18. No quarto de cima

       O meu temor era que meu pai se transformasse em uma cópia mal feita de Mario, mas me preocupei à toa. No dia seguinte, na quinta-feira, ele e mamãe não só já estavam “de boas” um com o outro, como ele também quis se desculpar comigo por ter se exaltado, assim que mamãe entrou no banheiro para tomar banho.
       - Me desculpa por ter dito aquelas coisas ontem a você, Thomaz. – ele pediu, desconcertado. – Eu não me importo se você for gay ou... seja lá o que você quer ser.
       - Não? – perguntei, desconfiado.
       - Não. Mas eu prefiro que você seja heterossexual.
       Não era exatamente isso que eu preferia ouvir de meu pai, mas quando lembrava da relação amarga que Júlio tinha com Mário eu agradecia aos céus pelos pais que eu tinha. Meu amigo e o padrasto se tratavam cordialmente desde que Júlio o colocou contra a parede. Ele não ouvia mais nenhuma agressão verbal ou xingamento e a convivência estava forçadamente pacifica entre eles, razão para que a mãe de Júlio ficasse com a pulga atrás da orelha, mas ela evitava qualquer tipo de comentário para não interferir no atual momento tranquilo da família.
       Zeca também sumiu, definitivamente. E Júlio tinha uma das fases mais sossegadas da sua vida, em vários sentidos, sendo a sexual uma delas. Além de ele ter por perto o melhor amigo, ou seja, eu, para matar seus desejos na cama, ele também tinha a companhia da bela Roberta, que era a responsável por transmitir um calor feminino ao meu amigo e ele não sofria mais chantagem alguma de nenhum dos lados. Aliás, só que faltava para ele e Roberta era sexo.

       Na sexta-feira à noite, quando eu acabara de chegar em casa depois de jogar uma pelada com meus vizinhos do conjunto, recebi uma ligação de meu primo Gésio, junto com uma intimação:
       - Primo, seu celular é perebento que nem o meu ou ele tem uma boa resolução?
       - Por sorte, ele não é perebento e tem uma boa resolução.
       - Ótimo. Vou precisar de sua ajuda.
       Gésio ganhou a oportunidade rara de substituir um músico de um bar e restaurante de renome de Luz dos Olhos, o Da Noite. Um de nossos colegas de classe, o Dino, era filho de um dos donos do bar e contou ao pai que meu primo sabia tocar violão, e como o músico fixo recebeu um convite para tocar num aniversário, a vaga surgiu. Mas Gésio queria registar o momento em vídeo e se lembrou de mim para pedir o favor, pois eu já alcançara a maioridade e não seria barrado em nenhum bar ou casa noturna. O estranho de tudo isso foi quando eu avisei que iria ligar para Lígia:
         - Ah, primo, saia ao menos uma vez sem a Lígia. Vocês não nasceram grudados!
       Não hesitei e esqueci a ideia de convidar Lígia para ir comigo. Tentei me comunicar com Júlio, porém ele fora ao cinema com Roberta. Seria uma noite em que eu iria me divertir com meu primo, ou simplesmente o auxiliaria, sem a minha namorada por perto ou meu melhor amigo por perto. Apaguei vídeos, áudios e fotos desnecessárias de meu celular a fim de que sobrasse espaço para filmar Gésio tocando e fui de carona com meu para o Bar Da Noite. Ele disse para que eu telefonasse avisando o horário para ir me buscar, desde que não passasse das duas da manhã.
       Gésio estava em frente ao bar, vestido com uma camisa gola polo azul clara, cheiroso, mas bastante nervoso. O Bar e Restaurante Da Noite estava quase cheio; um local elegante, mas popular, em que a maioria dos fregueses eram da faixa dos trinta aos cinquenta anos, todos bem arrumados e a maioria em casal. Gésio me abraçou e agradeceu por eu ter ido assisti-lo e informou que outros colegas e amigos que tínhamos em comum também viriam. Ele, visivelmente tenso, sentou-se em um banquinho que ficava bem no centro do bar, posicionou o violão da maneira correta, dedilhou um pouco como treino e, por fim, anunciou no microfone:
       - Boa noite a todos! Espero que vocês não reparem no meu nervosismo, mas estou uma pilha porque é a minha primeira apresentação profissional. Mas farei o possível para trazer uma noite agradável a todos vocês. Então, vamos lá...
       Os acordes da primeira canção iniciaram e eu apertei o REC para gravá-lo. Logo a reconheci: a mesma música pop romântica do Tiago Iorc que ele havia tocado na festa do meu aniversário.
      " Ah, quase ninguém vê
       Quanto mais o tempo passa
       Mais aumenta a graça em te viver, êh"

