Quando nós descemos, Roberta correu até Júlio e o abraçou, quase o estrangulando, dizendo que estava com saudades. Ela ficou menos de trinta minutos sem vê-lo e agiu como se ele tivesse feito uma viagem para um país distante. Até mim, foram Lígia e Dino. Eu não lembrava como meu amigo era bonito de corpo, um moreno alto, bonito e sensual. Ele me cumprimentou com um aperto de mão e um abraço; apenas de sunga, tive que me segurar para não elogiá-lo. Atrás dele, surgiu nosso amigo Rômulo, apenas de short, com banhas pulando para cima e para baixo como duas geleias. Sem convites, me forçou a tirar a camisa para pular na piscina junto com ele, e sem alternativa, tirei e deixei minha roupa com meu celular em uma cadeira de praia, próxima a uns amigos de Al. Joguei-me na piscina junto com Rômulo e encontrei Ingrid de molho, encostada num canto da piscina, com a mesma cara azeda de sempre.
- Por que essa cara, prima?
- Porque é só essa a cara que eu tenho. – respondeu, rispidamente.
- Eu sei o que falta pra você. – disse Rômulo. E Dino, que pulara na piscina naquele mesmo instante, gritou, junto com ele: - SEXO!
-Você é quem pensa. – ela retorquiu e todos o zoaram com a resposta que levou.
Lígia tirou sua roupa e ficou apenas de biquíni; pulou na piscina, foi até mim e me beijou. Ao sentir o beijo dela, lembrei-me do beijo que recebia havia poucos minutos de Júlio. Foi a primeira vez que nossos lábios se cruzaram e não senti o nosso gosto e o nosso peculiar prazer. Notando meu estranhamento, Lígia me perguntou:
- O que tá havendo? Você nem tá me beijando direito.
- Eita, vamos ter D.R agora. – observou Rômulo, com uma careta de preocupação e se afastando da gente.
- Tenham a D.R de vocês. Eu vou comer alguma coisa. – disse Ingrid, entediada.
- Eu também. Qualquer coisa, fomos pegar um churrasco. – avisou Dino, saindo da piscina junto com os dois, mas antes que eles se distanciassem, pedi: - Chamem o Gésio pra mim, depois? – Dino assentiu. Eu me esquecera de mencionar que uma moça negra e gata, a Tali, pediu que eu enviasse um vídeo na noite em que ele tocou no bar para ela.
Três pessoas mais velhas pularam, mas ficaram distante de nós dois. Lígia prosseguiu com seu questionamento.
- Você tá estranho, Thomaz. E não é de hoje. – ela teimou.
- Não é de hoje que você me pergunta isso. E eu já falei que tá tudo bem comigo. Fique tranquila. – assegurei, tentando beijá-la, mas Lígia se esquivou.
- Vou perguntar mais uma vez, Thomaz: você tá me traindo?
- Vou te responder mais uma vez: não, não tô te traindo. – respondi, obtuso.
- Ás vezes eu acho que você tá mentindo pra mim.
- Pare com isso. – eu já estava impaciente. Será que eu não podia nem mentir em paz? - Eu nunca trairia você, assim como você nunca me trairia. Não é?
- Claro. – respondeu, com um sorrisinho falso. Com a tentativa de eliminar aquele clima chato, abracei-a e a beijei. Dessa vez, Lígia retribuiu meu beijo, mas nos soltamos quando ouvi uma voz feminina gritando meu nome.
- Thooomaz! – a alegre voz feminina não me era estranha. Olhamos para ver quem era e logo a reconheci. A pessoa deveria sofrer de amnesia caso não se lembrasse de uma garota como Noely, a ruiva baixinha que dançou forró comigo na noite em que Gésio se apresentou no Bar da Noite. Lígia parecia estar invisível, pois Noely foi até mim e me abraçou afetuosamente, sem falar com ela. Minha namorada me mirava exasperada.
- Oi, tudo bem? – Lígia se apresentou, já que ninguém o fez. – Eu sou namorada dele, Lígia.
