22. O sorriso mais bonito

       Levantei-me e fiz o que eu estava louco para fazer havia muito tempo: abracei-o e bem forte, para que ele não me largasse mais. Senti um beijo dele na minha nuca. Ele estava, como sempre, cheiroso. Quando me soltou, Thomaz disse:
      - A gente precisa conversar.
      Acima dos ombros dele, vi seus pais, seus primos, tios, incluindo Diozinho, Ester, Nara, Caio... A família toda.
      E a música tocava...

       “Me encosta o colo e fica onde quiser
      E me molha como um rio que lava o chão”

      - Vamos pra outro lugar, então... – sugeri, um pouco nervoso.
      - Não, vamos ficar aqui mesmo...
      - Mas...
      - Me escuta. Só me escuta.
      - Mas aqui? – eu me incomodava com todas aquelas pessoas nos olhando, e nem eram somente os nossos familiares.

      “A vida enfim vivida de manhã, quando eu tenho você é
      Sempre você é meu sol”

      - Aqui.
      - Tá bem. – bufei.
      - Júlio, desculpa se eu te confundi e se eu mesmo me confundi com essa história toda, mas nós somos seres humanos, não somos feitos de ferro. – ele dizia como se tivesse decorado um texto. – Mas eu não tô mais confuso. Não quero mais saber de ter experiências com outras meninas ou meninos...
      - Até porque você namora.
      - Não mais. Lígia e eu terminamos.
      - Não acredito.
      - Pois acredite.
Thomaz pegou a minha mão.
      - Repito: eu não tô mais confuso e nem quero mais que você esteja. Porque o que eu tô sentindo por você, loirinho, é surreal. Nunca fiquei na fossa por tanto tempo como fiquei esses dias.
      - Por minha causa?
      - Por sua causa.
      A música parou, mas logo iniciou outra.
      - Eu sou seu melhor amigo, Júlio, há anos, e sempre vou ser. Mas nesse ano quero algo diferente.
      - Han?

      “Já conheci muita gente
      Gostei de alguns garotos”

      - Não tô querendo saber se meu pai, minha mãe ou sua mãe aprovam. Não quero a aceitação deles. Quero a sua. Porque eu não estou mais confuso, sei muito bem o que eu tô sentindo.

      “Ninguém pode acreditar
      Na gente separado”

      Thomaz me puxou mais para perto dele, me pegou pela cintura e perguntou:
      - Me namora, Júlio?
      - O quê?!
      - Isso mesmo que você ouviu. Não quero mais amizade colorida. Quero ser amigo do meu namorado. E esse namorado não for você... Não sei quem vai ser...

      “Procuro evitar comparações
      Entre flores e declarações
      Eu tento te esquecer”

      Eu olhava para trás e sentia todos nos mirarem. Todos. Os fogos de artifício explodiam no céu e meu coração se estourava em mim. A pressão de todos aqueles olhares pairava ao meu redor.
      - Mas e os outros? Seus pais, minha mãe...?
      - Loirinho, depois de você, os outros são os outros e só. Vamos tentar, porque se nós nem tentarmos, eu não vou ficar sossegado.
      - Você deve tá de brincadeira.
      Thomaz balançou a cabeça negativamente e sorriu. Os fogos arranhavam a escuridão enquanto meu amigo me beijava na boca, sem nenhuma vergonha na cara, prendendo-me a ele. Como eu senti falta daquele beijo...
      - Então, você viu como eu não tô brincando.
      - Verdade...
      - Aceita, então? Aceita ser meu namorado, loirinho?
      Thomaz refez a pergunta, mas ele já sabia a resposta. E tenho certeza que vocês também já sabem o que eu respondi.
      Como resposta e mais um estouro no céu, beijei-o com todo o prazer, amor e carinho que havia em mim. E perguntei:
      - Esse beijo responde a tua pergunta?
      Thomaz sorriu. Pra mim, o sorriso mais bonito de todos.