Ele já tinha desistido de me ligar depois de algumas tentativas, nove para ser mais exato. Do fundo do meu coração eu esperava que já tivesse entendido o recado, mas era bem mais provável que ele só estivesse esperando para me confrontar cara a cara.
Alice havia ficado em minha casa me consolando durante toda a manhã de sábado e passei o resto do dia tentando me distrair ouvindo música e navegando na internet. Minha família estranhou o fato de eu ter chegado cedo, sendo que eu havia avisado que dormiria na casa de um amigo, mas inventei qualquer coisa e eles pareciam ter acreditado. Eu estava tão afundado na lama que uma mentira a mais ou a menos não iria fazer diferença.
Aquele domingo começou a mudar quando meu celular tocou em cima do criado mudo. Suspirei fundo pensando ser Eric. Peguei o celular para desligá-lo, mas estranhei quando vi um número desconhecido no visor. Podia ser Eric ligando de outro número para me enganar, mas nem pensei isso na hora, só atendi e me surpreendi com a voz do outro lado:
_Alô?
_Pedro?
_E aí, Bernardo, beleza?
_Beleza._ respondi ainda meio surpreso _Como você conseguiu meu número?
_Peguei com a Alice.
_Ahh, tá.
_Então, cara, eu e galera vamos beber um pouco aqui em casa, só pra relaxar, não tá afim de vir também, não?
_Ah, cara, não sei...
Eu não tava no clima para beber com meus colegas de sala. Aliás, não tava no clima para fazer nenhuma atividade social naquele domingo.
_Quando liguei pra Alice, ela mandou avisar que sua presença era obrigatória, você não tem opção.
_Ela disse é?_ falei rindo.
_Disse. Se eu fosse você vinha rápido, ela parecia falar sério quando ameaçou ir te buscar em casa se você não viesse.
Ela queria me distrair, me fazer esquecer dos meus problemas por alguns instantes. Talvez fosse bom.
_Ok, ok, me passa o endereço._ falei me dando por vencido.
_Isso aí!
E lá fui eu para a casa de Pedro. Eu ia tentar me divertir e me enturmar com meus colegas, mas eu ainda tinha dúvidas se queria desenvolver uma amizade com Pedro. Ele era homofóbico, e, por mais que eu estivesse tentando sufocar minha homossexualidade, eu tinha certeza que acabaria muito mal quando ele descobrisse. Por causa desse pensamento, decidi que o melhor a se fazer era manter uma distância segura de Pedro. Eu não seria frio com ele, o trataria como um colega como os outros, mas quando ele se aproximasse demais, eu daria um jeito de afastá-lo. Era o mais sensato a se fazer.
Ele morava numa espaçosa casa alguns bairros mais ao sul do que o meu. Apesar de grande, sua casa não era luxuosa ou ostensiva, era aconchegante, aquele tipo de casa na qual a gente imagina que moram pessoas de verdade e não aquelas saídas de telenovelas. Esse detalhe me chamou a atenção por dois motivos. Primeiro: aquilo combinava perfeitamente com a personalidade de Pedro e sua família (o que fui descobrir com o tempo), pessoas que subiram na vida sem nunca perder sua humildade. Segundo motivo: era numa casa daquelas em que eu me imaginava no futuro, cercado de filhos e netos que vinham visitar a mim e minha esposa todos os domingos. Sim, esposa. Eu tinha retomado o plano de casar-me com uma mulher. Eu estava decidido a nunca mais me relacionar com homens, nem mesmo por diversão, pois sabia bem agora que após o prazer vinha uma onda enorme de sentimentos ruins em relação a mim mesmo. Lógico que isso seria abandonado por mim mais tarde. Vocês perceberão com o correr da história que eu sou péssimo em cumprir minhas próprias resoluções.
Além de Pedro e Alice, havia mais dez dos nossos colegas de turma lá. Graças a Deus, entre eles não estavam Eric e Rafael. Nem tinha pensado na possibilidade (bem grande) de encontrar um deles lá. Acho que fiquei tão ansioso para esquecer meus problemas, que nem pensei que poderia estar indo de encontro a eles.
Cumprimentei a todos os presentes, pessoas que com quem eu só havia trocado pouquíssimas palavras, com exceção de Pedro e Alice. Sentei ao lado da minha amiga, que perguntou discretamente se eu estava melhor, e respondi que sim. Pedro fez questão de me incluir na conversa e logo eu fui me soltando, deixando a timidez de lado e participando ativamente do papo. Foi nessa nossa reuniãozinha que descobri que o principal motivo dessas reuniõezinhas era beber enquanto conversava, já que não podíamos fazer isso na faculdade. Lembrando das terríveis conseqüências da minha última tentativa de beber todo o álcool que meu corpo suportava, tentei ir devagar.
_Não tá bebendo por quê?_ me perguntou um dos meninos _Virou um garoto de Deus, agora?
Ri e fiquei sem jeito de responder. Pedro, se lembrando bem do que aconteceu, começou a falar para me salvar, mas Alice foi mais rápida:
_Porque eu não deixei ele beber._ respondeu séria, mas dando um certo tom de piada.