Noely, com a mesma empolgação, a abraçou e a beijou no rosto. O gordo e o magro, ou seja, o amigo do namorado e o namorado, respectivamente, apareceram e foram apresentados a nós. O garoto que tinha a sorte de ter uma namorada como aquela se chamava Otávio e o amigo tinha o nome de Nilton.
- É, ele é o Nilton e ele o Otávio. – apresentou-nos, com indiferença. Mas os dois logo nos deixaram sozinhos para irem atrás de comida e bebida.
- De onde vocês se conhecem? – Lígia perguntou, com pose autoritária.
- Ah, ele não te falou? Nos conhecemos ontem à noite, no Bar da Noite. Seu namorado dança muito bem, viu? E eu sou estudante de dança, quase formada, sei o que tô falando.
- É, eu sei que Thomaz dança bem. – ela concordou, fingindo não estar irritada e me lançou um olhar fulminante.
- Quando você vai lá de novo, Thomaz? – Noely me perguntou, meigamente.
- Ah, assim que Gésio me convidar. O músico que tava lá ontem era ele, meu primo.
- Verdade? Por isso que você o filmava tanto. Falando nisso, eu acho que o vi por aqui agora há pouco. E com o violão dele junto.
- Ele veio sim. Têm muitos amigos meus aqui.
- Que legal. Depois você os apresenta a mim!
Lígia amarrou a cara, emitiu um quase inaudível “Com licença” e se retirou da piscina. Outras pessoas entraram, inclusive Dio, Caio (com o óculos molhado), Al e outras garotas. Elas eram lindas e atraentes, porém meu primo chamava mais atenção, principalmente com aquela tatuagem de fogo azul no ombro. Caio também tinha um corpo bonito, esbelto, mas ele era tão fechado que se tornava quase desinteressante. Noely se aproximou de mim, com a voz mais forte, já que algum surdo aumentou o volume do som, e disse:
- Acho que sua namorada não gostou muito de mim.
- Também achei.
- Mas ela deu bandeira de largar um carinha tão bonito e gente fina como você por aqui. – e piscou para mim. Ri, encabulado.
- Você que é bonita.
- Obrigada. Afinal, quem você conhece aqui?
- Meu primo – e apontei para Dio – chegou hoje do Rio para passar uns dias conosco e logo organizaram um churrasco pra ele.
- Seu primo tem uma moral, hein! O Al é ex da minha irmã. Eles se odeiam, mas eu ele nos amamos. - e riu, graciosamente. Estava difícil tirar os olhos dos lábios finos dela. – Ei, que tal se a gente dançar esse forró?
Foi como um estalo. Tocava um forró do tal Wesley Safadão. As músicas desse cara tocavam o tempo todo, eu não aguentava mais, porém, não tive como recusar o convite de Noely para dançar. Saímos da piscina e fomos para uma área mais seca e começamos a dança. Forró não era um dos meus estilos musicais favoritos para dançar, mas com Noely eu seguia bem os passos e o ritmo, e um pouco mais frenético como exigia a canção. Nossa dança improvisada serviu para que outros pares se unissem a gente, um deles foi meu primo com uma morena muito gata e o outro, Lígia e Dino. Foi um alívio ver minha namorada mais alegre.
Noely e eu dançamos pelo menos mais umas três músicas, mas meus pés já cansavam e a fome batera com violência. Pedi para que parássemos e fomos até o churrasqueiro e nos servimos com uma picanha bem passada com feijoada. Lígia e Dino se retiraram e entraram na casa. Enquanto comíamos, numa mesa próxima à piscina, Gésio, todo sorridente, veio até mim e perguntou o que eu queria. Expliquei sobre a Tali, que me pediu para que enviasse um vídeo para ela e meu primo ficou entusiasmado e cheio de esperanças. E como se não bastasse a coincidência de encontrar minha parceira de dança ali, vi Dio abraçando calorosamente Tali.
- É ela! Ela que me pediu teus vídeos! – e apontei para Tali. Nasceu um sorriso nos lábios de meu primo. Deixei a comida na mesa e Géio e eu fomos até ela. Tali nos reconheceu imediatamente.
