Quando eu ia saindo do quarto, escuto David falar...
- Não vá, fica comigo – seu olhar ainda meio perdido.
Ainda parado o olhando, notei que ele não estava normal, o álcool ainda fazia efeito.
- Você precisa dormir – falei enquanto me aproximava dele.
- I love you John... – definitivamente ele não estava normal.
Bem próximo ao David, recebi aquelas palavras compreendendo seu estado físico e mental, ele ainda gostava do ex passei minha mão em sua testa e notei que sua temperatura estava alta. Mas nada para se preocupar.
- Sleep! – falei com meu inglês abrasileirado.
Sai do quarto em seguida. Meu corpo estava quente, uma parte de mim queria ficar ali cuidando dele, a outra queria ficar o mais distante possível. De volta a piscina, ainda procurei o Matheus, ele estava conversando com um carinha que nunca vi, deveria ser um dos colegas do meu irmão. Quando ele me viu, sorriu, falou alguma coisa para o rapaz, e em seguida veio em minha direção. Fiquei parado por um momento, aquele sentimento de alegria misturado com desconforto, me incomodava um pouco, até então eu não tinha amigos homens que interagiam tão diretamente comigo. Aqueles colegas do ensino médio que se aproximavam apenas quando tinha trabalho em grupo, não provocavam em mim nenhuma comoção parecida. Eu estava me sentindo especial.
- Oi! – ele falou chegando perto.
Seu sorriso me deixou desconcertado.
- Oi – pareci um bobo – então gostando da festa?
- Bem legal, pena que o David não resistiu...
- Pois é... – fiquei serio.
- E ele como está?
- Ainda está quente – fiquei mais serio e triste.
- Você parece preocupado...
- Só acho estranho o comportamento do meu irmão, viu o David sendo levado nos braços e nem teve a ação de ajudar.
- Seu irmão sabe que ele está em boas mãos – ele me olhou e sorriu de leve, me confortando.
- Matheus, me desculpa, mas acho que é melhor eu voltar. Ver se ele está bem...
- Vá, eu entendo. Também já estou indo.
O Matheus, mesmo o conhecendo a pouco tempo assim como o David, ele se mostrava acessível. Senti que poderia confiar nele.
David estava dormindo, todo suado. Limpei sua testa. Sua temperatura tinha baixado um pouco, mas mesmo assim, resolvi ligar par aminha mãe. Ela me orientou que o melhor seria esperar. No final da tarde Henri chegou e foi logo saber como o estado de David. Ele avisou que iria deixar Beatriz em casa e que voltaria tarde. Eu iria ficar apenas com o David.
A Paulinha ainda apareceu para guardar algumas coisas que tinha sobrado da festa. Então ela perguntou se era preciso ela fazer companhia. A liberei e depois que me vi realmente só. Tomei um banho, e depois fui fazer uma sopa de carne para o jantar. Ele precisava de liquido. Quando fui ao quarto, a cama estava vazia. Então foi que escutei o barulho da ducha. Peguei uma toalha limpa e fui até o banheiro, e bati na porta.
- David, vou por a toalha na pia – abri a porta e quando entrei ele estava de frente com a porta do box aberta.
- Pode me entregar – ele estava nu, sem nenhuma vergonha, mas eu fiquei logo vermelho e virei o rosto de lado – Não precisa ter vergonha – ele sorriu, entreguei a toalha, e sai.
Quando ele apareceu, veio até a mim e falou:
- Obrigado! – então ele me abraçou.
Fui pego de surpresa. Aquele abraço forte, com sua parte superior nua. Foi confortante. Ele se afastou um pouco então seus olhos me encararam. Não tive como evitar, eles eram de um azul profundo, me vi hipnotizado por eles.
- Estou com fome – ele me despertou.
- Fiz uma sopa de carne, você gosta?
- Você que fez?
- Sim.
- Então eu gosto.
Foi estranho aquela declaração. Enquanto estávamos na mesa ele ainda elogiou a sopa. Dizendo que nunca tinha tomado uma de carne tão saborosa como aquela.
- Você só diz isso para ser gentil. É apenas uma sopa de carne que aprendi com minha mãe.
