Eu fiz o que deveria ser feito. Me levantei dali de onde estava, do lado de fora do portão da casa de Pedro, sequei meu rosto, suspirei fundo e entrei novamente na festa. Tentei evitar encarar alguém, mas era difícil quando todo mundo te encarava. No centro de tudo, Rafael “conversava” com Alice:
_Ficou muito claro, Alice! É só ele! Eu não posso ficar com mais ninguém!
_Tá, Rafa, vamos entrar pra você beber alguma coisa quente._ ela respondia tentando convencê-lo a entrar na casa.
Em volta, todos assistiam comentando baixo sobre o ridículo da situação. Alguns balançavam a cabeça negativamente, desaprovando o que Rafael estava fazendo (com Carolina, principalmente). Outros, a maioria, apenas riam do ridículo da situação. Não me notaram logo de cara, à medida que eu ia caminhando em direção a Rafael, eu ouvia as pessoas comentando sobre mim.
Era tudo tão surreal, parecia que nem era eu que estava vivendo aquilo. Eu não sei como explicar. O fato é que, por causa disso, nem consegui associar de imediato a opinião dos outros. O que eles estavam pensando de mim? Surpresa? Raiva? Nojo? Graça? Não sei, só fui refletir sobre aquilo mais tarde. Tudo o que eu pensava no momento era em tirar Rafael daquela situação.
_Rafael..._ falei chegando por trás dele e tocando em seu ombro.
Ele se virou rapidamente e abriu um sorriso tão grande ao me ver, que eu juro que me emocionaria se a situação fosse outra.
_Bernardo! Você viu? Eu to livre, agora! Quer namorar comigo?!
Muita gente riu quando ele falou aquilo, o que só me fez corar ainda mais.
_Venha pra dentro, Rafael._ falei puxando ele pra dentro da casa.
_Mas a festa...
_Você já se divertiu demais. Precisa de um banho gelado.
_Leva ele pro meu quarto._ falou Pedro quando passamos por ele.
Lógico que houve muito mais comentários maldosos por eu estar levando Rafael para quarto, mas tentei não pensar neles. Primeiro eu tinha que cuidar de Rafael, depois analisar friamente as implicações daquela noite.
Ao chegar ao quarto de Pedro, tomei o cuidado de trancar a porta para evitar a entrada de algum curioso. Sempre aparece alguém se fingindo de prestativo apenas para se inteirar das fofocas.
_Você quer namorar comigo, Bernardo?_ perguntou Rafael me encarando.
Era tudo o que eu queria ouvir, mas não naquele momento, não daquele jeito.
_A gente conversa sobre isso amanhã, Rafa.
_Por que? Você vai me rejeitar?_ ele perguntou com os olhos ameaçando se encherem de lágrimas novamente.
_Não, não vou te rejeitar, Rafa.
_Namora comigo, então!
Vendo que eu precisava fazer ele colaborar, eu resolvi aceitar. Não que eu estivesse levando aquele pedido de namoro a sério.
_Ok, Rafa, eu aceito seu pedido de namoro.
_Eu te amo!_ ele falou em agarrando num beijo.
Não foi o melhor dos beijos, dada toda a situação em volta, mas eu mentiria se dissesse que não gostei. O beijo de Rafael era sempre bom, em qualquer ocasião. Mas eu não podia deixar aquilo evoluir daquela forma. Se fosse pra fazer qualquer coisa, faríamos direito e não seria naquela noite.
_Tira a roupa, Rafa._ pedi quando me afastei do seu beijo.
Ele sorriu safado, lendo segundas intenções nas minhas palavras. Sempre me olhando e sorrindo, ele começou a tirar a camisa e a calça sensualmente. Devo admitir que para alguém que estava tão bêbado quanto ele estava, ele estava até indo muito bem no seu strip-tease. O corpo de Rafael estava bonito. Ele ganhou massa no peitoral e nos braços. Nada muito bombado, mas seus músculos estavam mais bem desenhados. As suas pernas continuavam tão roliças e peludas quanto eu me lembrava, e como eu sentia saudade daquela visão... Meu pau começou a dar sinal de vida, mas tentei me concentrar na minha tarefa. Entrei no banheiro de Pedro e o chamei.
_Vem tomar um banho, Rafa.
Ele correu pra dentro do banheiro e me agarrou por trás enquanto beijava a minha nuca. Mesmo eu estando de calça jeans ainda, eu pude sentir seu volume roçar em mim.
_Ainda não, Rafa.
Com alguma dificuldade, me desvencilhei dele e o empurrei pra dentro do box.
_Me dá sua cueca._ pedi.
Novamente com um sorriso maldoso, ele abaixou a cueca me encarando. Reuni todas as minhas forças para não olhar pro seu pau, que já estava duro apontando pra mim. Eu tentava não pensar naquilo. Liguei o chuveiro no frio e pedi que ele entrasse.
_Falta você tirar a roupa._ ele falou.
_Já vou. Entra primeiro.
Ele entrou e tomou um choque com a água fria.
_Tá frio!
_Eu sei...
Voltei pro quarto e catei suas roupas, que ele tinha jogado pelo chão ao longo do strip-tease. Quando voltei pra dentro do banheiro, ele já estava bem grogue e desorientado, sinal de que a água fria estava fazendo efeito. Eu mesmo tomei a iniciativa de desligar a água, enxugá-lo e colocar sua cueca novamente. Ele estava bem mole nos meus braços, quase caindo, então não tive muitos problemas com investidas dele. O coloquei na cama de Pedro e acho que, antes mesmo eu cobri-lo, ele já estava dormindo. Acariciei seu rosto e seu cabelo bem devagar, aproveitando que eu poderia olhá-lo o quanto quisesse. E como eu sentia falta de olhá-lo... De tocá-lo... De sentir o calor da sua pele...