- Eu vi seu vídeo e te respondi! – ela informou, abraçando-me. E ao abraçar Gésio, ela adiantou: - Acho que você não leu o e-mail, então vou falar logo: quero que você toque no aniversário da minha irmã, que será semana que vem, na sexta. Pode ser?
- Na hora! – meu primo concordou, eufórico. Era por isso mesmo que ele esperava, por mais um convite para tocar. Tali nos contou que soube que lá tinha uma apresentação ao vivo toda semana e foi justamente na noite em que meu primo tocou.
- Vocês se conhecem de onde? – Dio interrompeu nossa conversa e explicamos a ele. – Caraca, Luz Dos Olhos parece grande, mas não é nada. Vocês acabaram conhecendo minha namorada de infância. Tivemos que concordar com ele, porque jamais pensei que ela o conhecesse e que tivesse estudado meu primo e muito menos que eles tivessem sido namorados quando crianças. E eu não me lembrava dela, isso mostra que minha memória não era das melhores. Dio, Ester e eu crescemos juntos, mas eu não me recordava dela.
Tali disse que nos enviaria o endereço e mais detalhes do aniversário por e-mail e pediu que Gésio pegasse o número de telefone com Dio e voltamos à mesa. Ester e Nara também almoçavam ao lado de Noely e nós terminamos o almoço.
- Tô tão feliz de tá reencontrando todo mundo! Só me falta encontrar os outros milhões de parentes. Tio Ivo, então, ele é uma figura. Gésio puxou pra ele. – disse Ester, sorrindo de orelha a orelha.
- Eu tô feliz de estar aqui. Amei a família de vocês! – engradeceu Nara.
- Todos aqui são bem divertidos. – comentou Noely. – Mas agora vou atrás do Otávio e do Nilton, pra ver se eles ainda não querem ir embora. Já, já nos encontramos de novo. - beijou-me no rosto e saiu.
Júlio e Roberta, de mãos dadas, o que me causou uma pontada insignificante de ciúme, chegaram até nós.
- Thomaz, nós precisamos ir. – disse Roberta, em tom de desculpa.
- Por que? – perguntou minha prima.
- Minha mamãe ligou desesperada para mim, aos prantos, querendo que eu volte pra casa. – explicou Júlio. – Vou ter que ir. Vou ligar para um taxista vir...
- Não vai precisar. Nós te levamos lá, Nara e eu. Vamos? – convidou Ester, prestativa e animada e Nara consentiu, com a mesma animação. Júlio e Roberta aceitaram e fomos até Dio, que conversava alegremente com Tali e Al na piscina, para pedir a chave do carro. Minha prima retirou o chaveiro do bolso do short dele, que estava na mesa onde estávamos almoçando. Vesti meu short e minha camisa e voltamos até onde Dio estava para nos despedir.
- Aproveitem e levem Caio com vocês. – pediu Dio. – Antes que meta a porrada nesse veadinho.
- Você sabia que isso iria acontecer, mano. – ressaltou Ester. Dio esperou que os outros fossem na frente e me chamou para perto dele. Abaixei-me para saber o que ele queria.
- Thomaz, eu sei que você deve tá um pouco incomodado com o Caio...
- Um pouco? – fiz a pergunta calmamente.
- É, o carinha é meio calado... – concordou Al e mergulhando n´água em seguida.
- Ele é muito calado! – realcei. – Às vezes acho que ele veio pra cá por obrigação.
- Mais ou menos, primo. Eu meio que o obriguei a vir. – admitiu Dio.
- Por que isso, Dio? – Tali questionou.
- Os meus tios, pais dele, estão se separando e brigam o tempo todo, e na maioria das vezes descontam tudo no pobre do Caio.
- Tadinho... – sensibilizou-se Tali.
- Porra, que barra pro moleque... – disse Al, meio avoado.
