Alex & Daniel: T3C05- Intimados

Daniel:
Chegamos ao hospital naquela manhã e logo que encontrei um local para estacionar, corri para a entrada e na recepção encontrei Adriano e seu namorado.
- Que bom que você chegou Daniel, vai lá ficar com Alex.
-Você viu ele?
- Não, apenas a Juliana, ela veio aqui e pediu para eu não subir pois a família estava toda lá. E parece que o estado emocional do pai dele está cada vez pior.
- É por isso que estou com medo de ir até lá... Mas Ju me ligou disse que Alex precisava de minha companhia.
- Sim, se você estiver ao lado dele, ele vai saber como superar este momento, já escutei alguns comentários e parece que o pai dele não tem muito tempo.
- Por isso que a Ju disse que o Alex está bem mal, vai perder o pai agora, e não terá mais ninguém... mas e se minha presença lá causar mais transtorno?
- Se a Juliana ligou para você, então é porque ela sabe que a situação agora é outra e que Alex vai precisar de todo apoio. Ele só tem você agora.
As palavras de Adriano me fizeram pensar em muitas coisas. Chegar no apartamento do senhor Gonçalves e encarar toda a família dele, não era algo que eu faria em outra ocasião, mas era para o bem do meu amor. Tudo isso ainda parecia estranho depois das ultimas semanas onde fomos confrontados pela família dele
Aquela segunda, depois do nosso final de semana com meus tios, foi tranquila, mas meu coração continuava inseguro, a semana caminhou calma, Alex e eu estávamos nos comportando como um verdadeiro casal em casa, as tarefas do lá eram divididas, eu o observava, ele se esforçava para fazer tarefas banais, como lavar louça e tirar o pó dos moveis, para mim também não era uma coisa que eu tenha crescido fazendo, fui criado com mimos pelos meus pais, depois de sua morte, ainda passei um tempo me adaptando convivendo com meus avós e meus tios. Mas então de uma hora para outra fui morar sozinho. Então as tarefas do lar se tornaram hábitos obrigatórios, eu que já gostava de tudo organizado, não queria que minha casa ficasse uma constante bagunça. Alex se mostrava dedicado a aprender e não reclamava, tomava minha frente, procurava fazer sua parte, e as vezes tentava me imitar. Era uma graça. Nós dois, ficávamos apenas de short curto em casa. Eu o admirava, vendo seu corpo branquinho, e sua face séria fazendo as coisas. As vezes me parava imaginando o que se passava na cabeça. Afinal ele era um cara mimado, bem mais do que eu, tinha empregados para tudo em sua casa, e agora ele tinha que se virar. Se arriscava na cozinha, as vezes salgava o arroz, e as vezes o macarrão virava papa. Mas ele tentava e não desistia. Aquela semana foi mais uma em que nós dois nos fortalecemos mais, e eu sentia seu amor não só por mim, mas também por sua nova vida, ele já chamava aquele apartamento emprestado de ‘nosso lar’. Parecia estranho aquele sentimento de está morando com outra pessoa, mesmo a gente sendo namorados há anos, era a primeira vez que dividíamos o mesmo espaço em tempo integral. O mesmo banheiro, as vezes a mesma toalha, juntos a mesa, juntos no sofá em frente a TV, e juntos na mesma cama todas as noites. A melhor parte, era se deitar e sentir seu corpo, abraça-lo, sentir seu calor, seu beijo antes de dizer ‘bons sonhos’.
Então chegou a sexta feira. Foi uma manhã de sexta normal, até o almoço, quando estávamos no restaurante chegaram dois caras me procurando, eu não os reconheci, como eu era responsável pelo setor de vendas, imaginei que poderia ser algum representante de algum fornecedor, mesmo assim seria muito estranho, como me achariam ali na hora do almoço. Ainda olhei para Alex que assim como eu pareceu não compreender aquela situação, então fiquei de pé, mas foi o tempo necessário para eles me darem o recado, um soco no rosto me acertou tão rápido que não deu tempo de me equilibrar e cai de corpo inteiro, fiquei zonzo quando me dei conta Alex estava me abraçando e chorando, entendi que ele falava alguma coisa, tinha algumas pessoas em volta, e aos poucos fui me recompondo meu estado emocional. Vi que Alex estava muito nervoso, então tentei mostrar que estava bem, que nada tinha acontecido. Depois de mostrar que tudo estava tranquilo, eu conseguir leva-lo para casa, e depois que tomei um banho fui trabalhar depois dele tentar me levar para um hospital. Mas eu sabia que se Alex soubesse de como eu estava passando ele não iria ficar calmo e poderia fazer alguma bobagem.
