Júlio
- Ah eu vou. – disse Zeca, mordendo minha orelha. – Ou vou por bem ou por mal.
Foi a primeira vez que Zeca me pegou por trás, mordeu minha orelha e eu não senti tesão algum. Uma mescla de medo e de raiva. Empurrei-o, ou tentei empurrar, pois ele era mais forte que eu.
- Qual é, vai dizer que você não tá a fim de dar uns amassos agora? – ele perguntou, prendendo-me a ele. Com persistência, consegui me soltar.
- Por que você não tinha me dito sobre o Mario? Você sabia que eu não gostava dele.
- Eu sei, Júlio, mas isso era segredo. Poucas pessoas da família sabem.
- É, mas você sabia.
Zeca tentou me puxar de novo.
- Você pode falar sem me tocar. – cobrei, com rispidez, ainda mais distante. Ele não hesitou. Com um gesto, demonstrou que não me tocaria e continuou:
- Júlio, eu gosto de sacanagem. SA-CA-NA-GEM. Não me interessa se é com homem ou com mulher, eu gosto mesmo é de uma sacanagem, embora as mulheres me enlouqueçam mais.
- E...?
- E eu confidenciei tudo isso ao tio Mario depois que eu soube que ele tinha um namorado. Depois disso, ele e o Horácio me arranjaram várias gatas pra eu pegar e quando eu estava a fim de algo diferente, eles me vinham com uns “veadinhos” como você pra eu traçar...
- Como é que é?
- Ah, tem uns caras que chupam melhor que muita mulher, você sabe disso. Você tem essa boquinha que chupa pra caralho... – e riu com deboche. – Eu gosto de uma sacanagem com homens da minha idade, sabe? Que não ficam se cobrando por estar com outro cara... Você é dois anos mais novo que eu, quase da minha idade, porém é mais gay que muitos que eu já fiquei. E tem esse cuzinho apertado que é uma delícia...
Zeca percebeu minha expressão de nojo e perguntou:
- Que foi? Eu nunca disse a você que tínhamos nada sério, sempre foi pura sacanagem...
Ignorando-o, prossegui:
- Tá, mas me diz: como você soube que eu era gay?
- Poxa, você dá pinta, né? E outra, eu perguntei ao tio Mario e ele também te achava um gayzinho, e tinha total certeza disso. A forma de nós descobrirmos se você realmente era gay foi essa: te aliciando, e se você correspondesse...
- Não acredito. – eu disse, incrédulo. Eu fui tão ingênuo... E ainda era, pois não esperava tamanha cara de pau de Zeca.
- Nem eu acreditava que ia ser tão fácil. E eu estava doido pra te comer, doido pra que você fosse mina putinha, e até que não demorou muito pra você liberar. Não é? E cara, isso é ótimo. Toda vez que eu me sinto mal ou tô a fim de foder, eu te ligo e pronto, tá tudo resolvido.
- Você pensa o quê? Que eu sou seu brinquedo sexual?
- Por aí... O importante é o sexo. E que você vai dar pra mim a hora que eu quiser. Agora vamos deixar de conversa, e vem beijar o teu primo aqui...
- Eu não sou teu primo e não vou te beijar.
- Mas vai fazer outras coisas, que eu sei. – Zeca me pegou pelo braço mais uma vez e me beijou. A raiva que eu sentia dele era tanta que o beijo foi o pior que já tive. Soltei-me e o empurrei. Irritado, gritei:
- SAI DA MINHA CASA AGORA!
- Só quando a gente brincar um pouco...
- Cara, eu tenho um áudio do Mario falando de você e...
- De mim, dele, do Horácio, de você... Faça isso e sua mãe vai se acabar no choro e você ainda vai se sentir culpado por deixar a família inteira desolada.
- Você é maluco.
- Agora se prepara porque o Regis...
Zeca foi interrompido pela campainha. Ele sorriu com cinismo.
- Deve ser ele. – Zeca deduziu e foi até a porta. Eu estava literalmente fodido! Uma chuva de alívio escorreu sobre mim quando Thomaz e o pai dele, tio Jair, entraram pela porta. Tio Jair andava de um jeito engraçado e ele logo explicou o motivo:
- Júlio, preciso usar seu banheiro. Rápido!
