Bernardo [50/51] ~ Paris

Paris, 2 de dezembro de 2007

Acordei naquele domingo abrindo os olhos bem devagar. O tempo corria devagar fora da minha janela, então decidi não me apressar também. Eu não tinha nenhuma tarefa de faculdade pra fazer, me permitindo enrolar na cama por mais alguns minutos. Fazia um friozinho gostoso, mais ou menos seis graus, que era perceptível mesmo com o sistema de aquecedor do apartamento. Olhei pra cama ao lado e a encontrei vazia e desarrumada. Ricardo já devia ter levantado. Olhei no relógio e já passava das nove da manhã. Decidi me levantar, mas não sem antes dar uma boa olhada pela janela, meu novo ritual matinal. Como era fim de semana, poucos carros corriam pela avenida lá embaixo. Vesti uma roupa decente e fui até o único banheiro do apartamento fazer minha higiene matinal.

_Bonjour, bom dia, good morning, buenos dias._ cumprimentei ao entrar na cozinha.

Aquela salada de idiomas era a marca registrada do nosso apartamento. Éramos seis garotos morando num apartamento de três quartos no Treizième Arrondissement em Paris: Peter e Jonah, dois americanos, o chileno Gael, o mexicano Chico, e eu e Ricardo, o outro brasileiro. Todos nós éramos intercambistas numa faculdade de engenharia próxima ao apartamento. Não éramos todos amigos muito próximos, mas respeitávamos nossas diferenças culturais. Lógico que isso valia para os outros quatro, não pra Ricardo.

_Bom dia, Bernardinho._ falou me dando um beijo na bochecha e me arrancando um sorriso.

Os outros já tinham se acostumado com o jeito que Ricardo me tratava. Ricardo era um paulistano de vinte anos de idade. Alto e magro, como eu, ele era bem branco. Seus cabelos tinham um tom muito intenso de castanho, o que combinava com seus olhos cinzas. Mas o que mais me encantava nele era sua alegria. Diferente de Rafael que era totalmente passional, sendo extremo na alegria e na raiva, Ricardo era só alegria. Eu já o tinha visto sério, mas nunca triste. Era o tipo de pessoa que conquistava todos a sua volta, fazendo dele o líder natural da nossa turma. E ele me arrastou pro centro das atenções junto com ele. Era natural que nos juntássemos, afinal, éramos os únicos brasileiros da faculdade e dividíamos um quarto. Resultado: Ricardo virou meu novo melhor amigo. E como ele era sempre convidado pra todo e qualquer evento que um conhecido organizava, eu era sempre arrastado junto com ele. E eu conheci tantas pessoas interessantes, tantos lugares maravilhosos e tantas histórias incríveis. Eu me sentia vivo.

_E o que vamos fazer hoje?_ ele perguntou.

_Não sei._ respondi abrindo a geladeira _Deixa eu pelo menos comer primeiro que a gente decide.

_Vamos comer na rua?

_Pode ser._ falei com preguiça de cozinhar.

É caro comer na rua, ainda mais quando você é um estudante, mas nos dávamos àquele luxo de vez em quando. Vestimos nossas roupas de frio e descemos. Era um prédio antigo, sem elevador, mas logo os três andares de escada tornaram-se rotina, não incomodavam mais. Ao abrirmos a porta da rua, fomos recebidos por uma lufada de vento frio. Ricardo e eu compartilhávamos uma preferência pelo frio, então aquilo só nos animou ainda mais. Escolhemos um café próximo ao apartamento e fizemos nosso pedido. Sentamos ao ar livre mesmo, na rua.

_Como andam seus amigos?_ ele perguntou enquanto bebericava seu chocolate quente.

_Na mesma._ respondi fazendo o mesmo _Pedro continua atacando e Alice está totalmente dividida entre ele e o namorado.

_Será que esse namoro dura ainda?

_Não dou mais dois meses. Não com Pedro lutando com tanto empenho.

_Mas você é uma coisa, hein? Pondo pilha pra ele insistir.

_Você tem que ver a química entre eles. Quase soltam faíscas!_ respondi rindo _Se você visse, me daria razão.

_Eu acredito em você. E Rafael?