Finalmente me rendendo ao cansaço daquele dia, me sentei ao pé da cama. Só então consegui colocar a cabeça no lugar e entender sobre as implicações de tudo o que aconteceu aquela noite.
Todos sabiam. Todos os nossos colegas agora sabiam que eu era gay e que tinha um caso com Rafa. Talvez eles já desconfiassem pelas fotos que eu tirava com Ricardo ou por raramente me verem na companhia de uma menina que não fosse Alice, sendo a única exceção o meu “período hétero” com Pedro após eu terminar com Rafael. Se antes era algo velado, agora estava escancarado, todos podiam comentar livremente sobre a minha sexualidade. Por mais que eu tivesse adotado o discurso do “foda-se”, era pesado saber que as pessoas começariam a falar mal de você pelas costas. E não era qualquer pessoa, eram pessoas que conviviam comigo a dois anos e meio e que conviveriam por mais dois anos e meio. Eu posso não falar de cada um deles aqui como falo de Alice, Pedro e Rafael, mas eles também foram importantes para mim, ainda que em menor magnitude. Como seria nossa relação? Será que me tratariam como trataram Eric, com marginalidade? Eu não sei se estava pronto para ser alvo de piadas.
Por mais que eu não quisesse culpá-lo, era impossível dizer que aquilo tudo não era culpa de Rafael. Tinha que ter sido daquele jeito? Precisava de todo aquele espetáculo? No meu planejamento, primeiro a gente ficava junto, depois ia contando aos nossos colegas aos poucos, começando pelos mais próximos. Saiu tudo ao contrário.
E Carolina? Não é segredo que nunca fui seu maior fã, ainda mais nas últimas semanas, mas nem de longe era merecia aquela humilhação. Ela foi a grande vítima da noite. E tinha mais. Carolina sempre fui a garota perfeita: linda, simpática, prestativa, carismática... E Rafael, e eu por extensão, tínhamos pisado na garota que todos amavam. Não tinha dúvidas de que lado as pessoas ficariam quando fossem forçadas a escolher.
E por último, mas não menos importante, tinha Ricardo. Ele foi embora e não queria falar comigo por um tempo. Ele disse que um dia me ligava, mas eu comecei a acreditar que ele falou só por falar. Aquele tinha sido nosso fim? Estávamos reduzidos agora a dois semidesconhecidos que só trocariam mensagens de “parabéns” nos seus respectivos aniversários? Não chorei pelos outros e pelo medo das incertezas do futuro, mas chorei muito por Ricardo aquela noite. Eu ficava relembrando cada pequeno momento nosso juntos e chorava mais pensando no quanto aquela realidade estava distante agora. Ricardo fora embora...
Lá fora, eu ouvia a festa se estender noite adentro. As pessoas pareciam ter esquecido do ocorrido. Ou talvez estivessem comentando sobre tal. Eu não sei, só sei que passei a noite chorando por Ricardo enquanto Rafael dormia profundamente ao meu lado. Alice veio duas vezes ao quarto: uma para perguntar se eu queria participar do “parabéns” e outra para me trazer um pedaço de bolo depois que eu respondi que não. Ela tentou me animar falando que Pedro fez questão que o segundo pedaço fosse pra mim (o primeiro foi dela, claro), e que falou isso em alto e bom tom para que todos ouvissem. Agradeci e comi o bolo apenas para não parecer indelicado. Devia passar das três da manhã quando ouvi as vozes baixando até desaparecer. Eu já tinha parado de chorar, mas ainda estava na mesma posição.
_Como ele está?_ perguntou Pedro se referindo a Rafael.
Por mais que eu não quisesse culpá-lo, era impossível dizer que aquilo tudo não era culpa de Rafael. Tinha que ter sido daquele jeito? Precisava de todo aquele espetáculo? No meu planejamento, primeiro a gente ficava junto, depois ia contando aos nossos colegas aos poucos, começando pelos mais próximos. Saiu tudo ao contrário.
E Carolina? Não é segredo que nunca fui seu maior fã, ainda mais nas últimas semanas, mas nem de longe era merecia aquela humilhação. Ela foi a grande vítima da noite. E tinha mais. Carolina sempre fui a garota perfeita: linda, simpática, prestativa, carismática... E Rafael, e eu por extensão, tínhamos pisado na garota que todos amavam. Não tinha dúvidas de que lado as pessoas ficariam quando fossem forçadas a escolher.
E por último, mas não menos importante, tinha Ricardo. Ele foi embora e não queria falar comigo por um tempo. Ele disse que um dia me ligava, mas eu comecei a acreditar que ele falou só por falar. Aquele tinha sido nosso fim? Estávamos reduzidos agora a dois semidesconhecidos que só trocariam mensagens de “parabéns” nos seus respectivos aniversários? Não chorei pelos outros e pelo medo das incertezas do futuro, mas chorei muito por Ricardo aquela noite. Eu ficava relembrando cada pequeno momento nosso juntos e chorava mais pensando no quanto aquela realidade estava distante agora. Ricardo fora embora...