Depois que lavamos os pratos, fomos para a sala, ele já parecia bem melhor.
- Me desculpa Hugo, estraguei sua festa...
- Cara isso é passado.
- Você tem uns amigos bem legais, notei que o Matheus parece gostar de você.
- Ele é um cara legal, também gosto dele.
- Não falo desse jeito...
- Cara do que você está falando?
- Notei em alguns momentos ele te olhando quando você não estava falando com ele. Acho que ele sentiu até um pouco de ciúmes.
- Não vi nada disso.
- Lembro que o encontrei no banheiro e ele foi bem direto quando perguntou se eu estava ficando com você...
- David, fala sério, o Matheus não iria fazer uma pergunta dessas logo assim de cara.
- Mas quando eu respondi que a gente era apenas amigo, ele sorriu e disse que que eu estava mentindo. Mas depois eu comecei a senti náuseas e comecei a vomitar e depois não lembro mais de nada.
- Estranho, por que ele acha que nós estamos ficando.
- Vai ver ele sentiu que está rolando alguma ligação entre a gente.
- Droga, e agora é que ele vai achar mesmo...
- Por quê?
- Porque eu o deixei na festa e vim assistir você.
- Então você ficou comigo a tarde toda?
- Quase toda...
- Nossa me sinto mal por você.
- Somos amigos não somos?
Ele me olhou, segurou minha cabeça, e deu um beijo na minha testa. Foi quente e deixou meu corpo arrepiado.
- Olá rapazes! – minha mãe vinha entrando, e antes dela nos ver, eu me afastei de David, como se estivesse fazendo algo errado. Ele me olhou fez uma cara de interrogação.
E eu me levantei e fui de encontro.
- Oi mãe. Que bom que chegou, precisa de ajuda?
- Tudo bem aqui? – ela olhou para David.
- Já estou bem, depois que tomei uma sopa milagrosa que o Hugo fez.
- Sopa? O Hugo fez sopa de carne?
- Fez sim, muito gostosa – ele sorriu.
- Foi só uma sopa... Deixei para senhora. Quer que eu esquente?
- Sim filho, eu quero. Vou tomar banho e já venho.
Fomos para o quarto depois que minha mãe jantou e repassamos o dia para ela. David perguntou se ele poderia ficar no meu quarto o restante da semana.
Foi uma semana bem legal, todos de férias, o David entrou na academia, íamos juntos, o Matheus parecia normal na minha frente, mas o David teimava em dizer que o Matheus não parava de nos vigiar. Mas depois que ele falou isso eu notei sim uma pequena mudança no seu comportamento, o achei mais chegado e mais amável comigo. No final da semana, realmente o notei me olhando. Mi vi no centro de dois homens duelando para ver quem ficaria com o premio. E isso me incomodou um pouco. Claro que que tudo isso não passava apenas de uma imaginação fértil e distorcida da minha parte. Eu não iria namorar com nenhum deles, e isso era mais que certo. Eles não iriam me ganhar. Eu gostava da Cristina e era ela que eu iria namorar um dia.
O final de semana chegou e uma noticia me deixou um pouco triste. O David iria viajar no domingo para Santa Catarina encontrar uns parente da mãe dele, que ele não conhecia, iria passar uma semana por lá. Então eu o convidei para passar o sábado num parque aquático. Chamei Paulinha, pois não queria passar uma mensagem errada para ele.
Então sem efeito de álcool, David se mostrou super divertido. E nós aproveitamos bastante os brinquedos do parque. Ele não me deixava um momento, e eu sorria, e dava gargalhadas. A Paulinha também estava lá compartilhando cada momento. Não consegui sentir nada estranho entre a gente, somente uma amizade que me deixava incrivelmente feliz. Pela primeira vez na vida eu me sentia amado, além do carinho e afeto que recebo da minha mãe. Em alguns momentos ele me abraçava enquanto estávamos na piscina, mas tudo na brincadeira de jogar o outro na agua, coisas desse tipo. Mas cada abraço que eu recebia ou dava nele, eu me arrepiava e meu corpo respondia de uma forma diferente ao abraço quando era dado por Paulinha. Num desses momentos de contato, ele tropeça e caímos abraçados. Seu rosto quase bate com o meu, e seus olhos assustados, se abrem ao máximo. E eu novamente mergulho naquele azul. Fico paralisado.
