Bernardo [99/100] ~ Final

“Você está bem?” foi a frase que eu mais ouvi nas semanas que seguiram ao término do meu namoro. “Você vai ver, vocês vão acabar se acertando!” era outra muito comum também. Algumas pessoas maldisseram Rafa. Algumas pessoas brigaram comigo. A maioria simplesmente não conseguia acreditar. Eu não percebi isso enquanto namorava Rafa, mas nós éramos quase um modelo para outros casais, homo ou hétero. Nunca brigávamos na frente dos outros, parecíamos realmente super bem resolvidos em relação a tudo e sempre fomos alunos modelos. As pessoas olhavam pra gente e acreditavam que nada ali tinha como dar errado. Um conto de fadas pós-moderno, mas ainda assim um conto de fadas. Muita gente considerou uma enorme traição da nossa parte mostrar que conto de fadas não existem.

Não, eu não caí em uma depressão profunda e incapacitante. Aliás, nunca acreditei que fosse cair um dia. Eu sigo bastante funcional mesmo em momentos de profunda tristeza. Lógico que eu chorei muito, mas chorei no meu quarto, à noite, com a cara enfiada no travesseiro para ninguém ouvir. Eu não precisava de ninguém me acudindo para eu ter que relembrar e dizer em voz alta tudo o que tinha acontecido.

Essa regra não valia para Pedro ou Alice. Por mim, os dois voltaram a se encontrar na minha casa para me ouvir. Não, os dois não reataram o namoro, mas caíram na real que tinham um elo forte demais os prendendo agora. Assim, adotaram a civilidade para seguir cuidando do pré-natal e da divisão de tarefas.

_Posso perguntar como ele está?_ perguntei.

Eu sabia que eles ainda tinham contato Rafael, apesar de Rafael ainda estava um pouco magoado pelos dois terem se tornado amigos de Ricardo.

_Ele é um ator pior que você, mas está aguentando._ respondeu Pedro.

_Dá pra ver as olheiras dele, mas ele jura que é a correria com as coisas da mudança._ completou Alice.

_Ele vai mesmo..._ falei baixinho em tom triste.

_Você chegou a pensar que ele não iria?_ ela perguntou.

_Acho que no fundo a gente sempre espera por uma solução mágica.

_Como qual?

_Se eu tivesse essa resposta, eu não teria terminado com ele.

Por mais dramático que Rafael fosse, eu nunca esperei que ele ficasse em depressão profunda com o fim do nosso namoro. Ele grita, chora, esperneia, mas não para de viver por causa disso.

_Você vai deixar ele ir?_ perguntou Pedro.

_Sim... Eu não tenho coragem de pedir ele pra ficar. Aqui ele seria tão infeliz quanto eu seria se estivesse indo com ele.

_É realmente definitivo?

_Sim. Infelizmente.

Eles ficaram em silêncio. Dei um olhar mais atento em Alice e comentei rindo:

_Você está gordinha.

Pedro sorriu e Alice revirou os olhos. Ela estava de três meses para quatro meses, a barriga ainda era uma protuberância quase imperceptível.

_Eu não acredito que vou aparecer gorda nas minhas fotos de formatura.

_Não fala assim dele!_ ralhou Pedro colocando a mão na barriga dela.

Sim, era um menino. Pedro ficou radiante quando descobriu. Alice tentou disfarçar que ficou também, mas não conseguiu.

_Já sentiu alguma coisa? Ele já chutou?_ perguntei.

_Não, falta algumas semanas para isso ainda.

Pedro ficava alisando a barriga de Alice. Ela não mandou ele tirar a mão nem nada, apenas assistia o carinho com um leve sorriso.

_Vocês nos imaginavam assim a um ano?_ perguntei _Eu solteiro e vocês grávidos?

_Nem nos meus sonhos mais loucos!_ respondeu Pedro rindo.

_O que vem agora?_ perguntei.

_Você sabe, a vida._ respondeu Alice.

Chegava ao fim os anos de faculdade. Anos muito especiais para mim, sem dúvida. Mas eu estava com um frio na barriga. E agora? Para onde ir? O que me espera ali na esquina? E sem Rafael ao meu lado...

[...]

18 de dezembro de 2010

O dia da formatura chegou. E com ele o nervosismo. Mais do que o fechamento de um ciclo na minha vida, havia outras duas coisas também: eu reveria Rafael pela primeira vez em mais de uma mês e eu também reveria Ricardo, este esperando pela minha resposta.

Que resposta eu poderia dar a Ricardo? Eu o amava e não duvidava disso, mas eu ainda amava Rafael. Só porque não deu certo com Rafa, eu deveria pular no colo do outro? Isso não faria dele o meu prêmio de consolação? De verdade, eu achava que precisava de um tempo sozinho. Não no sentido de ficar solteiro e sair trepando com qualquer coisa que se mexesse por aí, mas eu precisava não estar numa relação por um tempo. Eu precisava me reencontrar, pois agora eu era o Bernardo, não mais o Bernardo & Rafael.

_Arruma minha gravata, por favor?_ pedi pra minha mãe.

Ela já estava toda arrumada num longo cor de salmão, muito elegante. Com paciência, ela se colocou a amarrar minha gravata.

_Nervoso?_ ela perguntou.

