Bernardo [76/77/78] ~ Meus sogros

O tempo estava estranho naquela terça-feira. Era como se uma névoa estranha pairasse no ar. Talvez ninguém mais percebesse, mas eu percebia. Aquele seria um dia estranho.

_Bernardo? Bernardo!_ me sacudiu Tiago.

Olhei para ele acordando dos meus devaneios. Estávamos em pé na cozinha tomando café da manhã.

_Hã? O que foi?

_Eu que pergunto. Tá voando aí.

_Ah, não. Só pensando.

_Algum problema?

_Nenhum que você possa me ajudar..._ comentei terminando de beber meu leite.

_Eu sempre posso te ajudar. O que foi?_ ele me perguntou sério.

_Eu sei que posso contar com você, Tiago, obrigado. Mas nesse caso você realmente não pode me ajudar. Obrigado, qualquer dia te conto o que está acontecendo._ coloquei o copo vazio sobre a pia _Deixa eu ir que o Rafa já deve estar me esperando lá embaixo.

Quando me virei para sair da cozinha, dei de cara com minha mãe me encarando sem nenhum emoção clara no rosto. Eu paralisei por alguns segundos. Ela com certeza ouviu a menção ao nome de Rafael. Ninguém na minha casa sabia que eu voltei a namorar Rafael, preferi deixar a poeira abaixar antes. Mas dentro de todo o contexto, não é impossível de se pensar que ela tenha juntado as peças quando ouviu o nome dele. Passado o meu susto, dei a volta por ela, peguei a minha mochila e saí. Antes de sair, ainda ouvi Tiago falar alguma coisa com ela, possivelmente chamando sua atenção quanto a mim.

Eu achava que a minha relação com minha mãe já estaria melhorando àquele ponto, mas não, estávamos no mesmo lugar. Nossa relação agora se resumia ao silêncio. Ela não fazia a mínima questão de reabrir o diálogo, nem eu fazia questão de lhe abrir brechas. Se fosse me aceitar, que me aceitasse por completo, eu não aceitaria migalhas de seu amor. Coube aos outros, principalmente meu pai e Tiago, tentar buscar esse diálogo, embora quase sempre falhassem.

Quando saí pela portaria do prédio, Rafael me esperava encostado no seu carro. Ele olhava para cima exibindo um grande sorriso, o qual não entendi o motivo em princípio. Ele deu um tchau pra cima. Ao chegar a rua, olhei para cima procurando qualquer coisa e nada vi de diferente.

_O que foi?_ perguntei a ele quando cheguei mais perto.

_Sua mãe estava me olhando da varanda.

_Ahh..._ respondi sem jeito.

_Ela já sabe da gente?

_Não.

Ele me olhou com um olhar vacilante.

_Mas vai saber._ completei rapidamente _Todos eles vão. Só estou esperando a oportunidade certa. Afinal, só temos três dias de namoro.

Ele riu.

_Eu posso aparecer para jantar, não sei...

_Acho que chegar com você de mãos dadas de surpresa não seria a melhor estratégia._ respondi _Deixa eu contar primeiro, depois a gente combina quando eles te conhecerão oficialmente, pode ser?

_Claro. E quando vai conhecer meus pais?

_Quando você quiser._ respondi entrando no seu carro.

_Sério?_ ele perguntou não colocando muito fé.

_Sério, uai. Não te falei, desta vez vai ser tudo diferente._ respondi e completei com um selinho demorado.

Quando me afastei, ele sorria pra mim.

_Será que sua mãe ainda está nos olhando lá de cima?

_Deixa de ser bobo._ falei rindo _Toca pra faculdade.

_Vamos lá...

Ele colocou o carro em movimento e eu vi sua expressão se fechar. Não foi preciso falar nada, pois nós dois sabíamos exatamente o que vinha pela frente. Seria o primeiro dia que encararíamos nossos colegas depois da noite do aniversário de Pedro.

Aliás, acho que não sabíamos o que nos esperava. Eu esperava recriminações, olhares maldosos, afastamentos. Não foi bem isso o que aconteceu...

Rafa estacionou o carro no mesmo lugar de sempre, mas não fez menção de descer logo. Ficou encarando o nada à frente. Me compadeci da sua aflição, até porque estávamos juntos nessa. Apertei forte sua mão, o que ele retribuiu, mas não me olhou.

_Nós vamos conseguir, amor.

_É que...

_Você tem medo.

_Tenho...

_Eu também. No fundo, ter medo é bom, significa que ainda há algo a perder.

Ele me deu um sorriso torto e um último aperto de mão antes de sairmos do carro. Caminhamos em silêncio rumo ao nosso prédio. Andávamos lado a lado, mas não estávamos de mãos dadas. Não foi combinado, apenas não achávamos necessário. Nós não precisávamos provar nada a ninguém.