- Oi! Vocês estão bem? – Paulinha no nosso lado me tira do transe.
- Estou bem. Tudo bem Hugo? – David se levanta e pega na minha mão me erguendo em seguida.
- Estou. Tudo ótimo.
O dia foi assim, inesquecível. A noite quando fomos dormir, eu estava deitado na cama quando ele sentou ao lado.
- Você quer uma massagem com hidratante nas costas?
- Não cara, não precisa.
- O hidratante alivia a ardência provocado pelo sol.
- Ok.
Tirei a camiseta, ele passou bastante creme, e iniciou uma massagem leve e ... Como aquilo aconteceu não sei, mas aquela massagem me deixou excitado.
- David pode parar, já está bom.
Mas ele não parou. Intensificou a pressão dos dedos no centro das costas descendo até o inicio do meu bumbum, aquilo me deixou mais excitado.
- Agora, se vira.
- Não precisa cara, já está bom.
Mas ele parecia não me ouvir. Me puxou de supetão me virando mostrando o volume no short do pijama.
Como ele já estava quase em cima de mim. Subiu na cama e ficou sobre meu rosto, face a face. Seus olhos, acho que ele já tinha notado que seus olhos me afetavam. Suas mão seguravam as minhas. Não relutei. Não evitei ser beijado. Eu apenas me deixei ser beijado. Ele me beijou na boca, enquanto seus olhos ainda me petrificavam. Sua boca quente na minha. Deixei ele capturar minha língua, que era sugada, e devorada.
Meu corpo inerte na cama, meus olhos fixos nos dele. Aquele foi o meu primeiro beijo. Não foi um selinho, ou um beijo na face, ou na testa. Foi um beijo erótico que me excitou e me despertou sexualmente. Mas não era uma garota, era um homem que estava ali sobre mim. Quando ele soltou meus lábios e me olhou sério, tipo esperando minha reação, sem fazer muito drama, o afastei com a mão o tirando de lado.
- Por que você fez isso? – não olhei em seu rosto, estava com constrangido e um pouco revoltado.
- Hugo, eu não resisti, há dias vinha relutante para não te beijar.
- Então você já vinha pensando em fazer isso...
- Sim. Eu gosto de você.
- Mas eu não gosto de você dessa forma – ainda sem olhar para ele – e você diz gostar de mim e mesmo assim ainda delira com seu ex.
Ele ficou calado.
- Posso voltar para o quarto do seu irmão se isso te incomodou – ele falou depois de alguns segundos em silencio.
- Melhor, não, vai levantar questionamentos. Pode dormir ai.
- Desculpa, fiz besteira, espero que não prejudique nossa amizade.
- Também espero... David, por favor não faça mais isso.
- Claro.
Aquela noite minha cama parecia ter espinhos. Me levantei e fui a cozinha, fiz um lanche de frente para a tv, e adormeci no sofá.
- Filho, venha tomar café – minha mãe estava de frente para mim.
Acordei desorientado com o local. O sol parecia está alto.
- Que horas?
- São quase nove.
- Então o David já foi?
Ele viajou e nem se despediu. Como ele era bem educado, tirando a parte do beijo roubado, ele não iria permitir me acordarem só para dá um “até breve”. Meu primeiro beijo foi roubado por outro homem, fiquei tão abobalhado com aquilo, não pensei duas vezes, pois se tivesse pensado bem isso não era para ter me abalado tanto. Liguei para Paulinha.
Então depois de contar tudo, ela apenas pensou e me respondeu.
- Se você não gostou, nem sentiu nada com o beijo, esqueça. Mas se você sentiu alguma coisa, então reflita.
- Como assim refletir?
- Hugo, se o beijo foi bom, então apenas deixe quieto, isso não vai te tornar gay.