_Já deixou ela te por um cabresto?_ me perguntou.
_Ela na verdade é minha babá, sabe?_ respondi tentando fazer humor com aquilo.
_Ah é?
_Sim._ respondeu Alice _A mãe dele me deu a missão de zelar pela sobriedade dele.
Todos riram e eu respirei aliviado. Se eles insistissem para eu beber, eu acabaria cedendo, e, além de ganhar uma bronca histórica da minha mãe, eu poderia acabar falando ou fazendo alguma coisa que me denunciasse.
O papo se seguiu pelo resto da tarde, até que, com a maioria dos presentes já bem alegrinhos devido ao álcool, tocaram num assunto delicado.
_Já que estamos falando mal dos outros, deixa eu jogar mais um na roda._ falou um dos garotos _E aquele Eric?
Prendi a respiração ao ouvir seu nome. Eu e Alice trocamos um breve e cúmplice olhar.
_O que tem ele?_ ela perguntou.
_Aquilo é uma bichoooooooona!_ respondeu e todos caíram na risada.
Eu já estava oficialmente arrependido de ter ido lá. A impressão que eu tinha era que o meu estômago estava congelado, tamanho era o frio na barriga que eu sentia. Eu nunca havia percebido que Eric dava pinta, isso é, que o resto das pessoas percebia que ele era gay. E isso levantava uma dúvida cruel: se sabem do Eric, poderiam saber de mim também?
_Já viram o jeito que ele arruma o cabelo com a ponta dos dedos, todo delicado?
_E aquela voz afetada?
_Já falei com o Rafael para abrir o olho. Essa bicha tá se aproximando demais dele, quando ele menos esperar ela dá o bote._ falou Pedro.
_Uai, vai ver ele gosta da fruta também, vai saber...
E voltaram a rir. Alice me olhava esperando uma reação, mas eu permaneci calado. Lógico que ouvir aquilo doía, mas eu não podia me dar ao luxo de correr o risco de me descobrirem. Eu tinha que me calar, não importando o quanto isso fosse doer.
_Você são idiotas._ falou Alice. _Nunca conversaram com o garoto e tão aí rindo dele.
_Ah, deixa de ser mal humorada, Alice._ respondeu Pedro _Estamos apenas brincando.
_Isso não é brincadeira que se faça.
_Eu não concordo. Não vejo problema nenhum, não é Bernardo?
Fiquei olhando de Pedro para Alice, ambos me encarando esperando um posicionamento. Nem tinha muito o que pensar, tinha muita coisa em jogo.
_Também achei inofensivo. A gente não pode ficar tomando as dores de todo mundo.
_Assim que se fala!_ falou Pedro me forçando a bater em sua mão.
Alice me olhava com raiva. Tentei pedir desculpa com o olhar, mas ela desviou os olhos de mim.
_E mais,_ continuou Pedro _eles estão dominando o mundo, é melhor a gente abrir o olho.
E todos riram, menos Alice, que se levantou do chão revoltada.
_Bom, acho que o papo está muito ruim. Hora de ir embora.
_Ah, para com isso._ falou um dos meninos.
_Vamos, Bernardo?
Ela me olhou de jeito que parecia querer me fuzilar, fiquei com tanto medo que concordei em ir. Me levantei e comecei a me despedir do povo.
_Ah, qual é, vai na dela?_ perguntou Pedro.
_Tava falando sério quando disse que ela é minha babá._ falei tentando descontrair o ambiente, sem sucesso. _E tá ficando tarde, e vocês parecem estar esquecendo que amanhã temos aula.
_Tá, mas eu levo vocês em casa, tô com o carro do meu pai.
_Não,_ falou Alice _vamos de ônibus.
_Mas...
_Tchau, meninos. Vamos Bernardo._ e saiu me puxando pela mão.
Eu sabia que no momento em que saíssemos do campo de visão dos meninos, eu ouviria muito. E não estava errado:
_Que diabos foi aquilo?!_ perguntou Alice nervosa quando já estávamos na rua.
_O que?
_“O que”?! Não se faça de lerdo! Você e aqueles idiotas rindo do Eric.
_O que você queria que eu fizesse? Eu não podia defender ele.
_E por que não?
_Iam desconfiar de mim!
_Deixa de ser paranóico!
_Tá falando assim porque não é com você!
A conversa já tinha virado briga àquela altura.
_Eu sei, se fosse comigo eu já tinha tomado uma atitude, tinha parado com essa covardia.
_Não é covardia, é auto-proteção! Eu já falei que nunca mais foi ficar com nenhum cara, então pra que deixar que as pessoas saibam de um errinho de uma noite meu?
Ela riu debochada.
_Você acha mesmo que vai conseguir se manter “hétero”?_ falou fazendo sinal de aspas para a última palavra _Mesmo que você consiga nunca mais dormir com outro cara, o que eu duvido muito, você vai viver afogado num mar de infelicidade. Vai estar sempre sufocando os próprios desejos e se escondendo dos outros. Eu tenho pena da pessoa que você está tentando ser!