       O nervosismo o atrapalhou no começo, mas o refrão veio para que sua confiança alavancasse seu potencial vocal:
       "O coração dispara
       Tropeça, quase para
       Encaixo no teu cheiro
       E ali me deixo inteiro

       Eu amei te ver
       Eu amei te ver"

       Gésio recebeu alguns pífios aplausos no fim dessa música e só quando os nossos colegas e familiares chegaram que o restaurante ficou mais acalorado. O entrosado Rômulo, que era nosso colega do Colégio Disciplina, foi com seus pais; e Ingrid, nossa prima, acompanhada de meus tios, também foi prestigiá-lo. Eu não via Rômulo desde o meu aniversário e ele parecia ter engordado alguns quilinhos desde então, e Ingrid, sempre fechada, sorriu um pouco forçada, e de longe, como se eu tivesse alguma doença contagiosa.
       Num ritmo de reggae do Natiruts, algumas canções depois, Gésio, arrancado vivas do público, tocou:
       "Quando a esperança de uma noite de amor
       Lhe trouxer vontade para viver mais..."

       - Eu adoro essa música! – virou uma moça negra, alta e bem alegre, ao meu lado.
      
       "E a promessa que a chance terminou
       É bobagem, é melhor deixar pra trás."

       Ainda filmando, virei para o lado para admirar melhor a beleza da moça. Ela tinha lábios carnudos e um corpo esbelto que me instigava. E para minha surpresa, ela, então, sorriu pra mim. Mas voltei a me concentrar na gravação.
      
       "Quando você se foi
       Chorei, chorei, chorei...
       E agora que voltou, sorri"
       Indubitavelmente, aquela foi a melhor apresentação de Gésio, os aplausos confirmaram a minha opinião. Decidi descansar o braço e dei STOP no celular. Eu o guardei quando alguém cutucou meu ombro. Era a bela moça negra, entregando-me uma pequena folha de papel.
       - Esse aqui é meu e-mail. – pude sentir o perfume levemente doce dela. – Meu nome é Tali. Me envia esse vídeo, tudo bem? Diz ao músico que gostei muito da voz dele. – e no meu ouvido, ela acrescentou: - E você também é muito gatinho. – me beijou no rosto, levantou-se e foi embora. A bunda dela não era tão chamativa, mas suas pernas grossas e seus cabelos crespos eram de fazer qualquer um ficar maluco.
       É, acontecem coisas na nossa vida que nos tiram da realidade e nos arregalam os olhos com uma mera atitude. Feiura, sendo muito humilde, não era um dos meus atributos, mas fiquei pasmo com uma garota linda como aquela me dando mole... Vou agradecer ao meu primo por ter implicado com a presença de Lígia. Valeu mesmo a pena.
       Minha calça comprida vibrou. Era uma mensagem no meu celular, de minha mãe:
      
       “Filho, tente não vir tarde. Seus primos vão chegar amanhã, e não no domingo. Bjs”.

