— Brenda, você precisa parar com esses shows de ciúmes também. Toda hora uma reclamação, uma briga... isso só desgasta você e ele.
— Eu sei, Rafa, mas é mais forte do que eu. No carnaval, por exemplo, eu vi ele beijando uma menina de longe. Fiquei com tanta raiva, mas não falei nada. Tive medo de fazer escândalo e ele acabar me largando.
— Tá vendo como isso não é saudável? Você fica engolindo essas coisas e se machucando por dentro. Por que vocês não tentam uma relação aberta? Pode ser mais leve pra ambos, sem essas cobranças.
— Relação aberta? Jamais! Eu não conseguiria lidar com isso. Prefiro ser cega pra certas coisas e tentar controlar melhor ele. No fim das contas, o Lucas sempre volta pra mim.
— Mas, Brenda, você tá se enganando. Controlar alguém nunca dá certo. O amor de verdade não precisa de controle, ele precisa de liberdade.
— Ai, Rafa, para. Eu sei que você tá certo, mas eu não quero nem pensar nisso agora. Só quero ele do meu lado, do meu jeito.
— Tá bom, mas só lembra que viver assim pode acabar sendo mais doloroso do que você imagina.
— Talvez... mas enquanto ele me escolher, eu aguento.
— Brenda, pensa bem. Lembra quando o Lucas foi pro intercâmbio? Você ficou um ano aqui, sem ficar com ninguém, esperando por ele. E, honestamente, você acha mesmo que ele fez o mesmo lá? — Ela ficou em silêncio, e eu disse — Não é pra te machucar, mas é pra você refletir.
— Eu sei, Rafa. Mas eu não queria trair o Lucas, sei lá... é como se eu fosse dele, sabe? Não consigo te explicar, é mais forte que eu.
— Brenda, desse jeito você só vai acabar se machucando. O que você sente é amor ou é apego?
— Não sei... talvez um pouco dos dois.
— Só te digo uma coisa: esquece essa ideia absurda de engravidar. Barriga não segura homem, e você sabe disso. — A Brenda permaneceu novamente em silêncio e eu disse — Vamos voltar pra barraca? Já demoramos muito por aqui.
— Tá bom, Rafa.
Voltamos para a barraca e ficamos conversando sobre várias coisas. No fim da tarde, retornamos para a capital. Confesso que, enquanto dirigia, pensava nas coisas que a Brenda havia dito. Era de dar pena. Eu gostava muito dela, achava-a uma mulher bonita e interessante, mas ela era completamente cega e alucinada pelo Lucas. Ele pintava e bordava, sabendo que ela estaria sempre aos seus pés.
A verdade é que eu achava que o Lucas entendia exatamente o que a Brenda sentia e, por isso, fazia certas coisas sem medo, porque tinha a certeza de que ela jamais o deixaria. Apesar de gostar muito da Brenda e de estar começando uma amizade com o Lucas, aquela briga e aquele relacionamento não eram meus. Eu tentei dar um bom conselho para minha amiga, mas sabia que o que ela precisava mesmo era de muita terapia.
Depois de deixar a Brenda e o Lucas na casa deles, voltei com o Bernardo para minha casa. Pedimos uma pizza, assistimos TV e namoramos um pouco. Meu relacionamento com o Bernardo caminhava para algo mais saudável. Havia mais cumplicidade entre nós, e não escondíamos mais nada um do outro. Com o tempo, percebemos que já não havia necessidade de ficarmos com outras pessoas. A gente finalmente estava se completando.
Claro que, vez ou outra, saíamos para baladas e rolava uns beijos com outros caras, mas não passava disso. O JP, às vezes, também ficava com a gente. Não era algo rotineiro, mas, de vez em quando, acontecia entre nós três, o que supria aquela necessidade de ter mais uma pessoa na jogada.
(...)
A Semana Santa chegou, e fomos para a fazenda do tio Alysson. No meu carro estavam eu, Bernardo, Lucas, Brenda e no outro carro estavam quatro colegas da minha turma. O JP preferiu não ir; ele estava evitando falar ou ver meu tio. Ainda era um assunto delicado entre eles. Enquanto isso, o tio Alysson já estava nos preparativos para começar sua campanha para prefeito. Ele agia com muita cautela e não estava indo para a capital com tanta frequência.