Assim que começamos a nos deparar com nossos conhecidos, os olhares começaram. Mesmo quem não tinha ido à festa de Pedro, com certeza sabia tudo o que tinha acontecido via fofoca de segunda mão. Ninguém falava nada. Não riam, mas também não houve “bom dias”. Acho que, naquele primeiro momento, nem era preconceito contra a gente. As pessoas simplesmente não sabiam como nos tratar. E isso não era bom, pois não deixamos de ser as pessoas que eles conheciam a quase três anos, não nos tornamos nenhuma aberração. Acho que essa é grande consequência de sair do armário, comum a praticamente todos os gays: aos olhos dos outros, você deixa de ser quem sempre foi.

Há certos golpes da vida que, por pior que sejam, te deixam mais forte. Foi assim comigo com a surra que o pai de Tom me deu. Sofrer de uma forma tão extrema de preconceito, te anestesia a olhares e piadinhas. Lógico que não atingi esse “patamar” da noite para o dia, vocês já conhecem a minha história até esse ponto. Não seria assim com Rafael.

Eu olhei para Rafael, mas ele não me olhou de volta. Ele estava tentando se fazer de forte, para mim e para os outros, mas não estava conseguindo. Para quem conhecia ele tão bem quanto eu, estava claro que ele estava prestes a desabafar. O queixo tremia, as mãos estavam vermelhas tamanha era a força com que ele as fechava, seu olhar era vazio... Ele estava sofrendo e, talvez pela primeira vez na vida, ele não tinha permissão para extravasar isso. Ele tinha que sofrer calado. Eu queria poder lhe dar a mão e falar que ficaria tudo bem, mas acho que só pioraria a situação. A cada pequena rodinha de conversa que se calava quando passávamos, Rafael se retraia mais.

Eu tinha medo do que aconteceria quando chegássemos na sala. Felizmente, meus amigos já tinham planejado tudo com antecedência. Antes que eu me desse conta, Mariana surgiu do nada, me deu o braço e saiu caminhando pela corredor que levava à nossa sala, falando sobre qualquer assunto aleatório. Olhei para trás, e vi Bruno com o braço por cima do ombro de Rafael seguindo a mesma estratégia. Eu ri discretamente. Era como se quisessem mandar um recado para os outros: estamos com eles, a briga deles é nossa também. Eles foram nos guiando até uma pequena roda de conversa perto da nossa sala, onde estavam Alice, Pedro e Paulinho.

_O semestre nem começou e vocês já mataram aula?_ perguntou Pedro.

Era só pra descontrair, com certeza Alice tinha contado da minha fuga com Rafael para ele.

_Estávamos de folga de você, já que grudou na gente o fim de semana todo.

_Vai se fuder!_ ele respondeu fazendo todos rirem.

E logo começamos um papo sobre qualquer coisa. Bruno e Mariana realmente agiam como se nada tivesse acontecido. Paulinho estava um pouco retraído, ainda mais quando Pedro insistia em piadas sobre meu namoro com Rafael, mas aos poucos ele parecia ir aceitando melhor a situação. Notei que, estrategicamente, na nossa roda de conversa, eu e Rafael estávamos posicionados de modo que ficássemos de costas para a porta. Quem chegava nos via ali, juntos e socializando normalmente, mas nós não os víamos. Ou melhor, não víamos seus olhares. Quando íamos entrar na sala, segurei a Alice pelo braço.

_Isso foi ideia sua, né?_ sussurrei.

_Claro. O que seria de você sem mim?

E saiu rindo, o que me levou a rir também.

Ao entrar na sala, a primeira coisa que notei é que Carolina não tinha ido à aula. Não era difícil pensar num motivo para isso... Alice já tinha me contado que ela não fora no dia anterior também. Rafael com certeza também tinha percebido, e eu imaginava o peso da culpa que ele devia estar sentindo. Ele estava sentado no canto da sala cercado por Alice, Pedro, Bruno, Mariana e Paulinho, com um lugar reservado para mim ao seu lado. O problema é que Rafael não fazia parte da “nossa turma”. Ele sempre se deu bem com todo mundo, com a sala toda inclusive, mas ele nunca foi do nosso grupinho. Aqueles eram meus amigos, não os dele. Os dele estavam no outro lado da sala e conversavam baixinho. Não era difícil imaginar o assunto... Me penalizei por Rafael. Será que nenhum de seus amigos viria mostrar apoio?

Dentro do possível, o dia na faculdade transcorreu normalmente. Nós sete ficamos junto o tempo todo, como se para mostrar o quanto estávamos unidos naquela batalha. Fiquei muito agradecido por ter amigos como aqueles. Valiam ouro.

Alguns outros colegas nos cumprimentaram, a medida que o dia foi passando e o susto também, mas ninguém comentou nada sobre o vexame de Rafael na festa ou sobre nosso relacionamento. Ele se declarara para mim, nós matamos aula juntos e agora chegamos juntos. Não precisava de palavras para todos entenderem que estávamos juntos.

_Podemos ir para a minha casa?_ perguntou Rafael quando íamos embora no final da tarde.

_Claro. Quer que eu leve o carro?

_Se você puder.

Eu dirigi o carro dele até a sua casa. Ao entrar no carro, ele já foi ligando o rádio em um volume um pouco alto demais. Entendi que era um recado que não queria conversar ali, então respeitei e não disse nada.