E assim ela saiu sem dar nem tchau em direção a um ponto de taxi. As palavras dela bateram fundo. E o que mais doía era que eu sabia que eram verdadeiras. Eu sabia que não conseguiria sufocar quem eu era, mas o medo das conseqüências me cegava e me fazia tentar, independente do que meu subconsciente dizia.
Peguei um ônibus ainda atordoado pelas palavras de Alice. Me machucava também ter brigado com ela. Ela era a única com quem eu podia contar naquele momento. Sem contar que ela foi a primeira, e até aquele momento a única, a gostar de mim por inteiro, sem meu disfarce. Eu não queria ficar brigado com ela. Assim que a visse daria um jeito dela me perdoar, mesmo eu não me arrependendo de ter me juntado a Pedro no achincalhe a Eric. Eu não tinha outra opção!
De tão concentrado em meus pensamentos, nem me lembrei de olhar quem era no telefone antes de atender:
_Alô?
_Finalmente consegui. Parece que está fugindo de mim
Era ele, Eric. Meu estômago voltou a ficar gelado. Parece que tinha sido combinado, de tão perfeito que foi seu timing. Respirei fundo e tentei me concentrar no que falar para ele.
_Oi Eric, tudo bom?
_Tudo e com você?
_Estou bem. Então... Você sumiu, né?
_Me desculpe, aconteceu tanta coisa.
_Mas não dava tempo nem de me acordar para dar tchau.
_Outra vez, me desculpe.
_Está tudo bem mesmo?
Suspirei. Aquela era a hora, não podia esperar por outra brecha.
_Não, não está. Aquilo tudo não me fez bem. Minha cabeça está uma bagunça. Eu não posso levar isso adiante.
_Mas...
_Tchau Eric e, de novo, me desculpe.
E desliguei sem esperar resposta. Como tirar um band-aid, quanto mais rápido você acaba com aquilo, menos doloroso é. Eu não estava orgulhoso das coisas que estava fazendo com Eric, mas era necessário. Eu não queria aquilo, eu não queria ser assim. Eu não queria que meus amigos rissem de mim pelas costas. Eu sentia muito pelo Eric, mas eu não me arrependia de nada. Depois de mim, ele foi a primeira vítima do meu medo.
Quando levantei da cama na segunda-feira, eu tinha dois objetivos muito claros na minha cabeça: fazer as pazes com Alice e ser frio o bastante com Eric para ele entender que não aconteceria mais nada, nunca mais. Quando me sentei para tomar café em meio àquela rotineira bagunça matinal da minha casa, minha mãe, que estava ocupada fazendo mil coisas ao mesmo tempo no fogão, falou uma coisa que chamou minha atenção:
_Quem te viu, quem te vê, hein?
_Como assim?_ perguntei entre uma mordida e outra num pedaço de bolo.
_Antigamente passava semanas trancados dentro do quarto jogando vídeo-game. Foi só entrar pra faculdade pra começar a sair todo fim de semana. Até no domingo à tarde!
_Ah, é...
Eu não tinha parado para pensar, mas era mais ou menos assim que estava acontecendo mesmo. Eu, antes um garoto recluso e praticamente anti-social, agora tinha uma vida agitada, com direito a uma melhor amiga e um rolo sexual com um cara. Realmente, quem me viu, quem me vê...
_Isso é bom._ ela continuou _Nunca achei saudável você ficar tanto tempo enclausurado. Fico feliz que esteja vivendo de verdade sua juventude. Só não me apronte mais uma daquelas cenas vergonhas de você chegando em casa carregado de tão bêbado.
_Não vai mais acontecer, pode deixar.
_Aquilo foi tão triste!_ falou ainda concentrada no fogão _Um filho meu, daquele jeito!
_Ok, mãe...
_Sua avó ficaria envergonhada se visse!
_Já entendi mãe!_ falei para cortá-la e fui para a aula.
Aquele era só a primeira mudança que ocorreu na minha personalidade. Antes mesmo do comentário da minha mãe, eu já tinha percebido que eu estava mais solto, mais perto de ser eu mesmo. Obviamente, ainda tinha um longo caminho a ser percorrido, mas aquilo era um começo. Porém, naquele momento da minha vida, eu ainda estava tentando controlar e definir a pessoa que eu viria a ser, sem saber que isso não depende de mim. Eu não poderia me segurar e me esconder pelo resto da vida, um dia aquilo iria explodir. Mas enquanto eu não chegava a essa conclusão, eu continuava batendo cabeça por aí...
Chegando na faculdade, fui direto para a sala. Como ainda era muito cedo, pouca gente havia chegado ainda. Fui para a porta da sala esperar por Alice, que não demorou a aparecer. Abri meu melhor sorriso para recebê-la, mas ela me ignorou completamente e entrou na sala. Respirei fundo e refleti sobre o quão difícil seria aquele processo de paz.Voltei a entrar na sala e sentei na frente dela, que ainda não me olhava.
_Precisamos conversar._ falei.