- Pois é, até para comemorar o Natal e o réveillon os dois estão encrencando. O ruim é que o Caio tem rebatido, dado respostas atrevidas aos meus tios e quem leva a surra é meu primo. Então pedi pra que ele viajasse comigo, já que além de primos, nós somos muito amigos, muito mesmo. E depois de todas essas discussões, o caio ficou muito frio e agressivo, até comigo, às vezes. Por isso ele é tão calado.
- Dá pra entender o lado dele... – falou Tali.
- Dá sim, mas essa cara de bunda desse fresco tá me irritando. Ele mal sorri! Entrou na água e saiu rapidinho! Temo não me segurar e meter a porrada nele também.
- Violência não leva a nadam, irmão. – repreendeu Al.
- Eu sei... Primo, - Dio se virou para mim – você é um cara tão paciente, divertido... Tenta fazer com que o Caio se anime um pouco...
- Mas como eu faço esse milagre? Ligando ele na tomada?
- Não. Você vai saber...
- THOMAZ, VEM LOGO! – gritou Ester e eu corri.
Caio estava na sala da casa de Al, teclando no celular, já vestido, seco e arrumado. Seu olhar nos penetrou furtivamente e voltou a dar devida atenção ao celular. Ao lado dele, também usando celular, estavam Lígia e Dino, e da ponta de outro sofá estava Ingrid, que ouvia música no celular através do fone de ouvido.
- Amor, o Dino tá me passando umas músicas... – Lígia me contou, feliz.
- Que ótimo. Ah, eu vou dar uma saída agora, vamos deixar o Júlio e a Roberta em casa, mas não demoramos. – comuniquei. Roberta e Lígia abraçaram-se e se despediram.
- Vamos dar uma volta, Caio! – chamou Ester, meio seca.
- Para onde? – Caio perguntou, em tom enfadonho.
- Levar os amigos do Thomaz em casa. Vamos!
De má vontade, Caio se levantou e nos acompanhou. Ele estava conseguindo me aborrecer e se mais uma vez eu o visse de cara feia, eu não responderia por mim. No carro, Ester e Nara brigavam porque cada uma queria sintonizar uma rádio diferente e quem decidiu o que iriamos ouvir foi Roberta, que não optou por nenhuma das duas emissoras. Ao deixarmos Júlio em casa, pedi que ele me informasse o que houve com sua mãe assim que pudesse e logo depois seguimos para a residência de Roberta. Na volta, Nara perguntou à Ester:
- Amiga, você tá sabendo que a Cacau já decidiu como vai a ser a festa dela de vinte e dois anos?
- Não, não. – respondeu, de olho no sinal. Caio permanecia com aquela cara de quem comeu e detestou, para a minha irritação.
- Vai ser uma festa à fantasia!! – e bateu palmas, fascinada. Minha prima agiu da mesma forma, como uma criança que ganhara um monte de pirulitos.
- Ah! Caramba!! Adorei! Só não sei com qual fantasia eu vou.
- Eu já até encomendei a minha para a costureira da mamãe. Adivinha do que eu vou me fantasiar! – fazendo ar de suspense. Caio cruzou os braços, bocejando.
- Não faço ideia!
- Vou fantasiada de Pokémon! – e deu gritinhos engraçados. Uma japonesa que iria se fantasiar de Pokémon. Não resisti e perguntei:
- Qual vai ser o Pokémon? – e senti o olhar súbito de Caio sobre mim.
- De Pikachu! – Nara respondeu ainda mais eufórica.
- Eu me fantasiaria de Squirtle... – eu opinei. E por mais estranho que parecesse, Caio puxou meu braço e me perguntou, assustado e ao mesmo tempo encantado:
- Você disse “Squirtle”? – com os tremendos óculos engrandecendo seu rosto.
- Sim... É uma tartaruga Pokémon...
- Eu sei! Eu sei! Você curte Pokémon também? Não acredito, cara! Que fantástico! – os olhos de Caio brilhavam. Finalmente, eu toquei num assunto que o fez abrir a boca não somente pela fala, mas por um sorriso.