Lá fora, eu ouvia a festa se estender noite adentro. As pessoas pareciam ter esquecido do ocorrido. Ou talvez estivessem comentando sobre tal. Eu não sei, só sei que passei a noite chorando por Ricardo enquanto Rafael dormia profundamente ao meu lado. Alice veio duas vezes ao quarto: uma para perguntar se eu queria participar do “parabéns” e outra para me trazer um pedaço de bolo depois que eu respondi que não. Ela tentou me animar falando que Pedro fez questão que o segundo pedaço fosse pra mim (o primeiro foi dela, claro), e que falou isso em alto e bom tom para que todos ouvissem. Agradeci e comi o bolo apenas para não parecer indelicado. Devia passar das três da manhã quando ouvi as vozes baixando até desaparecer. Eu já tinha parado de chorar, mas ainda estava na mesma posição.
_Como ele está?_ perguntou Pedro se referindo a Rafael.
_Me diz que foi um pesadelo._ ele falou pra mim _Me diz que eu não fiz o que eu acho que fiz ontem à noite.
Suspirei fundo e voltei a fechar os olhos.
_Sinto muito, Rafa...
_Meu Deus!
Sua voz tinha um desespero contido, o que me penalizou. Por mais que eu soubesse que a culpa de tudo era dele, que ele não deveria ter bebido o tanto que bebeu, era impossível não me sensibilizar com seu sofrimento. Fiz por ele a única coisa que podia fazer no momento: ainda embaixo dos lençóis, peguei na sua mão e a segurei. Ele a apertou forte. Rafael voltou a se deitar ao meu lado.
_O que vai ser de nós?_ ele perguntou.
_Não sei...
_Você vai estar do meu lado?
_Sempre.
Ele demorou alguns segundos antes de fazer a grande pergunta:
_Bernardo...
_Oi?
_Quer namorar comigo?
_Sim._ respondi com toda a certeza do mundo.
Ainda estávamos de olhos fechados e mãos dadas um ao lado do outro na cama de Pedro. Rafael pulou sobre mim e me forçou a abrir os olhos e encarar seu sorriso iluminado. O que veio a seguir foi um beijo de verdade, sem que álcool estivesse por trás dele. O primeiro beijo do nosso namoro. E eu o abracei forte. Eu era seu namorado. Acontecesse o que acontecesse, estávamos juntos agora e iríamos enfrentar o mundo de mãos dadas.
Por alguns minutos, me esqueci do mundo lá fora. Eu estava nos braços de Rafael novamente, de onde eu nunca deveria ter saído. Ele me beijava muito lentamente, num gesto extremamente carinhoso. Suas mãos caminhavam pelos meus braços, pelo meu rosto, pelos meus cabelos. Às vezes, ele parava o beijo e ficava me encarando com um sorriso infantil no rosto. Seus olhos brilhavam, como se lágrimas estivessem prestes a escorrer. E a cada vez que ele voltava a me beijar, o seus lábios e suas mãos ganhavam pressa. Ele arranhava de leve as laterais do meu tronco e suas mãos se aproximavam perigosamente do cós da minha cueca. Há muito eu já sentia o seu pau muito duro relar no meu em igual estado, me fazendo soltar pequenos e abafados gemidos. Ele começou a descer beijando meu pescoço e eu abri os olhos por um segundo.
“Esse teto não é meu!” pensei ao recobrar os sentidos.
O empurrei com delicadeza e ele me olhou confuso.
_Não na cama do Pedro._ expliquei.
Ele sorriu e concordou.
_E agora?_ ele perguntou.
Nesta sua simples perguntas estavam embutidas muitas outras perguntas. Como eu tinha decidido na noite passado, eu daria um passo de cada vez. Eu não tinha condições de apagar todos os incêndios que me cercavam de uma só vez. O próximo passo era tomar meu café da manhã.
_Que tal ficarmos descentes e descermos pra tomar café?
Ele concordou e levantamos, ainda claramente excitados, e fomos para o banheiro de Pedro escovarmos os dentes. Escovamos com os dedos enquanto ríamos um para o outro pelo nosso reflexo no espelho. Parecíamos dois idiotas, mas era aquela idiotice do amor, aquela coisa gostosa de se sentir. Éramos bobos apaixonados, como dois adolescentes descobrindo o amor.
Sem trocar uma palavra sequer, descemos as escadas rumo à cozinha praticamente saltitando de felicidade. Ouvimos as vozes de Pedro e Alice lá e, antes de cruzarmos a porta, fiz questão de pegar na mão de Rafael. Ele sorriu e me deu um selinho. Foi neste clima que entramos na cozinha, mal prestando atenção no que víamos. Se não fosse assim, teríamos visto que, além de Alice e Pedro, estavam sentados à mesa da cozinha mais três colegas nossos: Paulinho, Bruno e Mariana. Eu e Rafael paralisamos pelo susto, tanto é que nem soltamos nossas mãos.
Deixe-me apresentá-los. Os três eram nossos colegas de faculdade. Paulinho era o porra-louca da turma: sempre animado pra qualquer coisa que a gente chamasse ele, o primeiro a ficar terrivelmente bêbado, o que sempre dizia a coisa errada na hora errada. Inclusive, foi ele que me jogou no lago. Mas ele era um cara legal, eu gostava dele. Bruno era mais retraído, apesar de não ser tímido. Ele fazia mais o tipo misterioso. Ele não tinha nenhum beleza muito óbvia, ou um corpo espetacular, era até bem normal, mas ele tinha um ar sedutor que deixava todos caidinhos por ele. Sempre ostentou as maiores notas da turma, e era o nosso grande salvador no final de todo semestre. Mariana era “um dos meninos”. Bebia muito, falava muito palavrão, e era geralmente a idealizadora de brincadeiras de gosto duvidoso (que eram colocadas em prática por Paulinho, normalmente), mas sem nunca deixar de ser feminina. Metade dos meninos da turma era apaixonada por ela.
