A primeira era do Caio:
Caio: “Bom dia, Rafa! Desculpa pelo que rolou ontem. Acho que me deixei levar demais pela raiva. Preparei café da manhã pra você, tá no fogão. Ah, e deixei uma pomada pra dor no banheiro, achei que você ia precisar. Quando der, a gente conversa melhor. Bjs.”
Suspirei, relendo a mensagem. Ele estava arrependido, mas eu ainda sentia o peso da noite anterior em cada parte do meu corpo e na minha mente.
Logo abaixo, uma mensagem do Allyson, enviada naquela manhã também:
Allyson: “Rafa, relaxa hoje, tira o dia de descanso. Aparece na fazenda no sábado pela manhã, a gente precisa organizar umas coisas.”
Revirei os olhos, já pensando no tanto de trabalho que o fim de semana traria. Mas precisava mesmo de um dia de descanso.
Foi então que eu vi a última notificação, a mensagem do Bernardo da noite anterior, aquela que tinha sido o estopim da briga com o Caio:
Bernardo: “Chegou bem? Espero que sim. Me avisa quando estiver de volta.”
Eu fechei os olhos por um momento, relembrando o caos da noite anterior. Era só uma mensagem simples, sem segundas intenções, mas o estrago já estava feito. Respirei fundo e larguei o celular na cama. Não respondi nenhuma das mensagens. O silêncio parecia ser a melhor resposta naquele momento.
Fiquei pensativo sobre tudo o que tinha acontecido. No fundo, gostei do sexo com o Caio. Foi algo diferente, intenso, mas ainda precisávamos conversar sobre o Bernardo. A tensão entre eles parecia estar no ar o tempo todo, e eu precisava entender o que realmente havia rolado. Além disso, queria saber como ficaria a minha situação com o Caio depois de tudo isso.
Decidi então responder as mensagens, começando pelo Caio. Peguei o celular e digitei:
Eu: “Ei, Caio. Tô aqui pensando em tudo que aconteceu... Você vem almoçar comigo hoje? Acho que a gente precisa conversar.”
Respirei fundo antes de enviar. A incerteza sobre a resposta dele pairava no ar, mas mandei a mensagem de qualquer forma. Logo em seguida, respondi o Allyson de forma rápida:
Eu: “Ok, Allyson. Estarei lá no sábado de manhã. Obrigado por avisar!”
Por fim, olhei para a mensagem de Bernardo. Pensei por alguns segundos, lembrando como aquilo tinha gerado toda a confusão, mas sabia que não era justo deixar ele no vácuo, afinal, ele não tinha feito nada de errado. Respondi:
Eu: “Oi, Bernardo! Cheguei exausto ontem, acabei de acordar só agora. E você, como está? Vai pro Alto esse fim de semana?”
Enviei a mensagem e larguei o celular novamente na cama. As respostas ainda viriam, mas no fundo, sabia que o que realmente importava era a conversa que eu e o Caio ainda precisávamos ter.
Logo após eu enviar a mensagem, o celular vibrou com a resposta do Caio:
Caio: “Vou sim. Chego aí em umas duas horas. A gente precisa conversar.”
Sabia que esse momento era inevitável, e aproveitei o tempo para comer apenas uma fruta, guardando a fome para o almoço. Como era sempre o Caio que cozinhava, resolvi surpreender e preparar algo para ele dessa vez. Fiz um macarrão rápido, uma receita que aprendi na fazenda, e até me arrisquei em uma sobremesa simples, mesmo sabendo que o tempo era curto.
Com menos de uma hora até o Caio chegar, consegui terminar tudo a tempo. Arrumei a mesa com cuidado, tentando deixar tudo perfeito, mas minha cabeça estava no que viria depois. O clima entre nós ainda parecia pesado.
Quando Caio finalmente chegou, seu olhar estava difícil de decifrar. Ele se aproximou de mim lentamente, e ao chegar bem perto, me deu um selinho suave, mas distante. Parecia testar as águas.
— Oi, Rafa. — Ele disse, com a voz mais calma do que eu esperava. — Como você está? Tudo bem?
Olhei para ele, sentindo uma mistura de alívio e apreensão.
— Tô bem... ou pelo menos tentando ficar — respondi, forçando um pequeno sorriso. — Fiz um almoço pra você. Macarrão e uma sobremesa rápida... coisa simples, mas espero que goste. Depois, a gente pode conversar e resolver isso de uma vez.
Ele assentiu, respirando fundo.
— Tudo bem — disse, com uma voz séria, mas menos agressiva que na noite anterior. — Vamos comer e colocar os pingos nos "i".
O clima entre nós ainda era tenso, mas a esperança de que esse almoço fosse o primeiro passo para clarear as coisas me deu uma pontada de otimismo.
