gringobrasileiro - Minha primeira vez - Parte 5

Todos os trabalhos e apresentações daquele início de dezembro estavam me mantendo com a mente ocupada. Muitos trabalhos escritos, memorizações, teses e leituras. Além disso, a bendita música em italiano, que eu tinha pouco tempo para decorar, e consequentemente, cantar na universidade. Estava fodido!
Apesar de atarefado, minha mente não conseguia parar de pensar naquela frase da última noite com Benjamin:

“Você quer ser meu namorado? Eu falei sério aquela hora”

Bem, pude ver em seus olhos, que estava falando sério. Eu não estava brincando e em hipótese alguma sendo leviano, quando disse que estava me apaixonando por ele. Nem precisa deduzir o resto da história para saber que eu já estava perdidamente apaixonado. Uma vez mais, procurava culpar minha inexperiência e retirar dos meus ombros a responsabilidade de realmente amar alguém. Era mais profundo do que isso.

Sexualmente falando, Benjamin me completava. Enquanto eu gostava de estar no controle da situação, ele se excitava quando eu o fazia. Enquanto eu trabalhava com interpretação e música, Bem era professor de música em uma importante faculdade da cidade. Enquanto eu falava Português, Espanhol, Inglês e Italiano, Bem fala Inglês, Alemão e Francês. Eu era não circuncidado, e ele, bem, passaram a faca quando ainda era um neném. Geralmente me envolvia com pessoas mais velhas do que eu, ele tinha 27, e eu, 20. Eu adorava musicais da Broadway, ele já treinou grandes nomes do gênero. Eu estava apaixonado e ele me pediu em namoro.

Desde que quebrei meus preconceitos com o chamado “mundo gay”, percebi que, mesmo sendo algo realmente importante, não é a maior prioridade. Claramente, existem diferentes tipos de pessoas. Alguns que querem apenas foder, e outros, que procurar um amor para a vida toda e quando o encontram, ficam fieis. Estar em um relacionamento gay é exatamente como estar num relacionamento heterossexual: você tem que ser o melhor amigo do seu parceiro. Ter aquela pessoa para contar a todas as horas. Alguém que te conheça sem que você precisa dizer uma palavra.

Todos estes pensamentos queimavam em minha mente, mas sabia que não poderia argumentar tanto assim, pois nunca estivera em um relacionamento com outro homem. E seria injusto comparar meus relacionamentos heterossexuais com o que estava acontecendo com Ben.

Estava temeroso que ele pudesse interpretar minha resposta aquele dia de maneira equivocada. Foi um susto e tanto, quando ele disse que realmente queria namorar comigo. Era uma proposta que ia na contramão do que tinha me falado, quando disse estar apaixonado. Como posso pedir em namoro alguém que conheci a tão pouco tempo? Como posso ter tanta certeza de que será uma boa opção, já que não nos conhecemos de maneira íntima?
Seria irresponsável namorar alguém com quem passei algumas noites, tive alguns jantares e muitas horas pendurado no telefone? Seria muito estranho dizer que quando ele estava muito ocupado, eu ficava irritado, porque queria sua atenção toda voltada para mim? Seria muito estranho dizer que ele se irritou quando viu meu poste com o loirinho bonitinho do curso de artes da Universidade?
Cassete! Muitas das minhas perguntas estavam sem respostas, entretanto eu sabia que o queria comigo. Tudo o que queria era segurar sua mão em público e andar pelas ruas frias e movimentadas de Nova Iorque. Queria poder beijá-lo na montanha russa do lado sul de Manhattan. Queria poder fotografá-lo no Central Park, usando aquele casado que tanto elogiei somado aos óculos-escuro de armação amarela. Queria mostrar para todos os meus amigos da universidade, que namorava um menino absolutamente lindo e dotado de uma inteligência gigantesca e um sensibilidade admirável. Queria dizer todos os dias o quanto ele era importante para mim. E num futuro próximo, levá-lo ao Brasil e fazê-lo parte da família.
Tudo o que consegui dizer, no entanto, foi:

“Vamos amadurecer essa idéia, Benjamin. Eu gosto muito de você, mas quero ter certeza de que estou preparado para um relacionamento”.

Família.

Esse talvez fosse o maior e mais difícil problema. Venho de uma família que sempre considerei “mente aberta”, mas com uma base religiosa muito forte. Acho que uma frase que se encaixaria perfeitamente seria: tudo pode acontecer, desde que não seja dentro da minha família.
Só de me imaginar conversando com meus pais e dizendo que seu pequeno bebe gostava de pipizinho, me enchia de medo e desespero. Eles certamente não ficariam felizes com a notícia. Eu não estava preparado para enfrentar meu pai com todo o seu preconceito, e principalmente minha mãe, que, com todo o seu amor, planejou um futuro em sua mente para mim. Enfrentar o mundo, meus amigos e parentes, não seria o maior problema. Não estava preocupado com o que a maioria das pessoas pensaria ao meu respeito, mas sim o que eles, meus pais e melhores amigos, pensariam sobre. Por diversas vezes, ouvi meu pai fazendo piada sobre homossexuais e minha mãe comentando o tanto que ela achava ridículo ver dois homens se beijando em filmes, ou pior ainda, em qualquer local público. Mesmo “dentro do armário”, era incrível com oestes pequenos detalhes conseguiam me ferir.