Enfim, eles eram a “turma do fundão”, com quem Pedro sempre andou. Dentre todos os grupos que havia na nossa turma, aquele sempre foi aquele com quem eu e Alice, um grupo a parte, mais nos identificamos. Ficávamos com um pé atrás porque sempre rolava umas piadas homofóbicas e machistas, então nunca nos consideramos realmente parte do grupo deles. Mas sempre fizemos trabalhos de faculdade juntos e tal. Nunca me pareceram o tipo de gente com a cabeça mais aberta em relação a homossexualidade, até porque sempre partiu deles algumas piadas em relação a Eric, por isso nunca me passou pela cabeça me abrir com eles. Lógico que eu sabia que, dado os últimos eventos, uma hora eles saberiam, mas não teriam sido minha primeira escolha. Eu teria escolhido gente com cabeça mais aberta, ainda que não tão próxima.
Espero não encontrar porra seca na minha cama._ falou Pedro sentado.
Não entendi se ele tentava quebrar o clima estranho na cozinha ou se realmente não percebeu o clima estranho. Bruno deu um sorrisinho maldoso e se concentrou em beber seu café. Mariana riu e deu um tapa no braço de Pedro. Paulinho não conseguia parar de olhar para a minha mão que ainda apertava a de Rafael. Quando me dei conta, soltei e me dirigi ao fogão para me servir.
_Eu devia ter colocado pó de mico na sua cama, ou você acha que eu esqueci o que você me aprontou ontem?_ falei relembrando o incentivo que ele tinha dado a Ricardo.
Ele abaixou a cabeça envergonhado, mas ainda rindo. Eu tinha que rebater a sua piada ou aquele clima só ficaria pior.
_Bom dia._ falei enfim, virado pro fogão em servindo de um copo de leite.
_Bom dia._ todos responderam.
_Melhor, Rafa?_ perguntou Alice, também sentada à mesa.
_Um pouco._ ele respondeu tímido.
Se fosse só a questão de homossexualidade, sem dúvidas Rafael chegaria ali com o peito estufado e me assumindo com o maior orgulho do mundo. O problema era que ele tinha vergonha do vexame da noite anterior. Com razão.
_Toma, vai ajudar.
Me virei e vi Alice entregando a Rafael uma cartela de comprimidos, que eu imaginei ser pra ressaca que ele devia estar sentindo. Me sentei juntos com eles e comecei a beber meu leite. Ninguém falou nada por um bom tempo.
Ninguém vai falar?_ falou Mariana _Ok, então eu falo: nunca gostei da Carolina.
Pedro riu com vontade. Alice e Bruno seguraram para não rir também. Paulinho deu um riso desajeitado, como se estivesse um tanto quanto desconfortável com aquele papo. Eu não me permiti comentar nada.
_Não é assim, gente._ falou Rafael _Eu gosto dela. Ela é uma boa menina.
_Sempre achei sem sal._ falou Mariana ignorando Rafael _Não é à toa que foi trocada por um cara.
Engasguei e saiu leite pelo meu nariz. Bruno, Pedro e Paulinho riram.
_Mariana!_ ralhou Alice.
_O que? Vamos fingir que não vimos ou ouvimos nada ontem?
_Esperem pelo menos o Rafa melhorar da ressaca antes de sabatinar ele._ respondei Alice.
_Então, vamos sabatinar o Bernardo._ falou Mariana olhando para mim _Ele quase não bebeu ontem.
Pousei meu copo na mesa com cuidado, respirei fundo e encarei com um sorriso torto. Era tudo muito desconfortável.
_Não tem muito o que contar. Eu e Rafael namorávamos. Terminamos e ele começou a namorar Carolina. Ontem ele terminou com ela, como todos vocês presenciaram. Ninguém nunca traiu ninguém. E Carolina sempre soube de tudo. Ninguém foi enganado nesta história.
_Só a gente, né?_ ela me respondeu.
_Eu sempre soube de tudo._ falou Alice para provocar.
_Eu também._ completou Pedro levantando a mão como uma criança, por pura gozação.
_E me arrependo muito de ter contado alguma coisa a vocês dois, tendo em vista a frequência com que vocês entram na minha vida pessoal sem eu pedir._ falei.
Dei mais um longo suspiro e voltei a encarar Mariana, que me olhava de braços cruzados.
_O assunto era muito delicado. Ainda é. Não ia sair falando com todo mundo sobre a minha vida amorosa. Não tem necessidade disso.
_Mas Alice e Pedro sabiam?_ respondeu irônica.
_Eu sou muito mais próximo a eles do que de vocês, vocês sabem.
_Não precisa de muita proximidade pra contar que você está namorando um outro colega nosso de turma.
_Um colega do mesmo sexo._ respondi.
Voltei a beber meu leite, mas vi que ela continuava a me encarar de braços cruzados. O fato de Rafael e eu sermos homens era a questão central do problema. Todos ficaram calados por um instante.
_Você achou o que? Que a gente ia rir de vocês?
_Sinceramente? Sim.
_Como você pôde achar que a gente faria alguma coisa assim?!
_Você fizeram com o Eric, não?
Não pretendia ir por aquela direção, saiu sem querer. Sempre tive aquilo entalado na garganta. Era uma coisa que me marcava, até porque eu ri das dessas piadas muitas vezes por medo de desconfiarem de mim.
_Bernardo..._ falou Alice como se me pedisse calma.
Em nenhum momento eu quis começar uma briga ali, até me arrependi do que disse. Mas Mariana não era o tipo de pessoa que deixa esse tipo de acusação passar em branco.
