Alex
A primeira noite que passei no hospital quando meu pai foi internado não consegui pregar meus olhos, estava refletindo toda minha vida, não estava com medo do meu pai morrer, não tinha essa visão, eu sabia que ele iria passar por tudo aquilo, mas o que me incomodou para ficar tão reflexivo foi uma vida criado por pessoas que eu achava conhecer e confiar, minha raiva da Juliana não foi maior pois no final ela acabou cedendo com sua arrogância. Depois do nosso primeiro contato, deixei meu tio olhando meu pai e sai para tomar um café na lanchonete do hospital. Peguei meu celular e liguei para ela.
- Oi, preciso conversar com você.
- Você não acha que está na hora de admitir que se o tio morrer você vai ficar sem ninguém e que a melhor saída é você voltando para casa.
- Queria entender... Mas primeiro queria ouvir de você, e sei quando você está falando a verdade. Me explica, que história foi essa desse acordo que você e seu pai queriam fazer com o Daniel?
- O acordo era bem simples, ele assinava o contrato de compra e venda, caso ele decidisse deixar você.
- Juliana, esse apartamento ainda estaria no nome do Daniel, não foi dado nenhuma baixa nas documentações, então prima, essa história não procede. Você e seu pai queriam na verdade fazer uma transferência. Não acha que isso seria baixo para você, apunhalar seu primo dessa forma?
- Como eu disse para meu pai – ela pareceu pensar - É verdade Alex, não estamos satisfeitos com você dando as costas para o tio, fiquei muito brava com sua traição, não esperava que você fosse abandonar sua família para ficar com Daniel, eu sei que ele é boa pessoa, gosto dele, mas você virou as costas para seu pai, sua família, e isso é uma traição.
- Então você concordou com a atitude violenta que seu pai...
- Não Alex, você também vem com essa conversa, meu pai não agrediu ninguém.
- Não Juliana, ele não, os capangas pagos, pegaram Daniel de surpresa e deixaram ele no chão, e só não fizeram coisa pior porque foi num restaurante. Então prima não venha com esta história de se sentir traída, vocês é que são os criminosos nessa história.
- Você pode provar que foi ele.
- Não, mas meu pai deixou claro que seu pai iria dá um jeito nessa situação, o velho meio que admitiu que o tio poderia ter passado dos limites, então prima, eu te peço, deixe a gente em paz.
- Realmente você mudou primo.
- Não prima, eu apenas estou sendo quem eu deveria ser a muito tempo. Mas e você, desde quando se tornou esta mulher fria e ambiciosa?
- Faz tempo que você não senta comigo para conversar, voltou da Argentina depois de tanto tempo, não pode chegar e perguntar o que aconteceu nesses quatro anos. Se o tio escapar dessa, e creio que vá, não se preocupe, eu vou conversar com meu pai e vamos deixar vocês em paz.
- E a documentação do apartamento, como fica.
- Não se preocupe, ainda continua no cartório como vocês deixaram.
- Então, posso confiar que nos deixarão em paz.
- Vou conversar com papai, ele deve conversar com o tio, vamos deixar você em paz, mas não prometo nada sobre a herança, o tio foi muito categórico quanto a isso, creio que ele já tenha deixado ordens restritas para os advogados sobre retirar você.
- Juliana, o que importa é viver em paz, se vocês prometerem nos deixar em paz, para mim nada mais importa, principalmente herança, se meu pai acha que eu não mereço ser filho dele, então eu não mereço nada que venha dele.
- Alex amanhã a gente conversa, creio que não vamos chegar a lugar nenhum por telefone. Até amanhã e boa noite.
O resto da foi isso, minha vida voltada para relacionamentos que até ali significaram nada, refleti e refleti, e decidi que minha vida seria apenas eu e Daniel.
Pela manhã, o médico passou e olhou os exames e constou na urgência de um transplante, seu fígado estava comprometido, e a fila de espera era além de demorada, muito especifica ao tipo de doador. Fiquei muito abalado, meu pai acordou, o médico explicou a situação para ele quando meu tio esteve presente, foi uma conversa muito delicada, eu apenas fiquei calado, escutando tudo, meu pai me olhava, não falou comigo, esteve todo tempo em silencio. Quando tudo ficou em silencio, ele me olhou e olhou para meu tio.
- O que ele está fazendo aqui? – perguntou se dirigindo ao irmão.
- Eu o chamei. Passou a noite com você.
- E seu amigo, deixou ele só para ficar com seu velho?
- Estou aqui porque ainda sou seu filho, mesmo que o senhor não me tenha como tal.
- Agora já pode ir, a Juliana ficará aqui – meu tio avisou de uma forma neutra.
Olhei para meu pai, ele não me olhou.
- Pode ir, se tivermos alguma novidade te ligo. Agora, vá, eu fico aqui até ela chegar, você precisa ir se preparar para passar uns dias por aqui.
Ele parecia sério e direto, entendi que a situação não iria se resolver logo. Eu era o único filho, e assim eu é que teria que tomar a liderança.
