O sol da manhã iluminava os campos ao redor da fazenda, e o cheiro da terra misturado ao frescor do orvalho tornava tudo mais vivo. Lucas queria andar de cavalo, e estava animado, mas ao mesmo tempo visivelmente nervoso, parado ao lado do cavalo que eu tinha escolhido para ele. Era um animal manso, de pelagem castanha e olhar tranquilo, perfeito para um iniciante.
– Certo, Lucas, este aqui é o Apolo – comecei, enquanto acariciava o pescoço do cavalo. – Ele é bem tranquilo, perfeito para a sua primeira vez.
– Primeira vez em tudo, né? – ele respondeu rindo, mas dava para notar a tensão em sua voz. – Eu nem sei por onde começar.
– Relaxa, cara, vou te guiar em tudo. Primeira coisa: passa a mão nele. Faz com que ele confie em você.
Lucas hesitou, mas estendeu a mão e tocou levemente o focinho do Apolo. O cavalo bufou baixinho, e Lucas deu um passo para trás.
– Calma! Ele só tá sentindo seu cheiro. Ele não vai te morder – garanti, rindo da reação dele.
– Tá, mas ele é muito maior do que parece nos filmes, hein? – comentou Lucas, com um misto de fascínio e receio.
– É porque ao vivo é bem diferente. Agora chega mais perto e passa a mão no pescoço dele. Isso, assim mesmo.
Lucas começou a relaxar, acariciando o cavalo com mais confiança.
– Pronto, agora vamos pra sela. Vou segurar aqui pra você – disse, ajustando os estribos e verificando as fivelas. – Primeiro, coloca o pé no estribo e segura firme aqui na sela. Usa a outra mão para segurar a crina, mas sem puxar muito, tá?
Lucas me olhou desconfiado.
– Tá falando como se fosse simples, mas eu sou descoordenado demais pra isso.
– É simples! Só que, se você cair, já sabe, né? Vai ser motivo de zoação pelo resto da viagem.
– Nossa, ótimo incentivo – respondeu ele, rindo.
Ele colocou o pé no estribo e tentou se impulsionar. O movimento foi um pouco desajeitado, mas consegui segurá-lo a tempo de evitar um tropeço.
– Calma aí, Lucas! Não tenta pular de uma vez. Faz com mais suavidade. Aqui, vou te dar um empurrãozinho.
Coloquei a mão em suas costas e o ajudei a subir na sela. Dessa vez, ele conseguiu montar direitinho. Lucas segurou as rédeas com firmeza e olhou para mim, orgulhoso.
– Caraca, tô em cima de um cavalo!
– Sim, parabéns, você virou um cowboy – brinquei, ajeitando o chapéu dele, que estava torto. – Agora, vamos ao próximo passo: andar.
– Andar? Espera, eu mal consegui subir!
– Relaxa, Apolo vai no ritmo certo. Só aperta levemente as pernas contra ele e dá uma puxadinha suave na rédea direita pra ele virar.
Lucas seguiu minhas instruções com cuidado, e o cavalo começou a caminhar devagar. Ele arregalou os olhos, como uma criança descobrindo algo incrível.
– Meu Deus, tô andando! Olha isso, Rafa! – disse ele, animado.
– Tá indo bem, cowboy! Só cuidado pra não se empolgar e querer correr antes da hora.
Enquanto Lucas ganhava confiança, caminhei ao lado dele, guiando Apolo por um pequeno trajeto. O sorriso de Lucas era contagiante, e ver sua alegria genuína tornava o momento ainda mais especial.
– Sabe, isso é incrível. Nem sei como explicar. Parece... libertador.
– É exatamente isso. Quando você pega o jeito, cavalgar vira uma das coisas mais gostosas de fazer. Daqui a pouco, você já vai querer correr pelo campo – respondi, enquanto montava meu próprio cavalo.
– Duvido, mas... quem sabe?
Ele riu, e seguimos juntos por um tempo, a brisa leve acariciando nossos rostos e os sons da fazenda compondo a trilha sonora daquela manhã especial.
Enquanto Lucas ia ganhando confiança no Apolo, ouvimos o som de passos se aproximando. Era a Brenda, que vinha em nossa direção com um sorriso radiante.
– Olha só, o meu cowboy! – ela exclamou, batendo palmas enquanto Lucas, com uma postura quase profissional, fazia o Apolo andar devagar.
– Tá vendo isso, amor? Eu nasci pra isso! – Lucas brincou, erguendo as rédeas com orgulho, embora o Apolo continuasse no ritmo tranquilo de sempre.
– Nasceu mesmo! Já vou até encomendar um chapéu pra você – respondeu Brenda, rindo.