_O que esse menino tem a ver com a história?
_Tudo._ respondi tomando mais gole de leite _Ele foi meu primeiro cara.
Paulinho começou a engasgar com o pão que comia e Bruno de lhe dava alguns tapas nas costas para ajudar. Mariana me encarava com os olhos cerrados. Eu não olhava para Alice, Pedro ou Rafael, mas sentia que eles me encaravam com apreensão.
_Você não queria saber de tudo? Então..._ completei.
Nem sei bem porque estava respondendo daquele jeito, quase que brigando com ela. Eu realmente gostava dela, nunca tinha me feito mal nenhum. Acho que toda a história de Eric me deixou marcas que até hoje eu desconheço, vou descobrindo aos poucos. Mas eu não queria ir por aquela direção, decidi amenizar um pouco o discurso.
_Não estou acusando vocês de nada._ falei deixando meu copo de lado _Eric tinha problemas muito maiores do que as pessoas rindo dele pelas costas. O que aconteceu com ele foi... Uma fatalidade. Enfim, o meu ponto é: visto como vocês riam de Eric, eu tinha medo de contar e receber o mesmo tratamento.
_Não seja um imbecil! Nunca teríamos feito isso._ Mariana falou com raiva.
_Não?
_Não, porque de você a gente sempre gostou. Não me venha bancar o santo. Nunca falou de ninguém por trás? Nunca riu de um coleguinha gordo? De um coleguinha feio? Do coleguinha que vestia roupas estranhas? Você acha que as pessoas nunca me chamaram de vadia pelas costas? Ou a Alice de lésbica? Ou o Paulinho de cachaceiro? Foda-se quem acha isso! Acorda, Bernardo, as pessoas fazem isso o tempo todo, e você não é diferente. O que pega aqui é que você tomou as dores do Eric. Mas não me lembro de você defendendo ele, né?
Me calei envergonhado. Não tinha o que responder.
_Pois é! Nunca falamos mal de quem gostávamos e nós gostávamos de você. Então, não me venha com essa. Nada mudaria pra mim. Aliás, nada mudou.
Eu não tirava a razão dela. Quantas vezes não rimos de um defeito ou de uma característica de uma pessoa? E quantas vezes paramos para pensar que as pessoas se ferem com isso? Até onde o meu discurso não virava pura hipocrisia?
_Deixa ele, Mari._ interviu Alice _O Bernardo sempre teve problemas para se aceitar. Mesmo se ele confiasse que você não riria ou espalharia, ele não contaria, pois a cada pessoa que ele contasse, a coisa se tornaria mais e mais real.
Todos nos calamos. Ficou aquele clima estranho na cozinha.
_Você e Eric, hein?_ falou Bruno, enfim _Quanta coisa anda rolando por aí que a gente não tá sabendo?
_O Eric transava com o Bernardo e Rafael ao mesmo tempo, sem os dois saberem. Quando descobriram, se fingiram de namorados como forma de vingança. Só que a coisa ficou muita séria e a brincadeira virou realidade._ respondeu Pedro.
Todos olhamos atônitos para ele.
_Qual a necessidade de dar detalhes, seu imbecil?!_ ralhei com ele.
_Uai, o Bruno perguntou.
_Meu Deus!_ exclamou Mariana olhando pra mim e Rafael incrédula.
As próximas horas foram contando para Mariana detalhes do que tinha acontecido com a gente nos últimos meses, mas sem revelar nada muito mais grave. Não contamos sobre minha tentativa de suicídio, ou sobre Tom, ou sobre o beijo que eu e Rafael trocamos antes dele terminar com Carolina na noite anterior. No meio da tarde, enquanto nos despedíamos na porta de Pedro, Mariana me abraçou.
_Seu panaca, eu tô do seu lado. Para de esconder as coisas de mim!_ falou me dando um soco no braço _Vocês são lindos juntos.
Eu ri dela. O próximo foi Bruno.
_Não tenho problemas nenhum cara, cada um sabe de si. Só te desejo boa sorte com o que vem por aí.
_Obrigado._ respondi nervoso.
O último foi Paulinho. Eu quase não tinha ouvido sua voz durante todo aquele dia. Ele estava claramente desconfortável com tudo aquilo.
_Olha, é tudo muito estranho pra mim._ ele falou olhando pro chão _Mas não vou rir de você ou te bater, ou sei lá o quê. Tamo de boa.
Ele concluiu com dois tapinhas rápidos no meu ombro. Eu ri do seu jeito. Eu consegui meus primeiro aliados na longa batalha naquela eu previa para aquele semestre. Eu só precisa me entender com mais trinta pessoas agora...
Rafael ficou calado o tempo todo, ainda sob o forte efeito da ressaca. Desconfio também que as coisas que ele falou e fez na noite anterior estavam atormentando ele.
_Como vai ser?_ ele perguntou já no carro enquanto eu dirigia para sua casa.
_Não sei. Vamos enfrentar com a cara e a coragem, não tem outro jeito.
_Mas não amanhã.
_Não?
_Não. Tenho planos para nós dois._ ele respondeu com um sorriso sacana.
Era o nosso primeiro dia de volta às aulas. Aliás, eu saí de casa falando pra minha família que ia pra aula de carona com um colega. Quando saí de casa, Rafael me esperava encostado no carro, como ele fizera muitas vezes quando namorávamos. Ele estava de bermuda jeans, camiseta, chinelos e óculos escuros. Sem contar um lindo sorriso que apareceu quando meu viu. Meu coração se aquecia quando o via assim, evocando lembranças do nosso namoro.
_Bom dia._ falei me aproximando dele.