Liguei para Adriano, disse que não iria trabalhar naquela tarde, ele ainda perguntou se eu estava bem, eu respondi que sim. Mas eu não estava bem, minha cabeça doía, acho que com a queda minha cabeça bateu forte no chão. Cheguei na casa dos meus tio e encontrei tia Elena fazendo as unhas, ela se assustou, eu a chamei em particular e pedi que fosse comigo a uma clinica, e disse que tinha caído e batido a cabeça. Ela ficou nervosa e logo estava pronta.
Na clinica batei um eletro alguma coisa da minha cabeça, o médico responsável disse para não se preocupar pois estava tudo bem, apenas que era normal as dores e até poderia ocorrer tonturas, disse para me ficar de repouso, e me passou um atestado de dois dias contando com aquele. Quando chegamos em casa já estava na hora de voltar para meu apartamento. No caminho de volta liguei para Adriano e pedi segredo a ele, pois não queria que Alex se preocupasse com pouca coisa, Adriano se mostrou muito curioso e preocupado, então disse por cima sobre a pancada na cabeça, mas não a verdade de como tinha sido.
Depois daquela tarde estressante, cheguei em casa e me deparei com uma realidade ainda duvidosa quanto a sua veracidade. Alex estava de avental preparando nosso jantar. Ali eu fiquei bobo, ele parecia tão feliz preparando o jantar para mim, eu sabia que ele deveria está mal, pois na sua cabeça tudo aquilo tinha sido obra de seu pai, ele não iria me dizer assim, mas então ele me diz que iria falar com o pai dele em breve e isso me deixou nervoso. Mas a noite fi tranquila. Jantamos e lavamos a louça juntos, o tipo de situação que estava se tornando corriqueira. Então a campainha toca e eu fui atender. Era nosso casal amigo. Filipe e Ariel. Foi uma visita inesperada, eles tinham boas novas para compartilhar com a gente. Tinham confirmado naquela tarde que iriam ser pais. Ficamos muito bobos com a notícia e mais ainda seriamos os padrinhos. A vida é cheia de reviravoltas, ora nos dá um soco depois nos dá felicidade.
Depois que fomos nos deitar, notei Alex um pouco inquieto. Eu procurei ficar calmo, mas meu coração estava apertado não gostei da ideia de Alex se encontrar com o pai dele, eu sabia que o senhor Gonçalves estava preparando alguma coisa, afinal ele não iria mandar seus capangas para me darem um soco. Tinha algo acontecendo e não era coisa boa. Mas Alex me prometera que não iria entrar no jogo do pai. Mesmo assim o sono não me veio aquela noite. Eu respirava fundo, e tentava me manter calmo para ver se o sono vinha. Mas quanto mais eu tentava dormir, mais pensava no que poderia acontecer com a gente. Chegou um momento que eu me levantei, tinha que sair dali para não perturbar o sono de Alex. Fui até a varando me sentei no chão e abracei meus joelhos. Eu estava querendo gritar, queria fazer alguma coisa para espantar meus temores. Não podia deixar Alex mais revoltado com o pai, eu já entendia o coração do meu amor, e ele faria qualquer coisa para me proteger, e isso me dava mais medo, então comecei a me sentir fraco e inútil. Sim. Eu não conseguia ver uma forma de ajudar aquela situação, se não evitando o confronto entre pai e filho, e ao mesmo tempo eu sabia que ele teriam que ter aquela conversa. Estava fragilizado, e ali, chorei. Não sei quanto tempo passei ali, mas eu sabia que a noite segava ao fim. Fui ao banheiro e lavei meu rosto com agua fria, precisava amenizar as olheiras. Voltei à cama e tentei dormir. Acho que dormir, pois não vi Alex se levantar e fazer o café. Ele notou meus olhos inchados.
