Era Marcos.
- Em Campinas não existe campainha não? Por isso que você ficou com o dedo colado neste botão? – perguntei rindo.
- Tem sim, mas lá as pessoas costumam atender as portas quando outros tocam...rsrsrsr – mais uma vez usou daquele deboche com o qual eu já estava me acostumando e aprendendo a copiar.
- Ahhh...até quando elas estão ocupadas, “senhor apressado” ?..kuauskausuaka
- OHHH...- debochado novamente, Marcos exclamou – perdão “senhor ocupado”, não queria interromper seu compromisso, é que acreditando que o senhor estivesse me esperando, não achei fosse bater punheta a essa hora da tarde..rsrsrsrsr...- disse isso e caiu na gargalhada.
- Punheta o que Mané!! Entra logo, tava preparando um lanche pra nós.
Nem bem colocamos os pés dentro da sala...TRIM TRIM TRIM...
- SOCORRO !!!! – gritei bem alto – Me levem prá ATENTO.
Marcos olhos prá minha cara branco e super assustado com meu berro.
- Você tá doido, cara? – perguntou-me.
- Não, mas vou ficar se essa porra deste telefone não parar de tocar.
-Atende que ele para... rsrsrs
Com muita raiva tirei o fone do gancho.
- Alô !!! disse bem seco e alto.
- Tá bravo UCA ?
- Fala Vinny...como você ta?
- To bem... Mas eu liguei aí agora mesmo e atendeu na telefônica...que estranho !!!
- Esquece isso, depois te explico. Que é que manda.
- To indo prá ai amanhã, será que tem problema?
- Vem sim cara. O casal real não estará. Só estaremos eu e o Rafinha. Mas venha sim.
- Ok então... Vou desligar que tenho que resolver umas coisas, mas amanhã de manhã to ai...beijão.
- Beijo, Vinny.
Virei para o Marcos e disse. Esse telefone não parou de tocar desde a hora em que cheguei em casa. Ta me deixando maluco.
- Deu prá notar... rsrsr – riu Marcos, deixando seu rosto mais bonito do que já estava.
Kuakauskau... Mas agora era meu primo Vinicius, de São José dos Campos. Ele vem prá cá amanhã. Ele é muito legal. Você irá conhecê-lo.
- E você se despede sempre dele com beijo? – perguntou Marcos.
Em tom de ironia, respondi com uma pergunta.
- Seu questionamento é por ciúmes ou por preconceito?
- Nem uma coisa nem outra. Muito pelo contrário. Achei bonito você se despedir de seu primo com beijo. Sinal de que você não é machista e não possui, assim como eu, este tipo de preconceito de achar que homens não se beijam.
- Entendi. Sempre nos cumprimentamos com beijos entre nossa família. Não importa quem seja, se homem ou mulher. Nos beijamos a todos. É um costume afetuoso que cultivamos. E o Vinny é nosso primo mais chegado. Meu e do Rafinha. Ele tem dezenove anos. É dois anos mais velho que eu. Sempre nos carregou prá tudo quanto é canto. Gostamos demais dele. Ensinou-nos a nadar, jogar futebol e lutar judô.
- Então vamos ver se ele te ensinou lutar direito. Eu sou faixa preta.
Disse isso e me agarrou com as duas mãos pelos braços, e com os pés tentava me dar uma rasteira.
Fui dar um contragolpe virando-me de costas e agarrando em seu braço direito pata dar-lhe um tombo, fazendo-o passar por cima de meu ombro direito. Entretanto, ele foi bem mais ágil e impediu o golpe e me segurou , num golpe que nem era de judô me abraçando pelas costas e amarrando-me com seus braços de forma que ficamos colados, e de repente senti sua mala, que eu chamei de frasqueira encostada na minha bunda, que é bem durinha e destacada. Seu pau parecia estar meia-bomba, mas crescia enquanto seu corpo roçava ao meu. Isto tudo fazia com que eu sentisse um tesão sem igual. Não estava nem ai se um homem estava me dando uns catas ou não. Nunca tinha sentido aquela sensação. Queria continuar ali por muitas horas.
E ele com voz sorridente dizia ao ouvido meu – escapa dessa agora...Vamos ver se seu priminho lhe ensinou lutar direito.
Eu, que não sou burro, não queria escapar dali de jeito nenhum. Ao mesmo tempo não podia deixá-lo perceber isto. Fingia querer escapar. Afinal, não sabia se aquele esfrega tinha da, parte dele a intenção sexual, ou era apenas estas brincadeiras de lutinhas que heterossexual tem mania de fazer. Até que... TRIM TRIM TRIM TRIM – o telefone novamente.
- ATENTOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!!! ...Me contrata ou me mato.
Desta vez disse com raiva mesmo:
- Alô! –gritando e bravo pelo fato de ser interrompido no meu momento de tesão com aquele gato que me encantava desde o final da manhã quando o conheci.
Do outro lado da linha a pessoa gaguejou e disse hesitante
– Quem ta f falando ?
Eu estava muito puto mesmo e respondi:
- Meu amigo, se você quem ligou, deveria saber com quem fala, não acha?
Educadamente a pessoa do outro lado da linha respondeu.