Cheguei em casa, e ao me deparar com Daniel minha alma se iluminou, conversamos um pouco e então fomos a faculdade, foi um momento de paz e normalidade, por um breve momento esqueci todo aquele drama familiar, digo um breve momento, pois meu estado emocional continuava tenso, a situação do meu pai, me despertara para a realidade que eu achava não existir: eu o amava e temia por sua morte. Depois da faculdade almocei com Daniel e depois avisei sobre a proposta do Senhor Carlos, ele ficou muito feliz.
Minha conversa sobre o emprego foi favorável, eu estaria na ativa assim que a situação no hospital se resolvesse. Novamente em casa, preparei uma bolsa com roupas e algo mais necessário para passar uns dias sem ter que sair de lá. Tomei um banho e ao sair do banheiro, me deparei com Daniel que acabara de chegar.
- Vem cá Daniel – ainda estava de toalha.
Minha excitação tomou meu corpo, eu senti uma vontade incontrolável de fazer amor com ele.
- Estou suado, preciso tomar um banho – ele viu meu volume por baixo da toalha e logo soube minha intensão.
O abracei e nos beijamos, foi uma despedida prazerosa. Ele me amava e me deu animo para enfrentar os dias seguintes.
De volta ao hospital, me deparo novamente com meu tio e Juliana, ela já não me olha nos olhos, e ele me trata formalmente, creio que Juliana já tenha lhe contato nossa conversa anterior. Meu pai está dormindo.
Dia seguinte, passo todo tempo por lá, o café e o lanche vem direto, a mãe da Juliana veio fazer uma visita, momento em que eu posso sair para tomar um ar fresco.
Durante estes dias só ligava ara Daniel duas vezes por dia, apenas para mantê-lo informado e claro para ouvir sua voz e tomar minha dose diária de ânimo. Contudo meu animo se foi quando o médico passou no terceiro dia logo pelo inicio da manhã, e nos deus o diagnóstico final, meu pai não teria muito tempo. Fiquei abalado, eu tinha esperança de sua melhora, um transplante de ultima hora não aconteceria na vida real, por um momento desejei ser parte de um drama como a Juliana sempre dizia, e que no ultimo minuto entraria alguém gritando com boas novas, mas ninguém chegou. Na salinha de espera do apartamento, fiquei sentado chorando baixinho.
Juliana entrou e me viu, se aproximou e se abaixou até ficar frente a frente.
- O médico acabou de nos contar lá no corredor, sinto muito primo.
- Vou perder meu pai Ju – minhas lágrimas caíram, ela pode ver meu sofrimento.
- Vamos está aqui com você. A tia está chegando com Alberto.
A família Gonçalves tinha muitos membros, mas só restavam poucos que ainda podiam se classificar como família. Todos estavam contra mim e Daniel, como eu ficaria tranquilo com eles em minha volta, me sondando, analisando, maquinando meu futuro, o coitadinho, herdeiro de um império.
- Ju você sabe muito bem o sentimento que tenho no momento por nossos familiares, estou abalado com tudo prima, como você acha que eu estou me sentindo?
- Eu te entendo, mas você deve reconsiderar que nessas horas estamos todos do seu lado. Você gostaria que o Daniel estivesse aqui?
- Aqui não seria um bom lugar para ele ficar.
- Ele vai ficar bem, ninguém vai mexer com ele eu te garanto.
Ela saiu da sala, concluir que ligaria para Daniel algo que eu poderia fazer, mas ela faria e seria o ideal, mostraria que todos ficariam em trégua com ele. Logo depois minha tia chegou com Alberto, meu primo, e amigo. Ela me abraçou toda chorosa, depois foi ver meu tio, Alberto ficou do meu lado.
- E então primo, a Ju me falou que seu namorando pode vim, enfim vou poder conhece-lo. Quero ver se ele vale apena todo esse drama que a família está criando. Se ele for realmente esse cara legal que a Ju falou eu te dou meu apoio.
O olhei, as vezes ele agi com brincadeira, e quase não leva a sério nada que não seja do seu interesse. Então por que ele falou aquilo. Eu sabia que ele gostava de mim, ele ficaria do meu lado, ele tinha domínio sobre a mãe, ela fazia todas as usa vontades.
- Obrigado primo.
- Ainda não.
- Você está muito sério.
- Eu sei, me sinto traído, a mãe não era para ter feito isso com você, se eu tivesse sabido antes não teria deixado você sair lá de casa, teria terminado seus estudos. Você sabe que eu te amo, e durante todo este tempo você lá em casa, eu aprendi a te amar como um irmão. Então, não se assuste se eu te abraçar e te dá um beijo de irmão.
- Não vou me assustar. Te amo também Alberto.
Ele me olhou e sorriu. Alguns minutos depois Juliana voltou e confirmou que Daniel estava vindo. Foi um momento de paz para mim a ao mesmo tempo uma explosão de sentimentos adversos, Daniel ali ao meu lado seria a confirmação de que perante minha família ele era aminha escolha, e eles teriam que aceitá-lo. Num instante estavam todos ao meu lado, falavam coisas diversas tentando me deixar calmo, parecia que tudo tinha mudado em poucos dias, e então meu tio falou.