_Sobre o que? Sobre você ser um idiota?_ Falou rabiscando alguma coisa no caderno.
_Sim.
_Então você se arrepende das coisas que falou?
_Vamos conversar lá fora?
Ela soltou o ar e lápis, e saiu caminhando para fora da sala sem me esperar. Fomos para um corredor quase deserto que havia no prédio. Ela cruzou os braços, encostou na parede e ficou me olhando.
_Então?_ falou.
_Bom, te respondendo: não, eu não me arrependo de ontem.
Ela bufou e se preparou para ir embora, mas eu a segurei.
_Mas quero que você ouça meus motivos.
Ela ficou me olhando como se dissesse “anda logo, desembucha, quero dar o fora daqui”.
_Bom, minha cabeça é uma bagunça, mas isso você já sabe. Alice,_ falei olhando em seus olhos _eu morro de medo do futuro que me aguarda se eu me permitir ser gay. Você não conhece a fundo minha família ou as pessoas que me cercam em geral. Minha vida seria um inferno. Eu tenho XVII anos, eu não tenho como lutar contra isso. Você diz que entende o que estou passando e tal, mas não entende não. Não há como entender até sentir isso na pele.
_Isso não te redime. Você podia ter ficado calado, não havia necessidade de falar mal do Eric.
_Não julgue as coisas que faço para me proteger. Eu sei que foi horrível, sinto muito, apesar de não voltar atrás nas minhas palavras. Apesar de tudo o que aconteceu, eu não tenho nada contra o Eric, ele não é uma pessoa ruim. Tudo o que fiz e falei foi para me proteger. Eu preciso me proteger Alice, porque mais ninguém vai fazer isso por mim.
_Eu estou aqui, Bernardo!_ falou como se protestasse.
_Eu sei e agradeço. Mas isso tudo não deixa de ser uma luta solitária. Você pode me dar apoio, mas não pode lutar por mim.
_Isso é estupidez! Não há motivos para lutar contra isso, é quem você é!
_Pode ser, mas eu estou no meu direito de lutar. Eu tenho o direito de controlar a minha vida, de decidir como vai ser meu futuro, pelo menos até onde isso for possível. Eu vou lutar com todas as minhas forças contra isso, Alice.
_Mas..._ ela começou, mas e interrompi.
_Se não der certo, que pena, mas eu vou tentar lutar. Se eu perder essa luta, não conseguir sufocar essas coisas que eu sinto, talvez eu possa te pedir ajuda para lidar com isso tudo, mas não vai ser agora, nem amanhã, nem semana que vem. Se eu perder essa luta agora, eu vou ter que enfrentar uma verdadeira guerra, e eu não estou pronto pra essa guerra, aos dezoito ou aos dezenove anos. Eu me conheço Alice, encarar essa guerra agora me mataria.
Falei aquilo tudo com lágrimas nos olhos. Ela me olhava com olhos molhados também, e neles eu via ao mesmo tempo pena e uma luta interna, como se ela estivesse tentando se decidir sobre o que me dizer. Por fim, ela apenas me abraçou.
_Isso é burrice..._ falou sussurrando com o rosto afundando entre meu ombro e meu pescoço.
_Eu preciso tentar...
_Eu vou estar aqui sempre.
_E eu vou precisar de você. Alguém vai precisar me alertar de quando eu estiver passando dos limites, como ontem. E também vai haver os momentos em que vou precisar chorar, e aí você entra também.
_Eu vou dar o melhor de mim.
_Obrigado._ falei apertando o abraço.
_Agora vamos voltar, estamos parecendo dois bobos._ falou me soltando.
Rimos um pouco, limpamos nossas lágrimas, verificamos se estávamos apresentáveis e seguimos de volta para a sala de aula de braços dados. Ao entrar, talvez por magnetismo ou simplesmente pela cor do seu cabelo que se sobressaia, meus olhos foram direto em direção a Eric. Ele me olhava intensamente também, e era impossível saber o que ele estava pensando, se estava com raiva, mágoa ou pouco se lixando para o que aconteceu. Desviei rapidamente o olhar, para que ninguém percebesse e fui para o meu lugar com Alice em silêncio, pois o professor já estava em sala. Mesmo sem olhá-lo, eu podia sentir Eric me olhando. Seu olhar parecia queimar minha pele. Me sentei e tentei prestar atenção na aula, sem muito sucesso. Minha cabeça vagava por aí...
Toda a minha convicção e a minha vontade de sufocar meus desejos por garotos se foram embora quando vi Eric. Era diferente de simplesmente ter falado com ele ao telefone. Quando vi aquela sua pele branca, lembrei de como ela era macia e quente. Ao ver seus cabelos, me lembrei de como eram cheirosos e de como era bom agarrá-los e puxar ele para mim num beijo. Ao ver sua boca vermelhinha, me lembrei dos tremores de tesão que ela me fazia senti ao entrar em contanto com meu corpo. Eric me lembrava da noite mais incrível da minha vida até então. Meu corpo reagia ao dele como se fosse física pura, magnetismo. Meu corpo clamava pelo dele, mas eu tinha que ser forte, eu tinha que resistir.