_Até que não._ respondi _Mãe, posso te fazer uma pergunta?

_Claro, o que é?

_Você se casou com dezoito anos de idade e papai com vinte. Como vocês sabiam se não eram jovens demais?

Ela sorriu, mas continuou a arrumar minha gravata.

_Eu poderia te dar um discurso sobre amor verdadeiro porque é isso que você quer ouvir. Mas não é a verdade._ falou _Eu sempre amei o seu pai, casei com ele achando que ele era meu príncipe encantado. Só que se fosse hoje, talvez eu tivesse esperado mais tempo. Ele foi o meu primeiro namorado, o meu primeiro tudo. Eu achei que era certo me casar com ele. Não achei que eu precisasse de outros homens em minha vida.

_Você se arrependeu em algum momento?

_De ter casado jovem? Sim. De ter casado com seu pai? Não.

_Se casar jovem é um erro, na sua opinião, então?

_Não necessariamente. Se você está se refletindo no meu caso, está fazendo uma péssima comparação. Aos vinte anos de idade, eu era casada, fazia medicina e tinha um filho pequeno já. Eu devia dormir umas três horas por noite só.

_E como você não desabou?

_Não sei. Eu sou orgulhosa, não queria admitir que falhei. Então engolia meu cansaço e seguia em frente.

_E o papai?

_Trabalhava como um louco de dia e fazia faculdade à noite, também não estava com tempo sobrando.

_Como é que vocês aguentaram trinta anos de casados?

Ela riu.

_Casamento é difícil, Bernardo, ninguém disse o contrário. Você tem que embarcar sabendo que a vida agora é outra, que não tem pra onde correr, que você pode acabar conhecendo um lado da pessoa que você ama que você não queria conhecer... Você briga, grita, chora, mas faz as pazes. Quando você se assusta, está fazendo bodas de prata.

_Você ainda ama o papai?

Ela terminou de arrumar a minha gravata e ficou me olhando.

_Qual a resposta que você quer ouvir?

_Que o amor de vocês resistiu a todos os problemas.

Ela deu um longo suspiro.

_O casamento é uma eterna ciranda entre amor e ódio. Hoje eu amo seu pai. Mas eu não amei ele em cada dia dos últimos trinta anos.

_E o que te impediu de jogar tudo pro alto? De não sair por aí procurando alguém que você pudesse amar cada dia?

_Vocês._ ela falou apertando minha bochecha _As quatro crianças mais fofas que eu podia colocar nesse mundo.

Eu ri.

_Você não se arrepende?

_Você sempre se arrepende de alguma coisa, Bernardo, é impossível fugir desse sentimento. Mas respondendo a sua pergunta com o que você quer ouvir, o sentimento geral é que valeu à pena. Como não poderia valer se hoje eu estou entregando meu menininho ao mundo?

Seus olhos se encheram de lágrimas e eu a abracei. Depois de tanta turbulência, acho que enfim estávamos em paz. Conseguimos reencontrar nossa relação de mãe e filho.

_Eu sinto muito por vocês dois, ele era um bom rapaz._ ela falou me dando um beijo na bochecha e saindo do quarto.

Acho que foi a única vez que ouvi ela elogiando Rafael.

[...]

Quando eu cheguei no auditório para a colação de grau, encontrei Rafael nervoso andando de um lado para o outro. Ele era o nosso orador. Fiquei em dúvida se devia chegar perto dele ou não. Eu não sabia como tínhamos ficado, se ainda éramos amigos, ou colegas, ou qualquer coisa. Ele sorriu ao me ver. Não era o maior dos sorrisos, mas era um sorriso.

_Oi._ ele falou vindo ao meu encontro.

_Oi. Como vai?

_Bem, e você?

_Vou levando.

_E Ricardo?_ ele perguntou com um sorriso debochado.

Eu ri envergonhado.

_Eu não sei dele, faz mais de um mês que não falo com ele. Ele está me dando um tempo pra pensar. Mas ele vem, é convidado da Alice.

_E você sabe o que vai falar para ele?

_Não. Alguma sugestão?

_Que tal, “eu prometo não fazer com você o que eu fiz com Rafael”?

_Eu mereci essa._ respondi rindo envergonhado.

_A vida seguiu, Bernardo._ ele falou rindo _Eu entendo que a vida seguiu.

_Você me perdoou?

_Pelo beijo? Sim. Por não ir comigo? Não.

Eu encarei no fundo dos seus olhos. Ainda dava tempo de voltar atrás? Eu queria voltar atrás?

_Quando você vai?_ perguntei para quebrar o silêncio constrangedor.

_Fevereiro._ ele me sorriu _Você vai se despedir de mim no aeroporto?

_Você quer que eu vá me despedir de você no aeroporto?

_Acho melhor não, né...

_Posso te ligar pra desejar boa viagem?

_Eu vou gostar.

Mais uma vez, um silêncio constrangedor.

_Sinto muito pelas coisas acabarem assim com a gente._ falei.

_Eu não. Se era pra acabar, que fosse assim. Acabamos do melhor jeito possível.

_Você acha?

_A gente não se odeia e ninguém está morto, o que mais poderia pedir?_ perguntou _Mas seria bem melhor se você não tivesse beijado Ricardo.

Eu ri novamente envergonhado. Rafael podia ter perdoado, mas ele nunca esqueceria. Era um preço a se pagar pela minha fraqueza naquele momento.