Numa risadinha abafada, eu apontei o caminho e ele seguiu.
- Ah, então hoje vamos ter mais uma companhia. – disse Zeca, analisando Thomaz.
- Do que ele tá falando? – meu amigo perguntou.
- Merda. Tá falando merda. – respondi, enfurecido.
- Ah tá... Cara, vou dormir aqui hoje. Pode ser? – Thomaz perguntou.
- Deve, por favor.
- Acho que você não vai só dormir... – Zeca começou, mas o fiz se calar.
- Eu posso não falar pra sua família que você transa com garotos, Zeca, mas sei o nome de pelo duas garotas que você já ficou. Cecéu e Barbara, não é? – ele ficou mudo. – Acertei o nome de duas. E também sei editar áudio. Então vá embora ou eu envio para as suas ficantes o que eu tenho gravado aqui. Tá entendido? – ameacei-o e Zeca permaneceu calado.
Tio Jair saiu do banheiro contente e me adiantei.
- Tio, o senhor pode levar meu primo na casa dele? Tá um pouco tarde pra ele ir sozinho...
- Sem problema. – disse tio Jair.
- Eu vim de carro. Não precisa. Eu já tô indo. – olhando-me com ódio, Zeca deu um “tchau” a todos nós e se retirou. Tio Jair beijou o filho e a mim, agradeceu por ter usado o banheiro e saiu de casa.
Num giro rápido de cabeça, Thomaz se admirou:
- Você e o Zeca, hein...
- Eu e ele nada. Fique aqui e vou te contar o que eu descobri.
- São muitas revelações em um dia só! Tá melhor que o TV Fama... Quero ouvir tudo, mas cara... – Thomaz pôs as mãos na barriga e fez uma careta – Tô com fome.
Convidei-o, então, para jantar comigo. Enquanto Thomaz servia o prato dele e eu esquentava o meu mais uma vez, relatei tudo que faltava. Uma das qualidades de meu melhor amigo era ser um bom ouvinte. Depois de muito me ouvir falar, que expôs suas opiniões. Thomaz achava que eu devia me afastar ao máximo de Zeca ou ele iria me agredir fisicamente e eu, por ser muito bobo, não iria saber me defender. Contudo, o tal áudio era um trunfo; com ele eu tinha Zeca nas mãos e ele não ousaria me tocar com violência. O conselho que recebi de Thomaz foi de fazer várias cópias dessa gravação, arquivar no computador e enviar para ele, para que não houvesse risco de perder.
Quando contei a Thomaz o que fiz com Zeca e Regis no banheiro do Clube, e demorou a levar a sério. “Você é um tremendo puto, hein!”, ele zombou, quase me jogando da cadeira. Com esse comentário dele que realmente me considerei um pouco promíscuo, afinal, estar entre dois homens, e um mais velho que eu, em relação quase sexual, foi muita loucura e das mais arriscadas. Mas eu não me arrependia. Ainda recebi o apelido de garanhão por ter ficado com Luma, na piscina. Naquela tarde, Thomaz me lembrou, eu beijei três pessoas diferentes.
Outro assunto durante o jantar foi o namoro de Thomaz com Lígia. Meu amigo não sabia explicar como veio a sentir isso, porém após um ano de namoro, tinha sentido vontade de ficar com outras garotas. Várias delas o cantavam, mesmo que fosse do conhecimento delas que ele tinha namorada, e Thomaz sempre resistia. Mas agora era diferente. Ele temia não resistir a próxima vez que uma menina o flertasse.
Depois que jantamos e lavamos as louças, escovamos os dentes e fomos para o meu quarto. Pedi a ele que esperasse, pois eu precisava de um banho. Ao chegar no meu quarto, Thomaz estava deitado na minha cama, sem camisa e teclando no celular. Quando me viu entrar, ele largou o celular, levantou-se e disse:
- Você tá um tesão só de toalha, sabia?
