sua reação.
- Eu prometo que falarei tudo se você se acalmar. – disse o médico calmamente.
- Já estou melhor, o senhor pode explicar o que eu tenho.
- Você tem linfoma Não Hodkin no sistema linfático, é um tipo de câncer que se tratado a tempo tem grandes chances de cura.
Era a confirmação, entrei em desespero, chorei e só não tive outra crise porque Juliano e Tiago me deram todo apoio.
- Tenha calma, eu nunca vou te abandonar e nós vamos vencer isso, confia em mim. – dizia Juliano, ele era o mais calmo de todos. Naquele momento senti muita segurança da parte dele, eu precisava acreditar em algo, me apoiar em alguma coisa e foi o que fiz.
Ele dizia essas palavras me olhando firme nos olhos. Aos poucos foi limpando minhas lágrimas até que eu me acalmei, Tiago estava com o rosto vermelho eu nem tinha notado, mas ele havia chorado também, conversava com o médico para tirar duvidas, pois era tudo muito novo pra nós.
O médico já estava se retirando do quarto quando o chamei novamente.
- Doutor?
- Sim.
- O senhor me desculpe.
- Não precisa se desculpar, eu entendo sua reação, você não foi o primeiro e nem será o último a ter esse tipo de reação.
- Que chances eu tenho?
- Muitas e vai depender muito de você.
- O que eu tenho que fazer?
- Assim é que se fala Sandro. Esse é o primeiro passo para o bom andamento do tratamento.
- E qual é o segundo?
- Inserir um cateter, dói um pouquinho, mas você é valente e vai resistir.
- E o terceiro?
- Nós vamos começar com a químio e depois se precisar passamos pra radio.
Disse Dr Geraldo, ele era muito calmo, nesse dia ele conquistou minha confiança. Grande profissional, ele teve muita paciência comigo e explicou detalhadamente tudo que eu tinha que fazer e o que enfrentaria. Eu me lembro que a primeira coisa que perguntei a ele foi se meu cabelo ia cair, santa ingenuidade a minha.
- E tem mais algum passo depois disso?
- Vamos com calma, não pense no final. Lute pra vencer uma batalha por vez.
No dia seguinte me submeteram a uma mini cirurgia para implantar o cateter na região da veia cava, logo abaixo do pescoço, no peito, foi com anestesia, não senti nada, logo pensei estou livre desse sofrimento, ledo engano, mais tarde me levaram pra fazer uma biopsia da medula óssea, foi o pior exame que fiz, senti uma dor insuportável apesar da anestesia local, eu gritei de dor, foi horrível. Juliano fez questão de me acompanhar no exame, ele suportava tudo calado, mas sempre ao meu lado, hora ou outra me falava palavras de apoio ou então usava o silêncio como arma pra me ajudar a suportar. Depois disso me levaram pra outra sala onde recebi vários medicamentos e a primeira sessão de quimio.
Os dias foram passando e eu cada vez pior. Fazia quinze dias que havia baixado, já nem sabia o que pensar, não queria mais sofrer. Passei pelas piores situações, pois estava com todos os sintomas da doença, a coceira continuava pelo corpo, principalmente no abdômen, tinha insônia, mesmo com remédios fortes e inalação, tossia uma tosse seca, perdi a vontade de me alimentar, emagreci uns dez quilos.
Era sempre assim, à noite eu não dormia e durante o dia, tinha que realizar vários os exames e receber os medicamentos injetáveis. Todo dia era a mesma coisa e quem sofreu junto comigo foram Tiago e Juliano. Marta também me ajudou bastante, mas ela tinha seus afazeres, Breno me visitava todo dia depois que fechava a academia e o Rafael ligava diariamente pra saber como eu estava. Apesar do carinho de todos, eu não conseguia aceitar, chorava muito sem entender porque aquilo estava acontecendo comigo, minha faculdade ficou interrompida e o meu trabalho já estava perdido.