_Vamos?_ me chamou.

_Vamos.

Teve todo aquele ritual de entrar no auditório aparentemente muito animados, e depois se sentar na primeira fila. Devido a ordem alfabética, Alice se sentou do meu lado.

O que está acontecendo com Pedro?_ perguntou.

_Como assim?

_Ele está estranho.

_Não conversei com ele hoje. O que ele fez?

_Não veio falar comigo.

_Ah, Alice!

_O que?

_O que que tem ele não ter falado com você?

_Eu sou a porra da mãe do filho dele!

_Conta outra!_ falei rindo.

_O que?

_Você. Toda preocupada porque ele não te deu atenção. Ai, se você não fosse tão teimosa...

_Nada a ver!_ falou ficando vermelha _É sério, o que ele tem?

_Provavelmente nada. Ele está nervoso por causa de formatura, e você sabe que ele fica quieto quando fica nervoso.

_É, deve ser isso._ falou não parecendo acreditar muito.

Eu achei que fosse me emocionar mais com a cerimônia. Achei que fosse tremer quando pegasse o diploma, mas não. Foi tudo tão normal e até meio chato. O discurso de Rafael foi sim emocionante, focando nos laços de amizade que se formaram entre a nossa turma e até lembrando Eric, o que lhe rendeu algumas palmas. Muitas vezes no seu discurso eu senti como se ele estivesse falando para mim diretamente, o que me fez derramar algumas lágrimas. Eu achei que teria aquele grande sentimento de concluir uma grande etapa da sua vida para entrar em outra. Acho que não teve porque eu já tinha passado por aquilo dias antes quando Rafael e eu terminamos. Aquilo sim foi o fim de uma era. A era do reinado de Rafael sobre meu coração. E por aquilo, sim, eu chorei...

[...]

_Parabéns!_ falou Ricardo no meu ouvido.

Eu me virei rapidamente e o encontrei sorrindo para mim. Sempre lindo. Eu notei que ele tinha caprichado mais do que o normal. Ele me deu um abraço apertado.

Obrigado._ respondi devolvendo o abraço.

_Nervoso?_ perguntou.

_Olha, Ricardo, eu andei pensando e...

_Nervoso com a formatura?_ falou sorrindo da minha falta de jeito.

_Não!_ respondi acompanhando o riso dele _Vem.

O puxei para fora do salão onde acontecia a festa. Era um pequena varanda muito mal iluminada, que não fazia realmente parte do ambiente da festa. Eu esperava poder conversar com ele em paz, mas eu encontrei Alice e Pedro brigando.

_Você é um imaturo!_ ela gritou.

_E você é uma medrosa!_ ele respondeu.

_Gente..._ tentei intervir mas eles nem me deram atenção.

_Querendo ou não, Alice, estamos juntos nessa! Não tem pra onde fugir!

_Por que estamos tendo essa discussão de novo?!

_Porque eu te amo! E a dúvida se você me ama também está me matando durante todos esses meses!_ Pedro respondeu quase chorando.

_É lógico que eu te amo, seu imbecil!_ falou Alice quase chorando também _A questão nunca foi essa!

Os dois pararam e ficaram se encarando com os olhos cheios de lágrimas, em dúvida do que viria a seguir. Eu e Ricardo ficamos sem ação, sem saber se devíamos intervir ou sair e deixar os dois a sós. Antes que alguém pudesse falar mais alguma coisa, Pedro tirou uma caixinha do bolso do paletó. Prendi a minha respiração com o susto. Era por isso que ele andava nervoso e inquieto.

_Pedro..._ falou Alice com a mão na boca e balançando a cabeça negativamente.

_Porra, Alice!_ ele falou nervoso _Eu juro que é a última vez que te pergunto isso.

Ele abriu a caixinha e apontou para ela as duas alianças douradas.

_Você quer ou não quer se casar comigo?!


Eu acabei arrastando Ricardo para um outro lugar mais reservado para conversarmos.

_Você acredita no que acabou de acontecer?_ perguntou Ricardo ainda incrédulo.

_Olha, eu conheço aqueles dois, então, sim, acredito no que aconteceu.

Ele riu.

_Então, agora é sobre nós dois._ ele falou sorrindo para mim.

Tremi de nervoso. Eu já tinha a resposta para Ricardo. Eu levei tudo em consideração: ele, Rafael, a conversa que tinha tido mais cedo com minha mãe...

_Eu ainda amo Rafael._ falei.

_Começou errado._ ele respondeu com um meio sorriso.

_Eu fui sincero com ele o tempo todo, então eu vou ser com você também.

_Sou todo ouvidos.

_Eu amo Rafael e acho que vou continuar amando, mesmo de longe. Foi como eu sempre me senti em relação a você. E está tudo muito recente. Eu não posso sair daqui de mãos dadas com você e te apresentar aos meus pais. Você sabe disso, não sabe?

_Sei...

_Vai demorar mais um tempo para que a ferida se cicatrize, você também sabe, certo?

_Sei.

_Aquele dia que você me ligou, você me cobrou que deixasse Rafael para trás. Eu não posso fazer isso. Eu nunca vou deixar Rafael para trás, porque ele é uma parte de mim.

Ricardo me olhava indecifrável.