_Bom dia.
_Posso saber aonde vamos?_ perguntei, pois ele vinha fazendo mistério até então.
_Surpresa._ respondeu rindo.
_Você poderia me falar com que roupa eu devo ir.
_Você está perfeito do jeito que está.
Eu estava comum, como sempre estive, com calça jeans e camiseta, e o cabelo um pouco bagunçado. Eu estava tão feliz ali, que resolvi ousar um pouco. Olhei rapidamente em volta, vi que a rua estava praticamente deserta àquela hora da manhã, me inclinei e dei um longo selinho em Rafael. Quando em afastei, ele estava sorrindo feito bobo.
_Tudo vai ser diferente desta vez._ falei.
Antes que ele pudesse responder, eu dei a volta no carro e entrei no banco do passageiro. Quando ele entrou, ele acariciou meus cabelos com carinho. Eu pousei a mão sobre a sua perna e ela permaneceu ali enquanto ele arrancava o carro e dirigia pela cidade.
_Olha lá o que você está me aprontando, senhor Rafael._ falei.
_Te prometo que você vai gostar.
_Olha lá, hein.
Vi que pegamos a estrada rumo às cidades ao sul de Belo Horizonte, mas não falei mais nada. Deixei que ele me guiasse.
_Eu liguei para Carolina._ ele falou.
Suspirei fundo. Pelo seu tom, é claro que não tinha sido uma boa conversa. Nem tinha como ser diferente.
_E como foi?
_Ela não me deixou falar. Gritou muito, chorou muito, e mandou eu nunca mais ligar pra ela.
_Essa fuga é pra não encontrar com ela na faculdade?
_Não._ ele pensou por um segundo _Talvez. Não dela, de todo mundo. Nem pudemos nos curtir um pouco. Essa é pra gente. Renovar as energias.
Eu ri do seu raciocínio. Realmente, íamos precisar de todas as nossas forças para enfrentar o que estava por vir. Não estávamos prestes a enfrentar nossa turma simplesmente. Estávamos nos assumindo gays e namorados num contexto muito preconceituoso. Estávamos prestes a conhecer o outro lado de ser gay, o lado que nenhum de nós dois ainda tinha presenciado: risos, agressões verbais, olhares maldosos... Além do mais, tinha nossas famílias. O problema não era só a minha mãe. Meu pai e meus irmãos podia até me aceitar, mas eles não estavam preparados para me ver de mãos dadas com um outro cara e chamando ele de “meu amor”. E a família de Rafael, pois mais que já estivessem tranquilos no que diz respeito à sexualidade dele, tinha um problema muito grande comigo, embora eu ainda não soubesse naquele momento. Eles não gostaram nada de como se deu meu relacionamento com Rafael num primeiro momento, no nosso “primeiro namoro”.
_O que estamos fazendo aqui?_ perguntei.
Rafael tinha parado o carro em frente a uma enorme portaria. Estávamos fora da estrada principal há algum tempo já. Ele se limitou a sorrir pra mim de um jeito maldoso. Um homem de uniforme se aproximou do carro e Rafael abaixou a janela.
_Bom dia. Vamos passar o dia na minha casa, a número 56.
_Claro, senhor. Pode passar.
Ele se afastou e levantou a cancela, liberando a nossa passagem.
_Sua casa?_ perguntei olhando pra ele.
_Sim._ Rafael respondeu sorrindo _Quando a gente estava junto, ela ainda estava em construção. Meu pai comprou o terreno nesse condomínio fechado a alguns anos, e recentemente resolveu construir uma casa de campo. Não é nenhum lugar luxuoso, é mais um chalé pra gente passar o fim de semana.
_E quem vai estar aqui hoje?
_Só nós dois._ falou virando pra me encarar.
Foi impossível não sentir um friozinho na barriga quando percebi suas segundas intenções. Lógico que eu já imaginava que os planos de Rafael para aquela fuga incluíam sexo em algum ponto, mas a ausência de surpresa não foi o bastante para conter a ansiedade. O sexo sempre foi uma coisa tão forte com Rafael, que nossas transas sempre estiveram muito vivas em minha memória. Nem Ricardo, nem Eric, nem Tom: o melhor na cama sempre foi Rafael. Tinha uma coisa de encaixe entre nós dois, de um entender os desejos do outro com um simples olhar, do arrepio que o simples toque podia provocar... Do mesmo jeito que minha relação com Rafael sempre foi meio explosiva, nosso sexo sempre foi fogo.
_É aqui._ falou Rafael estacionando o carro.
Era uma casa pequena, mas muito bonita. Tinha traços quadrados mais modernos, cores frias e muito vidro, embora as cortinas cuidassem de preservar o interior da casa para quem via de fora. Quando Rafael abriu a casa, me deparei com um ambiente muito bem decorado, mas de aparência igualmente fria. Achei tudo muito bonito, mas o primeiro pensamento que me veio é que aquele lugar não combinava em nada com Rafael.
_Foi minha mãe que decorou._ ele falou como se lesse meus pensamentos.
_É linda.
_E só nossa.
Assim que ele falou aquilo, já foi me abraçando por trás e não ofereci a mínima resistência. Mesmo de calça, eu sentia sua ereção em mim, o que me incendiava. Eu chegava a tremer à medida que eu sentia sua barba rala arranhar a minha nuca. Ele dava pequenas mordidas na orelha e seu hálito quente arrepiava meu corpo inteiro. Suas mãos passeavam sem pressa pela minha barriga e foram suavemente me virando de frente para ele. De olhos fechados, eu esperei ansiosamente por aquele beijo. Começou com um selinho, depois outro, depois um mais demorado, depois uma leve mordida no meu lábio inferior... Sua língua entrou devagar, como se pedisse permissão, mas não havia o que permitir: eu sempre fui dele. Meu corpo sempre esteve à mercê de seus desejos. Enquanto estivemos ali nos devorando na sua sala de estar, o tempo pareceu ter parado. Nada mais importava, pois éramos a fuga um do outro.
