Desde muito nova eu me interesso pelo mundo da beleza e da moda.
Eu era aquela adolescente que passava horas assistindo a tutorias de maquiagem na internet, aprendendo a fazer maquiagens esfumadas, passar rímel em formato de gatinho, marcar o côncavo com sombra marrom.
Também sempre amei o mundo dos perfumes e, mesmo sem poder comprar nenhum perfume, nem nacional, assistia a dezenas de vídeos de meninas ricas descrevendo fragrâncias importadas, mostrando seus frascos preferidos, seu “top five” perfumes da vida, ou “meus perfumes doces preferidos”. Eu não podia imaginar o cheiro de um Channel, de um Dior, de um Prada, Chloé, CH.
Eu apenas sonhava em ter todas aquelas coisas, sonhava em usar uma bolsa da Channel. Mas minha realidade era bem distante disso.Eu tinha uma vida bem complicada financeiramente. Meus pais tinham cinco filhos, eu era a mais velha e mesmo assim não tinha idade nem pra votar.
Quando conseguia 50 reais, fazendo faxina, dava quarenta pra minha mãe e ficava com 10. Pegava esse dinheiro e corria pra uma lojinha perto de casa, pra escolher um batom parecido com algum da MAC, um dupe da MAC, como as blogueiras diziam.
Teve uma época, que nem internet em casa tínhamos, eu via os vídeos na casa de amigas ou na biblioteca do colégio.
Mas eu sempre fui ambiciosa, sempre dava um jeito de conseguir um trocadinho, realizando um trabalho ou outro, uma faxina aqui, uma noite de babá ali, e não me importava de ajudar os meus pais, porque eles eram muito bons comigo e com meus irmãos, trabalham duro, minha mãe como merendeira e meu pai como auxiliar de serviços gerais na Prefeitura.
Minha mãe cozinhava maravilhosamente bem, logo, entregar a maior parte do dinheiro que eu conseguia pra ela, era a certeza de ter um fim de semana com comidas gostosas. Significava ver meus irmãos felizes, significava barriga cheia. E isso também era importante pra mim, pois sempre gostei das coisas boas da vida, não só pra mim, mas pra minha família também.
Assim que completei a idade necessária, me inscrevi no programa jovem aprendiz e logo fui chamada pra estagiar da Prefeitura, pois, como meu pai trabalhava lá, me deram uma oportunidade de cara, porque sabiam que, ajudando a mim, estariam ajudando a família toda de papai.
Fui trabalhar na Secretaria de Meio Ambiente junto com mais duas estudantes, que desempenhavam as mesmas tarefas que eu. Nosso trabalho era, basicamente, tirar cópia, conferir documentos, levar ofícios de um lugar a outro, fazer cartas, alimentar um sistema com informações, comprar comida pros servidores e fazer tudo que a Secretária mandasse.
E foi ai, quando a Secretária de Meio Ambiente entrou em cena, que minha vida nova começou.
A Secretaria de Meio Ambiente se chamava Marcelle e era esposa de um Deputado Estadual, chamado Luís Carlos Fontes Paiva Mendonça.
Ela quase não aparecia na Prefeitura, ficava mais na capital com o marido. Aparecia por lá esporadicamente e eu quase não a via.
Só que, em algum momento, houve alguma denúncia anônima que meio que mudou isso. Além disso, um dos pais dela ficou doente e ela quis estar mais presente, com isso ela passou a frequentar um pouco mais a Secretaria.
Foi, então, que passei a conviver mais com ela. Nossa, a Dona Marcelle era linda, fina, toda bonitona, tinha cheiro de gente rica, usava roupas caras, estava sempre maquiada.
Quando aparecia na Secretaria, estava sempre com uma camisa de seda, uma saia justa até os joelhos, marcando seu quadril e sua cintura fina, ou uma saia rodada na mesma altura. com salto alto preto ou nude.
Usava bolsas estilosas e caras. Mos cabelos até os ombros, soltou, levemente presos.
Eu amava observar ela andando pelo corredor, ouvir o barulho dos seus saltos, sentir seu cheiro de mulher limpa e elegante, observar seus trejeitas, suas joias, sua forma de posicionar as mãos.