       Dionizio e Estar, meus primos que passaram a infância comigo e saíram de Luz dos Olhos para morar no Rio de Janeiro, estariam voltando no dia seguinte para festejar as últimas semanas de 2015 conosco. Ele era apenas quatro anos mais velho que eu e ela apenas dois, porém brincávamos juntos o tempo todo, quase que inseparáveis. Os dois ficaram um bom tempo sem voltar à cidade, e tentando me recordar, lembrei que não ficaram tantos anos sem vir, mas quase não nos víamos e nem tínhamos mais o mesmo contato. Nós conversávamos apenas por Facebook e WhatsApp e quando eles tinham tempo, já que Dio, como estudante de administração e Estar, em fisioterapia, viviam atarefados. Eu só esperava que apesar de distância e do longo período que ficamos sem nos ver, nada tivesse mudado entre a gente.
       O pop e o reggae foram trocados por um forró antigo, acho que era Falamansa. Um casal de adultos risonhos se levantou e, timidamente, começaram a dançar no espaço entre a plateia e o músico. A timidez foi se esvaindo e os passos se aperfeiçoavam, e isso motivou a outro casal a tirar a bunda da cadeira e ir mexer os quadris no forrozinho. Filmei Gésio tocando a música toda e só parei quando ele iniciou outra. Guardei o celular e lamentei, falando para mim mesmo:
       - Oh vontade de dançar esse forró com alguém...
       - Por que você não chama uma garota pra dançar, então? – perguntou uma voz ao meu lado. O rapaz era meio gordinho e branquelo, usava uma camisa preta e os cabelos arrumados, e ao lado dele estava outro, mais magro e mais sorridente, e nem tão branquelo assim.
       Espantado com a súbita pergunta, respondi:
       - Mas minha namorada não veio...
       - E daí? – perguntou o outro rapaz, aproximando-se de mim. – A minha namorada veio, mas eu não sei dançar nem música eletrônica.
       - Coitada. – lamentei, com sinceridade.
       - Então, dance com ela por mim?
       - Quê?
       - É sério. – teimava o rapaz, quase implorando. – Senão vou ter que ouvir as reclamações dela a noite toda. Ah, aí vem ela. – ele olhou em direção ao corredor que dava ao banheiro. Era uma garota ruiva, baixinha, com umas sardinhas no rosto, e não parecia muito contente. Sentou-se com uma cara de brava, a qual era o extremo da sensualidade.
       - Amor, esse cara aqui, o... – ele me olhou e coçou a cabeça.
       - Thomaz. – falei.
       - O Thomaz vai dançar com você.
       - Ótimo!
       A garota me levantou quase que à força e fomos para o espaço mais ou menos vazio que ainda restava. O correto seria que o cavalheiro conduzisse a moça, mas foi ela que o fez, dançando com tanta vontade e molejo como se não ouvisse um forró ou qualquer outra música havia anos. Sem querer, minha mão chegou na bunda dela e logo a afastei. Esperei que ela parasse a dança e me esbofeteasse, mas ela continuou o gingado, com os dois passos pra lá e dois pra cá. Gésio emendou no sertanejo, e a garota ficou ainda mais empolgada.
       - Afinal, qual seu nome, dançarina? – perguntei.
       - Como você sabe que sou dançarina? - ela quase gritou no meu ouvido.
       - Porque você dança bem pra caramba. – devolvi o grito. Ela riu e respondeu:
       - Meu nome é Noely.
       - O meu você já sabe, é Thomaz. – eu ratifiquei, sem pararmos de dançar.
       - Ainda bem que você tá aqui. Meu namorado e o amigo dele não sabem dançar nada. Não sei como ainda o namoro.
       - Porque você gosta dele.
       - Pode ser...
       Noely se calou e nós continuamos dançando. Gésio me lançou uma risada gostosa, incentivando-me a dançar mais. Ele tocou mais um sertanejo e nós não cessamos a dança. Por milagre, Rômulo arrastara Ingrid para dançar, mas ela não parecia nada contente e se arrastava desanimada. A cara azeda dela afastava até a vontade de dançar; algo que não acontecia com Noely. A costa da minha parceira suava, as minhas pernas já cansavam, mas ela nem cogitava em parar. O namorado e amigo dele não estavam mais na mesa.
       - Seu namorado saiu...
       - Os pai dele já deve estar vindo nos buscar.
       - Então vamos aproveitar.
       O pique de Noely parecia interminável e o meu pedia arrego aos deuses, mas mesmo assim eu não tinha vontade de me sentar. Já que o namorado e o cunhado não estavam mais por perto, pensei em elogiar o perfume dela e dos seus cabelos vermelhos, que invadiam minhas narinas e quase me hipnotizava. Com o risco de levar um empurrão, não resisti e falei:
       - Você é cheirosa.
       - Obrigada. Você também.
       Naquele instante, o garoto gordinho a chamou para ir embora. Noely me abraçou e me agradeceu amavelmente:
       - Espero que a gente possa se ver logo. Você dança muito bem. – beijou-me no rosto e saiu. A noite estava sendo proveitosa e agradeci ao meu primo assim que ele acabou de tocar. Os últimos aplausos foram merecidamente mais vivos que os primeiros.
       - Eu disse para você vir sozinho, não disse? – ele me abraçava, rindo. Gésio me contou que iria enviar os vídeos para outros estabelecimentos para que, quem sabe, ele fosse chamado para tocar e ganhar um dinheiro extra. Meu pai e minha mãe foram me buscar, demos uma carona a ele e seguimos para a nossa casa.
       Interessado, meu pai, a caminho de casa, perguntou:
       - Como foi a noite?
       - Foi agitada, pai. Bem agitada.
       Os detalhes eu decidi omitir. Eu ainda estava chateado com meu pai em decorrência do preconceito dele com os homossexuais e não contei a nenhum dos dois sobre as duas beldades que conheci e que Gésio, mesmo nervoso no começo, foi um verdadeiro astro. Tudo bem, “astro” é um exagero, mas ele mostrou que é um grande músico.
       Antes de dormir, liguei o computador, transferi os vídeos que eu havia filmado de Gésio e escolhei três dos melhores e enviei para o e-mail de Tali, a negra de corpo provocador que estava no Bar Da Noite, como ela própria queria. A esperança era de que meu primo realmente tivesse uma outra chance para se apresentar.