- É mesmo, você curte Pokémon... – lembrou Ester. E durante todo o caminho até chegarmos na casa de Al, Caio e eu tínhamos um bate-papo bem descontraído sobre Pokémon e outros desenhos antigos. Pokémon era um dos poucos desenhos japoneses que eu gostava e foi o que ocasionou assunto entre ele e eu. O primo dos meus primos falava comigo como se já me conhecesse havia tempos. Tive vontade de reclamar porque só então ele se deu a liberdade para se entrosar, mas achei melhor deixar pra outra hora.
Ester decidiu se precaver e fomos ao posto de gasolina para abastecer o carro do meu pai e depois passamos rapidamente na casa de uma amiga dela, somente para se abraçarem e gritarem no ouvido uma da outra um “Amiiiiigaaa!”. Quando chegamos na casa de Al já não tinha tanta gente. A maioria estava no espaço externo, nas cadeiras de praias ou na piscina. Os pais de Al, seu Carlos e dona Flora, estavam em uma dessas cadeiras curtindo o som: Gésio tocava no violão uma música bem antiga:
“Tem que saber que eu quero correr mundo
Correr perigo
Eu quero é ir-me embora
Eu quero dar o fora”
Para a minha surpresa, Ingrid, na plateia dentro da piscina, também acompanhava a canção, junto com Al, Dino, Lígia, Noely, Rômulo, e mais dois amigos e duas amigas de Al, que eu não conhecia.
- Cara, chame lá o Dio e a Tali. Eles estão no quarto de hóspedes, lá em cima também. – pediu-me Al.
- Eu vou contigo. – convidou-se Caio.
- Espera, Thomaz! – gritou Lígia. Ela se levantou, acompanhada de Dino, e me disse que seu pai a esperava lá fora e daria uma carona ao nosso amigo.
- A gente se fala amanhã, tá gatinho? – ela me deu intenso beijo e depois fui abraçado por Dino.
- A gente se vê, cara! – despediu-se com uma afetuoso abraço. Nesse instante, senti como se tivesse alguém me observando. Era Ingrid, que desviou o olhar na mesma hora.
Caio e eu subimos as escadas. Não parecia de forma alguma o Caio que conheci de manhã, que mal cumprimentava as pessoas e um sorriso na boca dele era um caso raríssimo. O primo dos meus primos não pausava a língua.
- Cara, o Dio sozinho com a Tali? Eu tenho certeza que boa coisa eles não estão fazendo. Na verdade, a coisa deve ser muito boa porque...
- PSIU! Faz silêncio. – ordenei, com severidade. O corredor dos quartos estava quase silencioso, exceto por um barulho estranho que vinha do quarto de hóspedes. Al me disse que Dio e Tali estavam no quarto de hóspedes, mas soava algo esquisito do tal quarto. A minha e a curiosidade de Caio estavam apitando. Fui na frente dele e me aproximei da porta. Ela estava entreaberta, dava para ver razoavelmente o que havia do lado de dentro. Cautelosamente, olhei pela brecha da porta. O pouco que eu pude ver foi o suficiente: Dio estava sentado na ponta da cama, aparentemente nu, olhando para o teto com uma admiração diferente. Me posicionei melhor e pude enxergar algo além. Tali estava agachada, de joelhos, de quatro, chupando o pica de meu primo com toda a vontade.
Sorri para Caio e o deixei que visse, mas pedindo silêncio com um gesto. Ele abriu a boca, alarmado, mas não emitiu som algum. Descemos a escada com a máxima cautela. Quando encontramos com Al, que já estava fora da piscina, ele perguntou pelo amigo.
- Olha, cara... Ele e a Tali estão um pouco ocupados. – eu falei, sem graça. – Se é que você me entende.
- Ih, imaginei. – com uma risada sacana. - Bom, então nem esquente. Que daqui ele não vai sair tão cedo!
- Como assim?
- Ester! Fiquem à vontade, a casa de vocês. Mas o Dio tá com a Tali lá em cima e não vão sair daqui hoje. – ele anunciou pra quem quisesse ouvir. Teve quem assoviou, riu e aplaudiu. Teria sido melhor eu mesmo noticiado a todos que meu primo estava tendo momentos íntimos no quarto de hóspedes, que daria no mesmo.