_Na mesma também._ respondi suspirando.

_Namorando a tal menina ainda?

_Sim...

Sim, Ricardo sabia sobre Rafael. Aliás, ele sabia sobre tudo. Logo nas primeiras semanas que eu havia chegado em Paris, eu comecei a me arrepender de ter me mudado pra França. Por mais que eu já fosse fluente no idioma, os professores falavam muito rápido e às vezes eu perdia coisas na aula, o que era frustrante. Eu não me acostumei rapidamente com a cidade, ficando perdido mais de uma vez no seu imenso sistema de metrô. E sem contar a saudade que eu senti de todos. Principalmente de Rafael, nunca havia passado tanto tempo longe dele depois que o conheci. Para os outros eu ao menos eu podia ligar ou conversar pela webcam, mas com ele, nem isso. Numa noite, depois de uma pequena reuniãozinha após a aula, eu acabei bebendo demais. Não o bastante pra dar vexame, mas foi só deitar na minha cama para as lágrimas virem. Ricardo levantou preocupado e se sentou junto comigo.

_O que foi?_ ele perguntou preocupado.

_Tudo, cara. Aqui não é como eu achei que seria. Era pra eu mudar de vida, fazer tudo diferente.

_Como assim?

E eu contei tudo. Tudo mesmo, incluindo a tentativa frustrada de suicídio. Eu nunca teria me aberto com ele sóbrio, o conhecia há tão pouco tempo, mas fiquei feliz por ter feito. Depois de ouvir tudo, Ricardo se deitou ao meu lado embaixo da coberta, me abraçou e dormiu comigo enquanto repetia:

_Você não está sozinho. Eu tô aqui.

Eu lembro de acordar de madrugada e ele ainda estar grudado ao meu corpo. Sentir seus braços apertando minha cintura e sua respiração quente na minha nunca me excitou, mas não tomei nenhuma atitude. Eu não queria confundir as coisas e estragar tudo. Apenas relaxei e aproveitei o carinho. Quando acordei de manhã, ele não estava mais na cama. Procurei ele pelo quarto e o encontrei já vestido. Ele me jogou uma roupa.

_Vamos sair._ ele avisou.

_Pra onde?

_Andar por aí._ ele me deu um sorriso lindo _Pra se apaixonar por Paris, você precisa conhecer Paris.

E aquilo se tornou nosso ritual. Sempre que tínhamos um tempinho sobrando, caminhávamos sem rumo pela cidade e conversávamos sobre tudo. Assim, eu descobri Paris e me apaixonei por ela.

[...]

Depois do café, caminhamos pelas margens do rio Sena, um dos nossos programas favoritos. Poucas pessoas faziam o passeio junto conosco. Já era dezembro, o tempo estava frio, mas nós não ligávamos. Em quase uma hora de caminhada falando sobre toda a sorte de bobagens, chegamos aos Jardins de Luxemburgo. Era um dos locais mais bonitos da cidade e elegemos ele como um de nossos favoritos. Sentei na grama e deixei que o vento frio me acertasse no rosto. Sem nenhuma vergonha, Ricardo deitou na grama com a cabeça em meu colo.

Lá estávamos, dois caras deitados juntos num local público. Naqueles momentos é que eu via como aquela cidade estava me fazendo bem. No Brasil, eu teria surtado e empurrado a cabeça de Ricardo pra longe. Mas não ali. As pessoas passavam e nem pareciam nos ver. Elas estavam muito preocupadas com suas próprias companhias pra se preocupar com a dos outros. Eu poderia beijar Ricardo ali e ainda sim ninguém nos olharia.

Era por causa daquilo que eu tinha ido a Paris. Eu poderia ser eu mesmo. Eu não precisava fingir ser uma pessoa que eu não era com medo de represálias. Ninguém ligava pro sexo da pessoa que eu gostava. Não havia o temor que algum conhecido nos visse e nos atacasse. Mesmo se um dos nossos colegas eventualmente passasse por ali, ele não se importaria. Não estávamos fazendo nada de errado, estávamos? Se fosse no Brasil, talvez estivéssemos, e essa é a grande diferença. Analisar porque países igualmente cristãos e conservadores como França e Brasil tratavam a questão da homossexualidade de modo tão diferente é uma questão social muito complexa. Mas era inegável que existisse essa diferença.