       A porta do meu quarto se abriu com violência e um alguém, com uma vez grave e jovial, gritou:
       - Fale, meu primo! Vamos acordar?!
       Dionizio entrara no meu quarto falando alto e colocando sua enorme mala ao lado da minha cama. Como se pudesse supor através das fotos, ele estava mais alto e mais forte, com barba rasa, os cabelos quase louros que iam até as orelhas e o mesmo sorriso maroto e afetuoso, usando uma camisa regata e amarela que exibia seus braços fortes e largos. Além de seu corpo moreno e bem definido, o que mais me surpreendeu foram uma pequena tatuagem no seu ombro esquerdo, o desenho de uma chama azul brilhante viva, como uma espécie de troféu, e o par de brincos pretos nas duas orelhas. Meu primo estava realmente descolado e um homenzarrão; seria difícil ter que conviver com ele por semanas na minha casa e apenas apreciar com os olhos tanta beleza.
       Atrás dele apareceu um rapaz mais baixo, da minha estatura; cabelos castanhos, curtos, que formavam um topete milimetricamente organizado, um corpo magro, porém com alguns músculos visíveis, usava óculos de lentes quadradas e parecia muito com um nerd, daqueles avoados e meio tapados. O rapaz analisava assustado o meu quarto e também pôs a sua mala no chão, ainda sem dizer uma palavra.
       - Esqueci de apresentar vocês dois: meu primo, esse aqui é Caio, meu primo também, mas da família da minha mãe.
Meio envergonhado por estar com o cabelo todo bagunçado e uma cara de quem tinha acordado naquele instante, apertei a mão de Caio. O primo de meu primo sorriu ainda com embaraço e apertou minha mão com fraqueza, e sem falar absolutamente nada.
       - Eu avisei ao titio e a titia: ele vai passar as férias de fim de anos conosco, aqui. Algum problema? – perguntou meu primo, e eu respondi que não. Dio, elétrico, me abraçou com força e me tascou um beijo no rosto. Pude sentir seu corpo másculo me apertar, sua barba rasa roçando em meu rosto e seu perfume com uma fragrância masculina. Ele não tinha um físico tão malhado, mas ainda assim me acendeu um tesão. O próprio primo dele era bem simpático e seria ainda mais se não estivesse tão assustado.
       A minha camisa entrava pelo meu cabeção quando minha prima Ester entrara no quarto fazendo um estardalhaço:
       - Priiiiimo!
       Ester, que estava um pouco mais cheinha do que a última vez que nos encontramos, me deu um beijo e um abraço ainda mais apertado e gritava, emocionada, no meu ouvido. Seus cabelos loiros tinham mexas vermelhas nas pontas e ela usava óculos com armações grossas, que a tornavam mais engraçada do que normalmente era, com uma beleza diferencial. Havia uma garota de rosto meio redondo e olhos puxados atrás dela que presenciava aquele momento alegre entre os primos; era uma japonesa bem magra, de cabelos longos e lábios finos. Ela acenou para mim timidamente, mas ainda assim, não esperou que outra pessoa a apresentasse a mim.
       - Oi, meu nome é Nara. Seus primos falam muito de você. – e me abraçou, acompanhado de um beijinho na bochecha. Ela era a melhor amiga de Ester e também ficaria conosco para o Natal e a virada de ano. Eu só não entendia como iria caber tanta gente em um apartamento relativamente pequeno como o meu.
       De dentes escovados e com o rosto molhado, fui até a sala. Meus pais estavam na maior alegria com a chegada dos sobrinhos e dos amigos dos mesmos. Eles também foram pegos de surpresa com os dois hóspedes a mais, porém isso não parecia ser uma problemática para eles. Sem me consultar, meu pai e minha mãe decidiram que Dio e Caio dormiriam no meu quarto e Ester e Nara no quarto de hóspedes.
       - Nós três no mesmo quarto? – perguntou Caio, um pouco confuso. – Mas não vai atrapalhar o Thomaz? – ele me olhava preocupado.