Terminamos o almoço em silêncio, mas o clima entre nós estava mais leve. Fomos para o quarto e deitamos juntos. Eu me aninhei em seu peito, e Caio começou a alisar meu cabelo, de forma carinhosa, quase protetora. Era difícil acreditar que esse era o mesmo cara que, na noite anterior, tinha sido tão bruto e dominador. Seu toque agora era suave, quase amoroso.
Por alguns minutos, nenhum de nós disse nada. Apenas aproveitamos o momento de paz. Mas eu sabia que, eventualmente, precisávamos falar. Respirei fundo, juntando coragem, e quebrei o silêncio:
— E então... por onde começar?
Caio suspirou, olhando para o teto, como se já esperasse essa pergunta.
— Bom... vamos lá. O que você quer saber? — Ele falou num tom neutro, mas com um certo peso por trás.
Decidi ir direto ao ponto, sem rodeios.
— Primeiro... quem era aquele cara ontem?
Caio deu um pequeno sorriso, meio irônico, mas ainda assim sincero.
— Ah, ele é um militar que mora aqui perto. A gente transa de vez em quando. Ele adora umas paradas mais pesadas. — Ele fez uma pausa, como se estivesse testando minha reação. — Já fiz isso com outro contatinho antes, mas nada sério.
Eu tentei manter a calma, não deixar a ansiedade tomar conta, e brinquei, para aliviar o peso da conversa:
— Confesso que achei ele um tesão... — disse, rindo um pouco nervoso. — Deu até vontade de participar, sabia?
Caio arqueou uma sobrancelha, claramente surpreso com minha resposta, e riu de volta, um riso mais solto dessa vez.
— Se quiser, posso chamá-lo na próxima. — Ele disse, meio brincando, meio sério.
— Não hoje, não. — Respondi, balançando a cabeça. — Depois da noite de ontem, eu tô sem condições. — Dei uma risada fraca. — Pelo menos não hoje.
O riso foi morrendo aos poucos, e o silêncio tomou conta novamente. Mas dessa vez, o peso da próxima pergunta estava crescendo dentro de mim, e eu sabia que precisava fazer. Senti meu coração acelerar. Não era fácil, mas eu precisava entender o que havia entre ele e Bernardo. Fechei os olhos por um segundo, respirando fundo, e perguntei, tentando manter minha voz firme:
— E então... será que você pode me explicar sobre você e o Bernardo?
O clima no quarto mudou instantaneamente. Caio parou de alisar meu cabelo, e eu pude sentir seu corpo tenso debaixo de mim. Ele ficou quieto por alguns segundos, como se estivesse escolhendo as palavras com cuidado, mas quando falou, sua voz estava mais fria, distante.
— O Bernardo... — começou, hesitante, como se reviver aquela história fosse abrir uma ferida. — Ele foi o primeiro cara com quem eu fiquei.
Minha surpresa foi imediata, mas me mantive em silêncio, esperando que ele continuasse.
— A gente namorou por um tempo. — Ele continuou, sem me olhar. — Era tudo novo pra mim, sabe? Eu nunca tinha ficado com outro homem antes dele. E pra ser honesto... eu gostei muito dele. Talvez até tenha amado. — Ele deu um pequeno sorriso amargo. — Mas o Bernardo sempre teve um pé na capital. Quando ele foi pra lá, tudo mudou.
Caio fez uma pausa, respirando fundo, como se estivesse tentando controlar as emoções que a lembrança trazia.
— Quando ele voltou... já não era mais o mesmo. Não quis saber de mim, e isso… me quebrou um pouco. — Ele balançou a cabeça, como se ainda fosse difícil acreditar. — Ele foi o único cara que eu realmente gostei. E, depois disso, eu simplesmente fechei o coração.
Fiquei quieto, absorvendo aquelas palavras. Era a primeira vez que eu via Caio se abrir assim, mostrando um lado vulnerável que ele sempre escondia.
— Depois do Bernardo, eu meio que desisti de sentir algo por alguém. Comecei a usar os caras só pra ter prazer. — Ele olhou pra mim agora, com uma expressão séria, mas não fria. — E é isso que tem acontecido desde então, Rafa. Eu não quero me apegar a ninguém. Não quero passar por isso de novo.
Engoli em seco, sentindo o peso das suas palavras. Agora tudo começava a fazer sentido. O jeito com que ele tratava os caras, a forma como ele me tratava, sem nunca deixar claro o que realmente queria.
— Então... é por isso que você não gosta do Bernardo? — Perguntei, tentando encaixar as peças. — Porque ele ainda mexe com você?
Caio respirou fundo novamente, como se estivesse aliviado por finalmente poder falar a verdade.
— Ele mexe comigo, sim. Mas não é só isso. É porque ele me lembra de como eu fui trouxa, de como eu me apaixonei e quebrei a cara. Eu não quero passar por isso de novo, entende? — Ele me olhou, seus olhos carregados de frustração. — E eu não tô preparado pra lidar com isso agora.