Na hora do intervalo, enquanto todos saíam da sala, vi Eric vindo em minha direção. Mas eu fui mais rápido, saí de sala antes dele me alcançar, fui para a biblioteca e só voltei para sala quando tive certeza que o professor já tinha chegado. Alice, que tinha entendido tudo, balançou a cabeça negativamente, mas não falou nada. Não me atrevi a olhar para Eric, mas com certeza ele estava me olhando.
Porém, não tive muita sorte na saída. Me distraí conversando com Pedro ao sair da sala, e ao me despedi dele, entrei num banheiro mais isolado. Eu estava no mictório e ouvi alguém entrar. Quando olhei era ele, Eric. O xixi travou na hora. Fechei a calça, lavei as mãos e me preparei para ir embora, mas ele estava barrando a porta.
Por favor, me deixa ir..._ falei suplicando.
_Não até você me explicar direitinho o que está acontecendo.
_Minha cabeça é uma bagunça, cara..._ acho que essa passou a ser minha desculpa pra quase tudo.
_Não foi bom?_ perguntou chegando perto e eu me afastei um pouco.
_A questão não é essa...
_Foi bom ou não?
_Foi..._ respondi encostado e encurralado contra a parede.
_Então, qual o problema?_ falou bem próximo de mim.
Eu tremia todo, mas não de medo e sim de tesão. Estávamos a poucos centímetros um do outro. Com um último sopro de coragem, tentei mais uma vez pará-lo:
_Por favor, Eric... Eu não posso fazer isso, eu não quero essa vida.
_Ninguém precisa saber.
_Mesmo assim, eu não estou pronto pra me relacionar assim com outro cara...
_Calma..._ falou acariciando meu rosto _Eu não estou te pedindo em namoro, estou te pedindo um beijo.
Soltei o ar sem forças para resistir mais e ele deve ter entendido isso como permissão, pois no segundo seguinte sua língua já estava invadindo a minha boca com tesão. Suas mãos me prendiam contra seu corpo, me impedindo de fugir, não que eu estivesse com essa intenção naquele momento. Àquela altura eu também já estava o agarrando e puxando sua cabeça de encontro à minha. Eu nem lembrava que a porta do banheiro estava destrancada e qualquer um podia entrar e nos pegar no flagra. Só existia nós dois ali. Eric foi me empurrando para dentro de uma das cabines, me jogou sentado em cima do vaso sanitário, fechou a porta e desceu a calça até os pés. O seu pau já duríssimo me encarava. Eu olhei para Eric pedindo instruções, nunca havia feito aquilo. Ele entendeu e sorriu safado dizendo:
_Brinca com ele...
Meio receoso ainda, peguei no seu pau. Era quente e pulsava. Comecei a masturbá-lo vagarosamente, apreciando as caretas de tesão que Eric fazia. Com coragem, comecei dando beijinhos na cabeça, meio que imitando como ele tinha feito em mim há alguns dias. Seus gemidos contidos foram o sinal para continuar com aquilo. Comecei lambendo aos poucos, e logo fui engolindo todo o seu membro. Não tinha um gosto diferente, era um gosto de pele, normal, mas valia a pena pelo aumento da intensidade dos gemidos de Eric. Ele agarrou meus cabelos e começou a comandar os movimentos, fudendo de leve com minha boca. Era gostosa a sensação de estar sendo dominado. Então ele fez um movimento inesperado: abaixou minha calça, pegou uma camisinha na carteira e a vestiu em mim. Eu demorei alguns instantes até entender o que ele estava prestes a fazer.
_Pronto para tentar uma coisa nova?_ falou meio ofegante.
Sem aviso prévio, ele se sentou no meu colo e ficou rebolando em cima do meu pau enquanto me beijava. Era uma sensação ainda melhor que a anterior. Ele então usou as mãos para guiar meu pau até a entrada do seu cu, e foi forçando a entrada aos poucos. Além daquela ótima e inédita sensação de sentir seu corpo pressionar meu pau, eu estava adorando admirar seus olhos cerrados com força resistindo à dor. Quando tudo entrou e ele começou a pular no meu colo, eu esqueci de tudo em volta, acho que até dele mesmo. Eu só conseguia pensar naquela sensação indescritível, sem dúvida a melhor coisa que eu já havia sentido. Ele tinha um jeito de fazer aquilo, rebolando ao mesmo tempo que cavalgava e contraía seu cu em torno do meu pau. Ele parecia ser um mestre naquilo. Ele pegou minha mão e guiou até seu pau. Entendi o recado e comecei a masturbá-lo. Eu nem me toquei que devia controlar meus gemidos, eu já ofegava forte. E quando senti o gozo vindo comecei a gritar, mas Eric tampou minha boca com a mão. Ele não demorou mais do que alguns poucos segundo para gozar também.