_No que você está pensando?_ Ricardo perguntou sem se levantar.

_No Brasil.

_Saudades?

_Não.

Sim, eu tinha saudade dos meus amigos, da minha família e de Rafael, mas eu não estava com saudade do meu país, e isso é uma coisa muito grave. Posso citar aqui mil problemas da França, como as constantes quedas de energia, o excesso de cigarro em qualquer lugar que você vá, ou o tempo sempre chuvoso, mas posso rebater com outros mil problemas mais graves do Brasil. Porém, mais do que as diferenças do dia a dia, era a diferença como a situação da homossexualidade era tratada que mexia comigo.

_Então?_ ele perguntou curioso.

_É que, sei lá._ falei tentando organizar meus pensamentos _Eu estou mudando, não sou a mesma pessoa que embarcou no Brasil. Foram mudanças que essa cidade me fez, e por isso eu tenho medo que elas se percam quando eu voltar. Eu tenho medo disso aqui ser somente um breve sonho.

Eu não era mais o mesmo Bernardo. Sabem aquele Bernardo que sempre me referi, aquele Bernardo de verdade que eu sempre internalizei? Então, eu achei ele. Não é como se eu tivesse mudado de personalidade de uma hora pra outra, mas alguma coisa aconteceu. E acho que essa alguma coisa foi a perda do medo. Eu era fraco e covarde, mas essa fraqueza e covardia eram frutos da prisão de medo que eu construí para mim. Mas eu não tinha mais medo. Não tinha mais pessoas pra me julgarem. Eu estava livre.

_Ora, você pode se mudar pra cá._ ele respondeu.

_Só se eu trouxesse todo mundo pra cá junto comigo.

_Inclusive Rafael?

_Inclusive Rafael.

Eu tinha a consciência que aquilo tudo era passageiro. Por mais que eu tivesse descoberto e me apaixonado por aquela cidade, eu sabia que aquele não era meu lugar. Por mais que tivesse me adaptado ao dia a dia parisiense, eu sabia que não pertencia àquela realidade. Eu tinha medo de, ao fim daqueles doces meses de intercâmbio, eu regredisse e voltasse a me fechar.

Pois pense nele como seu motivo pra você não se perder da pessoa que você está se descobrindo._ Ricardo falou _O que ele faria se estivesse aqui, deitado nos eu colo apreciando o começo do inverno nos Jardins de Luxemburgo?

_Ele nunca me deixaria sair daqui._ falei rindo.

_Pois então! O lugar não importa tanto quando a companhia vale à pena. Seja uma companhia que vale à pena quando voltar.

Ricardo sempre parecia ter as palavras certas pra me dizer. Em poucos meses ele chegou e ocupou com propriedade o posto de amigo. Eu não sei como estaria se não fosse ele.

_O que você quer fazer agora?_ perguntou.

_Que tal Montmartre?

_Pode ser.

Nos levantamos e voltamos a caminhar lado a lado. Resolvemos pegar o metrô pra atravessar a cidade, embora Paris não seja uma cidade grande (de ponta a ponta, tem doze quilômetros). Engraçado, na nossa primeira semana, conhecemos praticamente todos os pontos turísticos da cidade. Isso foi muito bom, porque dali em diante, nos ocupamos em conhecer as regiões mais bucólicas e afastadas da cidade. Entre elas, o bairro de Montmartre era um dos que mais gostávamos. Era o bairro boêmio, cheio de ruas estreitas, artistas de rua, restaurantes apertados, prostitutas e gente jovem. Não lembrava nada a imagem glamourosa que as pessoas têm da cidade, e é por isso mesmo que gostávamos. Nos sentíamos bem à vontade ali. Era uma região que os turistas gostavam por causa do Moulin Rouge e da igreja de Sacré Coeur, então Ricardo e eu andávamos bem colados um no outro, como um casal. Eu não pensava nisso, mas era a impressão que causávamos. Vejam bem, isso seria o suficiente pra me fazer pirar e despertar minha paranoia, mas não ali. Podiam pensar o que quisessem.