- Não, não sabia. – respondi, sem graça. Inesperadamente, meu amigo me puxou junto a ele, apertou-me na cintura e me beijou. Seus lábios macios e úmidos nos meus, degustando meu toque, meu sabor e minha saliva, foram o suficiente para que meu pênis se espertasse. Thomaz, ainda com nossas bocas grudadas, tirou-me a toalha e a jogou na cama. A mão dele corria pela minha costa e desceu até minha bunda, levemente. Parou nela e a apertou com a mesma leveza. O nosso beijo se intensificou. Nossos lábios tinham a necessidade de sugar um ao outro com mais fervor.
- Tranca a porta e põe uma cueca. – pediu Thomaz.
Tranquei a porta, vesti uma cueca box azul e me sentei na cama, de frente a Thomaz. Ele puxou pelas pernas para que eu permanecesse em frente a ele, porém ainda mais colado. Brotou em mim uma curiosidade.
- Thomaz?
- Diga, Julinho.
- Você não sente atração por outros caras?
Thomaz parou para pensar por alguns instantes e respondeu:
- Não... Não... Acho caras bonitos, sim, e percebi que os acho mais depois a que a gente começou a ficar. Mas não consigo me imaginar ficando com outros caras.
- Só comigo?
- Só com você. – e ele me deu um beijo carinhoso. – É diferente. Eu fico com meu melhor amigo, o cara que eu conheço desde a infância e tenho muita intimidade. Então não me vejo fazendo algo de errado, ou traindo a Lígia e menos ainda me acho bi ou gay. Até porque eu não suporto rótulos. Odeio. Na verdade, não digo que nunca nessa vida vou ficar com outro cara, mas por enquanto, é bem difícil de isso acontecer. Por quê?
- Nada. Só por curiosidade. Queria eu ter essa segurança toda.
- A segurança é nosso maior conforto. Nosso maior encontro com a paz interior.
- É verdade. Você tem razão. – concordei com ele e me deitei na cama. Thomaz se deitou ao meu lado. – Sabe o que eu acho?
- O quê?
- Que a melhor saída é eu contar à minha mãe que sou bi.
- Eu concordo com você. Mas você vai contar do Mario também?
- Não. Vou falar apenas de mim. Fazendo isso, vou ficar muito mais tranquilo comigo, mesmo tendo ciência de que não vai ser nada fácil.
- Não vai. – e me beijou de novo. – Mas eu vou estar do seu lado.
- Eu sei que vai. – tirei o meu cobertor que estava debaixo do travesseiro e falei: - Sei que você vai estar ao meu lado. Isso me ajuda muito.
Nós nos embrulhamos e fiquei de costa para ele.
- Quero me livrar desse peso. Contando tudo à mamãe muito desse peso vai cair do meu ombro, ainda que ela chore, brigue e faça um escândalo.
- Mas ela é sua mãe, e mãe é mãe. E se mesmo assim as coisas pesarem pro seu lado, pode correr pra minha casa. – e me abraçou por trás, beijando-me no cangote. – Hoje vou dormir aqui ao seu lado. Posso?
A pergunta veio com um beijo na orelha.
- Pode. – respondi, quase inaudível.
- Vou dormir agarradinho a você. – e me beijou o pescoço.
- Pra mim vai ser ótimo. Você sabe que eu gosto de sentir teu corpo no meu.
Fiquei de frente a ele, toquei no seu rosto sorridente e afável e falei:
- Nunca vou me esquecer do que está acontecendo com a gente.
- Não vai mesmo, porque eu não vou deixar. – e me beijou outra vez, porém sem pausa, sem delongas, com malícias e um desespero no desejo. Virei novamente de costa e Thomaz voltou a beijar meu pescoço, dando leves mordidas nele.
- Vou deixar umas marquinhas em ti. – ele avisou.
- Pois então deixe. – permiti. Thomaz não largou meu pescoço e cada vez que eu sentia sua língua e seus lábios na minha pele, eu entrava em êxtase. Se ele quisesse, ficaria a assim a noite toda. Mas ele parou e apenas me beijou no rosto. E adormeci profundamente dessa maneira: com o gato do meu melhor amigo colado em mim e me cercando de beijos.
Agora que estou de férias, terei mais tempo para escrever.