       - Claro que não, né filho? – mamãe me perguntou, agradavelmente.
       - Não, não. – apressei-me em responder, para não parecer mal educado. – É só a gente colocar dois colchões no quarto e fica tudo certo.
       - Meu primo é gente boa! – Dio me abraçou mais uma vez. – Agora vá tomar um banho, e nós vamos tomar um café, pois nós vamos sair daqui a pouco.
       - Sair pra onde? – Caio fez a pergunta que eu faria.
       - Eu te falei ontem. Já combinei um churrasco com uns amigos meus daqui, na casa de um deles. Vamos só nos instalar melhor, tomar um banho, um café e vamos já sair. Todos nós.
       - “Todos nós” quem? – eu perguntei.
       - Todos nós aqui presentes na sala, priminho. Se tio Jair e tia Neuza quiserem, estão convidados – respondeu Ester, com um sorriso radiante, mas meus pais preferiram deixar a diversão para os mais novos. – Então vamos logo tomar café, depois um banho e saímos.
       A nossa cozinha ficou pequena pra tanta gente, tanta conversa e tanta risada. Fabiola, que sempre foi tão centrada e organizada, se perdia com tantos afazeres e faltava muito pouco para ela enlouquecer. Até meus pais que não tinham o costume de receber gente em casa, estavam adorando a casa cheia. Mamãe lamentou ter que ir trabalhar, pois preferia passar a manhã toda ouvindo as novidades de Dio e Ester. A tagarelice e animação dos dois deixou o ar muito mais aprazível, e assim que nos levantamos, Ester pediu para que eu fosse tomar banho para irmos à casa de o amigo deles.
       Ansioso para o churrasco, tomei um rápido banho e ao entrar no quarto levei um susto ao encontrar o tal nerd de short, sem camisa e com uma toalha no ombro; ele tinha um corpo magro, mas atraente, que me lembrava um pouco o de Júlio. Já meu primo estava só de toalha enrolada na cintura e fez meu coração pular ao exibir o seu corpo todo definido, sarado, mas sem excessos, meus olhos voaram para seu volume de pênis e meu coração deu um solavanco. Eu teria mesmo que ver aquilo tudo no meu quarto por semanas e não fazer nada? Seria um grande sacrifício! Dio disse para Caio ir tomar banho e logo que o garoto saiu do quarto, meu primo me perguntou, receoso:
       - Então, meu primo, tá tudo bem mesmo de nós dois dormirmos aqui no seu quarto? Não vai te atrapalhar?
       - Han? – eu me distraí novamente olhando para o corpo sarado dele – Não, não. O quarto não é tão pequeno, eu tenho cama de casal, é só por dois colchões e pronto.
       - Ah, então, tudo bem... Mas então, me conta: você tá namorando?
       - Sim, tô namorando.
       - Ah, claro que está. Já vi fotos de vocês dois no faceboook. Sua namorada é linda. – ele disse, extasiado. - Chame-a se quiser pra ir ao churrasco com a gente.
       - Vou chamar. Posso chamar um amigo meu e a ficante dele também?
       - Pode. Quanto mais, melhor! – ele se levantou, espreguiçando-se. Dio, em questão de um segundo, tirou a toalha na minha frente e a recolocou, amarrando-a melhor no corpo. Só o que eu pude ver foi sua bunda avantajada e já me roubou um suspiro.
       - Você bebe, primo? – perguntou, Dio, sentando-se de novo.
       - Bebo, sim. – respondi, segurando a cueca, ainda em pé. Ele percebeu o que estava acontecendo e perguntou:
       - Thomaz, você está com vergonha de se trocar na minha frente?
       - Não, não...
       - Qual é?! Nós somos homens! E vamos ficar aqui mais de uma semana, então te acostuma.
       Dio tinha razão. Eu só me senti intimidado com tanta beleza dele, mas não estava realmente envergonhado. Coloquei a toalha no ombro e vesti a cueca. Dio não tirou os olhos de mim.
       - Cara, que pica grande essa sua. – ele elogiou-me com os olhos na cueca. Eu esperava ele dizer que eu estava magro ou que estava pegando muito sol, mas “que pica grande era sua”? Ele devia estar me zoando – Sua namorada deve sofrer um bocado. – Dio surpreendeu-se.