- Gostaria de ficar a sós com Alexander um momento.
Minha tia e Alberto saíram para o corredor e Juliana foi para o quarto ver meu pai.
- Alex, quero já dá minhas desculpas, e dizer que nós não vamos interferir mais no seu caso, eu só peço que você nos perdoe, seu pai fez de tudo para mudar esta situação, mas você foi forte e determinado em suas convicções e acabou ganhando o respeito dele.
- Meu pai está morrendo, ele não vai me perdoar, e eu não posso perdoá-lo assim, tio, eu sinto tanta raiva, mas também não quero que ele morra.
- Alex, você vai ter que ser forte, e tentar segurar estes sentimentos.
Juliana apareceu na porta.
- Alex, seu pai quer falar com você.
Ela saiu e eu fui ter com ele. Ele estava pálido, sua voz baixa, seu estado era triste de se ver, as drogas anestesiavam suas dores, o medico disse que ele era questão de horas e não dias, apenas dependia da vontade de viver dele.
- O que foi pai – segurei minhas lágrimas e meu peito doeu com a dor presa.
- Me responda meu filho, e seja sincero como você sempre foi.
- Pode perguntar.
- Você realmente prefere ficar sem sua herança para morar com o sobrinho de Carlos, não é?
- Não vamos falar disso agora pai, procure manter a calma.
- Não Junior, preciso saber.
- Pai, eu descobri estes dias depois de tudo que tentaram para nos separar, que meu amor por Daniel é verdadeiro e que eu não preciso de herança nem carros importados, nem relógios caros, nada disso tem valor, perdi muito tempo valorizando coisas que não faz sentido para viver.
- Entendo, então sua resposta foi o que eu esperava. Estou morrendo e a única coisa que vai ficar entre nós é esta raiva que cresce no seu peito...
- Não, minha raiva é passageira, meu amor por Daniel é maior que ela, vou ficar bem.
- Você se parece com sua mãe.
- Pai o Daniel está chegando ai, estou avisando pois não quero fazer nenhuma surpresa para o senhor.
- Realmente você se parece com ela. Quando ele chegar traga-o até aqui, quero falar com ele.
- Não vá se aborrecer o senhor tem que ficar calmo.
- Não vou mais brigar com vocês, agora só preciso descansar e morrer em paz.
Morrer. Aquela palavra me calou, sei que ele não quis ser cruel, mas aquela palavra tinha um poder grande sobre o meu ser. Me calei e sofri.
Juliana bateu a porta.
- Alex, o médico.
- Pode entrar– me afastei e fiquei na porta observando.
Juliana estava em pé, me olhava e depois fugia quando notava meus olhos, então Alberto abriu a porta
- Seu namorado chegou primo – foi tão natural que eu quase nem percebi a emoção cauda por suas palavras.
Logo que Juliana saiu, ele entrou. Corri e o abracei.
- Há meu amor que bom que você veio.
- E seu pai? – sua pergunta foi tão direta e sincera que me trouxe a realidade.
- Ele está consciente, o médico está lá olhando ele, mas a situação dele está cada vez pior, só tendo febre, sente ai, vamos esperar o médico sair, depois você entra.
- Não Alex, não é bom eu entrar, seu pai pode se emocionar... – notei sua aflição.
- Não, você precisa entrar, o velho quer ver você.
- Ele sabe que eu viria?
- Eu contei a pouco.
Assim que o médico saiu, me relatou o estado sem alteração, novamente tentei controlar minhas lágrimas, eu já sabia e temia pelo pior, mas era tão cruel o momento que eu não queria viver aquilo novamente. Sim, novamente, e novamente temos que passar por estes momentos em nossa vida. É inevitável.
- Vamos meu amor.
Daniel me seguiu, e meu pai quando o viu
- Se aproximem.
- Olá Senhor Gonçalves.
- Agora não é mais hora para formalismo meu jovem. Preciso que me responda uma coisa.
- Sim.
- Eu já sei que você ama meu filho, e isso ninguém pode mudar, eu tentei, mas a pergunta é, você como namorado do meu filho, me vendo a beira da morte – novamente meu pai usando esta palavra, olhei para ambos, meu peito doía - você não teria alguma pergunta para mim?
Uma pergunta, olhei para Daniel, sua cara de dúvida e temor foi perceptível, ele abaixou a cabeça, notei sua respiração profunda e então ele falou.
Que pergunta foi aquela, como ele pode ousar dessa forma, não era um jogo de palavras nem um momento de desafios. Contudo meu pai sorriu, disse “Sim” e fechou os olhos.
.
Continua....
o autor pegou pesado com essa pergunta em suspense.
Amei <3 Aguardando o próximo capítulo
Que bom que pelo menos na morte o pai do Alex permitiu que o Dan ficasse com seu filho.
Aguardando o próximo capítulo <3
Muito bom amo seus contos !!!!! ❤
Que ele disse não acredito que tu acabou na melhor parte.
Que o velho morra em paz e que toda as maldades dele sejam perdoados. Que ele tenha a decência de pedir desculpas e perdão ao daniel e alex.