Não sei quanto tempo ficamos os dois ali, sujos de porra e suor, eu desmaiado em cima do vaso e ele desmaiado em cima de mim. Nós dois só ofegávamos sem dizer nada. Ele pegou papel higiênico e limpou minha mão e seu pau cuidadosamente. Depois saiu de cima de mim, tirou a camisinha, jogou fora e limpou meu pau também. Quando terminou vestiu sua roupa e saiu em direção a pia. Ainda meio desnorteado. Também subi minha calça e fui para a pia também. Nós dois lavávamos as mãos e o rosto sem dizer uma só palavra. Quando terminamos, tudo o que eu conseguia pensar é que mais uma vez tinha cedido aos meus desejos e indo contra tudo aquilo que havia planejado.
_Sério, não podemos mais fazer isso..._ falei com um certo desânimo na voz.
Ele deu de ombros.
_Não te obriguei. Se você não quisesse também não teria feito. É idiotice ficarmos resistindo.
_Mas não é isso que eu quero pra minha vida!
Ele pareceu perder a paciência.
_Não estou te pedindo em namoro! Não quero andar com você de mãos dadas na rua, ir ao cinema assistir um filme melosamente romântico ou conhecer sua família, então, relaxa. É só sexo. Não precisamos nem mesmo conversar e fingirmos sermos amigos. Quando eu e você tivermos vontade, a gente transa, entendeu?
Eu ainda estava de boca aberta pensando no que lhe responder. Ele não quis esperar, veio até mim e me beijou com vontade antes de sair pela porta como se nada tivesse acontecido. Eu fiquei lá, parado no meio banheiro ainda tentando processar tudo o que havia sido dito e feito. Aparentemente, eu estava num relacionamento exclusivamente sexual com outro cara. Eu não sabia se aquilo era bom ou ruim. Então, brilhantemente, eu decidi me enganar dizendo que como não haveria um compromisso sério, aquilo não ia de encontro a tudo que havia planejado. Eu ainda não estava namorando uma menina, então o que tinha errado em me divertir um pouco até chegar a hora de parar? Ninguém precisava saber daquilo, Alice inclusive, ela não entenderia. Eu não sabia explicar como ou quando exatamente aquilo aconteceu, mas eu acho que começava ali meu primeiro relacionamento com outro cara.
As semanas foram passando e os meus encontros sexuais com Eric viraram rotineiros. Não marcávamos nada, não combinávamos de nos encontrar a tal hora em tal lugar. Quando um dos dois queria, lançava um olhar discreto mas revelador para o outro, e logo já estávamos transando no primeiro canto que achássemos, fosse aquele banheiro de sempre, a casa dele ou mesmo no seu carro.
Podem estar se perguntando se depois de todos aqueles encontros, já não estaria brotando um sentimento entre nós. A resposta é talvez. Se estiverem falando do clássico amor romântico, a resposta é definitivamente não. Mas rolava sim uma certa paixãozinha. É difícil de explicar. Eu não queria passar, sei lá, horas abraçado com ele no mais absoluto silêncio, ou correr de mãos dadas por campos de centeio. Mas eu tinha saudade dele, do seu corpo. A melhor hora do meu dia era quando estávamos um dentro do outro, ou quando caíamos ofegantes em qualquer lugar, sem falar nada. Lembro de um texto da Martha Medeiros que li há pouco tempo atrás que eu acho que explica bem o que eu estava sentindo:
“Eu nunca amei aquele cara. Eu tenho certeza que não. Eu amei a mim mesma naquela verdade inventada. Não era amor, era uma sorte. Não era amor, era uma travessura. Não era amor, era sacanagem. Não era amor, eram dois travessos. Não era amor, eram dois celulares desligados. Não era amor, era de tarde. Não era amor, era inverno. Não era amor, era sem medo. Não era amor, era melhor." Martha Medeiros, Divã
Não, nunca foi amor, era uma coisa muito melhor que nunca mais encontrei com ninguém. Dois amantes sem compromissos um com outro, apenas suprindo suas carências mutuamente, como em um acordo nunca posto em palavras.
Mas sempre haviam conversas, mesmo que breves e temerosas, e assim fomos conhecendo mais um ao outro. Não conhecer no sentido de saber como eram seus pais, onde ele nasceu ou onde estudou. Começamos a conhecer a forma como outro pensava, chegando a prever certas atitudes um do outro. Aos poucos fui compreendendo aquele brilho de tristeza em seu olhar, fui entendendo que não existia um grande motivo para aquilo, apenas era quem Eric era, um garoto triste, apesar dele conseguir disfarçar isso muito bem quando queria. Existia uma certa dor dentro dele, uma coisa com a qual ele não sabia lidar muito bem. Aquela tristeza já vinha impregnada nele, como um traço de sua personalidade.
Eu acho que pode ser que a partir do sexo, nasceu uma amizade, mas uma amizade limitada. Minha amizade com Eric nunca conseguiu ser maior ou mesmo parecida com aquela que eu viria a ter com Alice e Pedro, e a culpa disso é minha. Meus medos colocavam barreiras entre nós, não deixando qualquer sentimento mais complexo nascer entre nós. Por várias vezes houve da parte de Eric movimentos para nos tornarmos mais íntimos um do outro, de um jeito que nos tornássemos amigos de verdade. Mas eu nunca deixei. Quando ele se aproximava demais, eu o afastava, como num eterno jogo de gato e rato.