_Do mesmo jeito como eu nunca te deixei para trás, pois você também é uma parte de mim.

_O que você está dizer é que...?

_É que eu não posso te oferecer o que você quer: a totalidade do meu amor e da minha atenção. Rafael também queria, e olha como acabamos.

_E o que você pode me oferecer?_ ele perguntou cruzando os braços e sorrindo com o canto da boca.

_Eu posso te oferecer o melhor da namorado do mundo._ respondi sorrindo para ele.

_Ah, é? E como é o melhor namorado do mundo?

_Ele vai ser sempre honesto com você, não importa o que aconteça. Ele vai te amar muito, embora vá dividir com você o amor que tem pela família e pelos amigos. Ele vai rir muito com você quando você precisar rir, e te dar colo quando você precisar chorar. Ele vai segurar sua mão e enfrentar o mundo com você. Ele vai te apresentar cada lugarzinho que se deva conhecer em Belo Horizonte. Ele vai fazer viagens maravilhosas com você, quem sabe até mesmo Paris. E, o mais importante, ele vai te dar o melhor sexo da sua vida!

Ricardo riu e se aproximou. Ele segurou minha cintura e ficou me encarando.

_E o que esse namorado maravilhoso me pede em troca?_ perguntou.

_Tudo isso que ele vai te oferecer, e mais uma pequena coisinha.

_O que?

_A promessa que vocês vão ir devagar, passo por passo. Nada de falar em morar juntos, casamento ou se mudar para o outro lado do mundo nos primeiros seis meses. A promessa que, juntos, vocês não vão atropelar as coisas e tropeçar nas próprias pernas ao subir a escadaria que os leva à eternidade.

_Eu te prometo._ ele falou sério.

_Então, eu sou só seu a partir desse momento.

E sem falar mais nada ele me puxou contra seu corpo e me beijou. Nada de desejo ou uma explosão de tesão acumulada. Um beijo romântico, lento, como se o mundo parasse por um instante esperando por nós. Esperando pela nossa segunda chance.

_Aliás, tenho mais um pedido._ falei quando paramos para respirar.

_O que é?

_Rafael está aqui hoje e a festa é dele também. Eu nunca faria nada para machuca-lo._ falei fazendo carinho nos seus cabelos _Só por mais uma noite, você aceita ser apenas meu amigo?

_Aceito._ ele falou sorrindo.

Por isso Ricardo era o garoto dos meus sonhos, porque ele me entendia. Não havia o “foda-se o mundo”. Ele sabia que não éramos só nós dois, que havia pessoas em volta e que elas acabavam influenciando em nosso relacionamento, direta ou indiretamente. Ele voltou a me beijar enquanto eu ainda pensava sobre isso. Uma questão veio à minha cabeça:

“Agora, talvez, seja realmente para sempre...”

Ricardo cumpriu sua promessa e se comportou apenas como meu amigo. Mesmo quando o apresentei a Thiago que, ao reconhecer o seu nome, o encheu de perguntas me fazendo revirar os olhos. Rafael fingiu que não viu Ricardo, e meu novo namorado fez todo o possível para passar despercebido por ele. Rafael não dançou comigo, e ele tinha prometido um dia que iria, mas eu entendi... No meio da festa, com todo mundo meio bêbado, a turma toda se abraçou e Rafael apareceu ao meu lado. Ele me abraçou com uma força que talvez não fosse necessária ali. Quando olhei para ele, trocamos um breve sorriso. Era a última vez que eu o veria antes dele embarcar. Era a nossa despedida. Não teve abraço, não teve beijo, não teve lágrimas. E estava tudo bem, estávamos seguindo em frente, cada um numa nova fase da vida. Ele no Canadá, eu com Ricardo.

[...]

30 de agosto de 2014

_Cadê meu pai, tio Bernardo?_ ele perguntou no meu colo.

_Seu pai te deu pra mim. Você quer ficar com o tio Bernardo?_ lhe respondi fazendo graça.

_Quero._ respondeu brincando com seu tablet.

_Você vai com todo mundo se seu tablet estiver junto, né?

_Aham._ respondeu distraído me fazendo rir.

Fiquei prestando atenção nos seus traços. A despeito dos protestos de Alice, ele estava ficando cada vez mais parecido com Pedro. Loiro, traços fortes e um olhar muito esperto, incrivelmente carismático.

_Olha quem veio me visitar!_ falou minha mãe entrando na sala _Mas você está enorme, Miguel!

Ela pegou ele no colo e ficou rodando com ele pela sala. Fui completamente esquecido pelos dois.

_Quantos anos você tem?

_Quatro._ ele respondeu todo tímido.

_Eu achei que você tivesse seis porque você está muito grande!