Fazia quase um mês que estava no hospital, nem parecia o mesmo que havia baixado no final de maio, estava abatido e havia emagrecido. De repente entrou uma senhora no quarto e veio falar comigo, eu não entendi muito bem, ela fez uma oração, me disse palavras de conforto e me entregou um papel com a seguinte frase.
“Às vezes você nem sabe que algo mudou. Acha que você é você, e sua vida ainda é sua vida, mas você acorda um dia e olha ao seu redor e não reconhece mais nada...”
Na hora eu não entendi o que aquela mensagem me transmitia, mas depois, pensei e vi que precisava reagir. A partir deste dia me veio uma força estranha que nem eu mesmo sabia que tinha e decidi seguir corretamente a recomendação do médico.
Durante as horas intermináveis de hospital eu aproveitava o pouco de coragem que tinha e escrevia tudo que me vinha na cabeça, era uma maneira de ver o tempo passar. Tiago já passava mais tempo comigo do que em casa, deixou os negócios por conta de Paula pra me cuidar. Ele fazia rodízio com Juliano e quando precisava atender alguma coisa urgente, Breno e Marta ficavam comigo.
Como no hospital eu não podia ter muito contato com as pessoas, meus amigos me mandavam mensagem no celular ou pelo note, meu fiel companheiro nas horas de sofrimento.
A segunda quimio já foi mais tranquila, me alimentava a cada duas horas, nesta mesma semana fiz vários exames, mas o que me deixou mais feliz foi o resultado da tomografia e eu tive uma redução significativa dos nódulos na região do abdômen e os do pescoço e da virilha sumiram.
Juliano estava comigo nesse dia, eu chorei de felicidade, já tinha sofrido tanto que o resultado desse exame me renovou as esperanças.
- Ju?
- Oi!
- Porque eu nunca senti esses nódulos no meu corpo?
- São internos amor, até os médicos demoraram a ter o diagnóstico definitivo.
- Esse exame me deixou confiante.
- Esse é o primeiro sinal pra sair do hospital.
- Será? Não aguento mais isso aqui, quero ir pra casa e ver meus amigos.
- Nada disso, quando você for pra casa tem que ser igual aqui, muito repouso. Cuidar da sua saúde é primordial pra sua recuperação e depois que ficar bom ai sim você poderá curtir os amigos.
- Poxa, achei que minha vida fosse melhorar quando saísse daqui.
- Tem que cuidar pra não gripar, não pegar infecção a sua imunidade está muito baixa por causa da quimio.
- Ainda bem que eu tenho você, obrigado por não ter me abandonado.
- Eu jamais faria isso.
- Você é jovem cheio de vida. Às vezes eu penso se não estou sendo egoísta.
- Não, não está e isso quem decide isso sou eu.
- Já perdi a quantidade de dias que estou nesse hospital e nem sei como vai ser minha vida...
- Para de pensar nessas coisas, logo você vai sair daqui e tudo vai ser diferente.
- Diferente como?
- É uma fase, mas vai passar, tenho certeza disso.
- Você é sempre otimista.
- Eu estudei bastante o seu caso e tenho conversado muito com os Drs. Geraldo, Carlos e Alexandre e todos eles estão bem confiantes na sua recuperação.
- Eu nem sei como resisti tanto sofrimento?
- E vai continuar resistindo. Eu, Tiago, seus amigos, todos precisam de você.
- Perdi meu emprego e minha faculdade.
- Não pense nisso agora você só vai sofrer.
- Tem razão, o meu objetivo agora é a cura.
- Isso mesmo.
-Estou com vontade de dar um beijo em você, como naquele dia que a enfermeira quase nos pegou.
- Só no rosto, você não pode pegar infecção principalmente agora que está melhorando, não vamos abusar.
- A que ponto eu cheguei, não posso nem beijar meu namorado.
- Pode sim, desde que tenha os devidos cuidados.
- Meu anjo da guarda, eu te amo.
Naquela mesma semana fiz exame de sangue e novamente contagem de plaquetas, toda segunda e sexta eram sagradas, tinha que fazer exame, meus leucócitos aumentaram consideravelmente e isso era um bom sinal.
