Quando a porta do apartamento rangiu pela primeira vez, eu ainda carregava o cheiro de terra molhada do interior de São Paulo. Minha mala, um relicário de infância, arrastava-se pelo chão de mármore frio enquanto Artur me observava da sala, imóvel como uma estátua grega esquecida no tempo. Seus olhos, cor de âmbar escuro, escanearam-me da cabeça aos pés, parando nas alças do sutiã que transpareciam sob a blusa de renda.
— O quarto é ali — apontou para o corredor estreito, a voz rouca como se não a usasse há dias. — Regras são simples: silêncio após as 23h, não traga estranhos, e mantenha a porta do banheiro fechada.
Sorri, deixando cair deliberadamente uma meia no chão ao me curvar.
— "Mantenha a porta fechada"... É um aviso ou um convite, tio?
Ele virou-se abruptamente, mas não antes de eu ver o rubor subir-lhe pelo pescoço.
— Piadas não cabem aqui, Ana.
— Quem disse que era piada? — sussurrei, passando por ele com um balanço suave de quadril.
Nos primeiros dias, transformei o cotidiano numa coreografia de insinuações. Artur acordava às 6h, eu às 10h, sempre aparecendo na cozinha com camiseta curta e shorts que deixavam marcas na pele.
— Café? — oferecia ele, evitando meu olhar enquanto eu me espreguiçava na cadeira.
— Adoro coisas *amargas* — respondi, lambendo os lábios ao pegar a xícara.
Ele cerrou a mandíbula.
— Você parece ter sede do que não entende.
— Entendo mais do que pensa — retorqui, cruzando as pernas lentamente. — Por exemplo: você folheia livros de filosofia, mas as páginas mais gastas são as do "Fausto" de Goethe. Aquele trecho em que Mefisto seduz a inocente... interessantíssimo.
Seus dedos contraíram-se na pia.
— Literatura não é manual de vida.
— Não? — Ergui-me, aproximando até sentir seu calor nas minhas costas. — Então por que sua respiração acelera quando eu leio em voz alta?
Ele virou-se de repente, encurralando-me entre seu corpo e a geladeira.
— Isso é perigoso, Ana.
— Só é perigoso se você *quiser* que seja — sussurrei, deslizando a mão sobre seu peito, sentindo o coração martelar sob o tecido.
Ele afastou-se como se eu o tivesse queimado.
Na segunda semana, descobri que ele ouvia. Comecei a cantarolar no banho, deixando o vapor escapar pela porta entreaberta. Certa tarde, saí apenas envolta em uma toalha úmida e encontrei-o paralisado no corredor, uma pasta de documentos esquecida na mão.
— Desculpe, tio... — fingi constrangimento, ajustando a toalha para que escorregasse um pouco mais. — Achei que você estivesse no escritório.
Ele engoliu em seco, os olhos presos à gota d’água que descia da minha clavícula até o vale entre os seios.
— Vista-se — ordenou, mas a voz falhou na última sílaba.
— Por quê? — inclinei a cabeça, inocente. — Você disse que família não tem segredos.
— Ana… — o aviso veio em um rosnado.
Avancei mais um passo, até nosso hálito se misturar.
— *Diga.* Diga que quer me ver nua. Que sonha com isso desde que cheguei.
Ele recuou como um animal acuado, mas não antes de eu notar o volume crescente em sua calça.
O ápice veio numa noite de temporal. A luz apagou, e corri para o escritório dele, fingindo pânico.
— Tio, os trovões… — entrei sem bater, de camisola transparente colada ao corpo pela chuva.
Ele estava sentado no escuro, o perfil iluminado por relâmpagos.
— Volte para o quarto.
— Não vou — sentei-me em seu colo, envolvi os braços em seu pescoço. — Me proteja.
Ele tentou empurrar-me, mas minhas pernas já o envolviam.
— Isso é loucura — respirou, as mãos tremendo ao me segurar pela cintura.
— Loucura é você resistir a isso — desci os lábios até sua orelha, mordiscando-a. — *Eu sei que me deseja.* Sinto seu olhooooor me seguindo… suas mãos coçando para me tocar…
Um gemido escapou-lhe, e então sua boca encontrou a minha com fúria. Beijou-me como um náufrago, as mãos rasgando a camisola, descobrindo meus seios.
— *Você vai me destruir* — rosnou, mordendo meu ombro.
— Destruir? — arquejei, guiando sua mão entre minhas pernas. — Vou te *libertar*, Artur.
Ele enterrou os dedos em mim, ásperos, urgentes, enquanto eu ria contra seus lábios.
— *Isso… isso é pecado* — gemeu, mas já me empurrava contra a mesa, derrubando livros.
— Pecado é você ainda vestido — retorqui, desabotoando sua calça com dedos ágeis. — Mostra-me esse corpo que esconde como um segredo sujo.
Quando o penetrei, sentindo-o pulsar dentro de mim, seus gemidos misturaram-se aos trovões.
— *Ana, pelo amor de Deus…*
— Deus está ocupado — sibilei, cavalgando-o com ferocidade. — Hoje você é *meu*.
Na manhã seguinte, ele fumava na varanda, o olhar perdido. Aproximei-me por trás, nua, e envolvi-o com meus braços.
— Vai me jogar fora agora? — perguntei, mordendo-lhe o ombro.
Ele virou-se, e pela primeira vez vi o animal por trás da máscara:
— Jogar fora? — puxou-me pelo cabelo, forçando meu olhar ao dele. — Você é minha agora. *Minha culpa. Minha obsessão.*
Riu, baixo, quando o beijei, sabendo que a guerra apenas começara.
que conto delicioso...
Parabéns!! importante é ser feliz.