_Vamos pro meu quarto._ ele falou quando entramos no seu apartamento.

_Seus pais não vão se incomodar?

_Estamos sozinhos. E a gente deixa a porta aberta para casa apareçam de repente e não tirem conclusões precipitadas.

_Certo.

Ao entrar no seu quarto, eu tirei o meu tênis e deitei em sua cama, me apoiando na cabeceira. Aparentemente sem muito ânimo, ele tirou a roupa toda e colocou uma confortável. Ele não disse uma só palavra enquanto fazia aquilo tudo e vinha deitar em meu colo. O abracei com um braço enquanto usava a outra mão para acariciar seus cabelos. Ficamos um tempo daquele jeito antes dele conseguir falar alguma coisa.

_Vai ser sempre assim?_ ele perguntou com a voz embargada de choro.

_Acho que não..._ respondi sem muita certeza _Acho que foi o choque. Eles vão se acostumar.

_E se nunca se acostumarem?

_Nós os cortamos da nossa vida.

_Simples assim?_ ele perguntou com uma risada triste.

_O que mais poderíamos fazer?

Ele se apertou ainda mais em meus braços.

_Chega a ser irônico...

_O que?_ perguntei curioso.

_Fui eu que sempre pus pressão pra gente se assumir. Eu achava que todos nos aceitariam bem... Acontece que foram justamente os seus amigos que nos aceitaram, enquanto os meus...

_Você precisa dar um tempo a eles.

_Vou dar, mas não acho que eles mudarão seu comportamento.

_Rafael...

_Porque não é simplesmente por eu ser gay..._ ele fez uma pausa dolorida _É que eles estão do lado da Carol. E eu não posso culpá-los por isso.

_Você vai precisar conversar com ela.

_Ela não quer me ouvir.

_Então você vai ter que força-la a te ouvir. Vocês precisam dessa “conclusão”. Caso contrário, não conseguirão seguir em frente.

_Você acha que ela me perdoaria?

_Que outra opção ela tem? Viver amargurada o resto da vida?

_Eu vou ligar para ela mais tarde.

Ele deu um longo suspiro.

_Obrigado por estar aqui, Bê. Eu nunca conseguiria sem você.

_Estamos nessa juntos. É nossa batalha

_Que bobo eu fui. Tão inocente ao achar que todos nos aceitariam tão bem... E olha só, é você quem está sendo minha rocha agora.

_E eu só cheguei aqui quando percebi que o problema nunca fui eu, mas sim os outros. É libertador.

_Um dia você me leva para conhecer essa Paris que te fez tão bem?

_Prometo!

Ele se virou para trás. Ele sorria, mas seus olhos estavam molhados de lágrimas.

_Eu te amo, Bernardo.

_Eu também te amo.

Ele me deu um beijo muito suave e romântico. Nos separamos ao ouvir o som da porta do apartamento se abrindo.

_Pronto para conhecer sua sogra?_ ele me perguntou travesso.

_Que outra opção eu tenho?_ perguntei ansioso.

_Vamos lá._ falou me pegando pela mão e me puxando para a cozinha.

A cada passo que dávamos, aumentava a minha sensação de frio na barriga. Todas os meus encontros com a mãe de Rafael tinham sido “estranhos”, se posso dizer assim.

_Rafael, vai querer o que para jantar?_ ela falou com a cabeça dentro da geladeira, sem nos ver.

_Mãe...

_O que?

Ela fechou a geladeira e seu olhar nos encontrou de mãos dadas. Não sei bem como descrever seu olhar para mim naquele momento. Não era de ódio, ou raiva, ou ciúme. Mas também não me senti acolhido. Acho que a palavra que melhor descreveria seu olhar era desaprovação.

Foi uma situação extremamente desconfortável. Por mais que a mãe de Rafael sorrisse para mim, tinha algo de estranho naquele sorriso. Sim, era falso, mas ela não estava fingindo para mim e sim para Rafael. Ela parecia querer deixar bem claro para mim que ela não estava feliz com nosso namoro.

_Mãe, esse é o Bernardo._ falou Rafael.

_Eu sei, meu filho. Ele já veio aqui, lembra?_ ela respondeu sem tirar os olhos de mim.

_Mas é a primeira vez que ele vem como meu namorado.

Ela arqueou as sobrancelhas ao ouvir aquilo. Não que ela esperasse outra coisa depois de nos ver de mãos dadas.

_E suponho que isso nada tenha a ver com você terminar seu namoro com a Carol?_ ela perguntou irônica.

Rafael abaixou a cabeça envergonhado. Meu primeiro impulso foi defendê-lo, mas eu me contive. Era a mãe dele e eu precisava causar uma boa primeira impressão, por mais que eu acreditasse que esse momento já tivesse passado.

_De qualquer jeito, prazer, Bernardo._ falei me adiantando e lhe estendendo a mão.

Ela me deu um comprimento leve, quase que nem tocando a minha mão, embora ainda sorrisse para mim.

_Joana.