Meu primo Gésio agora tocava um sertanejo, quando Noely se levantou e foi até mim, toda molhada, com seus cabelos vermelhos grudados na costa e seus seios me tirando a atenção.
“Tá a fim de um romance, compra um livro
Se quer felicidade vem me ver de novo”
Tive que baixar um pouco a cabeça, pois ela não era tão alta. Meigamente, pegou em meu ombro e disse:
- Duas coisas pra te falar: já tenho que ir, por isso não vamos dançar essa música.
- Poxa, que pena – lastimei.
“Tá a fim de um romance, compra um livro
Se quer felicidade vem me ver novo”
Noely pegou suas roupas, vestiu um short, pegou na minha mão, deu “tchau” a quem ficou, mandou beijos para os pais de Al e me fez acompanhá-la até a porta. Em frente a casa havia um táxi que esperava por ela.
- Outra coisa: Nilson e Otávio já foram tem tempo e Otávio e eu não estamos mais namorando, me esqueci de te falar quando apresentei vocês.
- Então por que ele veio pra cá?
- Porque ele pensava que ainda tinha alguma chance comigo.
- Ah tá.
- Mas eu já avisei a ele que tô de olho em outra pessoa. – ela disse, com a mão acariciando meu rosto. Saquei o que ela queria dizer e arrisquei:
- Nem vou perguntar quem é. – peguei na cintura dela e a beijei. Não foi um beijo simples, fui um em que nossas línguas se atreveram a um encontro imediato e safado. Como se soubéssemos que demoraríamos a nos ver, aproveitamos aquela troca de sabores, enquanto eu passava a mão nos cabelos ruivos dela. O beijo só não foi melhor porque por um instante me veio a lembrança de Júlio, mas ela desapareceu logo que Noely tocou na minha bunda.
O motorista do táxi buzinou e ela me largou.
- Mais tarde eu te mando uma mensagem. Pode ser?
- Pode. Mas você tem meu número?
- Peguei com o seu primo antes de ele subir com a Tali.
- Ah tá. Você é muito esperta.
- E você um beijoqueiro. – ela me deu um selinho e entrou no carro.
Voltei à área externa casa ainda com o beijo de Noely na cabeça. Achei-a gata, linda, desde o momento que a vi e naquela tarde a atração aumentou, o beijo foi delicioso, mas meus pensamentos ainda se encontravam em Júlio. E isso era esquisito demais até para mim. Até que esses pensamentos foram embora quando Ingrid me puxou. Pensei que ela também iria beijar.
- Tenho um alerta: cuidado com quem diz que é seu amigo. – preveniu, apavorada.
- Vamos, cambada! – chamou Ester e não pude ouvir o que Ingrid tinha a dizer. Al ficaria na casa com seus pais e outros amigos, porém nós já voltaríamos para casa. Já passava das oito na noite. Incrível como o tempo passou rápido e eu estava faminto mais uma vez.
O banco de trás parecia uma latinha de sardinha de tão apertada. Ester e Nara foram no banco da frente, já Caio, Rômulo, Ingrid, Gésio e eu lutávamos por conforto no banco traseiro, com o violão no porta-malas. Gésio pediu que colocassem um reggae pra tocar no som, e a primeira da lista foi uma preferida dele, do Natiruts:
“Quando a esperança de uma noite de amor
Lhe trouxer vontade para viver mais
E a promessa que a chance terminou
É bobagem é melhor deixar pra trás”
Como quase todo domingo, meus pais compraram uma pizza para jantarmos, mas já que meus primos estavam em casa abrimos uma exceção para o lanche na sábado. Eles não se surpreenderam quando souberam que Dio iria passar a noite na casa de Al, ao lado de uma “namoradinha” da infância, embora eles quisessem passar mais tempo com o sobrinho. Também comemoram quando viram um falante Caio entrando na casa, risonho e divertido. Parecia outra pessoa.
- Tia, posso escolher a pizza? Pode ser de dois sabores? Eu adoro quatro queijos com bacon. Não sei se vocês gostam... Vocês gostam? Eu acho uma delícia. Vocês deveriam provar!... Que foi? – ele se espantou quando se deparou com todos os nossos olhares sobre ele.