Fiquei quieto por um momento, digerindo tudo o que ele tinha acabado de me contar. Senti uma mistura de pena e compreensão, mas também algo mais profundo. Eu gostava do Caio, mais do que estava disposto a admitir, mas sabia que ele não estava na mesma sintonia.
— E quanto a nós? — Perguntei, minha voz saindo mais baixa do que eu pretendia.
Ele deu um leve sorriso, mas era um sorriso triste, resignado.
— Rafa, entre nós... é só um lance. — Ele falou com sinceridade, sem rodeios. — Eu gosto de ficar com você, a gente se dá bem, o sexo é ótimo. Mas eu não quero nada sério. Não tô pronto pra isso. E pra ser honesto, não sei se algum dia vou estar.
O silêncio voltou a reinar, mas dessa vez era diferente. Eu sabia que ele estava sendo honesto, e não podia culpá-lo por isso.
— Então, você quer que eu continue vendo o Bernardo? — Perguntei, testando os limites.
Caio deu de ombros, parecendo indiferente, mas seus olhos traíam o desconforto.
— Você pode continuar ficando com ele, se quiser. Eu não quero saber de nada. — Ele deu uma risada sem humor. — Só que... é difícil pra mim. Ele ainda mexe comigo, e ver vocês juntos não é algo que eu queira lidar. Então, se rolar... só não me conta, e também não faço questão de saber o que tem entre vocês atualmente, quero zero contato com o Bernardo e quanto menos souber da vida dele melhor pra mim.
Fiquei sem palavras por um momento. Não esperava essa resposta. Ele estava sendo frio, talvez como uma forma de se proteger, mas eu podia ver o conflito interno.
— Eu entendo. — Falei finalmente, mesmo sem saber se realmente entendia.
Caio se aproximou e passou a mão pelos meus cabelos de novo, mas agora o gesto parecia ter um peso diferente.
— O que temos é isso, Rafa. Sem compromisso, sem laços. Eu não quero me apaixonar, e não quero que você se apegue. — Ele fez uma pausa, olhando profundamente nos meus olhos. — A gente vai continuar assim, se você quiser. Mas nada mais do que isso.
Após o fim das suas palavras, Caio me puxou para um beijo, mas dessa vez era diferente. Não tinha a urgência ou a ferocidade que sempre existiu entre nós. Era calmo, delicado, cheio de uma ternura que me surpreendia. Nossos beijos costumavam ser intensos, como fogo e gasolina, e essa suavidade só me fazia pensar no que ele e Bernardo poderiam ter vivido. Mas, ao mesmo tempo, havia algo novo entre nós. Algo mais profundo.
Enquanto nossos lábios se tocavam, eu me afastei por um segundo, olhando para ele, tentando entender aquele momento.
— O que foi? — Caio perguntou com um sorriso suave, os olhos brilhando de um jeito que eu nunca tinha visto.
— Só... — Eu hesitei, sem saber exatamente como colocar em palavras. — Isso... tá diferente.
Caio me puxou para mais perto, roçando o nariz no meu de forma brincalhona.
— Porque é diferente, Rafa. — Ele sussurrou, quase como se estivesse confessando algo que nem ele entendia completamente. — Já que você foi mais que passivo ontem... o que acha de ser ativo hoje?
Eu ri suavemente, surpreso pela sugestão.
— Ah, é? — Respondi, brincando com ele. — Tá mudando as regras agora?
— Sim... — Ele disse com uma seriedade repentina, me encarando nos olhos. — Só que hoje eu não quero fazer sexo com você. Eu quero fazer amor.
Minhas palavras ficaram presas na garganta por um instante. Ele nunca tinha falado assim comigo antes. Nunca falamos em "fazer amor". Entre nós, era sempre uma explosão de desejo, de pele, de carnalidade. Mas agora, ele estava me pedindo algo além disso. Algo mais profundo, mais íntimo.
Abri um sorriso, sentindo um calor diferente crescer dentro de mim, e o beijei de novo, devagar, saboreando o momento. Aquele beijo calmo, cheio de carinho, nos envolveu como um lençol de sensações suaves. E, pela primeira vez, eu fui o ativo com Caio, mas não da maneira que eu imaginava.
Não houve brutalidade, não houve pressa. Era como se, de repente, estivéssemos em um mundo só nosso, onde o tempo desacelerava e cada toque importava mais do que o último. Fazemos um sexo calmo, carregado de algo que ia além do prazer físico. Era... amor. E, pela primeira vez, eu senti que estávamos em um lugar onde tudo podia ser diferente.
E, assim, o silêncio envolveu nossos corpos, deixando que nossos gestos falassem por nós, sem necessidade de palavras.
Continua... já to gostando desse inicio