O Mochileiro #Décima Parte - Gosto de Surpresa.

Decidimos estender nossos dias na Vila de Jericoacoara e por causa disso Juca resolveu alugar uma pequena casinha. Por coincidência ela também era amarela. Eu estava adorando prolongar esse tempo e viver mais um pouco o lugar. O único problema é sempre a quantidade de turistas, mas isso a gente contorna visitando praias mais isoladas.

Acordei já suando como de costume. O sol nunca dá trégua por esses lados do país. Tomei um banho básico e saí para comprar alguma coisa que servisse de café da manhã antes que Juca acordasse. Eu sempre fazia isso. No mercadinho que era quase tão pequeno quanto a nossa casa temporária, comprei algumas frutas e um bolo de laranja, daqueles que carregam o gosto e o cheiro da casa da Vó. A moça que cobrava as compras era sempre tão simpática quanto os outros locais. Seu “bom dia” era tão iluminado quanto o sol que já me fazia pedir arrego. Separava o dinheiro quando, lá na rua de areia, um corpo desnudo me chamou a atenção. Não consegui ver seu rosto, apenas o vulto e sua silhueta sumindo de vista. Corri apressado para a calçada e busquei entre os transeuntes. Nada. O corpo iluminado sumira entre tantos outros.
No caminho eu tentava, em vão, tirar a visão dos meus pensamentos. Eu sabia quem era aquele fantasma. Eu reconheceria aquele corpo dourado e queimado de sol entre um milhão de outros corpos. Era Chile. O coque de dreads no alto da cabeça também o denunciava. Estávamos na mesma Vila e o destino estaria tramando nosso encontro. Eu não poderia evitar.

- Você viu o fantasma de um pirata?
- O quê? Hã?
Juca praticamente cobrava minha atenção. Justo. Estávamos na mesa e eu obviamente estava desligado com os pensamentos em... bom... você sabe!
- Não. Porque um fantasma me perseguiria? – Abocanhei um pedaço de bolo.
- Você chegou com esse olhar de quem estava sendo perseguido. Ande, me fale. Vamos atrás dele agora! – Juca usava um tom desafiador. Quase heroico.
- Ahhhhh, por favor. Essa praia só tem lugar para dois piratas. Estou olhando para um deles agora. – Sorri dando um piscadinha brincalhona. Ele sempre entrava nas minhas brincadeiras. - E falando em piratas... por acaso usou seu gancho para me apunhalar ontem a noite?
- Hein? Você está meio bêbado, não é? – Ele franziu as sobrancelhas.
- Minhas costas doem e provavelmente deve haver alguns hematomas.
- Ah! Você pediu pra ir com força. Eu acatei ordens. Não é assim que funciona?
- Porra... – primeiro lancei um olhar sério e depois sorri entregando minha brincadeira -... dá próxima vez vou pedir pra me fuder mais forte.
- Você goooooosta! – Ele sorriu puxando minha mão para seu rosto. Beijou levemente meus dedos cheirando a bolo de laranja.
- Eu gosto. De você inteiro, aliás.
Deslizei meus dedos por seu rosto e apertei a ponta do seu queixo, tão suave quando o vento que invadia janela adentro.