Nesse momento, Bernardo e Sofia apareceram, cada um conduzindo um cavalo. Bernardo já estava montado, parecendo totalmente à vontade, como se tivesse feito isso a vida inteira. Ele me lançou um sorriso maroto antes de passar por nós, puxando o cavalo para o lado do meu.
– E aí, amor, vai montar ou precisa de ajuda? – ele provocou, piscando.
– Já montei o meu, só tava ajudando o iniciante aqui – respondi, apontando para Lucas.
– Por favor, não chama o Lucas de iniciante. Ele tá levando isso a sério – Sofia entrou na conversa, enquanto ajeitava a sela do cavalo dela.
– Tô mesmo, hein! E sem cair até agora – Lucas respondeu, todo orgulhoso.
Brenda disse logo depois, olhando para os cavalos com um misto de admiração e pavor.
– Acho que vou ficar só olhando mesmo – disse ela, cruzando os braços. – Esses bichos são muito grandes pra mim.
– Ah, Brenda, deixa de frescura! Vai na garupa comigo – sugeri, apontando para o meu cavalo, um alazão manso chamado Júpiter.
Ela hesitou, mas acabou aceitando.
– Tá bom, mas só porque confio em você, viu? Se esse cavalo correr, eu te mato!
– Relaxa, ele é tranquilo. Vem cá, vou te ajudar a subir – disse, segurando sua mão enquanto ela subia cuidadosamente atrás de mim.
Quando finalmente estávamos prontos, Lucas não perdeu a oportunidade de soltar uma piada:
– Ainda bem que você é gay, Rafa. Porque se não fosse, com essa Brenda aí na garupa, meu Deus.
Todos caíram na risada, inclusive Brenda, que fingiu dar um tapa no braço de Lucas.
– Lucas, você é terrível! – ela exclamou, rindo, enquanto ele ria junto, claramente satisfeito com a própria piada.
– É sério! O Rafa é carismático demais. Se ele fosse hétero e tivesse que competir, tava perdido – ele continuou, piscando pra mim de forma brincalhona.
– Pode parar, Lucas. Tá ficando convencido já – retruquei, rindo.
Com todos prontos, começamos a cavalgar pelos campos. O vento fresco batia em nossos rostos enquanto conversávamos e trocávamos brincadeiras. Lucas, agora mais confiante, se aventurava a trotar um pouco com o Apolo, enquanto Brenda o seguia agarrada na minha cintura, observando cada movimento com admiração.
Bernardo, como sempre, parecia em casa no cavalo, galopando um pouco mais à frente, mas sempre voltando para verificar se todos estávamos bem. Sofia seguia tranquila, apreciando a paisagem ao redor.
Era uma manhã perfeita, cheia de risadas, leveza e momentos que, com certeza, ficariam gravados na memória de todos nós.
____
Decidimos levar todo mundo até a famosa cachoeira da família. Era um dos nossos cantinhos mais especiais, e a ideia de mostrar aquele lugar para os que ainda não conheciam me deixava animado, seria a primeira vez que não rolaria putaria naquela cachoeira, um grande marco nessa historia hehe.
– Vocês vão amar – comentei, olhando para Lucas, que vinham logo atrás no ritmo lento dos cavalos.
– Essa cachoeira é mesmo tudo isso que você tá falando? – perguntou Brenda, um tanto desconfiada, mas com curiosidade nos olhos.
– Vai por mim. É mais bonita do que as fotos que tirei e mostrei pra vocês.
A trilha até a cachoeira era cercada de verde, com o som de pássaros e o cheiro da natureza tomando conta. Bernardo liderava o grupo, Sofia e Letícia vinham logo atrás dele, conversando e apontando as árvores altas e o brilho do sol atravessando as folhas. Lucas parecia encantado com tudo, absorvendo cada detalhe como se quisesse guardar tudo na memória.
Depois de quase meia hora de caminhada – e muita expectativa por parte dos novatos – chegamos ao lugar. A vista era de tirar o fôlego.
– Uau... – foi tudo o que Lucas conseguiu dizer, parando abruptamente e ficando estático ao ver a cachoeira pela primeira vez.
– Meu Deus, Rafa, isso é lindo demais! – exclamou Brenda, largando as rédeas do cavalo e correndo para a beira da água.
A queda d’água descia com força, formando um véu cristalino que brilhava sob a luz do sol. A piscina natural ao pé da cachoeira refletia o céu azul e as árvores ao redor, criando um cenário que parecia saído de um sonho.
– Isso aqui é inacreditável! – disse Lucas, descendo do cavalo com certa pressa. Ele ficou parado por um momento, admirando a paisagem.
– Bem-vindos ao nosso lugar secreto – anunciei com um sorriso, desmontando também.
– Lugar secreto mesmo... E com razão. Dá até medo de contar pra alguém e estragar – brincou Lucas.