Aquela manhã de sábado, tentei manter, liguei para Adriano disse que estava de atestado e que não iria trabalhar aquela manhã.
- Mas você está bem?
- Estou sim chefinho... – era assim que eu o vinha chamando depois que ele foi posto para chefiar aquela filial. Seu pai queria que o filho se ocupasse, pois ele já estava prestes a concluir o curso de engenharia civil e ainda não tinha encontrado nenhuma firma para trabalhar.
- A Tarde vou fazer uma visita, você não me parece bem.
Tive medo de recusar, afinal ele vinha sendo muito gentil com a gente. E além do mais aquela tarde eu iria ficar só em casa enquanto Alex se encontraria com seu pai.
Quando Alex saiu de casa, eu fiquei observando o nosso passado, ele era instável cheio de altos e baixos, muitos tentaram nos separar, mas nós sempre estivemos confiantes um no outro. Eu sabia e acreditei nele naquela tarde que ele voltaria para mim.
Foi uma tarde longa. Adriano chegou já passava das três, ele veio acompanhado de seu novo namorado, Ricardo era um jovem assim como nós, uns vinte e dois anos, moreno claro, e não era malhado, mas não era magro nem gordo além do peso. Era simpático e as vezes que saímos juntos ele sempre se mostrara amigável e receptivo.
- E o Junior já foi? – perguntou Adriano olhando em volta.
- Já faz uma hora que ele saiu, espero que retorne logo.
- Fique tranquilo amigo, não vai acontecer nada com ele nem com vocês.
- Você lembra daquele ano, quanta coisa aconteceu para nos separar, e no final a principal por trás de tudo era uma pessoa que eu e Alex nem esperava. Eu tenho medo de que outras surpresas possam acontecer. Sou muito temeroso com estas situações em que eu não tenho domínio.
- Entendo, e sei que foi por minha causa também que muito disso tem minha culpa e fico envergonhado.
- Não vamos ficar remoendo o passado, você agora encontrou o Ricardo...
- Sim, estou criando coragem para pedir ele em casamento. – nisso ele olha para o namorado e sorrir.
- E precisa coragem para casar comigo, ouviu isso Daniel? – Ricardo falou sorrindo, e rimos em seguida.
De alguma forma era estranho está conversando com eles, mesmo depois de tanto tempo, eu ainda sentia uma estranheza com Adriano, não quero dizer que ele era má pessoa, mas lembrar que ele me assediou só para me provocar e prejudicar minha relação com Alex, isso eu não tinha esquecido. Ele continuava lindo e encantador com seu sorriso garoto propaganda de creme dental. Sua forma de se comportar e de se mostrar prestativo o tornava uma pessoa melhor e com isso ele era um dos nossos amigos mais confiável.
Sei que quase não temos amigos, e isso é bem restrito, dizer que Adriano é tão confiável quanto Filipe é bem interessante, mas Filipe se mostrou um pouco instável quando o irmão dele se colocou entre nós naquele período turbulento. Vinicius era ambicioso e apaixonado por Adriano, mas que depois de toda confusão sumiu, as vezes Filipe fala dele de uma forma bem distante e quase não o menciona como alguém presente. Fiquei sabendo outro dia que Vinicius tinha se juntado com um cara bem mais velho, um empresário, e pronto. Contudo Filipe e Ariel formam um casal confidente, eles sabem tudo sobre mim, na noite anterior, quando falamos para ele sobre o soco, eles logo souberam que poderia ter sido o pai de Alex, e mesmo assim mantiveram o respeito pelo amigo não fazendo comentários maldosos.
Mas então a tarde chegava ao fim e nada de noticias do Alex. Meu coração começava a ficar menor e mais sofrido. Adriano e Ricardo tentavam puxar conversa para mim fazer manter a calma, mas nada acontecia. Então meu celular tocou, e eu corri, os outros dois ficaram atentos nas expectativa.
- É do Alex – falei para eles. - Oi!
- Está em casa?
- Estou e você , como foi?
- Meu pai está no hospital, estou esperando o médico, ligo assim que tiver alguma noticia, e não se preocupe, foi apenas um susto, ele está consciente.