Rafael voltou a levantar a cabeça e ficou encarando a mãe, que completou:

_Você fica para jantar, Bernardo?

_Sim, ele vai!_ respondeu rapidamente Rafael.

Eu não queria. Ia dar qualquer desculpa e ir embora. O clima ali não era o mais amistoso possível, e eu interpretava isso como um choque da parte dela por ter sido pega de surpresa. Mas não era, ela realmente tinha algo contra mim.

_Ótimo!_ ela respondeu _Daqui a pouco eu chamo vocês.

Ela se virou para dentro da geladeira novamente e eu podia jurar que seu corpo estava todo travado. Antes que pudesse tirar qualquer conclusão mais profunda, Rafael já estava me puxando de volta para o seu quarto.

_Cinquenta por cento da tarefa concluída._ comentou rindo _Agora só falta meu pai.

_É..._ respondi ainda desconcertado.

Eu disfarçava muito mal o que sentia para Rafael. Eu me entregava com um olhar.

_O que foi?

_Nada, Rafa. Bobeira minha.

_Não, estava tudo bem. Você ficou assim depois de encontrar com minha mãe. O que aconteceu?_ perguntou sério.

_Não sei..._ me sentei em sua cama _Sei lá, parece que ela não gostou de mim.

_Que bobagem! Você já encontrou com ela antes.

_Nunca como namorados.

_Minha mãe está tranquila quanto à minha sexualidade.

_Eu sei, eu sei... Não acho que seja isso.

_Então?

_Acho que o problema é comigo.

Rafael riu e me deu um selinho, como se dissesse “que bobeira, amor“

É sério._ falei.

_Por que ela não gostaria de você?

_Sei lá. Você namorava Carolina, uma menina linda e gente boa que ia dar muitos netos a ela, e agora...

_Não tem nada a ver, amor. Minha mãe não é dessas. Até porque minha irmã e meu cunhado já estão encomendando o primeiro neto.

_Tá. Eu não sei o motivo, mas senti que ela não gosta de mim.

_Não tem porque ela não gostar de você..._ ele respondeu, mas foi perdendo a voz.

Rafael ficou fitando o vazio pensativo.

_O que foi, Rafa?

Ele abriu a boca pra respondeu algo, mas pareceu não saber como começar a falar. Felizmente, eu já sabia interpretar Rafael muito bem.

_Por que sua mãe não gosta de mim?_ perguntei sério.

Ele coçou a cabeça, sem jeito. Ele caminhou lentamente até a cama e se sentou ao meu lado.

_Lembra que eu te falei que contei pros meus pais sobre você só depois que a gente terminou?

_Sim.

_Então, não te dei os detalhes, dei?_ perguntou tentando soar brincalhão para descontrair.

_O que aconteceu, Rafael?_ perguntei ainda mais sério.

Ele deu um longo suspiro e começou.

_Lembra da noite que terminamos? Na festa dos seus pais?_ fiz que sim com a cabeça e ele continuou _Então, vim pra casa a pé.

_Mas estava caindo uma tempestade naquele dia.

_Sim... Então, imagina a cena: eu entro em casa e meus pais me veem molhado até os ossos, com olhos vermelhos e uma expressão de quem parecia ter acabado de enterrar seu animal de estimação.

_E..._ falei pedindo para ele continuar, mesmo sabendo para onde aquilo caminharia.

_E eu contei tudo._ falou meio envergonhado _Eu estava mal, magoado com você. Então, eu posso ter te pintado meio que como o vilão da história...

_Rafael!

Me levantei bruscamente da cama e fiquei dando voltas no quarto com as mãos no rosto. É lógico que ela não gostava de mim! Eu fiz o filho dela sofrer por meses enquanto namorávamos!

_Desculpa, desculpa, desculpa._ ele pediu me abraçando por trás.

Relaxei e aceitei o abraço. Não tinha pelo que desculpá-lo.

_Você não fez nada de errado, amor._ falei com a voz cansada _Eu meio que fui o vilão da história enquanto namorávamos. Não faz sentido estar numa relação se não for pra crescer como indivíduo, e ao meu lado, você só regrediu.

_Não é bem assim, Bernardo...

_É assim, sim, Rafa. Eu fui um péssimo namorado._ eu me virei ficando de frente para ele, a ponto de me ver refletido em seus olhos _Você me perdoa por ter sido um péssimo namorado?

_Não tem o que perdoar, amor. Sim, você tinha atitudes que me deixavam mal, mas eu escolhi ficar mesmo assim. Eu te amava, mas em nenhum minuto deixei de me amar a ponto de alimentar uma relação doentia. Tanto é que quando cheguei ao meu limite, terminei com você, não fiquei dando murro em ponta de faca.

Ele me apertou ainda mais em seu abraço e encostou sua testa na minha.

_Você me perdoa por ter terminado com você?_ ele perguntou _Por não ter permanecido ao seu lado? Por não ter segurado sua mão?

Eu lhe dei um demorado selinho.

_Não tem mais o que ser perdoado aqui. Não é uma retomada do nosso namoro, é um novo começo. Se aprendemos com nossos erros, não há porque pedirmos perdão por eles.

