— Você me consome, Tia Vanda — ele suspirava, os dedos enredados em meus cabelos negros.
— Chama-me de *Ivanda*, meu deus de vitiligo — eu corrigia, lambendo o último traço de pecado de sua ponta inchada.
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Naquela primavera, os Lucarelli nos convidaram para um sábado na fazenda. Juan hesitou, mas cedeu quando prometi segurar sua mão sob a mesa. Na varanda colonial, observei-o rir com os primos que outrora o torturavam. Seus olhos âmbar brilhavam como mel derramado sobre a mesa de cedro.
— Está diferente — sussurrou Dona Laís, servindo vinho tinto. — Você o trouxe de volta à luz.
Sorri, sabendo que a luz que ela via era o reflexo de nosso fogo subterrâneo.
***
De volta ao apartamento, o ar pesava como seda molhada. Vestira a camisola preta que ele comprara — um segundo pele que escorria sobre meus quadris como óleo. Encontrei-o no estúdio, nu da cintura para cima, pincelando telas abstratas com cores que lembravam meu útero úmido.
— Vem — ordenei, puxando-o pelo cinto. — Hoje não serei tua babá.
Na cama, desfaço seus botões com dentes, revelando o mapa lunar de seu peito. Seu hálito acelera quando minha unha vermelha traça o caminho do umbigo à virilha.
— Tenho medo — ele confessa, voz rouca.
— Do quê, meu anjo pintado? — pergunto, mordiscando sua orelha.
— De ser pequeno demais... Para você.
Río baixo, guiando sua mão trêmula sob minha camisola:
— Sente como arde o vulcão que você acordou?
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Fazemo-nos um ao outro como artistas famintos. Sua boca descobre meus seios com devoção de noviço, enquanto meus quadris ensinam ritmos ancestrais. Quando finalmente o conduzo para dentro, gememos em uníssono — dois exilados encontrando pátria na carne.
Na madrugada, enquanto seu suor seca em minha coluna, viro-me para encarar seus olhos diluídos em lua.
— Ouça bem, Juan Lucarelli — digo, traçando seus lábios inchados. — Sou tua primeira mulher, mas juro serei a última. Quando este corpo enrugar e tu fores um velho pintor famoso, ainda estarei aqui. Não te quero por gratidão, ou culpa, ou remédio para solidão. Te quero porque tua alma tem o mesmo cheiro de jasmim-manga que crescia na palhoça onde nasci.
Ele cala-se por séculos. Então despeja em meu pescoço uma lágrima quente:
— Você é minha Bahia particular.
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Nas semanas seguintes, passamos a pintar não nas telas, mas na pele um do outro — com línguas, dentes, unhas. Dona Laís comenta que Juan parece "renascido". Sorrio, sabendo que todo renascimento exige um útero.