A terceira sessão de quimio, foi terrível afetou tanto meu físico quanto o emocional, senti dor na boca e não conseguia me alimentar, passei três dias com o Tiago me cuidando só a liquido, meu corpo doía e voltei a ficar fraco novamente e a minha esperança de voltar pra casa foi para o além.
Logo nesses dias peguei um resfriado tive febre, a imunidade estava muito baixa, mas graças a Deus uma semana depois já estava melhor e os médicos me deram alta. Finalmente pude voltar pra casa, mas eu tinha que voltar ao hospital toda segunda e toda sexta pra fazer exames e a quimio a cada quinze dias.
Na saída eu era só sorrisos, Tiago e Juliano estavam comigo.
- Nem acredito que já posso voltar pra casa.
- Vamos para o meu apartamento. – disse Juliano.
- Ah Ju, eu gostaria de ir para o meu.
- Estou pensando no Tiago, você está bem agora e ele poderia voltar pra casa.
- O que você acha, mano?
- A Paula está cuidando de tudo e eu prometi cuidar de você.
Eu pensei, Juliano tinha razão era muita coisa pra Paula atender sozinha, seria muito egoísmo alugar o Tiago e isso poderia até prejudicar seu casamento, então pensei melhor.
- Vou com o Juliano para o apartamento dele, estou bem, mano e lá eu tenho certeza ficarei bem.
- Tem certeza?
- Tenho! A Paula também precisa de você.
- Finais de semana eu venho te ver, vou ligar todo dia e ai de você que não se cuide direitinho.
- Fica tranquilo Tiago, ele será bem cuidado. – disse Juliano.
- Eu confio em você, mas quero notícias diariamente.
Saí do hospital e fui para o apartamento do Juliano, Tiago voltou pra casa. A minha rotina não seria muito diferente do hospital, antes de sair recebi uma série de recomendações pra não receber muitas visitas, principalmente se estivessem engripadas, evitar ambientes fechados onde tivesse circulação de pessoas e cuidar da alimentação. Tinha que comer de duas em duas horas, nada gorduroso e que pudesse prejudicar o tratamento, me acostumei nesse ritmo e faço isso até hoje, foi uma das coisas boas que aprendi a fazer
Os dias foram passando e minha vida continuava na mesma, me comunicava com meus colegas da faculdade diariamente pelo face. Eles me colocavam a par de tudo embora eu já tivesse tirado dos planos em continuar naquele semestre. A sorte que consegui cancelar sem ter custos a mais.
Meus colegas de serviço também ligavam e mandavam mensagem desejando melhoras. Acabou que acertei com a empresa. O período de experiência havia acabado e eu não poderia continuar, foi uma pena, fiquei chateado.
Breno e Marta iam me visitar diariamente depois que ela saia do colégio. Eu desconfiei da amizade dos dois, andavam sempre juntos, não se desgrudavam, sempre tinha uma carona, mas não falei nada, ambos tinham direito de refazer suas vidas e eu os amava como se fossem meus pais.
Minha tia e Laura ficavam comigo quando Juliano estava na faculdade, tinha que ter todo um cuidado pra não pegar gripe, não tinha quase contato com elas, era estranho, ficava mal com aquela situação. Tudo tinha que ser higienizado, pois se eu pegasse qualquer infecção seria um regresso no tratamento. A pior situação era escovar os dentes e bocejar de duas em duas horas com nistatina e bicabornato de sódio, tinha que fazer isso pra evitar as aftas.
Toda vez que precisava sair para fazer os exames ou a quimio tinha que colocar máscara, era horrível, me sentia sufocado, mas era necessário. Neste dia Tiago vinha pra ficar comigo e me acompanhar no hospital.
A sessão de quimio era tranquila, a galera do hospital sempre foi muito atenciosa. Fiz bons amigos enquanto recebia o tratamento, tanto de enfermeiros quanto de pessoas que assim como eu também estavam na luta. Ali se via de tudo, pessoas lutando há tempos, outros iniciando o tratamento e a aceitação, essa é a pior fase e outros que ao longo da caminhada perderam a luta para o câncer.