Rafael sorriu e me beijou carinhosamente. Só nos separamos ao ouvir a porta do apartamento se abrir novamente. Seu pai havia chegado. Dei um longo suspiro.

_Eu vou falar com eles, amor. Eles vão entender._ falou Rafael ao ver minha expressão de desânimo.

_Tudo bem, Rafa. Acho que isso não vai ter que partir de você, mas sim de mim. Eu vou ter que provar para eles que não vou te magoar. E não vou conseguir fazer isso num jantar, vai ser com nossa convivência. Até lá, faz parte engolir uns sapos._ falei tentando parecer confiante.

Ele fez um cara de culpado.

_Eu passo muito pior com minha mãe diariamente, amor._ falei _Seus pais são fichinha.

Ele riu sem graça, mas não tentou rebater.

_Vamos lá conhecer seu pai?_ falei.

Ele pegou minha mão e me guiou até a sala. Os pais de Rafael cochichavam bem baixo, e pararam quando nos viram. Sem sombras de dúvidas, eu era o assunto. O pai de Rafael fingiu melhor que estava feliz em me ter como genro. Veio me oferecer a mão com um sorriso diplomático no rosto.

_Você deve ser o Bernardo. Eu sou Edgar.

_Prazer.

Edgar era um tanto baixo e acima do peso, apesar de não ser exageradamente. Contrastava com a esposa, que era bem magra. Rafael era uma mistura dos traços dos dois. Diferente de meu pai, meu sogro parecia ser um daqueles senhores muito simpáticos, do tipo que fazem um churrasco reunindo a família e os amigos todo fim de semana.

_Sente-se, por favor._ falou me apontando o sofá.

Eu estava nervoso com a situação, mas atendi seu pedido e sentei no sofá. Rafael se sentou ao meu lado, mas não segurava mais minha mão. Seu pai se sentou de frente para mim. A mãe de Rafael voltou sua atenção para a preparação do jantar.

_Então você é o famoso Bernardo..._ ele falou me encarando.

_Espero que seja uma fama boa._ respondi e ele riu.

A risada dele indicava mais que minha fama não era boa, do que ele tinha achado graça do meu comentário.

_Rafael comentou por alto que você estava em Paris.

_Sim, passei um ano lá no intercâmbio. Voltei a um mês.

_E já estão namorando de novo? Não conseguiram se separar?

Ele falava tudo num tom de brincadeira e eu ria. Mas havia indiretas ali. Eu tentava não deixar a bola cair. Rafael não dizia nada, apenas nos observava. Decidi usar aquela conversa para tentar abrir os olhos deles de que eu não era o mesmo que machucara Rafael no passado.

_Na verdade, minha viagem foi uma promessa que fiz pro Rafael.

_É mesmo?

_Sim. Eu fui com a intenção de me entender melhor, de aprender a gostar de mim mesmo. Só assim eu conseguiria ser o namorado que ele merece._ completei alisando a mão de Rafael.

Rafael sorriu tímido para mim. Não olhei de imediato para meu sogro, nem pra minha sogra que disfarçava (mal) que estava prestando atenção só na comida. Eu não sei como tive coragem de falar aquilo. Eu estava muito nervoso de conhecer os pais do meu namorado, então evitaria aquele tipo de situação, com demonstrações claras de carinho. Mas eu me vi impulsionado a fazer aquilo. Eu precisava mostrar a eles que eu havia mudado.

_E conseguiu?

_É uma jornada sem fim. Mas eu acredito já ter evoluído o bastante.

_Evoluiu muito. Agora é o Bernardo que virou a cabeça do namoro._ falou Rafael.

_Como assim?

_É uma situação nova pra mim, pai._ Rafael respondeu _Por mais que eu tenha sempre idealizado, nunca realmente cheguei a namorar outro homem. Assumir, andar de mão dada, ser visto como casal. Bernardo já. Ele está sendo minha rocha nesses dias.

Eu percebi que Rafael tinha uma relação muito aberta com os pais. Por mais que meu pai já soubesse de mim, eu ficaria muito envergonhado de falar com ele abertamente do meu namoro daquela maneira.

_O que aconteceu?

Edgar mudou o tom de simpático-irônico para preocupado. Rafael abaixou a cabeça relembrando o dia que tivemos.

_A gente assumiu nosso relacionamento para a turma, e o pessoal que andava com Rafael se afastou dele._ respondi.

O resto do jantar foi sobre conversas sobre aquele tema. Seus pais ouviam e lhe davam conselhos. Eu dava uma ou outra opinião, mas procurava concentrar minha atenção no meu prato de comida. Constatei que eles tinham uma relação bem aberta, conversavam sobre tudo. Foi impossível não sentir uma pontinha de inveja. Quem sabe um dia eu não faria parte daquela família? Eu respondi mais algumas perguntas vagas sobre Paris e sobre a minha família, mas não quis dar muito detalhes. Não queria parecer desesperado pela aprovação deles. Eu tinha que fazê-los se acostumarem aos poucos com a ideia de que eu e Rafael estávamos juntos para valer.