– Vocês têm que entender que essa cachoeira é mais do que só um ponto bonito pra gente – comecei, enquanto Brenda se ajoelhava na beira da água, tocando-a com a mão. – É aqui que a nossa família sempre vem pra relaxar, pensar na vida... e, bom, resolver certas pendências. – Lancei um olhar de lado para Bernardo, que entendeu na hora, mas ficou em silêncio, rindo de canto.
Brenda notou e cruzou os braços, olhando para mim e para Bernardo com curiosidade.
– Pendências? Que tipo de pendências?
– Nada demais, amiga. Coisas de família – desconversei, dando uma piscadinha para aliviar o clima.
Lucas não conseguia desgrudar os olhos da cachoeira. Ele se aproximou da água e tirou algumas fotos com o celular, tentando capturar a beleza do lugar.
– Rafa, sério... Você devia cobrar entrada pra esse paraíso – ele comentou, rindo.
– E acabar com a paz do lugar? Nem pensar – retruquei, rindo junto.
Logo depois, todos começaram a se acomodar. Bernardo e Sofia foram os primeiros a mergulhar, enquanto Letícia, ainda com receio, ficou mais próxima da margem.
Foi nesse momento que percebi que Gustavo e JP não estavam conosco.
– Ei, cadê o Gustavo e o JP? – perguntei, olhando ao redor.
– Devem estar "ocupados", se é que você me entende – respondeu Brenda, arqueando as sobrancelhas e rindo.
Eu apenas sorri, balançando a cabeça.
– Aposto que eles estão aproveitando mais do que a gente aqui – ela completou, arrancando risadas do grupo.
Todos riram da observação da Brenda, mas ela, como sempre, tinha razão. Gustavo e JP haviam trocado olhares e pequenos flertes ao longo da viagem, então não era surpresa que estivessem aproveitando o tempo sozinhos.
– Bem que você disse, Rafa, que o JP não ia ficar parado nesse carnaval – Lucas comentou, sentando-se em uma pedra próxima à cachoeira, observando a água cristalina.
– É, parece que o cupido andou trabalhando, né? – acrescentei, rindo.
– Ainda bem que não chamamos. Assim eles têm mais tempo pra... sei lá, se entenderem – disse Sofia, que tirava fotos da paisagem enquanto tentava enquadrar todo o cenário, incluindo a cachoeira e os cavalos amarrados próximos.
A manhã na cachoeira foi tranquila e cheia de risadas. Brincamos na água, conversamos sobre tudo e nada, e o tempo parecia fluir de maneira diferente ali. Cada um aproveitou o momento à sua maneira, mas o encanto do lugar deixou uma marca em todos nós.
Quando o sol começou a ficar mais alto, decidimos voltar para a fazenda. O almoço já estava nos esperando, e precisávamos nos preparar para o primeiro bloco do carnaval, que sairia às 16h.
Ao chegarmos à fazenda, o cheirinho de comida já tomava conta. Tinha feijão verde, arroz de leite, carne de sol na manteiga e uma salada caprichada. A mesa estava farta, e minha tia Claudia nos recebeu com um sorriso:
– Vocês chegaram na hora certa! É só lavar as mãos e se servir.
Sentamos para comer e, como sempre, as conversas ao redor da mesa foram recheadas de piadas e histórias engraçadas. Lucas ainda estava empolgado com o passeio a cavalo e contou a todos sobre a experiência.
– Nunca imaginei que montar cavalo fosse tão divertido. Até parece que nasci pra isso! – disse ele, enquanto Brenda revirava os olhos, rindo.
– Ah, claro, um cowboy nato – ela provocou.
Depois do almoço, todos começaram a se arrumar. A energia da fazenda estava contagiante, e o clima de carnaval já tomava conta. Cada um colocou sua melhor fantasia ou look carnavalesco. Lucas e Brenda foram de roupas combinando, algo mais casual, enquanto eu e Bernardo optamos por camisas leves e shorts, prontos para o calor da folia.
Por volta das 15h30, estávamos todos prontos e subimos na caminhonete que nos levaria ao centro do Alto. O caminho foi uma festa por si só, com todos cantando e fazendo barulho, cheios de expectativa para o que a noite nos reservava.
Ao chegarmos, a rua já estava tomada por foliões. O bloco estava prestes a sair, e a música vibrante já nos chamava para a festa. Bernardo segurou minha mão por um momento, me puxando para perto dele no meio da multidão.
– Tá preparado? Hoje vai ser inesquecível – ele disse, com aquele sorriso que me fazia sentir que realmente seria.
E assim começou o nosso primeiro dia de carnaval, com a promessa de fortes emoções e memórias que ficaríamos relembrando por muito tempo.