Fazia tudo que ela me mandava rapidinho. E ela sempre me agradecia sorrindo, perguntava das minhas notas, dos meus irmãos, elogiava meus cabelos, elogiava o trabalho do meu pai, mandava lembranças à minha mãe.
Eu morria de vergonha pq era pobre, não tinha nada, me sentia tão inferior. Mas ela nunca, nunca mesmo, me tratou mal, com indiferença, nem a mim e nem a ninguém. Pelo contrário, sempre foi carinhosa, me beijava quando chegava e me dava tchauzinho quando saia.
Costumava me dizer, “agora, Mirelinha, eu só volto daqui a 15 dias, se comporte e se alguém importante me procurar, me ligue imediatamente”.
Eu ficava ansiosa para vê-la novamente.
Na época, ela tinha 37 anos. O marido dela 45. Não tinham filhos. Moravam em uma casa linda na capital. Faziam muitas festas, nas quais iam pessoas muito importantes.
Eu passei a segui-la nas redes sociais, curtia todas as fotos dela, todos os stories, analisava cada look com muita calma, acompanhava também o Instagram do marido dela, que também era bonito, não tanto quando ela, mas era um tipo.
Passei a me comportar como ela, tentava ser fina, elegante, comecei a comprar produtos da Natura pra mim e pra mamãe com o valor que recebia do estágio, pois tinha uma funcionária da recepção,que vendia e parcelava pra mim em várias vezes. Passei a sorrir para as pessoas, a andar com passos firmes, cabeça erguida, assim como a Marcelle.
Um dia, conversando com ela, comentei que adorava maquiagem, perfumes e que achava o cheiro dela muito gostoso.
Ela me respondeu dizendo que o perfume dela era segredo, mas que me daria um bem gostoso, pra ser o meu perfume, o meu cheirinho.
Na semana seguinte, ela entregou uma bolsinha a cada uma das suas estagiária, todas recheadas de cosméticos, batom, blush, rímel, esmaltes, e a base no tom de pele certinho de cada uma de nós.
Deu pra eu perceber que ela escolheu tudo pensando em cada uma de nós, levando em consideração nossas características. Eu achei aquilo muito fofo.
Mais tarde, ela me chamou em sua sala e quando eu cheguei ela me disse:
- Mirelinha, fecha os olhos, minha querida. Eu fechei.
- Pra você, eu tenho uma coisa muito especial, que, mais pra frente, vou dar para as outras também, porque sou justa e todas vocês são ótimas comigo, mas queria que você fosse a primeira, pra você saber o quanto eu gosto de você, minha linda. O quanto você é especial.
Ela me entregou uma bolsa branca, quando li o nome escrito quase caí pra trás. Cristian Dior.
Eu fiquei paralisada.
- Abra, abra logo, meu coração. Estou ansiosa pra saber se você vai gostar.
Eu abri. Dentro da bolsa tinha um perfume lindo, em um frasco tão delicado, líquido rosinha, cujo nome jamais me esquecerei “forever and never”. Ela continuou:
- Eu sei, querida, que você gosta do meu perfume, mas acho ele muito adulto pra você, você ainda é uma princesinha e seu perfume tem que revelar a menina linda que você é. Tem que ser delicado, mas marcante, não tão doce, pra não enjoar as pessoas, mas não tão apagado que te faça passar desapercebida.
Eu gravava cada uma das suas palavras com muita atenção, como se fossem aulas.
Eu a abracei muito forte, queria chorar de gratidão, ficamos um tempo ali abraçadas, eu sentindo seu perfume. Mas, ao mesmo tempo, fiquei um pouco constrangida aa pensar que ela estava sentindo o meu cheiro de menina pobre.
Me afastei com delicadeza e falei:
- Eu não cheiro bem como você.
Ela me respondeu:
- Ah,minha querida, eu poderia cheirar você todinha o dia todo. E me beijou na face.
Continua.
Ótimo começo, amei
Que delícia de conto adorei e louco pra ler mais conto seu
delicia
Nossa que conto gostoso de ler. Super envolvente. Quero ler tudo.
Só me avise, quando postar. Meu nome aqui é thadeu41
Estou adorando, além de escrever muito bem. Me parece uma menina muito bonita. No aguardo da continuação. Bjos Marcelo Thadeu