Uma garota negra, aparentando não ter muito mais do que a nossa idade, tocava melodias doces no seu violino. Encantando pelo seu som, eu parei e fiquei admirando a sua música. Ela me olhou e sorriu. Começou a tocar uma melodia um pouco mais animada, ainda que romântica. Ricardo não perdeu tempo, ele me puxou pra frente dele, colocou as mãos na minha cintura e começou a me guiar numa dança lenta. Eu sorri da sua ousadia e doçura, o que o fez sorrir também. Outros cinco ou seis casais ali por perto fizeram o mesmo. Sem preocupações, deixei que ele me levasse pela melodia.

Ricardo era bonito. Tinha a mesma altura que eu, mas era um pouco mais branco. Seus cabelos levemente ondulados e castanhos caíam pela bochecha e pela lateral do rosto, lhe dando um visual despojado. Ele tinha uma barba bem rala, quase invisível, que se encorpava um pouco na região do cavanhaque. Ele sempre usava roupa com um ar de batido e velho, mas que lhe davam um charme especial. Naquele dia em especial, ele usava um jeans surrado, all-star, um suéter azul-marinho, um cachecol cinza e um sobretudo preto que vinha até seus joelhos.

Eu já tinha visto Ricardo beijar um menino na festa uma vez. Não conversamos sobre isso, pois não precisava. Não tínhamos a necessidade de ficar colocando rótulos um no outro. Mais tarde, depois de lhe contar a minha história, ele me contou que namorou um garoto por três anos e terminou pouco antes de se mudar. Não caíamos na cama um do outro imediatamente como animais ensandecidos, mas sempre houve um clima entre a gente. Sempre que eu olhava pra ele e ele me sorria de volta, eu pensava “um dia...”. E acho que ele também. Nos fazíamos companhia naquela cidade estrangeira, não estávamos indo a lugar nenhum durante os próximos meses, então, por que apressar as coisas? Se fosse pra acontecer, aconteceria.

“E Rafael?” vocês dizem indignados

Rafael ficou no Brasil com Carolina. Não que eu o amasse menos ou tivesse desistido da ideia de reconquistá-lo, mas ele não cabia ali. Eu precisava viver um pouco, descobrir outros amantes e outros mundos antes de me entregar a Rafael. E eu nunca prometi fidelidade a ele, muito menos o fiz prometer.

E foi assim, numa tarde calma, fria e nublada de domingo que, ainda dançando lentamente, Ricardo encostou seus lábios nos meus. Não teve pressa, não teve medo, não teve pensamentos no futuro. Tudo o que eu sentia era o som do violino e língua dele encontrando muito de leve com a minha, num beijo extremamente romântico.

Paris me fez descobrir um novo Bernardo, um que eu sempre quis descobrir. Mas eu só consegui isso no momento que abri meu coração para aquela cidade. E era isso que eu devia fazer, deixar meu coração aberto para tudo que a vida pudesse me oferecer. Se Paris tinha me trazido um novo Bernardo, por que não poderia me trazer um novo amor?

Eu estava apaixonado pro Ricardo. Desde o primeiro momento que nos conhecemos ao desembarcarmos na França, aquele garoto foi me conquistando aos poucos com sua doçura e sua alegria. E, meus amigos, como é bom estar apaixonado em Paris!

Quando eu poderia me imaginar andando de mãos dadas com outro homem pela cidade? Havia alguns olhares? Sim, principalmente de pessoas mais velhas. Se isso já foi a morte pra mim, hoje eu encarava sem problema. Eu estava a milhares de quilômetros de casa, ninguém me conhecia, ninguém ia mudar a opinião que tinha sobre mim, ninguém iria me bater. Eu era apenas mais um estudante apaixonado na capital mundial dos estudantes. Eu estava feliz, e não conseguia lembrar a última vez que tinha estado tão feliz. Mais do que feliz, eu estava me sentindo leve. Eu ria de qualquer coisa, das cócegas que Ricardo fazia na minha mão, do jeito que ele me rodava sem avisos prévios, de quando ele me roubava beijos.

“Já esqueceu Rafael?” me questionam vocês.