Exemplificando, uma cena de meados de abril:
Era uma tarde de terça-feira e o Sol batia forte no lado de fora da janela do quarto de Eric. Estávamos sozinhos na casa dele. Ele completamente nu deitado de bruços na cama e eu me concentrava em beijar cada partezinha do seu corpo. Desde seus tornozelos, suas panturrilhas bem definidas, suas coxas firmes, sua bundinha de bebê, suas costas largas, chegando em sua nuca com o perfume inebriante do seu shampoo. Fui beijando seus ombros e descendo até encontrar sua boca, onde trocamos um beijo desajeitado. Peguei a camisinha que já havíamos deixado separada, vesti no meu pau e fui penetrando ele devagar. Ele agarrava o lençol da cama com força, deixando claro a dor que estava sentindo, porém em nenhum momento pediu para eu parar. Em nossas experiências sexuais quase que diárias, eu havia percebido que aquela era a posição mais dolorosa para o passivo, por isso tive calma e esperei ele se acostumar. Quando ele começou a rebolar, eu entendi como sinal para começar a bombar. Fui aumentando a intensidade dos meus movimentos e em pouco tempo eu já estava num ritmo frenético, quase que como uma luta super violenta.
Eric gemia alto, sem nenhum medo que alguém pudesse nos ouvir. Tomado pelo tesão daquele momento, peguei em sua cintura e ergui, fazendo ele ficar de quatro na cama. Naquela posição ao mesmo tempo tão selvagem, quase animalesca, e que também era uma das mais excitantes, eu gozei, enchendo a camisinha de porra. Pela sua respiração ofegante, ele também havia gozado. Nos levantamos e fomos tomar um banho para nos limpar.
_Se superou hoje, hein?_ falou Eric quando já estávamos embaixo d’água.
_Foi?
_Gozei sem me tocar, só contigo bombando.
_Eu acho que posso me orgulhar disso.
Rimos e continuamos tomando banho. Depois de sairmos do chuveiro, caímos semi-desmaiados na cama para recuperarmos nossas energias.
_Você já conhece toda a minha casa, quando vou conhecer a sua, ou melhor, a sua cama?_ perguntou rindo.
_Acho difícil, meus irmãos e a empregada estão sempre por lá e as paredes são finas.
Lá estava eu o afastando levemente o afastando de mim, cortando mais uma tentativa sua de aproximação. Ele riu, mas eu já o conhecia o bastante para saber que aquilo o entristeceu um pouco.
_Bom, no outro sábado você completa dezoito anos, aí vamos poder ir a motéis._ falou retomando a conversa.
_Se eu tiver coragem de entrar em um, né?
_Deixa de ser bobo, a gente pode escolher um mais afastado.
_Talvez, vamos ver.
Ele deu um tapa leve e sem motivo da minha barriga, como se dissesse “deixa disso”. Ri e ele continuou:
_E como vão os preparativos da festa?
_Nem sei, minha mãe e Alice estão cuidando de tudo. Aliás, só vai ter festa porque elas querem, por mim...
_Tá louco? É seu aniversário de dezoito anos, lógico que temos que comemorar.
_Pra mim nem é um grande marco assim.
_Agora você já pode dirigir.
_Eu ainda não tenho carteira.
_Já pode beber...
_Já bebo.
_Pode ser preso...
_Grande motivação!
_Pode entrar em motéis..._ falou com uma voz travessa que me fez rir.
_Para com essa fixação!
_Só se prometer que vamos em um.
_Ok, ok, nós vamos.
_Oba!
Ele subiu em cima de mim e me deu um beijo rápido. Me assustei com o quão próximo aquilo passou de ser uma cena digna de casais de namorados. Era minha hora de ir embora, ou seja, mais uma tentativa de afastá-lo.
_Tá na minha hora.
_Já?
_Tenho que terminar aquela lista de exercício pra amanhã.
Ele me olhou triste, mas tentei me manter indiferente. Fui catando minhas roupas jogadas pelo quarto e me vestindo.
_Estou convidado pra festa?_ perguntou.
_Claro, convidei a turma quase toda.
_Por isso mesmo, você convidou a turma toda em geral, mas não a mim especificamente.
_Ah, Eric, pára com isso, né? Bobagem.
Ele balançou a cabeça negativamente. E caiu de volta na cama.
_Eu não entendo porque você não me deixa ser ao menos seu amigo aos olhos dos outros.
_Já te falei, algumas pessoas já desconfiam de você.
_Eles que se fodam, eu não ligo.
_Mas eu ligo. Não quero nem que desconfiem de mim.
Ele bufou e se levantou para trocar a roupa de cama, ainda suja. Fiquei mal por ele.
_Me desculpe, Eric, mas eu não posso correr o risco.
_Ok.
Respirei fundo e, mesmo temendo mandar com isso uma mensagem errada, fui até ele, o abracei e o beijei carinhosamente. Quando o soltei ele me olhava com um leve sorriso no rosto. Aquilo me matava. A sensação era que eu o estava enganando.