Minha mãe estava louca por um neto, e mandava indiretas regularmente. Infelizmente para ela, nenhum dos seus filhos tinham planos para isso num futuro próximo. Laura tinha acabado de terminar um namoro de quase três e anos e não queria ver outro homem na sua frente tão cedo. Ela seguiu os passos da minha mãe e foi fazer medicina, o que não poderia ter deixado meus pais mais orgulhosos. Mais do que nunca, ela era a princesinha da família! Caio continuava com Mariana, mas os dois se definiam como “espíritos livres”. Entende-se que nenhum dos dois tinham planos de casar, e até mesmo davam um tempo no namoro de vez em quando para curtir outras pessoas. Eu não me metia, cada um fazia o que bem quisesse do seu relacionamento. Ele fazia faculdade de economia, mas mais faltava do que ia. Arranjou uma banda bem melhor que já fazia algum sucesso em Belo Horizonte, e que estava à espera da sua grande chance, que eu acho que não tardaria. Meus pais estavam a ponto de ficar loucos com a possibilidade iminente dele largar a faculdade, mas eu não dava mais palpite naquele assunto. Thiago estava noivo. Ele jurava que era amor eterno, mas eu desconfiava que era só uma paixãozinha e ele a pediu em casamento com medo de ficar velho demais, pois ele já tinha trinta e dois anos de idade. Era um erro e eu avisei ele, mas ele é teimoso como uma mula. Mas como eu mesmo aprendi a duras penas, às vezes é preciso bater um pouco a cabeça, então eu dei essa liberdade a ele. Seja o que Deus quiser.

Quanto a mim...

_Ai..._ passou Ricardo pela sala fazendo muita força para segurar uma caixa.

_Eu não acredito que você está deixando ele carregar essas caixas todas sozinho, Bernardo!_ ralhou minha mãe.

_Mas eu estava cuidando do Miguel!

_Eu estou cuidando do Miguel agora._ ela respondeu brava _Pode ir ajudar.

Sem escapatória, fui ajudar Ricardo com a caixa.

_O que você pôs aqui dentro? Tijolos?!_ ele perguntou sem fôlego.

_Meus livros.

_Que bonito! Você ia deixar eu carregar seus livros e ia ficar só com as roupas?

Dei de ombros e ele riu.

_Ah, é? Toma._ falou me fazendo segurar a caixa sozinho _Vou buscar uma caixa mais leve para mim.

_Ricardo!_ ralhei enquanto ele entrava para dentro do apartamento.

Com muita dificuldade, desci com a caixa e coloquei no meu carro. Meu pai estava chegando e estacionou na vaga ao lado.

_O grande dia chegou._ ele falou sorrindo para mim _Nervoso?

_Não muito. Já moramos juntos uma vez em Paris.

_Mas agora é diferente, vocês são adultos andando com as próprias pernas.

_Eu sei, mas tenho confiança que vai dar tudo certo. Eu sinto que está tudo certo. Além do mais, ele não seria só meu namorado pelo resto da vida.

_Se você está tão certo, só posso desejar boa sorte.

_Obrigado, pai.

Subimos de novo para o apartamento. Ricardo e minha mãe brincavam animadamente com Miguel, que adorava toda aquela atenção e mimo. Sorri em silêncio apreciando a cena. Quem eu estava querendo enganar? Eu era o próximo da lista. Eu daria o primeiro neto aos meus pais.

_Vai, deixa que eu pego o resto das caixas, sobraram poucas._ falou Ricardo _Vai pro salão porque você tem hora marcada.

_Mas eu tenho uma função: cuidar do Miguel._ respondi.

_Essa função é minha._ ele falou _A sua missão como padrinho é estar lindo para as fotos e fazer Pedro chegar ao altar na hora certa. Vai!

_Ah, tá bom, seu chato. Você vai ser um péssimo marido mandão!

_Vai logo, Bernardo!_ ele falou rindo.

[...]

_Para de andar, Pedro, você vai suar e manchar o smoking._ pedi, mas ele não me deu atenção.

_E se ela desistir?_ perguntou preocupado.

_Vocês estão enrolando a quatro anos. Se ela não desistiu até aqui, não desiste mais. Relaxa!

Lógico que Alice nunca concordaria em se casar na igreja. Não combinava com ela. Mas ela não abriu mão de uma festa de jeito nenhum, o que foi um dos motivos do casamento ter demorado tanto a sair. Alice e Pedro foram morar juntos assim que tiveram certeza que eram capazes de cuidar de Miguel sem auxílio, quando ele já tinha uns seis meses mais ou menos. E fizeram de questão de pagar tudo, aceitando ajuda dos pais somente nas horas de maior aperto. Assim, demorou um tempo até juntarem dinheiro para a festa. Mas estava tudo bem agora. Apesar de não serem ricos, os dois tinham salários que lhes davam uma vida bastante confortável. Alice não precisou abrir mão da sua independência para ser mãe, contrariando os seus próprios medos. Até porque, Miguel tinha duas avós aposentadas que até brigavam para cuidar dele enquanto os pais trabalhavam.

_Os convidados estão chegando._ falei olhando pela janela do quarto onde estávamos.

Eles estava se casando num grande hotel fazenda próximo a Belo Horizonte. Eu sempre achei que casar ao ar livre no Brasil é um risco enorme, mas eles resolveram arriscar. Mas os céus estavam ao lado deles, porque não caiu uma só gota de chuva.

_E o Miguel?_ perguntou.

_Já está vindo com Ricardo e Thiago. Me mandaram mensagem falando que estão chegando.

_Certo.

_Pedro?

_O que?

_Se acalma!

_Não consigo!

Eu ri do seu nervosismo.

_Alice disse que está preparando uma surpresa._ ele falou _Você sabe do que se trata?

_Nem ideia.

_Aquela menina é doida!

_É. Mas não foi pela loucura dela que você se apaixonou?