Olhei em volta e disse para eles o que tinha acontecido. Adriano logo se prontificou de me levar ao hospital, mas eu não aceitei, iria esperar em casa. Pedi para ele ficar mais um pouco. A noite foi chegando, eu fui para a cozinha preparar alguma coisa para jantarmos, e eu assim tentar ocupar minha mente. Minha cabeça estava a mil.
- Quer ajuda ai? – Ricardo chegou perto, se oferecendo para cozinha, ele era bom nas tarefas culinárias.
- Seria ótimo se você não se importar.
- Vai tomar um banho que eu e Adriano cuidamos do jantar.
Aceitei, estava precisando mesmo de uma ducha quente.
As horas foram cruéis, nada de Alex ligar. Jantamos e esperamos. Então Alex entra pela porta.
- Boa noite amigos. – ele pareceu surpreso por ver Adriano e Ricardo. O namorado do seu antigo amigo era uma novidade, eles ainda não se conheciam. Depois das apresentações, eu falei.
- Então meu amor, como está seu pai?
- Como eu disse antes foi apenas um susto, ele já está em casa, não vamos falar sobre isso agora, vou tomar um banho e comer alguma coisa que estou faminto.
Ele parecia agitado. Nos despedimos de Adriano e Ricardo que ficou bem admirado com Alex. Depois fui até o banheiro e fiquei observando ele se banhar. Depois fomos para a sala onde ele jantou.
Depois ele mesmo me contou tudo, como foi a conversa e o que causou a ida deles ao hospital.
As coisas estavam ficando cada vez piores, depois daquele final de semana a família do Alex, tios e tias começaram a ligar para ele pedindo para ele voltar para casa, pois o pai dele poderia não suportar. Eu sabia que algo tinha acontecido, mas Alex parecia me proteger não me relatando tudo. Então numa tarde de quarta feira, uns dez dias depois do ocorrido, recebo uma visita no meu emprego. Quando estava saindo, já chegando no estacionamento, avistei o tio do Alex, ele parecia muito com o senhor Gonçalves.
- Boa tarde, você é o Lucas Daniel? – quase respondia que não, mas eu o conhecia, ele tinha ido pessoalmente falar comigo, não tinha como negar, ele sabia com quem falava.
- Em que posso ajudar?
- Preciso falar com você, mas aqui não é um bom lugar.
- E eu posso confiar em você?
- A Juliana falou muito bem de você, ela disse que você não era alguém para se maltratar – ele disse aquela palavra de uma forma tão natural que cheguei imaginar que tinha falado outra palavra, mas agora nem lembro mais.
- Estranho ouvi isso, o que tem haver com o que anda acontecendo.
- Vamos, me siga, prometo que não tomarei muito de seu tempo.
Ele pareceu uma pessoa tranquila, diferente do senhor Alexander, o pai da Juliana parecia mais diplomata foi o que eu imaginava.
Ele ia no carro dele e eu logo em seguida, o caminho era conhecido, e o local onde ele me levava era o condomínio de sua residência, passamos pela casa do Alex e fomos até a casa dele.
- Por que me trouxe aqui?
- Relaxa rapaz, não vou te fazer mal. Precisamos conversar e entender esta situação toda.
- Eu preciso fazer uma ligação primeiro – eu não iria entrar nessa sem antes avisar o Alex.
- Não ligue para meu sobrinho, se ele souber que vamos ter essa conversa é riscado ele chegar aqui fazendo barulho, e nós não queremos que o pai dele saiba desse encontro. – então ele estava fazendo isso sem que o outro soubesse. Eu teria que confiar nele para ver do que se tratava então.
Entramos na casa e fomos para o escritório, entrei olhei em volta e então eu vi a Juliana sentada numa poltrona.
- Não tenha medo meu Plebeu, nós só queremos ter um papo com você.
- Do que se trata afinal tudo isso?
Depois que entrei, o pai dela falou.
- Queremos fazer um acordo, um acordo irrecusável, e a Juliana está presente para você ver que não tenho nenhuma má intenção.
Sentei e então esperei.

Nota do Autor: Mais uma vez venho agradecer aos comentários e mensagens enviadas, e dizer que os contos tem uma audiência muito boa. por isso continuem votando e comentando, é muito bom saber suas impressões.