Durante os dias na fazenda, foi tudo muito divertido. Conversávamos até tarde, fazíamos fogueiras à noite, e o Lucas, sempre com seu violão, criava uma atmosfera única ao cantar para todos. Durante o dia, andávamos a cavalo, explorávamos a cachoeira e, claro, nos esbaldávamos com as comidas incríveis preparadas pelas cozinheiras da fazenda.
O Lucas fazia questão de cavalgar diariamente, e eu, apaixonado por cavalgar, sempre o acompanhava. Nesses passeios, nossos papos fluíam de forma natural, e nossa amizade parecia se fortalecer a cada conversa. Ele tinha uma forma simples e carismática de falar, o que fazia qualquer assunto parecer interessante.
Tinha sido um feriado ótimo, uma pausa necessária para quebrar um pouco a rotina intensa da faculdade, que ficava cada vez mais pesada. Voltamos para a capital logo após o almoço. Primeiro, deixei o Bernardo em casa, depois a Brenda, e, por último, o Lucas. Quando estacionei em frente à casa dele, já eram quase 19h. Ficamos conversando no carro, como sempre. Nossas conversas fluíam de um jeito tão natural que, quando me dei conta, o relógio marcava 23h. Nem vi o tempo passar. Ele me puxou para um abraço apertado, e nos despedimos como bons amigos.
Na semana seguinte, na faculdade, estava em uma rodinha de conversa com o pessoal da turma, quando o assunto de um congresso de cirurgia plástica veio à tona. Ele aconteceria no mês seguinte, no Rio de Janeiro, e parecia ser uma oportunidade incrível. Apesar de ainda não ter certeza sobre qual área seguir, eu tinha um leve interesse nessa especialidade e fiquei animado com a possibilidade de ir.
— Quanto que é esse congresso? Vocês vão quando? — perguntei, curioso.
— Amigo, acho que a inscrição tá uns 1200 reais. Vai ser muito top! Vem uns médicos de fora, tem umas palestras incríveis... O caro mesmo é o avião. — respondeu Patrícia, empolgada.
— Ai, queria muito ir... — falei, deixando escapar minha animação.
— Vamos! Aqui da turma vai eu, a Vivi, o Artur, a Paula, a Priscila e o Pedro. Fora que vale horas complementares! — disse ela, tentando me convencer.
— Vou falar com o meu pai e ver a possibilidade.
Naquele mesmo dia, eu tinha um almoço de rotina com o meu pai, e aproveitei para falar sobre o congresso. Quando cheguei, o puxei para um abraço. Ele pediu nossos pratos e fomos conversando até que, meio sem jeito e envergonhado, eu falei:
— Pai, queria pedir uma coisa, na verdade, duas coisas.
— Pode pedir o que quiser, filhão. Tá precisando de dinheiro? — disse ele sorrindo.
— Mais ou menos — ri um pouco. — Então, no próximo mês tem um congresso de cirurgia plástica no Rio, e eu queria muito ir. Ainda não estou decidido a seguir essa área, mas é a que mais me atrai.
— Acho super válido você participar, é o congresso internacional de cirurgia plástica, né?
— Sim, sim, esse mesmo. Vai uns colegas de turma e fiquei com vontade de ir. Porém, tem os gastos com inscrição, passagem, hotel, essas coisas...
— Certo, filho. Faça o seguinte: mande mensagem pra Daniela, minha assistente, diga que você quer ir para esse congresso. Qualquer coisa, até já fale os voos que seus amigos vão pegar e o hotel que vão ficar, que ela resolve tudo.
— Certo, obrigado... daí queria te pedir outra coisa, pai.
— Pode pedir, filho.
— Eu nunca andei de avião, e confesso que tenho um pouco de medo. Sei lá, queria que, se fosse possível, o senhor fosse comigo... Como você não participou muito da minha vida, pensei que seria uma boa você estar ao meu lado enquanto eu ando de avião pela primeira vez.
Meu pai ficou com os olhos marejados e disse:
— Não se preocupe, estarei com você. Vou falar com a Daniela e pedir pra ela organizar minha agenda para essas datas. E faço questão de estar ao seu lado, filhão.