A Paulinha sempre foi muito positiva. Mas por mais que eu tentasse esquecer aquele beijo, eu mais lembrava dele. Na academia os exercícios começaram perder o ritmo, e Matheus notou. Lá para quinta feira, estava num aparelho, quando vi Matheus passar, como ele tinha uma boca que se destacava com seus lábios cheios e escuros, meus olhos o seguiram, minha atenção estava sobre sua boca. Pensei, será que todo beijo é igual ao do David? Será que Matheus beija igual? Será que Beatriz tem o mesmo sabor e calor ao beijar?
- Hugas, meu caro, assim não tem rendimento – quando olho, Matheus está ao meu lado.
- Matheus você já beijou... – não sei onde estava com minha cabeça quando perguntei aquilo.
- Se eu já beijei? Claro, e muito.
- Digo, se você já beijou outro homem? – ele olhou para mim e depois em volta.
- Não acha que é uma pergunta muito pessoal para se fazer num lugar como esse?
Ele não parecia aborrecido, estava bem calmo. Meu senso moral estava confuso. Mesmo a academia estando quase lotada naquele horário, a gente poderia conversar qualquer coisa, que os outros não iriam escutar por causa do som.
- Desculpa Matheus...
- Já – ele me olhou de uma forma que não consegui interpretar.
- Beijaria novamente?
- Você está bem estranho hoje...
- Queria fazer um teste com você, preciso tirar uma duvida.
- Hugas, não sabia que tínhamos este grau de intimidade...
- Só tenho você e David como amigos de homens, e o David está viajando.
- Então você quer me beijar para saber se você é gay, é isso?
- Não sou gay, isso não me perturba. Quero saber como é beijar um homem – menti um pouco para ele, pois queria compara os beijos.
- E se eu te beijar e você se apaixonar por mim...
- Então você me beijaria?
- Nossa como você é persistente. Sim.
Depois que consegui convencê-lo, fomos para o vestiário onde tinha umas cabines de banho. Ficamos os dois parados um de frente para o outro.
- Então Hugas, você me beija ou eu te beijo?
- Você.
Ele se aproximou, segurou meu ombro e então me beijou juntando seus lábios nos meus. Seus lábios quentes envolveram os meus. Seus olhos castanhos me encararam por um segundo antes de se fecharem. No seu lugar ficou apenas uma lembrança dos olhos azuis do David. Aquele beijo durou pouco. Ele me soltou e me olhou.
- Então, se apaixonou? – ele sorriu, e esperou minha resposta.
- Não. Não senti nada – era verdade, aquele beijo, não me provocou nada, apenas um leve arrepio no toque das peles. Foi um beijo sem sabores, sem comoções – Desculpa Matheus, espero não ter estragado nossa amizade com essa brincadeira.
- Relaxa, até que gostei dessa brincadeira. Também não senti nada especial, acho que esta experiência serviu para nós dois.
Aquela revelação me deixou reflexivo, ele também tinha ganho uma resposta, minha duvida era, qual o questionamento dele. Mas isso eu não iria saber, não iria investigar.
O resto da semana, ainda observei o Matheus, e ele não mudara nada no seu comportamento. Mas eu sim, eu estava mais perturbado com uma coisa. Eu queria ver logo o David, que desde que viajara, não tinha dado nenhuma noticia. Toda noite no meu quarto eu lembrava dele, e a cena dele me beijando estava cada vez mais forte. Meu desejo agora era beijá-lo novamente para ver se aquele beijo realmente era diferente do que dei em Matheus, ou se foi apenas uma reação provocada pelo meu nervosismo do momento. Afinal um homem tinha me dado um beijo de surpresa, o que era diferente de um beijo planejado. Precisava tirar esta duvida o mais rápido possível.
Então na tarde daquele domingo, estou só em casa, o Henri saiu com a namorada. Minha mãe de plantão. Eu preparo um lanche e fico a espera do meu amigo de olhos azuis chegar.
A campainha toca. Fico nervoso. Abro a porta, me deparo com um sorriso. Ele entra. Deixa as malas num canto da sala. Fecho a porta. Olho para ele.
- Tudo bem Hugo?
Caminho até ele e o abraço. Ele retribui. Então o beijo.
con...