Não. Eu nunca esqueceria Rafael, nem mesmo se eu quisesse. Eu amava Rafael. Mas estava apaixonado por Ricardo. Paixão e amor são sentimentos diferentes. Na minha cabeça, o amor sempre trouxe a sensação de serenidade e eternidade. O amor é construído dia a dia, com seus tropeços, erros e lágrimas no caminho. A paixão é fogo. Paixão é aquele sentimento que te consome vivo, te leva aos céus, te faz perder a cabeça, mas se extingue. Meu amor pro Rafael ia durar pra sempre, minha paixão por Ricardo não.

Não me entendem mal. Eu não beijava Ricardo pensando que ia acabar em poucos meses. Eu aproveitava o momento, afinal, eu não sabia o quanto ia durar. Nós não éramos nem mesmo namorados, éramos amigos fazendo companhia. Não éramos simplesmente uma foda fixa um pro outro, havia sentimento envolvido, só não era amor esse sentimento. Nós ainda estávamos curando nossas feridas, não estávamos prontos pra falar “eu te amo”.

_Faz muito tempo que tô querendo te beijar..._ ele falou.

Caminhávamos pra casa sem pressa naquele fim de domingo.

_E por que não beijou?_ perguntei.

_Porque eu não queria apressar nada. Você passou por muita coisa.

_Sim...

_Eu queria tentar sem medo de te machucar._ ele falou enquanto apertava a minha mão _Eu tinha que ter certeza que você não surtaria.

_Pensando por esse lado, me beijar na rua foi uma estratégia arriscada.

Nós rimos.

_Sim, mas não foi estratégia. Eu comecei a dançar com você ali no meio daquela gente toda e tive a certeza que eu procurava. Só de você me conceder aquela dança, eu sabia que você estava bem o bastante.

_Obrigado por cuidar de mim._ respondi o abraçando pela cintura.

_Não tem que agradecer. A gente tem a obrigação de cuidar de quem a gente gosta.

_E você gosta de mim?

_Muito.

Ele parou na rua e eu parei de frente pra ele. Ele me beijou bem calmamente enquanto me segurava pela cintura. Devíamos parecer dois idiotas. Estávamos os dois lá, nos beijando na cidade mais romântica do mundo, com o vento frio de dezembro sacudindo nossos sobretudos. Uma legítima cena de cinema digna das comédias românticas mais açucaradas. Mas o que fazer se a paixão nos deixa idiota?

Quando chegamos ao apartamento, estava começando a escurecer.

_Guys?_ eu chamei, mas ninguém respondeu.

Estava tudo escuro, aparentemente todos haviam saído, o que não era anormal. Passamos o olho pelos quartos e estávamos mesmo a sós.

_Parece que não tem ninguém?_ falei.

_Ainda bem.

Antes de eu me virar pra perguntar o que ele quis dizer, Ricardo me agarrou por trás. Eu ri quando percebi suas intenções. Mas a graça foi embora quando ele começou a roçar a sua barba rala na minha nuca. Fechei os olhos e senti ele arranhar de leve a minha pele. Meu pau rapidamente começou a dar sinais de vida. A última vez que eu tinha ficado com alguém foi o Tom, e já iam quase oito meses desde então. Eu estava com muito tesão acumulado.

_O apartamento é só nosso._ ele falou no meu ouvido.

Ele, ainda abraçado a mim, começou a andar comigo guiando para o nosso quarto. Assim que entramos, trancamos a porta. Ele me virou de frente e grudou sua boca na minha. Desta vez, não houve nada de romantismo no seu beijo. Ele pegava fogo e me incendiava junto, não que eu precisasse de muita ajuda pra isso. Ele vasculhava minha boca com sua língua e mordia de leve meus lábios.

_Tá calor aqui, né?_ falei enquanto tirava suas roupas.

_E vai ficar ainda mais quente._ ele respondeu enquanto tirava as minhas.