       Não resisti e caí na gargalhada.
       - Mas tire a cueca e bote uma sunga. Vamos tomar banho de piscina lá.
Novamente fiquei nu na frente dele para por a sunga e recebi outro elogio.
       - E que bundinha, hein. Se eu fosse veado, eu te pegava. – falou, com uma cara de quem contemplava uma paisagem. “Se eu fosse veado...” foi um comentário que não me alegrou. – Mas, então: você já sabe o que vai cursar no vestibular?
       - Ainda não, realmente. Talvez eu me inscreva pra Direito, como meu pai, mas já nem tenho tanta certeza...
       - Eu tô muito feliz em administração. Mais um ano e eu já me formo. – contou Dio, deitando-se na cama. Caio apareceu no quarto de toalha e um pouco molhado. Meu primo deu um pulo e se retirou.
       - Vou sair para você se arrumar. – eu avisei e saí. Sentei-me no sofá da sala e convidei, por WhatsApp, Júlio, Roberta e Lígia, que responderam imediatamente que iriam ao churrasco comigo e meus primos. Ester ajudava Fabiola a lavar a louça suja da cozinha, falando coma uma matraca e sua amiga Nara sentou-se ao meu lado e, sorridente, me deu um “Oi”.
       - A Ester falava muito bem e você. – comentou Nara, meigamente. Ela estava prontíssima para uma tarde de sol, com uma bolsa enorme de praia e uma camiseta que cobria o biquíni azul. Seja lá quem estivesse nesse churrasco, todos iriam ficar babando por ela.
       - Verdade? Eu sempre senti falta dela e do Dio. Fazia tempo que eu não os via.
       - Mas agora estamos de volta e vamos aproveitar bastante. – Ester, espalhafatosa, jogou-se ao meu lado e me deu um abraço, derrubando Nara do sofá.
       - Você é doida, minha prima!
       - Então, você também é! E quero conhecer sua namorada, o seu melhor amigo, rever meus primos, quero ver todo mundo! – ela gritou, enérgica. Em toda minha vida jamais vi alguém tão feliz em rever a família.
       Em pouco tempo, Dio e Caio estavam, assim como as meninas, arrumados, bonitos e cheirosos. Dio vestia outra regata, para impressionar os outros com seus músculos, e Caio usava uma camiseta de mangas com um desenho do Star Wars (ele deve ter se confundido de programa, iriamos a um churrasco, não a um evento nerd). Meu primo pediu o carro de papai emprestado (“Só não vão beber muito, pelo amor de Deeus!”) e que eu esperasse em casa com Caio, pois ele iria levar as meninas e ainda iria à casa de Gésio e Ingrid, para arrastá-los também, depois nos pegaria e iriamos pegar Lígia, Júlio e Roberta.
       Caio e eu ficamos sozinhos por menos de um minuto no sofá da sala. Eu tentei imaginar um assunto para puxar com ele, mas não me vinha nada em mente. Com o meu fracasso, o primo de meu primo se retirou da sala e entrou no meu quarto. Da cozinha, Fabíola perguntava:
       - Calado ele, né?
       - Muito.
       Quando Dio chegou, fui ao quarto e chamei Caio, que estava deitado na minha cama lendo um mangá. Além de nerd, ele era “otaku” também. Não era o tipo de cultura que eu curtisse, mas seria o tipo de coisa que eu teria que conviver. Lígia e Roberta, contudo, eram fanáticas e não faltaria assunto para elas conversarem com ele. Caio guardou o mangá na mala e me seguiu.
No carro, Dio me contou que conseguiu convencer Ingrid a ir ao churrasco (“Eu vou, ou vocês não vão ficar me enchendo o saco”) e levaram Gésio junto, que carregou o seu parceiro violão. Meu primo escolheu uma rádio com música eletrônica para ouvirmos no percurso e cada vez eu me perguntava o que deu nele para trazê-lo na viagem, eles eram inteiramente diferentes. Dio cantava e dançava sentado no volante e Caio vislumbrava a os prédios e casas pela janela do carro. Eu não sabia o que exatamente ele estava fazendo ali em Luz dos Olhos.