_Foi._ ele respondeu rindo.

_Vem, vamos receber seus convidados.

Fiquei grudado em Pedro o tempo todo. Eu era o padrinho e a minha função era não deixar ele desabar, embora eu não achasse que ele fosse. Ricardo não demorou a chegar com Miguel.

_Papai!_ ele gritou levantando os bracinhos para Pedro.

Pedro sorriu e o pegou. Ele era completamente apaixonado pelo menino e o menino por ele. A relação de pai e filho mais forte que eu já conheci.

_Ai que saudade sua!_ Pedro falou abraçando o filho _Você se comportou bem com o tio Ricardo?

Ele balançou positivamente a cabeça.

_E os outros?_ perguntei a Ricardo lhe dando um rápido selinho.

_Seus pais vem com Laura e Caio com Mariana. Thiago está por aí.

_Alguma notícia de Alice?

_Se recusou a fazer contato hoje.

_É, comigo também. Pedro está em tempo de ficar doido.

_Normal.

Ricardo olhou para algum ponto atrás de mim e abriu um meio sorriso. Senti alguém chegar por trás de mim.

_Oi, Rafael._ falou Ricardo.

Meu coração se acelerou ao ouvir ser nome. Virei para trás por reflexo e o encontrei sorrindo para mim. Fazia quase quatro anos que eu não via Rafael, desde a noite da nossa formatura. Certo, de vez em quando trocávamos novidades pelo Facebook, mas só isso. Nas vezes que veio ao Brasil visitar os pais, ele não entrou me contato comigo e eu respeitei. E ele continuava lindo. Por mais que tivesse vinte e seis anos agora, ele ainda se parecia com aquele meu namorado de vinte e dois, como se os dias não tivessem passado para ele. O corte do cabelo mudou e ele estava um pouco mais relaxado em relação a forma física, embora estivesse longe de ser chamado de gordo. Ele me lembrou muito o Rafael do nosso primeiro namoro, o que acabou mexendo comigo. O seu sorriso para mim continuava o mesmo.

_Oi, Ricardo._ ele respondeu _Oi, Bernardo.

_Oi, Rafa. Como vai?

_Muito bem, e você?

_Também.

_Acho que Alice chegou._ interrompeu Ricardo.

Olhamos e vimos o carro que ela vinha encostando.

_Depois a gente conversa?_ perguntou Rafael para mim.

_Claro.

Ricardo pegou Miguel e o levou para junto de Alice, que ia entrar com ele. Eu me posicionei ao lado de Pedro ao lado do juiz que os casaria. Pedro se sacudia todo de nervoso e eu fui obrigado a lhe dar uma cotovelada. Todos se levantaram para ver Alice passar pelo corredor montado entre os bancos.

_Meu Deus..._ falou Pedro boquiaberto ao ver Alice entrar.

Um burburinho tomou conta dos convidados o que fez Alice sorrir, porque era exatamente a reação que ela esperava. A gravidez tinha feito bem a Alice, que ganhou alguns quilinhos e nunca perdeu. É uma coisa boa para alguém que sempre teve dificuldades em ganhar peso. Ou seja, Alice tinha curvas mais generosas agora e ela fez questão de exibi-las. O vestido de Alice era bem justo no seu corpo e cheio de transparências. A lateral das suas pernas e a lateral do seu tronco estavam protegidas apenas por uma frágil (e transparente) camada de renda. Mas ao mesmo era tão elegante! E ela fez questão de completar com um batom vermelho. Alice transgrediu o vestido de noiva.

_Uau!_ falei baixinho quando ela passou por mim, o que ela respondeu com um sorriso de triunfo.

Peguei Miguel no colo e ficamos assistindo juntos a cerimônia, que transcorreu normal, apenas com a substituição do sermão religioso por um texto de autoria do próprio juiz. Pedro não conseguia olhar para outro lugar que não fosse Alice.

_Acho que papai e mamãe vão te dar um irmãozinho hoje._ falei baixinho no ouvido de Miguel, que riu como se tivesse entendido a piada.

[...]

_Que isso, hein, Alice!_ falei me aproximando deles após sua primeira dança.

_Meu querido, se vai haver fotos, que me eternizem na minha melhor forma. Vou sentir saudade deste corpo daqui a quarenta anos._ ela me respondeu.

_Finalmente, seu Pedro._ comentou Ricardo _Achei que esse casamento não saía.

_Por que todo mundo me fala isso?_ ele devolveu _Não fui eu que atrasei o casamento, foi ela!

_Cala boca, Pedro._ a sua esposa respondeu _Sou eu quem manda aqui, seu único dever era aparecer e você cumpriu. Parabéns!

E lhe deu um beijo na bochecha e nos fez rir

Mamãe, o tio Bernardo falou que você vai me dar um irmãozinho._ falou Miguel puxando seu vestido.

_Ah, é?_ ela falou pegando ele no colo _Ele se enganou, meu amor. Ele quis dizer “priminho”. O tio Bernardo e o tio Ricardo vão te dar um priminho.

_Quem sabe..._ falou Ricardo sorrindo.

_É, quem sabe._ falei o abraçando.

Eu vi Rafael se aproximar da gente com um certo receio. Eu entendia ele, era como se repente ele não fizesse mais parte daquela turma, Ricardo havia tomado o lugar dele.