Nós dois ficamos de cueca e caímos um sobre o outro na minha cama. Ricardo tinha um corpo bonito. Ele era magro, mas era uma magreza saudável. Ele tinha as pernas bem peludas, mas no peito e na barriga, apenas uma fina camada de pelos descia até sua virilha. Se antes as muitas camadas de tecido que usávamos atrapalhava, agora eu conseguia sentir perfeitamente o seu volume roçando contra o meu dentro da cueca. Nossas últimas peças de roupa não demoraram a desaparecer também.

Eu me assustei com um pouco com pau dele. Era grande, maior que os de Rafael, Eric e Tom. Mais do que vinte centímetros tinha com certeza. E era todo perfeitinho: reto, branquinho e com a cabeça rosada.

Vai, brinca com ele._ ele falou ao me ver admirando o seu membro.

Eu não me fiz de rogado e caí de boca. Fui com tanta sede ao pote, que acabei me engasgando e o fiz rir.

_Vai com calma, eu não vou a lugar nenhum.

Sorri envergonhado e recomecei a chupá-lo, desta vez com mais cuidado. Ricardo gemia alto, como se estivesse a ponto de perder a cabeça. Ele também devia estar a um bom tempo sem sexo, pelo menos desde que chegamos à França. Eu agradeci por não ter ninguém no apartamento no momento. Eu fiquei com medo dele gozar muito rápido e parei. Voltei a subir beijando seu corpo por todo o caminho. Ele entendeu como a sua deixa e trocou de posição e começou a me chupar. Se fosse analisar friamente, não foi o melhor boquete que já ganhei, mas o celibato me fazia sentir tudo distorcidamente. Eu entendi o porque dele gemer tão alto e comecei a fazer o mesmo. Ele não demorou muito porque pedi pra ele parar se não eu ia gozar.

Ele se levantou pelado e correu até sua parte do armário, de onde voltou com uma camisinha e lubrificante. Ele me olhou com carinho e eu lhe dei o sinal que podia fazê-lo. Ele vestiu a camisinha em si mesmo e passou lubrificante. Ele ficou se masturbando lentamente enquanto me penetrava com a outra mão. Ele foi enfiando seus dedos um a um, me alargando para recebê-lo. Só aquilo já estava me fazendo ver estrelas de prazer.

_Com cuidado. Esse moço aí não parece estar de brincadeira._ eu falei apontando pro seu pau.

Ele riu com vontade e começou a me penetrar. Fazia muito tempo que não tinha feito aquilo, o último tinha sido Eric há um ano, e o pau de Ricardo era realmente bem grandinho. Doeu muito, mas com paciência ele conseguiu me penetrar. Em pouco tempo ele já bombava com vontade enquanto segurava minhas pernas no ar. Eu me masturbava muito lentamente, aproveitando cada segundo de prazer.

Louco de tesão, eu tomei as rédeas da transa. Saí de baixo dele e o puxei para o chão do quarto. Coloquei ele sentado no chão e sentei em cima dele, guiando os movimentos. Enquanto eu pulava em cima dele com vontade, ele me masturbava com uma mão e com a outra puxava a minha nuca me beijando. Não demorou muito mais tempo, e gozamos os dois ali, naquela posição. Caíamos lado a lado no chão, exaustos. Ele me deu um beijo muito carinhoso e deitou a cabeça no meu peito.

_Estávamos precisando disso._ ele falou recuperando o ar.

_Com certeza!_ respondi rindo.

Ficamos encarando o teto por algum tempo. Só então minha ficha começou a cair. Ricardo era meu amigo, meu colega de sala e meu colega de quarto. Como aquilo funcionaria?

_Como isso vai funcionar?_ perguntei.

_Não sei._ ele respondeu sem me olhar _Como você quer que funcione?

_Eu não sei.

Eu não sabia muito bem como encarar aquela situação. Era realmente novo pra mim, muito diferente das relações que tive com Rafael, Eric e Tom.

_Eu estou apaixonado por você._ ele falou.

_E eu estou apaixonado por você._ respondi.

Ele sorriu, se levantou e me beijou. Deitamos lado a lado no chão, olhando um para o outro.

_Você não esqueceu Rafael, né?_ ele perguntou.

_Não._ respondi triste _E acho que nem estou tentando.

_É normal, eu também penso muito no meu ex.

_E o que a gente vai fazer?

