Thomaz Véspera do meu aniversário, sexta-feira, 04 de dezembro, e o shopping Nicolau estava abarrotado de gente. Era como se toda a cidade de Luz dos Olhos de repente teve a brilhante ideia de ir passear no shopping, e em grupos de seis ou sete, pra piorar. O Natal estava próximo e isso levava as pessoas a estourarem seus cartões de créditos todos em compras, e a cada passo que eu dava, esbarrava em alguém. Mas eu tinha tempo o suficiente para fazer o que eu pretendia: escolher meu presente de aniversário que eu receberia do meu pai. Quase todas as notas já foram lançadas e eu tirei excelentes pontuações em todas elas. Por telefone, Júlio havia me dito que se deu tão bem quanto eu. Uma coisa nós já havíamos definido: iriamos estudar juntos em minha casa, outra vez, no ano seguinte, no nosso terceiro e último ano no Colégio Disciplina. Até porque, nós dois tínhamos um interesse a mais, além dos estudos. Naquela última sexta-feira, Fabíola demorou muito para preparar o almoço, e Júlio e eu aproveitamos bastante o tempo para ficarmos sozinhos. A porta trancada e meus lábios e os dele trancafiados, grudados, salivando e degustando um ao outro. Nós dois estávamos sem camisa, suados e nada cheirosos, mas o cheiro que eu sentia era o do tesão que nós dois juntos somávamos, ou multiplicávamos. Ele em cima de mim beija-me os lábios lentamente, apreciando meu gosto, meu sabor nos dele, como se nós tivéssemos todo tempo do mundo. Júlio me beijava no canto da boca, dava-me rápidos celinhos e depois meu pescoço sentia sua boca quente. O mais estranho era que essa energia toda, havia um tempinho, eu não mais sentia com Lígia. Meu melhor amigo estava fazendo com que eu sentisse algo novo e eu não conseguia impedir que isso acontecesse. Os beijos também não paravam, não eram interrompidos por falas ou comentários, só o que nós queríamos era aproveitar aquele momento que era só e unicamente nosso. Demos um salto quando Fabíola, aos berros, nos chamou para o almoço. E fazia uma semana, desde então, que Júlio e eu não nos víamos. Primeiramente porque Lígia reclamou que havia muito tempo que nós dois não ficávamos juntos, sozinhos. Outro motivo era porque ele havia pegado uma gripe muito forte no início na segunda-feira. Ainda o convidei para ir ao shopping comigo, me fazer companhia, porém ele já tinha combinado de sair com Suzana, o namorado, Regis e Zeca, o garanhão que o comia nas horas vagas. Lígia também já havia marcado de sair com seus pais, por isso fui ao shopping sozinho enfrentar toda a população de Luz dos Olhos. Meu pai disse que eu poderia escolher qualquer coisa, desde que não custasse tanto o olho da cara. Nem o nariz e nem outra parte do corpo. Seu Jair ou doutor Jair, como os clientes os chamavam, era um advogado renomado e ganhava muito bem, tanto ele quanto seu sócio, Michel, porém meu pai era o cara mais pão duro que eu conhecia. Por sorte, minha mãe era o oposto. Tornou-se gerente da Elegantes, uma loja de roupas do Shopping Nicolau, onde, mesmo com uma crise econômica atacando o país, até que não estava vendendo tão mal. E o que dona Neuza ganhava, ela investia; e quando se tratava de mim, ela não poupava mesmo. Meu presente de aniversário seria algo mais simples, já que ela se responsabilizou pela pequena festa que faria no nosso apartamento, com meus amigos e familiares mais próximos; com pizza, comidas, doces e bebidas. Quase uma hora em uma loja de informática para pesquisar preços e a melhor marca de notebook, pois o meu já estava com a placa mãe, HD e sei lá mais o que numa situação precária e nem os três técnicos que eu conhecia deram um jeito nele. Restava-me apenas pedir um notebook de aniversário. Escolhi qual eu queria e disse à simpática atendente que mais tarde eu voltaria com meu pai para comprar. Ele só iria se desocupar uma hora depois. Então, para passar o tempo, fui à praça de alimentação para tentar comer alguma coisa. Tentar, porque as mesas estavam todas ocupadas e as filas estavam quase tão grandes quanto uma fila de banco. Definitivamente, as pessoas não tinham mais nada melhor a fazer se não irem ao shopping. E eu era uma dessas pessoas. Escolhi uma pequena pizzaria, pois além de ter uma das melhores pizzas da cidade, também era uma das menos lotadas. Já com a pizza de pepperoni e o refrigerante na bandeja, tentei encontrar uma mesa vazia. E depois de quase cinco minutos na