O Mochielrio #Parte 12- Ele É Quase Um Deus

Acordei pesado com a sensação de ter três vezes o meu peso sobre meu corpo. Eram apenas as primeiras horas do dia e minha cabeça já doía. Claramente eu estava sob o efeito das consequências do susto na noite anterior. Melhor posicionei o travesseiro embaixo da minha cabeça e Juca tratou de puxar meu corpo para o seu, enfiando assim seu rosto em minha nuca, numa conchinha confortável. Não consegui travar a memória e logo viajei para as últimas horas da noite passada.

Juca estava sentado na cama com as costas apoiadas na cabeceira. Vi em seu rosto uma expressão indecifrável. Eu nem ao menos conseguia chutar o que se passava em sua cabeça. Quando finalmente consegui soltar meu corpo que era literalmente amparado pela porta, dei alguns passos na tentativa de dar a volta na cama.
- Nem tente me dizer que “não é isso que eu está pensando”. – Ele disse sem alterar o tom usual de sua voz.
- Eu... Eu... Desculpa!
Minha cabeça estava baixa, obviamente. Sem forças para dar a volta completa, sentei na beirada da cama de costas para Juca. Ele suspirou pesadamente e o ouvi se arrastar pelo lençol. Sentou na mesma posição que eu. Estávamos na mesma condição naquele momento: ambos constrangidos.
- Não precisa dar nenhuma desculpa.
- Não pretendia. – O interrompi.
- Não? – Ele que não me olhava, me lançou um olhar curioso.
- Não. Não ia lhe encher de justificativas banais para o que eu fiz, se é que você viu alguma coisa.
- Eu vi praticamente tudo. E não foi legal!
- É... Desculpa novamente, mas eu quis aquilo – o olhei sem medo, afinal, estava feito.
- Eu sei que você queria. Eu sabia quando o vi sair da cama.
Juca estava incrivelmente tranqüilo. Não parecia alterado e usava o seu tom de voz normal ao falar. Era impossível entender o que acontecia dentro dele.
- Como assim... sabia? – Eu que estava curioso agora.
- Eu também sabia quem você vira quando chegou naquele estado, completamente assustado. Na rua, um par de olhos nos mirou incredulamente. Eu também sabia quem era. E quando Chile me cumprimentou na praia, afirmando estar ali por acaso e um tanto perdido... eu também sabia de quem se tratava.
- Juca, do que você está falando? – Eu me virei um tanto de lado, estava quase de frente para ele.
- É a pele dourada, os cabelos compridos, a linha que desenha o corpo dele. A silhueta e a forma como o short cai abaixo da cintura e mostra um pouco da bunda. – Ele falava olhando para as mãos, gesticulando de forma que quase moldava o corpo de alguém. – É o queixo bem marcado, os ombros largos para um corpo não muito grande e a forma como se move, quase divinamente. Você estava certo no diário, ele é quase um deus.
Ao terminar de falar Juca me olhou com um sorriso pendurado nos lábios. Posso jurar que ele me encontrou com a boca aberta, completamente espantado. Não me contive.
- O diário! Mas eu li apenas algumas linhas. Você...Ah não, você leu escondido? – Saiu quase pausadamente.
- Você lê aquelas linhas onde fala, sem pudor algum, da bunda do certo rapaz e depois não quer despertar em mim uma curiosidade não humana? Você deixou o diário lá em cima da mesa. Eu juro que li apenas as páginas que dizem respeito a ele. Apenas estas!
- Apenas estas... – Eu repeti suspirando com força.
- Entenda! Eu não poderia me sentir traído com o que vi agora. – Eu voltei o olhar ao encontro dele. Seus olhos se apertavam e ele só fazia isso quando estava sendo verdadeiro. – Esse encontro era algo marcado para acontecer. Eu jamais lhe privaria disso. Pode doer em mim lhe ver com outro alguém, mas...
Eu o interrompi.
- Mas nada. Eu estou com você agora! – Escorreguei minha mão esquerda pela coxa de Juca e a enfiei na dobra do seu joelho pela. Ele se sente confortável e seguro quando faço isso.
- Eu sei. E eu quero que continue comigo. Mas... e o que existe entre vocês?
- Eu mato afogado no mar. Bela forma de morrer, não? – Eu tive que sorrir com minha mentira descarada. Não morreria tão fácil assim. Juca sabia disso, tanto que riu comigo.
- Você não vai conseguir. Por hora eu quero que você durma. E sem pesos, sem medos ou arrependimentos. Combinados?
Juca me estendeu a mão e eu a apertei. Ele ainda carregava o sorriso pendurado no canto dos lábios.

- Bom dia. – Ele sussurrou em minha nuca e ao fazer isso me despertou dos pensamentos.
- Bom dia. – Apertei seu braço em meu corpo ao falar.
- Lembre-se: sem pesos, sem medos ou arrependimentos – ele me disse. Pude ouvir o som do seu sorriso enquanto levantava da cama e completou – arrume essa cara. Te espero na cozinha. Climão é o prato do dia.
- Jucaaaaa, não brinca comigo. – Falei afundando o rosto no travesseiro.