_Eu acho que a gente devia só deixar rolar.

_Sim... Vamos contar pros meninos?

_Acho melhor não. Não sei como eles reagiriam.

_É.

E ficamos novamente sem palavras. Ele fechou os olhos por um instante e eu fiquei admirando sua beleza, seus traços finos e delicados. O que mais me encantava era as ruguinhas que ele tinha perto dos olhos, que só se faziam acentuar quando ele sorria. Era isso que eu queria de Ricardo? Ir levando e ver onde ia dar?

_Eu vou tomar um banho._ eu falei me levantando.

_Ok.

Eu, ainda nu, me enrolei numa toalha e peguei minhas coisas. Eu sentia ele admirando cada movimento meu. Quando eu pus a mão na maçaneta pra sair do quarto, ele me chamou.

_O que foi?

Ele me olhava sorrindo.

_Você quer namorar comigo?

Ele me pegou de surpresa. No passado eu teria me embolado com um milhão de desculpas pra dizer não. Mas eu tinha deixado esse Bernardo no Brasil.

_Sim.

Ele levantou num pulo e correu até mim. Ele me prensou contra a porta e, ambos nus, recomeçamos a nos beijar. Era esse tipo de coisa que me deixava apaixonado por ele. Não tinha como escapar.

_Eu não sei no vai dar sua história com Rafael._ ele falou _Mas enquanto estivermos aqui, você é todo meu.

_Eu serei.

E voltamos a nos beijar.

Era isso. Eu estava apaixonado e namorando com Ricardo.

Lembram quando eu disse que acredito que cada pessoa que passa pela sua vida lhe ensina uma lição? Então, Ricardo estava passando e deixando a sua marca. A sua marca era me ensinar a estar num relacionamento sério com outro cara. Por mais que parecesse uma brincadeirinha de amigos, que não viam aquilo como algo sério, ainda sim era um relacionamento.

Sabíamos, por exemplo, respeitar a individualidade um do outro. Sim, vivíamos grudados um no outro, passávamos horas deitados pelos parques da cidade, visitamos cada monumento de Paris de mãos dadas, e estávamos sempre juntos nas festas que éramos convidados. Mas cada um tinha sua cama, suas coisas, seus próprios amigos, suas próprias conversas, e isso é muito importante. Isso é algo que nunca dei a Rafael, por exemplo. Por mais que eu tivesse Alice e Pedro por perto, Rafael só tinha colegas. Enquanto namorávamos, Rafael não tinha amigos, e, com as poucas pessoas de quem ele era próximo, ele não podia conversar sobre seu namoro porque eu não deixava. Eu não culpo Rafael pelo fim do nosso namoro, de jeito nenhum, mas hoje eu enxergo que ele esperou demais de mim. Ele esperou que eu fosse o seu ar e a sua comida. Ele esperou que só nosso amor bastasse. A partir do meu namoro com Ricardo, eu consegui enxergar como Rafael via as coisas. Como tudo ainda era recente, é natural comparar os relacionamentos, e nessa comparação eu via essas pequenas diferenças, que aos poucos iam me apontando um caminho pra voltar pra Rafael.

Ricardo foi uma aventura, uma paixão em Paris. Uma das lembranças mais doces que eu tenho da vida. Não teve cobranças, não teve brigas, não teve terceiros. Foi o mais perfeito sonho. Só que eu não o amava, pelo menos não o quanto eu deveria amá-lo. Meu coração era só de Rafael.

Eu nunca enganei Ricardo. Ele sempre soube sobre Rafael e como eu me sentia. Ele sabia que eu estava numa jornada pessoal pra reconquistar Rafael. Éramos (quase) adultos e sabíamos onde estávamos nos metendo. O que eu não sabia era que do mesmo jeito que eu estava disposto a tudo pra reconquistar Rafael, Ricardo estava disposto a tudo pra assumir seu lugar no meu coração. Eu não sabia ainda, mas eu estava prestes a partir o coração do melhor cara que eu já conheci.


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Ficha do conto

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Nome do conto:
Bernardo [50/51] ~ Paris

Codigo do conto:
217938

Categoria:
Gays

Data da Publicação:
13/08/2024

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2

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