Meus cabelos começaram a cair com a quarta sessão de quimio, tive que raspar a cabeça, pois saia os tufos de cabelo quando passava os dedos pela cabeça, apesar de que esse não foi o trauma maior, embora logo que recebi a notícia foi a coisa que mais me apavorou.
Depois que conversei com Aline no hospital, não voltamos a falar sobre nossas diferenças, ela tinha o bebê e eu também estava recebendo poucas visitas, mesmo assim ela sempre ligava pra saber como eu estava. Também não soube mais do Roger, fiquei afastado de tudo, nem meus colegas da republica eu os via, sabia deles e me comunicava todos os dias, mas em rede social e no bate-papo.
Ju e eu estávamos juntos, mais como amigos que propriamente um casal. O efeito da quimio foi terrível pra mim, não tinha a mínima vontade de me relacionar sexualmente e os carinhos era sempre muito superficial, ele mesmo tinha cuidado pra não me prejudicar no tratamento. Tive sorte por ele conhecer os sintomas da doença e os efeitos colaterais, em alguns momentos me perguntava por que o Juliano ainda estava comigo se eu era mais um estorvo na vida dele do que propriamente um namorado.
Enquanto essas neuroses me passavam pela cabeça, ele vivia preocupado comigo, pois tinha receio que eu caísse em depressão. Até aquele momento do tratamento este foi um dos piores sintomas, pois eu me sentia impotente e longe de tudo que mais gostava que era aproveitar tudo de bom que a vida podia me oferecer.
Teve um dia que ele chegou em casa e eu estava deitado no sofá sem coragem pra nada, só sentia vontade de dormir. Tinha passado pela quinta quimioterapia e quanto mais aumentava a dose, mais o meu corpo ficava debilitado.
- Oi amor, você está sentindo alguma coisa?
- Não é nada. – respondi deitado na mesma posição que estava.
- Porque tanta tristeza? Eu fico preocupado vendo você assim.
- Estou me sentindo só e isolado de tudo, queria sair, ver gente na rua, conversar com meus amigos, nem isso eu posso.
- É para o seu bem, logo, logo você vai fazer tudo isso. Posso sentar com você?
- Pode. – levantei e ele sentou ao meu lado.
- Senta aqui no meu colo.
Eu sorri e sentei no colo dele.
Amor, você está levinho demais.
- Seco! Você quis dizer.
- É o seco mais lindo de Belo Horizonte.
- Ai você já apelou, porque além de seco estou careca.
- Sabe que estou pensando em aderir essa carequinha também.
- Humm... Acho que não vai combinar.
Começamos a rir da situação, foi bom, nesse dia ele me animou, pois eu estava muito pra baixo, inclusive havia vomitado bastante devido ao efeito da quimio.
- Ju!
- Fala amor.
- Hoje eu fiquei pensando.
- Pensou, não é bom sinal. – disse ele rindo.
- É sério, você não sente falta de sexo?
- Eu sinto vontade de ver você bom.
- Eu queria ser um namorado melhor pra você.
- Você é o melhor namorado que eu já tive, eu te amo e só o fato de estar aqui em casa sendo meu companheiro, já é o suficiente.
- E o sexo?
- Vem depois. Eu tenho certeza que logo nós vamos achar graça de tudo isso.
- Isso que eu estou passando não é brincadeira.
- Eu sei, mas você é o paciente mais consciente e querido, faz tudo conforme os médicos recomendam.
- Eu sinto falta de fazer alguma coisa, fico no computador o dia todo, queria fazer algo útil.
- Eu acho que tenho algo que pode te ajudar.
- O que?
- Vou falar com um amigo meu que tem um jornalzinho de bairro e você pode escrever pra ele, ganha um dinheirinho e se ocupa.
- Você consegue pra mim?
- Vou tentar.
- Eu te amo Ju.
Beijei-o levemente, mas logo passamos apenas para os carinhos, a minha libido estava lá embaixo, isso era horrível, me sentia culpado por não satisfazê-lo.
CONTINUA…