_Vem comigo lá fora._ ele falou me puxando pela casa depois que desprendemos nossos lábios _Eu vou limpar a piscina pra gente.
_Mas eu não trouxe roupa de banho.
_Nem eu._ respondeu olhando pra trás com uma expressão de pura malícia.
Me sentei numa espreguiçadeira à beira da piscina enquanto assistia ele cuidar de tudo. Ele tirou a camisa e o chinelo, e ficou só de bermuda. Enquanto usava uma rede para limpar a piscina, eu o observava com cuidado. Eu já o tinha visto sem camisa na noite do aniversário de Pedro, mas agora era diferente. Agora eu podia olhar sem me sentir culpado por ele estar muito bêbado. Eu podia admirá-lo o quanto quisesse, afinal, ele era meu.
_Como vão as coisas em casa?_ ele me perguntou.
_Mais ou menos. Minha mãe ainda está na mesma.
_Ela continua não falando com você?
_Só o estritamente necessário. Aliás, nem parei em casa desde que cheguei de Porto Alegre.
_Mas ela está brava com você por você ter ficado com seu tio lá?
_Acho que sim, mas brigar comigo implicaria em falar comigo, então ela prefere continuar ignorando.
_Complicado... E seus irmãos?
_Laura está na dela, tem seus próprios problemas para cuidar. Quase não falei com Tiago desde que cheguei do sul, mas ele tem tentado participar mais da minha vida, ainda que eu note que ele fica um pouco desconfortável quando o assunto é minha vida sexual. Pelo menos ele está tentando, ao contrário do Caio, que continua me evitando._ dei um longo suspiro _Acho até que ele me aceitou, sabe, mas é orgulhoso demais para dar o braço a torcer.
_Então, não é melhor você tomar a iniciativa de ir falar com ele?
_Pra mim, talvez. Mas vai ser pior pra ele. Ele tem que aprender a passar em cima do próprio orgulho, pois ele vai ter que fazer isso muitas vezes na vida.
_Quer fazer ele crescer na marra?_ Rafael perguntou rindo.
_Se eu não fizer, a vida vai, e de um jeito muito pior.
Ele riu.
_O que foi?_ perguntei.
_Você._ ele veio caminhando até mim, acariciou meus cabelos e meu deu um beijo breve _Está diferente. Você cresceu tanto. Agora, você é o pilar que sustenta tudo enquanto o mundo cai a sua volta.
_E você gosta do novo Bernardo?
_Eu amo você com todos os defeitos e qualidades. Isso nunca mudou.
Ele me deu mais um beijo e se afastou sorrindo até a borda da piscina. Ele se virou de costas para mim e lentamente abaixou a bermuda e a cueca. Ele sabia que eu era maluco pela bunda dele. Ela era bem redonda, com as laterais torneadas, uma pelugem rala e uma larga marca de sunga que só valorizava o conjunto. Meu pau ganhou vida instantaneamente. Rafael pulou de ponta mergulhando na piscina. Depois de alguns segundos, ele emergiu e se apoiou na borda da piscina sorrindo pra mim.
_Não vai entrar?
_Não sei, não trouxe sunga..._ falei fazendo charme.
_Melhor ainda..._ respondeu apoiando o queixo na borda da piscina e olhando pra mim.
Eu resolvi entrar no seu jogo. Fiquei de pé e comecei a tirar minha roupa lentamente, peça por peça. Rafael não falava nada, só observava da borda da piscina. Quando fui tirar a cueca, a última peça de roupa que faltava, fiquei de costa para ele, tal como ele tinha feito comigo. Quando me virei de frente para ele, ele sorriu com o olhar preso à minha ereção. Caminhei lentamente até a borda da piscina e parei de frente para ele.
_A água está boa?_ perguntei.
_Tá ótima.
Tomei impulso e pulei por cima dele, mergulhando na água atrás dele. Assim que voltei a emergir, já senti seus braços passando pela minha cintura e me prendendo junto a ele. O seu pau já estava bem duro e roçava minha bunda, enquanto sua língua se ocupava do meu pescoço e suas mãos passeavam pelo meu pau.
_Que saudade eu estava de você..._ ele sussurrava no meu ouvido enquanto me beijava e me masturbava _Dá vontade de te prender aqui comigo para sempre.
_Não precisa ter pressa. Eu não estou indo a lugar nenhum._ me virei de frente para ele _Agora é para sempre, Rafa.
Ele sorriu e me beijou. Começou com um beijo calmo e romântico embalado pela minha resposta. Mas nossos corpos nus se esfregando naquela piscina nos aqueceu, fazendo o beijo evoluir rapidamente para uma ardente luta de línguas. Era como se um quisesse dominar o outro, fazê-lo um escravo do seu prazer. Suavemente, fui empurrando Rafael até a borda da piscina, sem parar de beijá-lo por um segundo sequer. Sem avisar, o peguei pela cintura e o levantei jogando-o para fora da piscina. Ele se assustou e me olhou sem entender o que eu tinha feito. Ri maliciosamente, me posicionei entre suas pernas e comecei a morder suas pernas. Mesmo sem olhá-lo, eu pude ver que ele riu. Rafael sentia muito prazer na parte interna das coxas, então me demorei bastante na região, intercalando beijos e mordidas. Quando comecei a brincar com seu saco, ele começou a acariciar meus cabelos. Olhei para cima e o vi de olhos fechados. Não me fiz de rogado e abocanhei seu pau. Eu estava com tanta saudade daquele corpo! Acho até que em certo ponto eu esqueci de Rafael e me concentrei apenas no prazer que eu mesmo estava sentindo ao fazer aquilo. Meu namorado gemia baixo.