_Que bom que você veio, Rafa._ disse Alice o abraçando.

_Parabéns pra vocês dois. Achei que esse casamento não saía mais, hein Pedro.

_Mas será possível!_ falou Pedro revoltado nos fazendo rir.

_E esse carinha aqui?_ falou mexendo com Miguel.

_Diz “oi” pro Rafael, filho._ pediu Pedro.

_Oi.

Eu o observava atentamente. Ricardo quis nos dar intimidade e foi buscar algo pra beber.

_Planos para voltar ao Brasil?_ perguntou Alice.

_Não._ ele respondeu rindo.

_Todos nós sabíamos que era uma mudança definitiva, Rafa, menos você_ eu comentei.

Ele sorriu para mim.

_Podemos conversar?

_Claro, quer dançar?_ perguntei.

_Ricardo não vai se importar?

_Não, ele é muito seguro de si.

_Foi uma indireta?

_Talvez._ respondi sorrindo.

_As pessoas não vão se importar de ver dois caras dançando?

_A noiva entrou nua, nada mais pode chocá-los.

_Eu tô aqui, seu imbecil._ reclamou Alice batendo na minha cabeça e nos fazendo rir.

_Além do mais,_ falei _você ainda me deve uma dança.

Ele sorriu e me puxou para a pista de dança. Ele colocou a mão na minha cintura e eu pus a minha no seu ombro. Outros casais também dançavam, e ninguém parecia muito interessado em nós. Até porque, em todos aqueles anos, a maior dos convidados de Alice e Pedro conheciam a mim e minha sexualidade.

_Você está muito bonito, Bernardo.

_Você também está, Rafa.

_Você está com uma aparência mais tranquila.

_Eu estou em paz, é isso.

_Foi ele que te deu essa paz?

_Foi.

Eu sempre tive receios de conversar com Rafael sobre Ricardo, até eu perceber ali que não tinha porquê. Eu não precisava mais omitir meus sentimentos para protege-lo.

_E como estão as coisas?_ ele perguntou.

_Muito bem._ eu não tinha certeza se devia completar aquela frase, mas fiz _A partir de amanhã vamos morar juntos.

Uma sombra passou nos olhos de Rafa, mas ele não pareceu disposto a me deixar perceber. Rafael ainda me amava. E era esperado, afinal, eu também não deixei de ama-lo.

_Fico feliz por vocês.

_Obrigado. E você, como está?

_Recentemente solteiro._ respondeu com um meio sorriso.

_Sinto muito.

_Não, está tudo bem. Não era ninguém muito importante. Nunca amei mais ninguém depois de você.

As palavras dele mexiam comigo, mas eu não me deixei abater. Eu tinha muita certeza de que eu estava com Ricardo agora. Rafael fazia parte do meu passado.

_Posso te fazer uma pergunta atrevida?_ perguntei.

_Vai lá._ respondeu rindo.

_Você se arrepende de ter ido?

_Não..._ ele falou rindo _Eu posso não ter amado mais ninguém, mas conheci pessoas maravilhosas e um lugar maravilhoso. E quanto a nós dois, hoje eu sei que você estava certo. Nós não tínhamos como continuar juntos, pois caminhávamos para lugares diferentes.

_Você ainda tem fé que nossos caminhos se encontrem um dia?

_Claro. Você tem?

_Você faz parte do meu passado, Rafa. Ricardo é meu presente._ sorri maldosamente _E o futuro a Deus pertence.

Ele riu e concordou com a cabeça. Eu não sabia o que me esperava na esquina. Eu amava Ricardo e estava feliz de estar com ele. Mas nada me garantia que eu continuaria amando ele e sendo feliz com ele por mais cinco, dez, ou vinte anos. Do mesmo jeito que eu não tinha certeza se eu um dia voltaria a ter algo com Rafael. Eu não fazia mais esse tipo de plano, eu gostava do meu coração na sua forma mais selvagem. Rafael foi e continua sendo o grande amor da minha vida, mas Ricardo é minha alma gêmea. Seria a minha melhor definição para o se passa aqui dentro, embora eu reconheça que seja um conceito complicado de se entender. Eu mesmo me perco às vezes. Mas quem sabe um dia eu ou Ricardo mudemos e deixemos de nos entender? E quem sabe um dia eu ou Rafael mudemos e passamos a nos entender? Quem tem essa resposta? Por hoje, eu estava com Ricardo e estava muito bem assim.

_Sabe qual é uma das memórias mais fortes que eu tenho de você?_ falei.

_Qual?

_O seu discurso na formatura. Eu senti que você estava falando para mim ali.

_Mas eu estava falando pra você!_ ele riu.

_“Mais do que um simples pedaço de papel, estamos aqui hoje para celebrar o fim de uma etapa.”_ falei citando seu discurso _“Uma época da nossa vida que nunca esqueceremos. Entre boas e más experiências, fica acima de tudo a experiência. Sim, experiência, porque eu tenho certeza que saímos dessa etapa como pessoas muito melhores do que éramos quando entramos. O que eu aprendi com vocês eu não poderia ter aprendido em qualquer livro. Obrigado pelos nossos anos juntos, os melhores da minha vida. E tenham certeza que muito além de qualquer mágoa que possa ter ficado, o que fica para mim é a mais doce lembrança. A vida nos levará por caminhos diferentes e nos separará? Acho uma pena, mas é inevitável. Mas de uma coisa eu tenho certeza: eu nunca vou me esquecer, porque agora vocês fazem parte de mim.”