- Aqui é o RB, sou amigo do Rafa. Ele me passou o endereço da casa dele. Achei a rua, mas me esqueci do número. Ele está ai?
- Perdão, RB. O Rafinha ta chegando, mas você pode entrar. O número da casa é 590. Você está em qual altura?
- To noPertinho. Mais duas quadras. Venha que te espero no portão. Desliguei e fui em direção ao portão.
Virei-me para Marcos, que ouvira a conversa.
- Vou lá abrir o portão para o moleque. Vá comendo o lanche que preparei para nós.
- De jeito nenhum, sou educado.. Eu espero você para comer – disse isso num tom cheio de malicia e com um sorriso largo no rosto.
- Ok, já volto.
- Depois continuamos a nossa lutinha, fracote.
- Com certeza – era o que eu mais queria mesmo – e vou te mostrar quem é o fracote – e pensei “por mim que você me imobilize em todas as lutas”, e ri em pensamento.
Aguardei uns minutos ao portão e como RB não chegava, Marcos foi até mim.
- O moleque não apareceu?
- Não. Mas, não tem jeito dele se perder. A não ser que não conheça números... kaukskasuaksua.
De repente Marcos me faz uma pergunta que me corou.
- Por qual razão você “tava” tão bravo quando o atendeu ao telefone?
Hesitei ao falar. Não poderia dizer que era pelo fato de estar gostando de esfregar minha bunda em seu pau e ter sido interrompido.
- Ah! Você sabe quantas vezes o fone já tocou no meu ouvido hoje? Kuausaksuaksua. Não agüento mais atender ao telefone.
Nisso vira a esquina um rapaz magro, alto definidinho, de bermuda caindo mostrando a parte superior da cueca, com uma camiseta regata bem colada ao corpo. Um cabelinho com gel, puxado para cima. Uma rala barba desenhando o contorno do rosto, como se fosse feita com lápis de pintar os olhos. Trazia uma mochila nas costas e vinha em nossa direção. O moleque era bonito mesmo. Apesar de ser bem masculino, seu rosto era de uma beleza delicada.
- Oi. Demorei, pois, lembrei-me que esqueci a escova de dentes e fui comprar uma em uma farmácia que encontrei ai perto. – estendeu a mão e sorridente se apresentou – sou o RB.
- E ai “rapá”! Sou o Lucas e este é o Marcos.
Cumprimentamo-nos e fomos entrando. Falei para ele ficar a vontade e colocar a mochila ali mesmo. Chamei-o para lanchar conosco e disse que o Rafinha se atrasaria, mas que chegaria logo. Marcos era muito simpático com o RB - como deve ser com todos que conhece – e logo se engrenaram num papo, enquanto davam boas mordidas no lanche que preparei. Modéstia a parte, cozinho muito bem.
- Você faz teatro com o Rafinha?
Quando fiz esta pergunta RB ficou branco e gaguejou novamente, como fez ao telefone.
- Teatro!? Mas, como você sabe que faço teatro e que seu irmão faz teatro?
- Não sei, to perguntando – disse sorrindo.
- Sua pergunta foi meio que uma afirmação.
- Foi mesmo. Só gostaria que confirmasse.
- Fazemos teatro juntos sim. Ma mas... Por favor...seu irmão pediu que eu não dissesse nada, pois na casa dele ninguém sabia.
- Não sei por qual razão meu irmão ta escondendo esta bobeira. Daríamos o maior apoio a ele.
- Ele também não falou o porquê para mim. Só pediu segredo. Mas, como você descobriu e como sabe que eu também faço teatro?
- Meu MSN travou agora a tarde. Fui usar o computador do Rafinha e vi fotos dos ensaios de vocês. E a programação dos ensaios. Vi que hoje a tarde tinha ensaio. Também em uma das fotos aparecia você e te reconheci logo que te vi pessoalmente.
- Mas não fale que eu confirmei. Tudo bem?
- Sem problemas RB...kuaksuaskausak
Marcos interrompe nossa conversa que presenciava e perguntou:
- Porquê RB?
- São minha iniciais. De Ricardo Bruno. Muito comprido né?
- É. RB é bem mais fácil...rsrsrsrs
RB perguntou onde era o banheiro e enquanto ele foi usá-lo, Marcos me chamou a atenção de uma coisa.
- Cara, me desculpe falar, mal nos conhecemos, mas como você é um cara legal, vou te falar algo, pois sei que você não fez por mal.
- O quê? Perguntei assustado e curioso.
- Você invadiu a privacidade de seu irmão. Revelou o segredo dele.
- Mas eu descobri sem querer...
- Sim, mas ao entrar no PC dele...
- Mas, temos o costume de usarmos as coisas um do outro...
- Sei. Mas você viu que era um segredo dele, que ele não quis contar e você já está revelando-o...
- Mas, cara...daríamos o maior apoio.
- Mas era o segredo dele. Ele que deveria contá-lo na hora que desejasse e você deveria apenas fingir que não sabia. Você gostaria de ter seu segredo revelado.
- Não tenho segredos, Marcos.
- Todos nós temos segredos, Lucas.
- Verdade? Qual o seu segredo então, Marcos?