Lavei o rosto, escovei os dentes, domei os cabelos que já caíam sobre a orelha de tão grandes e vesti o de sempre: short e regata. Barulho de xícaras e talheres vinha da cozinha. “Ah não, aqueles dois juntos. De novo!” pensei quase soltando um suspirando.
Abri a porta evitando olhar diretamente para Chile, mas era impossível. Ele estava sentado à mesa. Juca lhe preparava um pão na chapa.
- Acordou do coma. Amém! – Juca disse num sorriso.
- Rá! Rá! – fui irônico enquanto me aproximei da mesa. Puxei uma cadeira e sentei, o mais distante possível de Chile.
Aproveitando que Juca não nos olhava, Chile apontou para ele, obviamente perguntando se eu tinha contado sobre a noite anterior.
- Agora não! – sussurrei como resposta.
- Um pão. Dois pães. O senhor precisa de mais algo? – Juca se virou rapidamente, servindo os pães de Chile com um sorriso que poderia atingir ambas as orelhas.
- É... Nem precisava. Eu disse que faria... – falou Chile num susto.
- Quieto! E você, Caião, o que quer?
- Caião? – Eu tive que sorrir. – O mesmo. E na mesma quantidade. – Ao terminar de falar ganhei um beijo rápido. Provocativo que é, Juca virou o rosto e olhou para Chile, ainda com aquele sorriso largo. Ele é terrível quando quer!

Lanchamos. Chile inventou de sair para dar uma volta mas prometeu a Juca, por ordem dele, que voltaria para o almoço. Até confiscaria sua mochila se fosse preciso.
Almoço sem grandes surpresas. Cada passo que eu dava me distanciando um centímetro sequer dos dois, imaginava que Juca abriria o jogo. Felizmente nada aconteceu. Nenhum assunto foi jogado sobre a mesa. Eu não entendi porque continuava apreensivo mesmo sabendo que Juca não estava chateado com o que aconteceu.

O Sol baixava no horizonte. Juca estava inquieto olhando pela janela da cozinha.
- Vamos pro mar.
- Porque isso agora? – perguntei.
- Por do sol. Vamos! – Ele praticamente já saía em direção a porta.
- Você vem! – Falei quando passei por Chile que me acompanhou.
Juca carregava algumas poucas cervejas que tinha na geladeira. Chile andava levantando o short folgado de sempre chutando a areia enquanto caminhava, eu andava devagar a fim de ver os dois caminhando. Eram lindos. Ah, como eram. Qual deles eu deveria deixar para trás era a pergunta que dançava sobre meus cabelos ao vento.
- Sabe... eu poderia viver pra sempre disso aqui. Sol, mar, cerveja e homens. – Juca falou ao sentar, sem olhar para trás.
- Há pouco tempo atrás você diria o quê? Sol, mar, cerveja e mulheres? – Eu perguntei me acomodando na areia ao seu lado.
- Mulheres? – Juca pareceu curioso ao sentar ao meu lado.
- Ok. Papo pra outro momento, Caio! – Juca riu ao cortar o assunto.

Tomamos as quatro ou cinco cervejas. As garrafas estavam jogadas pela areia. O sol já tinha passado do horizonte há tempos. O céu estava pintado de um roxo escuro e resquícios de um laranja vivo no fundo da “tela”. Num pulo Juca levantou e se livrou do short que vestia. Exibia uma cueca qualquer.
- Sem desculpas. Os dois... No mar! – Ordenou e saiu caminhando em direção a água.
Chile e eu nos entreolhamos.
- Não pense no que aconteceu ontem... Viva esse momento! – Eu ri e também em pulo me vi livre do meu short. Diferente de Juca eu estava pelado. Chile riu e quis tapar os olhos, mas sem demoras também estava completamente pelado e corria, mais rápido que eu, para a água. Ultrapassamos Juca e nos tacamos no mar agitado.
Em segundos os três estavam completamente molhados quando a água atingiu nossas cinturas. Chile saltava de forma que víamos sua bunda ao sair da água. Juca ria e me puxava para junto de si. Num riso ele me beijou com seus lábios molhados e salgados. Agarrei seu corpo escorregadio e retribui o beijo com a mesma intensidade. Foi um beijo longo, apaixonado e carinhoso. Sua língua, como sempre, fazia um ótimo trabalho em procurar pela minha. Senti uma de suas mãos saírem da minha cintura. Paramos o beijo. Juca estendia seus dedos na direção de Chile, que era praticamente hipnotizado e caminhava em nossa direção calmamente, abrindo o mar com sua cintura moldada pelos deuses. O céu agora se pintou de todas as cores possíveis. Não era apenas roxo e um laranja desfocado. Rosa, azul, vermelho, lilás, amarelo. Era uma festa de cores.
Eu sorria confortavelmente enquanto Chile se aproximava. Não acreditava que isso aconteceria diante dos meus olhos. Aliás, o que estavas prestes a acontecer?


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Comentários


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rodrigopaiva Comentou em 04/05/2016

Hum... Como eu suspeitei uma surubinha rsrs. Adeptos do poliamor, Acho legal,mas não da p mim. Não conseguiria ficar dividindo atenção e alguem sempre acaba sobrando no final ??




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Ficha do conto

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Nome do conto:
O Mochielrio #Parte 12- Ele É Quase Um Deus

Codigo do conto:
82694

Categoria:
Gays

Data da Publicação:
02/05/2016

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