Depois de uma caminhada não muito intensa chegamos na praia que normalmente gostávamos de ir depois do almoço. Estava vazia como sempre, com exceção de pouquíssimas pessoas. Eu nunca esperava um segundo sequer, já corria para o mar e Juca sempre se apossava da areia. Eu era o bicho aquático da relação.
Mergulhei algumas vezes e quando emergi vi alguém se aproximar de Juca. “É sério que os camelôs estão chegando até aqui?” pensei. Não me importei e continuei minhas sequências de mergulhos. Juca demorava a entrar na água, e sendo assim, precisaria de um leve empurrão. Já saía do mar tentando eliminar a água que escorria em meu rosto com as próprias, enquanto gritava na direção dos dois na areia.
- Não acredito que você ta com medo do... – Minha voz falhou quando avistei, enfim, quem fazia companhia a Juca. Não só falhou como parecia ter ido parar em minhas entranhas. Eu não conseguia concluir. Eu paralisei.
Chile, que estava de costas, se virou num giro tão perfeito que parecia ensaiado e já esbanjava o sorriso divino nos lábios grossos. Seu corpo estava ainda mais evoluído, seus dreads pareciam mais volumosos, sua pele mais dourada assim como os pelos que cobriam seus braços, pernas e barriga. Seu peito liso tomou forma e agora estava desenhado. As linhas do seu corpo estavam ainda mais notáveis. Como sempre usava apenas um short que ao vento colava em seu corpo me presenteando seu volume lindo e calçava chinelos surrados. Juca estava sentado ao seu lado, também sorrindo, tão lindo quanto Chile.
“Volta. Volta pro mar. Deixa a corrente te levar. Some daqui” eu dizia para mim mesmo enquanto me aproximava, claramente surpreso com a presença de Chile. Ele parecia me provocar com seu sorriso brilhante.
- Medo de quê? Do mar? Nunca! – Juca falou enquanto se levantava. – Aliás, este é Chile. Disse que acabou de chegar e descobriu esta praia por acaso.
Chile me estendeu a mão. O sorriso ainda estava ali. Minha mão visivelmente tremia e eu desabaria a qualquer momento. Não era medo. Não era temor ou nada parecido. Pelo contrário, eu sentia a mesma coisa pelos dois homens parados a minha frente. E isso é demais para qualquer ser humano.
- Chile. – Ele apertou minha mão com a força necessária para me passar um recado que dizia “nos encontramos, enfim.”
- Ca.. Caio! -
- Como está a água? Perfeita, ouso chutar. – Ele percorreu meu corpo molhado com o olhar enquanto soltava minha mão.
- Perfeita. Com gosto de surpresa. – Eu disse me direcionando a Juca. O beijei rapidamente os lábios, emitindo um claro aviso.
- Oh, desculpe por isso. – Juca disse a Chile enquanto interrompia o beijo.
- Que isso. Pelo contrário, que belo casal! – Chile sorriu e completou – Bom... eu vou pro mar. Cuide do medo do seu namorado, Caio. O mar não morde.
Ao risos ele correu até a água. Eu desabei vendo seu corpo dourado se mover pela areia. Juca sentou ao meu lado, dando leves beijos em meu ombro.
- Que rapaz simpático, não?!
- É... bastante simpático.
- E bonito – ele deu um beijo em meu rosto.
- Aí já é abuso. – Eu sorri ainda nervoso.
- Ahh, só estou elogiando. Realmente o achei bonito e ele não se importou com o beijo. Ou seja: boa pessoa é!
Apenas soltei o ar que segurava num suspiro.
- Confessa. Ele é gato!
- JUCA! – Eu o empurrei suavemente, fazendo-o rir.
- Ele disse que ainda não tem onde ficar.
- Mochileiros. Sempre indo com a cara e a coragem – eu disse penteando meus cabelos com as pontas dos dedos olhando discretamente na direção de Chile que se apossava do mar.
- Igualzinho a gente, não é? Tem mais... Ele ficará na casa conosco!
Eu paralisei pela milésima vez num mesmo dia.
Não podia ser. Tudo bem nos reencontrarmos, mas isso? Ah, só poderia ser tramoia desse deus cor de sol. Eu estava ferrado, para não dizer fudido!


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Comentários


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luquinhassouza Comentou em 24/04/2016

Preciso da continuação, senhor! To até imaginando os três já! Socorro!

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rodrigopaiva Comentou em 22/04/2016

Xiii acho que vem suruba por ai... Mas já que é só sexo e ninguém tem aquele amorrr de querer o outro só p si, então ta valendo. Que venha muito sexo...

foto perfil usuario haroldolemos

haroldolemos Comentou em 22/04/2016

Tensão e tesão no ar! Vai rolar a três? Ansioso aqui!




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Ficha do conto

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Nome do conto:
O Mochileiro #Décima Parte - Gosto de Surpresa.

Codigo do conto:
82193

Categoria:
Gays

Data da Publicação:
21/04/2016

Quant.de Votos:
7

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