_Você chorou._ ele comentou rindo.

_Você também chorou!

_Todo mundo chorou!

_Mas nós choramos um pouquinho a mais do que todo mundo.

Ficamos rindo feito dois bobos olhando um para o outro. A música lenta terminou e começou uma mais agitada, e nós resolvemos sair da pista.

Por quanto tempo você ainda fica no Brasil?_ perguntei.

_Mais dez dias.

_Quer almoçar lá em casa qualquer dia? Eu queria saber mais da sua vida.

_Eu vou adorar. Ricardo não vai se importar?

_Ricardo até cozinha pra gente, se for o caso. Ele é um príncipe._ eu falei rindo.

_Aff, esse Ricardo!_ respondeu brincando e revirando os olhos, me fazendo rir.

[...]

_Tem certeza que não quer estrear nosso apartamento hoje?_ perguntou Ricardo ao me deixar na porta de casa.

_Tenho._ falei cansado _Eu estou um caco, e nossa cama vai merecer uma estreia mais especial do que só dormir.

Apertei a perna dele e ele riu concordando.

_Certo, mas amanhã você não me escapa.

_A partir de amanhã, eu vou dormir e acordar com você todos os dias.

_Para sempre.

_Para sempre.

Ele me deu um beijo demorado e partiu. Entrei em casa e todos já pareciam estar dormindo. Fui para o me quarto e me espantei ao ligar a luz. Estava tão vazio. Só minha cama, meu armário e algumas roupas ficaram para trás. Tirei a minha roupa e caí exausto de cueca na minha cama. Não consegui dormir de imediato e fiquei encarando meu teto. Começava a amanhecer lá fora. Não sei porque exatamente, me lembrei daquela mesma cena oito anos e meio, quando acordei para o meu primeiro dia de aula na faculdade. Eu me lembrei de como eu era tão bobo, com meus medos e preconceitos. Eu me lembrei de como eu era cru, não tinha vivido nada ainda. E como eu vivi naqueles últimos oito anos! Eu me apaixonei, chorei, quase me matei, me mudei pra Paris, voltei, enfrentei minha família, quase casei com Rafael e agora eu me mudava com Ricardo. Quando eu ia imaginar aquilo tudo acontecendo comigo? Eu tenho certeza que não me reconheceria se me visse hoje.

Me lembrei de Eric...

Fechei os olhos e, como numa oração só minha, agradeci a Eric por tudo. Eric foi o começo. Ele me apresentou a um mundo completamente novo para mim e me abriu as portas para que eu encontrasse minha tão almejada felicidade.

Eu queria ser feliz, esse era o meu sonho. Acho que consegui. Hoje eu me considero feliz. Mas eu perdi essa ideia boba de felicidade como uma coisa duradoura. Isso não existe. Não tenho nenhuma garantia que Ricardo vá me fazer feliz o resto da vida. Aliás, no momento em que eu achar que outra pessoa vai em feliz, e essa pessoa pode ser Rafael, eu vou correr atrás disso. Ser feliz só depende de mim.

Essa é a lição mais importante que ficou para mim: o meu final feliz quem faz sou eu.

FIM

______

E chegamos ao fim!

Esse conto eh mto especial e viciante! E aborda muita coisa massa não eh mesmo?

Esse conto não é real é uma ficção, porem acho o segundo melhor conto que já li pq é tudo bem amarado e com ganchos que torna a leitura viciante!
acredito que esse seja o utimo conto que eu posto por aqui, tenho outros que n postei que nao é tao bom assim dai prefiro nao postar! entao é isso!


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Comentários


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daniel13 Comentou em 04/10/2024

Ainda bem que esse conto é ficção. Imagina trocar Rafael por Ricardo depois de tudo que passaram juntos. Eu em

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elzonetto Comentou em 14/08/2024

Era o final que todos nós queríamos. Gostei, pois Ricardo era o Porto Seguro do Bernardo. Que conto muito bom! Parabéns!!! 👏🏽👏🏽😘😘

foto perfil usuario ivanildo-

ivanildo- Comentou em 14/08/2024

O final foi muito bom, a escolha pelo Ricardo foi super acertada, até porque o Rafael demonstrava ser uma pessoa muito insegura e o relacionamento não daria certo. Uma pena que você não pretende mais continuar postando aqui no site.

foto perfil usuario sigilofortaleza26

sigilofortaleza26 Comentou em 14/08/2024

Nem li quando vi que ele escolheu o Ricardo! Nada haver! Pior final de todos os contos

foto perfil usuario alanhlimaaa

alanhlimaaa Comentou em 14/08/2024

Eu fiquei emocionado e parabéns Através dos seus contos, entendi a barreira que é se assumir e os problemas que acontece. O difícil é resolver esses problemas Obrigado




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Ficha do conto

Foto Perfil contosdelukas
contosdelukas

Nome do conto:
Bernardo [99/100] ~ Final

Codigo do conto:
217999

Categoria:
Gays

Data da Publicação:
14/08/2024

Quant.de Votos:
3

Quant.de Fotos:
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