_Eu estou convidando você, Eric, para a minha festa de aniversário.
Ele sorriu mais largamente.
_Obrigado pelo convite. Agora sim você vai ganhar um presente digno.
_Ah é? O que você ia me dar antes?
_Um chaveiro de dois reais.
Rimos juntos e lhe dei um beijo na bochecha de despedida. Ele foi me acompanhando até a porta do apartamento.
_Então amanhã..._ falei.
_Não posso, tenho compromisso.
_O que você faz que me dispensa tantas vezes? Tem alguma coisa melhor do que transar comigo pra fazer?_ falei brincando.
Um brilho estranho passou no seu olhar quando falei aquilo. Me deu a impressão que ele realmente tinha alguma coisa melhor, mas não iria me contar nem sob tortura. Fiquei sim desconfiado.
_Deixa de ser bobo e vai embora. É coisa minha._ falou descontraindo o ambiente e me empurrando carinhosamente para fora de casa.
Desci o elevador e fui para casa com uma pulga atrás da orelha.
Escrevendo isso agora, eu me admiro com o quanto fui burro. Eu estava me enganado dizendo que aquilo não era um relacionamento de verdade, que eu não estava traindo minhas convicções, que só estava extravasando meus desejos. É lógico que aquilo era um relacionamento de verdade com outro cara, independente de eu amá-lo ou não! Além do sexo, havia as pequenas discussões, as cobranças, a desconfiança toda vez que o outro estava longe, as conversas pós sexo, os beijos carinhosos que ganhavam qualquer discussão... Eu estava envolvido com Eric, mas me enganava dizendo que não, que era somente sexo e suas conseqüências. E infelizmente quem mais sofria com essa minha negação era Eric.
No dia seguinte na faculdade, Pedro me falou algo chamou minha atenção:
_Tudo pronto pra festinha semana que vem?_ perguntou.
_Não sei de nada. Alice está mais apta para responder sobre isso do que eu.
_Sua animação é de dar gosto!_ falou debochado.
_Nunca gostei de ser o centro das atenções, e é isso que acontece quando se é o aniversariante.
_Mas eu sei de uma coisa que pode te animar...
_O que?_ perguntei já curioso.
_Me contaram por aí_ falou um sorriso travesso no rosto _que a Taís vai te dar um presente muito especial...
_Que presente?_ falei não captando a malícia com que ele falou aquilo.
_Deixe de ser lerdo. Ela vai chegar em você na festa!
_Ch-chegar em mim?_ falei gaguejando.
_É, fio, chegar em você, você vai sair do zero a zero.
Senti como se tivessem colocado gelo na minha espinha. A Taís era bonita, loira, corpo todo proporcional, jeitinho de tímida e fama de puta. Sim, eu queria uma menina para namorar e depois vir a casar, mas essa menina certamente não era a Taís, não com a péssima fama dela de sair abrindo as pernas para todo mundo que lhe diz oi. Certamente eu seria mais uma “presa” para ela, mais uma na sua lista, e isso não teria problema nenhum se eu fosse heterossexual. Eu não sentia desejo nenhum por ela. E seu eu broxasse? Ela ia contar para todo mundo! E daí pra começarem a especular sobre minha sexualidade seria um pulo!
_Legal..._ foi tudo o que consegui responder.
_Legal? Aquela menina vai dar pra você até seu pau sair esfolado e você acha “legal”? Êpa!_ ele falou em tom de brincadeira, mas eu me alarmei.
_É o choque. Ela nunca deu sinais.
_Ela não dá sinais, meu caro, ela simplesmente dá.
Rimos um pouco, mas eu continuava morrendo de medo do que poderia acontecer. Devido àquela conversa, naquela tarde eu viveria uma das experiências mais constrangedores da minha vida: ir a uma farmácia comprar camisinha e Viagra. Pedro continuou:
_E você poderia me ajudar a conseguir quem eu quero também, né?_ falou.
_Uai, não tô sabendo quem é. Se eu puder ajudar?
_Sério que você não sabe quem é?
_Não. Não conversamos sobre sua vida sexual.
_Alice._ ele falou meio tímido.
Olhei para ele esperando ele rir. Não aconteceu. Meu queixo caiu com a surpresa.
_A ALICE?!
_Cala boca, não precisa contar pra faculdade toda!_ falou vermelho de vergonha.
_Eu devo ser muito lerdo mesmo. Não tô percebendo sinais vindos de lado nenhum.
_Vai me ajudar ou não?!_ falou ainda vermelho.
_Vou, uai..._ respondi rindo.
No fundo eu sabia que não daria certo. Alice achava Pedro idiota devido às suas, digamos, opiniões fortes. Mas eu não podia falar aquilo com ele. Ele parecia gostar dela mesmo. Pelo menos eu tentaria. Aquela festa de aniversária prometia... Pobre de mim que não sabia nem de metade das coisas que me aguardavam.
Que ansiedade... Bernado e eric fica junto?