Até então, ele estava sentado na borda da piscina com as pernas dentro da água. Carinhosamente, fiz ele deitar e levantei suas pernas. Ele não ofereceu nenhuma resistência. Ele tinha uma pelugem rala na bunda, mas seus pelos se acumulavam mais na sua entrada. Eu queria provocá-lo um pouco antes, mas seria uma provocação para mim também, então caí de boca ali, me deliciando com a entradinha de Rafael. Ele começou a gemer com mais força e mais alto.
_O que foi, Rafa?_ perguntei maldoso _Ela não fazia isso com você?
Ele riu, mas sem perder a ereção.
_Não...
_Quer dizer que você está a quase dois anos na vontade?
Eu falava, mas ainda brincava com seu cu com meus dedos, rodeando a região.
_Bom, digamos que eu arranjei um jeito de brincar sozinho...
Foi a minha vez de rir dele.
_Mas é mais divertido brincar acompanhado, né?
Ele riu e se levantou, ele pegou no meu rosto e me puxou para um beijo quente.
_É mais divertido brincar com você. Vem!
Ele me puxou e eu tomei impulso para sair da piscina. Ainda nu e molhado, ele foi me puxando para dentro da casa.
_Nós vamos molhar o chão, Rafa.
Ele não me respondeu, continuou me puxando para a sala e me jogou sentado numa poltrona. Ele sentou no meu colo, sem penetração, e voltou a me beijar. Ele ficava rebolando, de modo que era a vez da bunda dele ficar roçando no meu pau. Não demorou muito para ele sacar da mochila um pacote de camisinhas e um vidro de lubrificante. Rafa devia mesmo desejar aquilo há muito tempo, pois foi ele que me guiou para dentro de si mesmo. Eu ainda tinha transado com Ricardo, mas ele só tinha ficado com Carolina, e duvido muito que ele fosse capaz de pedir para ela brincar com ele naquela região. Além do mais, a saudade que sentíamos do corpo um do outro não parecia acabar. Após se acostumar com a dor, ele começou a pular no meu colo de um modo bem devagar, fazendo a coisa toda parecer ainda mais intensa. Em nenhum momento nós paramos de nos olhar. Eu acho que é o extremo da intimidade: fazer sexo de olhos abertos.
Não devemos ter demorado mais do que cinco minutos naquela brincadeira antes de gozarmos. Ele gozou primeiro em meu peito e ele mal se masturbava quando aconteceu. Vendo todo o prazer que ele estava sentindo, não me aguentei também e explodi dentro dele. Sem sair de cima de mim, ele se deitou sobre mim e encostamos nossas testas. Tentávamos recuperar nosso fôlego.
_Me desculpa..._ ele falou ainda com dificuldade para respirar normalmente.
_Pelo que?
_Por gozar rápido demais.
_Você viu que eu gozei também, né?_ respondi sorrindo _Além do mais, ainda temos o dia inteiro.
Ele riu e saiu me puxando de volta para dento da piscina. Não sei se era a coisa mais higiênica do mundo nos limparmos dentro da piscina, mas como só nós estávamos ali mesmo, nem nos importamos.
Aquele dia foi realmente uma fuga de realidade para nós dois. Esquecemos dos nossos problemas, dos nossos amigos, das nossas famílias, até dos nossos celulares. Tudo podia esperar algumas horas enquanto matávamos a saudade que tínhamos um do outro. Houve mais sexo, mais beijos, mais conversas ao pé do ouvido... Queríamos recuperar o tempo perdido.
Nós só saíamos do condomínio quando já começava a anoitecer. Rafa dirigia tranquilamente, sem pressa de chegar, enquanto minha mão repousava na sua coxa. Não havia malícia naquele gesto, eu queria apenas ficar sentindo o calor dele por mais algum tempo.
_Como vai ser amanhã?_ ele perguntou ao parar o carro na porta do meu prédio.
_Não sei. _ respondi pegando na sua mão _Vamos precisar enfrentar isso de frente.
_Tem certeza que quer participar disso? Fui eu que fiz merda, você não tem obrigação nenhuma.
_Tenho sim._ falei lhe calando com um beijo rápido _Estamos juntos agora, e seus problemas são meus problemas. Vamos fazer isso juntos.
_Obrigado._ ele falou sorrindo.
Eu o conhecia o bastante para saber que ele estava com medo. Ele sabia que tinha errado com Carolina e pagaria um preço caro por aquilo. Ele tinha sido criado numa casa na qual a homossexualidade não era tida como nenhuma anormalidade, tão pouco teve que assumir um namorado para a sociedade antes. Rafael nunca sofrera preconceito nenhum antes. Pela primeira vez na vida, ele saberia o que é ser mal quisto e mal falado por aí, julgado por coisas sobre as quais ele nunca tinha tido nenhum controle. Aquele seria um golpe duro demais para ele, talvez o maior que ele já tivesse sofrido. Era por causa disso que eu tinha que ficar ao seu lado, pois mais do que nunca ele precisaria de mim.
Não poderíamos fugir para sempre. Era hora de volta para a realidade e encará-la de frente.