       A casa do amigo de Dio era um pouco distante, mas não levamos tanto tempo a chegar, até porque fomos buscar os outros. Era um casarão de dois andares e por dentro era ainda maior, mais bonita e sofisticada, e ainda havia a área externa, de onde vinha o som de um pagode (“É no pagode, lelele...) com um espaço para churrasco e piscina (Gésio dera um mergulho logo quando o avistei). Havia muitos jovens na casa, bebendo, comendo, andando molhados pela casa; as meninas, lindíssimas, por sinal, estavam a maioria de biquíni e os homens de sunga ou de short, mas nem todos eram assim tão bonitos. Álvaro, ou Al, o amigo de meu primo e dono da casa, por exemplo, um rapaz magrelo e moreno, cabeludo, não venceria num concurso de beleza, porém de animação ele teria o primeiro lugar. Apenas de short e um dos poucos secos, abraçou a mim, Júlio, Lígia e Roberta, como se fossemos amigos dele de anos; e depois os pais dele, seu Carlos e dona Flora, ambos na faixa dos cinquenta, baixos e de cabelos brancos, mas com um pique de alguém da minha idade e se divertiam tanto quanto o filho e os amigos.
       Al nos levou para conhecer cômodo por cômodo, quarto por quarto da casa, que ficavam no andar de cima e, e deveriam ser pelos uns cinco, e um mais bonito e espaçoso que o outro, como o dele. Quando descemos, notei na piscina que havia uma garota que eu conheci na noite passada. Aquela ruivinha bonita e de sardas charmosas estava tomando banho, e quando saiu da água eu pude confirmar quem era: Noely, que dançou comigo no bar e restaurante. Eu pude dançar com ela, sentir seu perfume e tocar no seu ombro, costa, cintura, bunda, e naquela tarde eu contemplava seu corpo só de biquíni: eram belas curvas, seios nem tão fartos, porém que atiçavam minha curiosidade de apalpá-los. E ao redor dela ainda havia outras meninas bonitas e homens sarados. Os homens sarados: eu prestava atenção neles e isso era um assombro pra mim, mas eu não tinha como me conter. Eu estava explodindo por dentro.
       Noely estava por perto e o namorado dela e o amigo dele também estavam por lá, brincando na piscina como duas crianças, lembravam mais o Gordo e o Magro. Se ele continuasse agindo desse jeito, perderia a namorada num piscar de olhos, e eu contribuiria para isso. Uma pergunta que Lígia fez a Al me espertou desse transe:
       - Álvaro, onde é o banheiro? Roberta e eu queremos ir lá.
       - Pode me chamar de Al, lindinha. – falou o xavequeiro. – É aqui mesmo nesse andar, antes de chegar na cozinha. – explicou. Minha namorada agradeceu e as duas foram ao banheiro.
       - Al, e aquelas vodcas que você disse que tinha trazido? – inquiriu Dio, com as sobrancelhas agitadas.
       - Cara, esqueci de trazer. Estão na minha mochila, lá no meu quarto.
       - Por que você não as trouxe logo?
       - Eu esqueci. – e bagunçava o enorme cabelo. – Ei, vocês dois, - ele se direcionou a mim e ao Júlio. Caio estava olhando para o nada, distante de nós. – vocês não querem ir lá em cima no meu quarto e trazer uma mochila pra mim? É uma azul e tá debaixo da cama. Pode ser?
       - Pode, sim. – Júlio e eu concordamos.
       - Eu mostrei meu quarto a vocês, é o segundo à esquerda.
Júlio e eu dissemos que lembrávamos do quarto e saímos da área externa da casa, subindo as escadas. Entramos no quarto dele, que estava incrivelmente arrumado e um pouco quente, fechamos a porta e nos abaixamos. A mochila estava pesada porque continha umas três garrafas de vodca, Júlio a retirou do chão e a colocou na cama.
       - Vamos descer?
       - Ah não, senhor. – neguei. Agarrei-o pela cintura, puxei seu rosto e o beijei, mas Júlio não o devolveu.
       - Você tá maluco, Thomaz? E se alguém nos pega aqui?