Ainda era uma segunda-feira, mas eu já estava cansado como se estivesse no fim do semestre. Era a realidade caindo sobre a minha cabeça. Era muita coisa para se equilibrar no meu jogo de malabares. Tinha nossos colegas, minha família, a família de Rafael. Tinha Ricardo, que não tinha mais me dado notícias e deixava meu coração apertado. Procurei descansar o máximo possível, pois todos os meus problemas estariam de volta no dia seguinte. Todos eles se tratavam de longas lutas que travaria nos próximos meses.


Os dias foram passando e nada mudou para mim e Rafael: nossos apoiadores eram o mesmo na faculdade, minha mãe ainda me ignorava e meus sogros ainda não gostavam de mim. Carolina ainda não tinha aparecido na aula, e isso era uma fonte de preocupação para Rafael. Aliás, mais uma, porque ele continuava sendo atingido pela indiferença e afastamento dos nossos colegas. Eu até entendia que a questão da traição à Carolina era até maior que a questão da homossexualidade em si, mas o mínimo que Rafael merecia deles era uma boa conversa. Eu engolia as críticas porque nunca passaram de colegas de sala para mim, mas Rafa sempre saía com eles e tinha uma relação muito mais próxima. Bom, é nessas horas que a gente conhece os amigos de verdade.

O semestre mal havia começado e eu já estava louco por um descanso. E ele veio a cavalo: no dia 15, uma sexta-feira, foi feriado municipal em Belo Horizonte. Um feriado prolongado era tudo o que eu precisava no momento, uma breve pausa nos meus problemas. Eu adoraria passar esse feriado coladinho ao meu namorado, sem fazer absolutamente nada, mas não era isso que ele precisava no momento. Rafael precisava se sentir querido novamente. Não tive dúvidas antes de convidar Alice, Pedro, Paulinho, Bruno e Mariana para passarem o feriado conosco.

_Pai? A casa de Macacos vai tá livre no feriado?_ perguntei pro meu pai um dia pela manhã.

O meu avô paterno tinha construído uma casa em Macacos, um pequeno distrito próximo a Belo Horizonte, para poderem passar o fim de semana de vez em quando. Meu avô havia morrido e minha avó nunca fora muito fã daquela casa, de modo que ela acabou ficando para os filhos. Ela sempre acabava estando cheia, pois meus tios ou primos sempre iam para lá.

_Acho que sim, por que?_ ele respondeu sem me dar muita atenção.

_Tô querendo levar uma turma de amigos para passar o fim de semana lá.

_Deixa eu confirmar com seus tios e te falo.

_Obrigado!

E realmente estava vazia. Na quinta-feira à noite, eu estava arrumando minhas coisas no quarto quando meu irmão mais velho entrou.

_Você tá indo pra Macacos?

_Sim, amanhã cedinho.

_Beleza, você me dá carona, então.

_Pra onde?

_Pra Macacos, ora!

Cocei a cabeça olhando para Tiago. Eu não sabia se ainda era a hora de apresenta-lo a Rafael. Afinal, a ideia da viagem era fazer Rafael esquecer nossos problemas, e isso incluía a minha família.

_A casa tá cheia, Tiago._ falei tentando escapar.

_Seus colegas dormem nos colchonetes, ninguém liga pra essas coisas.

_Mas você não tinha planos pro feriado?

_Não tô afim de viajar pra longe, nem passar em branco. Sua ideia veio a calhar.

_Mas Tiago..._ falei pensando numa desculpa.

_O que? Não quer que eu vá?_ perguntou meio brincando, meio ofendido.

Ele estava forçando uma reaproximação entre nós quatro, e eu apreciava muito a iniciativa, mas não era a ideia do fim de semana. Com medo de magoá-lo, decidi abrir o jogo com ele.

_É porque Rafael vai.

Ele sabia que eu tinha voltado a namorar Rafael, mas não pediu para eu apresenta-los imediato. Ele ainda estava se acostumando com a ideia, então não forcei nada. Até porque, dentro de casa, Tiago era o menor dos meus problemas.

_Ahh...

Ele falou como se agora entendesse o que estava acontecendo.

_É um fim de semana romântico, então?_ perguntou fingindo mal que estava levando na boa.

_Não exatamente. Realmente vai uma turma, mas todos lá já sabem sobre a gente, então não vamos ficar escondendo.

_Então, não tem problema eu ir, né?_ ele respondeu sorrindo.

_Você vai ficar desconfortável, Tiago.

_Lógico que não, já te falei que eu tenho um passado._ ele respondeu abaixando o tom de voz para ninguém nos ouvir.

_É diferente. Eu e ele não somos parceiros de cama, somos namorados. A gente vai se tratar como namorados na frente dos outros.

_E eu vou trata-lo como seu namorado, sem problema.

_Tiago...

_A gente sai de manhã!_ falou saindo do quarto antes que eu pudesse argumentar.