- Quem é você? É o Caio mesmo? – perguntou minha mãe.
- Sou eu sim, tia Neuza. – respondeu para mamãe. E tivemos um dos lanches mais álacres dos últimos meses, mas o cansaço nos pegou bem cedo e cada um foi para o seu quarto: Ester e Nara foram para o quarto de hóspedes, meus pais para o deles e Caio e eu para o meu. Mamãe foi prestativa e deixou logo um colchão e travesseiro no meu quarto, para o morador temporário. O primo de meus primos pegou sua toalha que estava na varanda do nosso apartamento e foi tomar banho. Respirei fundo quando ele entrou: com a toalha na cintura, cabelo molhado e bagunçado, o corpo magro e esbelto, com alguns exíguos músculos. Não era tão sexy quanto Júlio, mas me faz imaginar besteiras.
- Seus pais vão sair com uns amigos. – ele disse, descontraidamente logo que entrou no quarto. Peguei a minha toalha e fui ao banheiro também, quando saí, encontrei com minha mãe, que estava linda, numa calça comprida e uma camisa amarela.
- Fomos chamados de última hora para um barzinho, filho. – contou-me. – Seu pai já tá arrumado e eu estou quase.
- Aproveitem, então. Acho que vamos ver um filme e vamos dormir.
- Tudo bem. – ela me beijou no rosto e adiantou uma despedida.
No meu quarto, Caio já estava deitado no colchão, lendo um mangá, com seus óculos caídos, e se alegrou quando me viu.
- Cara, vamos assistir um filme? – perguntou, largando a revistinha. – Ah, espere. Preciso sair pra você se trocar?
- Não... Só se você quiser... – respondi, com a sensação estranha de que ele não tirava os olhos de mim. Desconfortável, peguei uma cueca e fechei o armário.
- ESTAMOS INDO! – minha mãe gritou e bateu a porta.
Tirei a toalha e me vesti. Eu poderia jurar que Caio nem sequer piscara.
Apenas de cueca, abri a gaveta para pegar um short e ouvi Caio perguntar, circunspecto:
- Cara, vou te dizer uma coisa. Posso?
Vestindo o short, eu respondi que sim.
- Você é um cara bonito.
- Obrigado. – agradeci, passando desodorante nas axilas. – Vou te dizer mais uma coisa.
- Diga.
- Eu ouvi uma conversa muito estranha entre você e seu primo lá no quarto do Al, mais cedo. – contou, e fiquei tenso, mas tentei disfarçar. Coloquei a toalha atrás da porta.
- Que conversa? – fingindo-me de besta.
- Uma conversa de que... – ele se levantou e foi até mim. – De que vocês dois poderiam se apaixonar um pelo outro.
- Acho que você ouviu coisas... – ele me olhava, mas eu o evitava. Passei-me perfume para não encará-lo.
- Eu só não ouvi mais coisas porque Dio se aproximou e tive que me esconder. Mas ouvi algo ainda mais esquisito...
- Você tem ouvido coisas estranhas... Eu te dou um cotonete...
- Ouvi uns ruídos que pareciam beijos...
- Hum... Vou pegar o coto... – Caio me puxou e tivemos que ficar cara-a-cara.
- Vocês dois tem alguma coisa? Namoram? Não, né?
- Não, nós somos...
- Ótimo. Era o que eu queria saber...
Caio, com uma pegada forte e ousada, me beijou. Fiquei sem fôlego.
Thomaz está se revelando um puto, achei no começo que ia focar mais o Julio e suas descobertas.
amoamo amo seus contos amigo.. ta vada vez melhor
uauuuuu....está cada vez melhor,mano. Não pare, por favor! Abração!
Ainda não tinha descoberto seus contos por aqui e posso dizer que me surpreendi ao ler. Vc com certeza ganhou um fã. Lerei os outros 19 assim que tiver alguma oportunidade. Escreves muito bem. Espero que continue escrevendo. ????