Abri os olhos e a primeira coisa que senti foi um resquício de sol invadindo a lateral da barraca. Esse é grande problema da 'minha casa': logo nas primeiras horas do dia você é obrigado a despertar, caso contrário, vira um assado ali dentro. Sem demorar muito abri o zíper que formava a porta e deixei que a brisa do mar, a poucos minutos dali, entrasse e comece a refrescar. Um alívio. Com a brisa veio um forte cheiro de café. Sempre irreconhecível e agradável. Era realmente hora de despertar. Ainda dentro da barraca vesti um short leve e uma regata surrada. Aparência é a menor das minhas preocupações. Passei os dedos em meu cabelo cacheado e bagunçado a fim de tentar deixá-lo mais apresentável. Impossível, ele sempre se mostra para todos os olhos. Espiei o movimento fora da barraca e vi a porta da casa de Marcelo aberta. Peguei minha escova de dentes, o creme dental e sem fazer qualquer barulho escovei os dentes ali mesmo na torneira do quintal. Pronto, agora parecia mais gente e pronto para descolar um xícara de café. - Marcelo! - exclamei escorando na porta da casa, fingindo surpresa. - Entra. Acabei de terminar o café. - Eu senti o perfume daqui. Isso são horas de me despertar? - brinquei enquanto entrava, sem cerimônias. Ele riu, colocando uma xícara sobre a mesa, ao lado de mais algumas comidas. Sentei, desvirei a xícara e logo ele me serviu o café. - Obrigado. E prometo não abusar de sua bondade, mas café é sempre convidativo. - Se você não viesse eu lhe chamaria, pode apostar. E além do mais, eu gosto de visitas - ele disse me passando uma cesta com pães recheados de alguma coisa. Logo vi que era presunto. Para um viajante sem dinheiro, eu estava no paraíso. Ele pegou sua xícara novamente, deu um gole no café e continuou sua fala. - Eu.. eu gostaria de corrigir um erro meu. - Um erro seu? - franzi a testa, denotando minha curiosidade. - É, um erro. Eu disse que meu nome era Marcelo. Eu menti pra você. Eu meio que estou evitando contato com o meu passado e aproveitando o isolamento da vila acabei mentindo. Meu real nome é Junior, mas me chame de Juca. Sempre me chamaram assim. Forcei uma expressão séria. - Então Juca... Prometo pra você que meu nome é Caio. Eu ri entregando meu tom despreocupado e ele gargalhou, entrando na brincadeira. - Juca... Juca... Parece aqueles personagens de novela das 7, aquelas de roça, sabe... Ele gargalhava e quando isso fazia sua cabeça tombava para trás. Era o que eu poderia oferecer em troca do café: um minuto de descontração. Ele terminou o café ainda aos risos, recolheu a louça que tinha sujado e de costas para mim começou a lavar os utensílios enquanto falava alguma coisa que começou a passar despercebido. Não havia maneira de lhe escutar enquanto eu o olhava. Naquele momento eu percebi o quanto ele era bonito e interessante. Parte dos meus sentidos ficaram comprometidos e só a visão se fazia presente. Ele estava mais despreocupado que na noite anterior. Usava um short laranja um tanto folgado e de tecido leve, mas ainda assim me entregava a silhueta de seu corpo. Levantei minha visão e caminhei por suas costas cobertas por uma camiseta igualmente folgada de um tom desbotado de azul. Azul é minha cor preferida. Cheguei em sua nuca e quis morar entre as pontas dos cabelos castanhos que roçavam aquela região. Sua pele clara queimada do sol me parecia suave e confortável. Eu jurava que conseguia sentir o cheiro de sal do mar que exalava daquela nuca. Continuando minha viagem passei por seus ombros largos, mas não exagerados e desci para seus braços firmes, fortes e igualmente queimados do sol. Fiquei admirando o quanto podia os movimentos que ele fazia ao esfregar a louça. Eu poderia assimilar os movimentos feitos ali ao momento do sexo, por exemplo. Eu poderia devagar ainda mais e despir ele mentalmente, só pra mim. Mas não, desviei meus pensamentos e me vi hipnotizado enquanto ele falava, ainda de costas pra mim. Num susto continuei a conversa. - E como eu disse, a vila costuma ficar movimentada aos fim de semana, ainda mais nesse começo de ano. - Ah, sim. Claro. Consigo imaginar o quão movimentado deve ser - disfarcei. Ele virou seu corpo de frente pra mim segurando um copo ensaboado. - Mais tarde vamos sair, Caio. Vamos beber alguma coisa. POR MINHA CONTA - enfatizou enquanto dava uma piscada com o olho direito, risonho. - Não posso e nem consigo recusar. Levantei carregando minha xícara e caminhei até a pia. Ele a tomou de mim e num segundo estava lavada. Me afastei e arrumei a mesa do café. Lá fora o sol brincava no quintal e eu pretendia usar essa estada prolongada para lavar algumas roupas. Para o almoço ele implorou que eu o deixasse pedir comida. Ele me venceu. Compramos comida e passamos o resto do dia pelo quintal entre conversas fiadas e longas risadas. Admito que eu tenho facilidade em me sentir próximo das pessoas. Eu as deixo se aproximar e permito que elas me conheçam. Sou fácil em criar uma relação e dessa vez não foi diferente. Eu estava confortável ao lado dele e até pensava em pedir mais alguns dias em seu quintal. Poderia ser um passo ousado, eu sei, mas queria aproveitar um pouco da companhia de Juca, como ele gostava de ser chamado. Queria guardar mais alguns momentos daquele sorriso hipnotizante.
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o conto ta muito bem escrito..coisa de profissa... kkkk...eu gosto de pegar mochileiro na estrada...ou melhor...trecheiro, com eles se denominam..sempre rola uma scanagem..