Cocei a cabeça e liguei para Rafael avisando. Ele achou que não faria mal, até gostou da presença de Tiago. Falou que faria ele se sentir mais meu namorado ainda, pois estaria sendo oficialmente apresentado à minha família. Ri do seu pensamento, mas fui deitar tenso. Eu sabia que Tiago nunca brigaria com Rafael, mas eu tinha medo de rolar um constrangimento entre eles, fazendo com que nenhum de nós três aproveitássemos o fim de semana. Quando me acostumei com a ideia, tive uma outra surpresa pela manhã:

_E ele vai ficar aqui sozinho, pai?_ falava Tiago.

_Eu já tenho quase 18 anos!_ respondeu Caio raivoso.

_Quase!_ rebateu meu irmão mais velho.

_Eu não quero ir e pronto!

_Caio, coopera._ respondeu meu pai sem alterar a voz _Laura e Tiago estão indo. E eu e sua mãe estamos indo pro sítio.

_Mas pai!_ Caio respondeu quase entrando em desespero.

Eu entendi o que estava acontecendo, mas torcia para estar entendendo errado.

_O que está acontecendo?_ perguntei temoroso.

_Caio e Laura vão com a gente também!_ respondeu Tiago eufórico.

Deixei os ombros caírem de desânimo. E eu não podia nem argumentar, porque chamaria a atenção do meu pai e da minha mãe (que estava em algum lugar da casa).

_Vai indo, Bernardo._ completou Tiago _O Caio vai demorar a se arrumar. Nós três vamos no meu carro.

Peguei minha bagagem, a chave da casa e saí rumo à casa de Rafael busca-lo. No caminho, ele ficava me falando que ia dar tudo certo. Mas meu fim de semana já tinha ido por água abaixo. Se Tiago não criasse nenhum desconforto, Caio com certeza iria. Não consegui me animar nem quando paramos no supermercado e Pedro e Paulinho ficavam fazendo palhaçadas enquanto compravam bebida.

A casa da minha família era grande e espaçosa, apesar de não ter nenhum luxo. Eram quatro suítes, mas pequenas, feitas somente para as finalidades básicas mesmo. A decoração e o acabamento eram simples também. Vovô decidiu gastar mais com as áreas comuns: uma grande cozinha, uma sala enorme que ocupava quase que o primeiro andar inteiro da casa, uma convidativa área de churrasqueira, piscina e quadra de vôlei, além do enorme gramado.

Eu fiquei com um suíte e deixei outra para Pedro e Alice. Tiago dividiria uma com Caio (eles que se entendessem depois) e Mariana ficaria com Laura. Paulinho e Bruno dormiriam na sala. Tudo acertado, fomos acender a churrasqueira e colocar as bebidas para gelar. Aliás, eles foram fazer isso, porque eu fiquei sentado na varanda esperando meus irmãos chegarem. Eu estava preocupado.

_Seus irmãos vão tratar bem Rafael._ disse Alice se sentando ao meu lado.

_Tiago e Laura eu sei, mas tenho medo do que o Caio vai aprontar.

_Acho que ele não vai aprontar nada, não vai ter coragem com todos nós aqui.

_Ele não liga pra essas coisas. Se tiver que brigar, vai fazer na frente de todos vocês. Acho até que ele prefere uma plateia.

_A cada coisa que você me conta do seu irmão, fico mais apaixonada por ele._ ela respondeu irônica.

_Minha esperança é que ele esteja revoltado o bastante para se trancar no quarto durante o fim de semana todo

A grande questão aqui é que Caio não sabia que Rafael era meu namorado. Tiago sabia e Laura adivinharia ao nos ver juntos novamente. Meu irmão mais novo descobriria ao me ver entrando no quarto com Rafa, afinal, nele só tinha uma cama de casal. Eu me perguntava se deveria tentar conversar com ele antes, alertá-lo.

_Eles chegaram._ avisou Alice.

O carro de Tiago vinha fazendo a curva. Caio saiu pela porta de trás e passou por mim e Alice sem nos olhar ou cumprimentar. Ouvi seus passos subindo a escada apressado e a porta do único quarto vazio, o que ele dividiria com Tiago, bater forte.

_Encantador!_ comentou Alice ao meu lado.

Laura e Tiago sorriam, mas para Alice, não para mim. A gente vivia junto, não precisávamos ser cordiais um com o outro também.

_Oi, Alice._ falou Laura cumprimento-a.

_Oi, Laura. Tiago.

_Oi, Alice, tudo bem?

_Tudo.

_Laura._ falei _Tudo bem para você dividir o quarto com uma colega nossa? Ela é super tranquila.

_Claro, sem problema._ e foi entrando na casa.

Assim que ela entrou ouvi seu grito.

_Rafael?! Você por aqui? Que tudo!

Ri acompanhado de Tiago e Alice. Era a primeira vez que vi Laura em seu estado normal de humor desde aquele dia no hospital. Fiquei feliz por minha irmã estar conseguindo seguir em frente.

_Já que a ideia de trazer o Caio foi ideia sua._ falei olhando para Tiago _É você que vai dividir o quarto com ele.

O sorriso de Tiago murchou.

_O que? Não..._ respondeu desanimado _Ele dorme na sala.