procura, avistei uma em que havia apenas um senhor sentado. O homem de quarenta e tantos anos, pele morena, magro e de cara amigável tomava apenas um copo e cerveja pela metade. E a única maneira de eu não ficar patetando na praça de alimentação com uma bandeja de pizza em mãos e ter onde sentar era de dividir a mesa com aquele senhor. Eu tinha que ser cara de pau pedir educadamente que ele me aceitasse na mesma mesa que ele ocupava. - Senhor, com licença. – iniciei, cordialmente. – Desculpe interrompê-lo, mas... - Você quer sentar aqui? – ele apontou para a mesa. - Se não for atrapalhar o senhor... Tá lotado! - Fique à vontade. – e apontou para a cadeira a frente. Ele fora solícito e sorridente. – Mas não me chame de senhor. – advertiu. Sentei-me imediatamente. Contente, faminto e com pressa. A pizza já estava ficando fria. Por educação, ofereci uma fatia de pizza a ele, mas recusou. - Desculpe, nem me apresentei. – lembrando-me e estiquei a mão a ele. – Meu nome é Thomaz. - Prazer, Thomaz. Meu nome é Horácio, mas me chame de Horá, se quiser. – sorrindo, apertando minha mão e depois levou o copo de cerveja á boca, e só então notei um tom afeminado na sua voz, nada exagerado, mas perceptível. Eu suspeitava que ele fosse gay, mas pra mim não seria problema algum, afinal, o que Júlio e eu fazíamos as escondidas, com certeza, não era combinava com atitudes heterossexuais, embora eu não me considerasse homo. - Horá... Então, não vou demorar aqui, prometo... – me adiantei, tentando não incomodá-lo. - Você não incomoda. É até melhor, pois assim eu tenho companhia. - De boa, então... - Eu até te ofereceria uma cerveja, mas você ainda é muito novo... - Cerveja é uma delícia. – comentei, com uma piscadela e um pedaço de pizza na boca. Horá riu com gosto e perguntou: - E por que você está sozinho? - Tô esperando meu pai. Ele deve me ligar daqui a pouco. – eu olhei o relógio. Eu nem havia reparado que já eram quase oito horas da noite. O tempo não para quieto. - Então espere seu pai aí. Sem pressa. – ele disse, com um tom meio afetado e bebendo mais cerveja. – E eu estou esperando meu ex. – informou Horá e eu não resisti um olhar de interrogação, engolindo outro pedaço de pizza. - Seu ex? - Sim. A gente se encontra de vez em quando pra matar a saudade. – num tom nostálgico. - Ah, então vocês se dão uns “pegas” de vez em quando. – deduzi, como se tivesse alguma intimidade com ele. Horá soltou uma gargalhada e concordou. – Bem de vez em quando. - Por que “bem de vez em quando”? – perguntei, para manter a conversa e não ficar um silêncio desconfortável. E também porque eu estava ficando curioso, devo admitir. - Ah, garoto. Você deve ter uns dezessete ou dezoito anos, não é? - Dezessete. – respondi, levando o copo de refrigerante à boca. - Dezessete, pois bem... Você ainda é muito novo. - Idade, às vezes, não significa nada. - É verdade. Mas o que precisa saber é que muitos dos gays ainda estão presos no armário. Infelizmente. E esse é o caso do meu ex. - É... Acredito que não deve ser muito fácil pra vocês... - Não mesmo. Ah, veja. Ele está chegando. – Horá acenava para alguém que vinha atrás de mim. Não me virei para ver quem era, pois estava com um pedaço de pizza na boca. Deixei o ex dele se aproximar de mim para que eu pudesse me apresentar. Horácio se levantou para abraçá-lo, mas eu ainda não o enxergara. E só depois que eles se soltaram que eu vi quem era. O pedaço de pizza ficou na minha boca sem que eu mastigasse. Meu coração voava de tão acelerado. E tudo o que eu mais queria naquele momento era que Júlio estivesse comigo. - Então ele é seu ex? – perguntei, engolindo o pedaço de pizza. Meu sorriso se abria calmamente. Um sorriso de triunfo, sobretudo porque Mario me olhava com espanto e com os lábios trêmulos. Era um olhar de medo, pavor, que eu jamais pensei que veria nele. Acho que se Mario pudesse, teria saído dali correndo mais rápido que o papa-léguas. Horácio percebeu que nossos olhares se cruzavam significantemente e perguntou, desconfiado: - É impressão minha ou vocês dois já se conhecem? Cruzando os braços e pondo uma perna sobre a outra, confortável e elegantemente, respondi: - Já nos conhecemos, sim. Não é, Mario? Mario, contudo, não falou nada. Ele me cercava com um olhar típico de quem estava encurralado. Ou de quem estava incrivelmente fodido.
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