       - Ninguém vai subir aqui, tá todo mundo se divertindo lá em baixo. Vamos aproveitar um pouco.
       Júlio retribuiu a resposta com um sorriso malicioso e me beijou. Eu estava com saudades de beijar meu loirinho e demonstrei isso com o beijo explorador que dei nele, no qual nossas línguas se encontraram e nossos lábios se veneravam. Os lábios finos de Júlio paravam entre os meus para que nós pudéssemos sentir com calma a nossa própria saliva, o nosso próprio pecado. Olhei-o e sorri. Os olhos dele pareciam mais escuros e penetrantes e algo em mim batia com mais força, como se as coisas lindas fossem mais lindas quando vejo aquele sorriso, quando toco o rosto doce e bagunço os cabelos loiros dele. Trouxe o rosto de Júlio mais para perto e o beijei com mais calma, como se não houvesse mais ninguém no mundo, apenas nós dois. Eu o beijei, imaginando o primeiro e o último dia de nós dois juntos, e como se todas as lembranças mais felizes estivessem reunidas numa só.
       Ainda aos beijos, nos arrastamos até à porta e eu o encostei à parede. Beijei o queixo de Júlio e depois seu rosto. Depois a boca, e o nosso beijo se intensificou mais uma vez, um beijo de língua, impuro e ao mesmo tempo puro. Com um sentimento de que nada ruim habitava meu coração, olhei-o e perguntei, tocando delicadamente seu rosto com meu dedo:
       - Cara, o que é isso que tá acontecendo?
       - Isso o quê?
       - Com a gente, comigo. Quando eu te vejo, eu espero o teu beijo e não sinto nada, nada de tristeza ou vergonha, só desejo.
       - Não vai se apaixonar por mim, hein. – ele disse, tentando sorrir.
       - Eu vou fazer de tudo isso pra isso acontecer e eu tenho certeza que não vai acontecer.
       - Então me beija.
       Obedeci-o e o beijei o pescoço, e meus lábios se rastejavam pelo seu rosto até chegar nos seus lábios e lá nós nos jogamos e matamos nosso desejo. De olhos fechados e concentrados no momento, não percebíamos nada ao nosso redor. Apenas ouvimos:
       - Uau! Acho que cheguei numa hora ruim!
       A cabeça de Dio nos observava da porta. Abruptamente, nos largamos.
       - Não adianta mais, primo. Eu já vi tudo. – e entrou no quarto, com cuidado, encostando-se na porta. – E agora, o que vocês têm para me dizer? – Dio estava de braços cruzados, com um sorriso neutro, esperando uma resposta.


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Comentários


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guip Comentou em 22/12/2015

Como diria titia tal qual, tu te lascarte-se fuleira, ou não, estou achando Thomaz muito de seu saidinho, querendo ser o pegador, mas quando o Julio se encher dele e resolver entrar em um relacionamento, como o garanhão ficará? Não que eu queira que role uma senhora de uma suruba com o primo gostoso que chegou agora longe de mim. hahaha Parabéns.

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jeovanerosa Comentou em 16/12/2015

Estavamos esperando você pra se juntar a nós.

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rodrigopaiva Comentou em 16/12/2015

Mas gente... Já q esse dio entra na putaria também... Eita q é tudo se pegando,rsrs. Queria um pouco de romance,mas pelo q vejo é só sexo. Mas ta valendo... ??

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viitor Comentou em 16/12/2015

nossa.. agora vai ficar melhor rsrs.. continua

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goodboy Comentou em 15/12/2015

valeu por mais este capítulo! aguardando ansioso a continuação! um abraço!




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Ficha do conto

Foto Perfil Conto Erotico historiasemsegredo

Nome do conto:
18. No quarto de cima

Codigo do conto:
75627

Categoria:
Gays

Data da Publicação:
14/12/2015

Quant.de Votos:
10

Quant.de Fotos:
0