_Já tem gente lá, não vou deixar ele incomodar meus amigos. Ele é sua responsabilidade.

Ele balançou a cabeça conformado e me acompanhou com Alice para dentro da casa. Alice e Rafael trocavam figurinhas em pé na sala. Os dois tinham ficado próximos quando nós namorávamos, mas tinham perdido contato depois que terminamos. Agora estavam se colocando a par das novidades. Assim que entramos, Rafael e Tiago se encararam. Eles sorriam um para o outro, mas, para mim que os conhecia tão bem, estava bem claro que os dois estavam desconfortáveis com a situação.

_Rafael, Tiago. Tiago, Rafael._ falei quando nos aproximamos.

Os dois já se conheciam. Depois da morte de Eric, Rafa passou algumas semanas visitando minha casa com frequência. Naquela época, nos consolávamos e tentávamos lidar com a culpa que sentíamos pelo modo como tudo terminou para Eric.

_Oi._ os dois disseram sem graça enquanto se cumprimentavam.

_Já podem se chamar de “cunha”._ falou Alice para quebrar o gelo.

_Alice!_ falei.

_Sem problemas para mim._ respondeu Tiago rindo daquilo _Cunhadinho.

_Tá vendo, Bê?_ falou Rafa _Não te falei que ninguém consegue não gostar de mim?

Eu ri da brincadeira e Tiago me acompanhou. Meu irmão colocou a mão no ombro de Rafael e disse:

_Bernardo me contou toda a história de vocês. Se antes não deu certo pelos motivos que fossem, torço para que vocês façam dar certo agora. Acho o meu irmão um cara incrível e, através dos relatos dele, passei a te ver como um cara muito legal também. O mundo precisa de mais casais como vocês, casais que nos fazem acreditar que realmente há uma pessoa certa para a cada um de nós por aí, que só nos cabe procurar bem. Eu espero ter a mesma sorte que vocês tiveram.

Rafael sorriu com o discurso de Tiago. Alice e Laura assistiam sorrindo também.

_Você deve saber que a minha mãe não encarou muito bem a situação

Rafa fez que sim com a cabeça.

_Te peço para ter toda a paciência do mundo com ela. Ela é uma boa pessoa, só precisa de tempo para se acostumar com a ideia. Mas saiba que você já tem dois aliados dentro de casa._ falou apontando para Laura, que confirmou com a cabeça _Fiz questão de vir nesta viagem para mostrar pra você e pro Bernardo que está tudo bem para mim, e que estou do lado de vocês. O Bernardo não queria que eu viesse, mas mesmo assim...

_Não é isso..._ tentei argumentar.

_Você só faltou me proibir de vir!

_Verdade, amor._ respondeu Rafael.

_Além do mais, eu vim para te conhecer direito e saber quais suas intenções com meu irmãozinho.

_Tiago!_ ralhei.

Todos riram, menos eu. O Tiago nunca me chamou de “irmãozinho”, ele estava querendo bancar o irmão perigoso, marcar território. Eu não fiquei bravo, mas acho que aquele tipo de constrangimento era desnecessário.

_O Bernardo parece ser muito centrado e esperto, mas não é._ continuou Tiago me ignorando _Ele é frágil como uma flor, por isso tenho que saber se você tem a intenção de magoá-lo.

_Ih, chora por qualquer coisa!_ completou Alice.

_E eu não sei?_ respondeu meu irmão _Enfim, quais são suas intenções com ele?

Eu queria abrir um buraco e me enterrar ali. Rafael riu e levou na esportiva. Ele chegou ao meu lado e me abraçou de lado pela cintura.

_Eu amo o seu irmão mais do que amei qualquer outra pessoa na minha vida. E eu pretendo fazer dele o cara mais feliz do mundo. Se eu errar no caminho, será totalmente sem intenção, e pode acreditar que eu vou me ferir muito mais que ele se acontecer. Eu te prometo lutar todos os dias para não dar ao Bernardo nada menos do que ele merece: ser o cara mais feliz do mundo.

_Sendo assim, bem-vindo à família._ respondeu Tiago.

Rafael riu e me deu um beijo na bochecha. Fiquei rindo como um retardado. Eu esperava que Rafael e Tiago fossem se dar bem, só não imaginava que fosse tão rápido. E o discurso de Rafael me emocionou sim. Tínhamos passado por tanta coisa naqueles últimos dias, que um vozinha lá no fundo da minha consciência perguntava se Rafa não acabaria por desistir de nós. Após aquela declaração, eu tive mais certeza do que nunca que estávamos juntos naquela. Rafael iria me fazer feliz.

_Que porra é essa?!

Todos nós nos viramos para ver o dono da voz: Caio estava parado na escada nos encarando com um expressão de nojo. Vi o meu fim de semana perfeito se desmanchar em frente aos meus olhos.


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Ficha do conto

Foto Perfil contosdelukas
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Nome do conto:
Bernardo [76/77/78] ~ Meus sogros

Codigo do conto:
217960

Categoria:
Gays

Data da Publicação:
13/08/2024

Quant.de Votos:
2

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