Não. Definitivamente eu não estava preparado para isso.

Era algo pelo qual Benjamin tivera passado a cerca de dois anos. Segundo ele, foi nascido e criado em uma pequena cidade no interior da Georgia, onde as pessoas tinham pouco contato com homossexuais que viviam abertamente. Uso como brecha o comentário anterior para desmistificar a idéia de que Estados Unidos é o pais mais livre do mundo e totalmente tolerante. Brasileiros que geralmente vem para à America do Norte para turismo, vão para grandes centros como Los Angeles, na Califórnia, Miami, na Flórida, ou Nova Iorque. Esses locais são completamente abertos ao turismo, festas e diversão. Não importa quem você é ou o que gosta de fazer: em qualquer uma dessas cidades – ou nas três -,
você encontrará o seu lugar. Mas nem todo o país segue a mesma regra. Alguns estados no centro do país, ou principalmente na região sul podem ser EXTREMAMENTE preconceituosos e não tolerantes. Pessoas morrem pela opção sexual, filhos são expulsos de casa e criança cometem suicídio por bullying na escola.
E é de um lugar assim que Benjamin veio. Não foi nada fácil falar com seus pais. Mark, seu pai, era um fazendeiro conhecido e com três filhos homens, dos quais estavam ligados à agricultura e pecuária, enquanto Benjamin, sempre fazendo teatros, tocando piano para a família, e apaixonado por todo o tipo de Arte. Quando finalmente decidiu conversar com sua família, teve apoio do irmão mais novo e de sua mãe, enquanto o pai, e o irmão mais velho, foram absolutamente contra sua decisão. Aconselharam tratamento psicológico e mesmo religioso, mas sua resposta foi simples e objetiva:

“Vocês não podem mudar quem eu sou. Se não me aceitam aqui, estou me mudando para Nova Iorque” – claro que quando o fez, já estava com a proposta de emprego nesta renomada universidade.

Vi a dor em seus olhos sempre que citava sua família e falava como era difícil não ter falado com seu pai durante todo aquele tempo. Bem, assistindo de perto sua dor, sabia que não era algo que estava pronto para passar por. Não dependia da minha família, nunca tinha sido mimado e tive o choque da dura realidade desde que era pequeno, mas ainda assim, precisava do amor da minha família. Não queria desapontá-los ou fazê-los sofrer de qualquer forma.

De qualquer forma, eu estava morando em uma outro país, longe de casa, e desde que tomasse cuidado com redes sociais, eu poderia ter um relacionamento com qualquer pessoa, sem que meus pais interferissem. Portanto, seria interessante considerar um envolvimento maior com o menino com quem estava tão apaixonado. Eu estava com medo, mas em momento algum, deixei de considerar.

Pra quem conhece os Estados Unidos, sabe que não existe lugar mais exagerado para datas natalinas. Nenhuma data é tão especial quanto esta. Chega a ser dramático! No começo de dezembro, todas as lojas, prédios, escolas, universidades, monumentos, Times Square... tudo fica ainda mais colorido e iluminado. Diferente da idéia de natal que temos no Brasil, aqui é realmente frio, tudo fica branco e coberto de neve, as famílias se reúnem para comer e trocar presentes sob a árvore enfeitada para natal. E foi pra isso que ele me ligou.

O combinado é que às 19 horas daquele sábado congelante, poderia encontrá-lo em seu apartamento, comer qualquer coisa e decorar sua árvore de natal. Eu nunca fui muito ligado à data e sempre preferi a noite da virada. Já tinha perdido uma preciosa tarde de estudos para ajudar minha família americana a decorar a casa toda para o natal, e só de pensar passar por isso de novo, já me via chateado e irritado, forçando um sorriso. Bem, nessa ocasião o apartamento não era lá tão grande e ele morava sozinho. Não deveria ser tão difícil. Além do mais, seria uma desculpa a mais para estar com ele, e quem sabe, passar a noite juntos.

Com a pressa do final de semestre, decidimos que eu iria aproveitar a noite com ele para trabalharmos na ópera em italiano que eu tinha que cantar uma exatamente uma semana mais tarde. Por ser um professor e um pianista magnífico, pensei que poderíamos ter um tempo juntos que, além do prazer do sexo e da boa companhia, poderia nos render um momento gosto como artistas.

Casaco marrom escuro alinhado, botas e luvas de couro preto, uma boina no estilo francês, protetor de ouvidos e uma bolsa com a tal partitura. Estava cinco minutos adiantado tocando sua campanhinha.

“Leo, você está lindo” – disse com um sorriso encantador, me puxando para dentro e já tirando meu casado e pendurando-o ao lado da porta.

O apartamento cheirava a velas e incenso e uma obra do Bizet tocava suave de fundo. Vale a pena dizer que não estávamos em seu apartamento, mas no misterioso apartamento da última vez, aquele, todo de vidro, com apenas um cômodo grande e o Black Baby Grand Piano de centro.
Benjamin vestia uma calça jeans azul clara colada em seu corpo, delineando o desenho daquele lindo par de pernas. Descalço, protegia seus pés através de um par de meias vermelhas que não tinha muito a ver com o resto de suas roupas. Uma blusa cinza com o logo da universidade em que se graduara em Atlanta, a Georgia Tech. E óculos quadrados, típico de nerds.

Óculos. Quadrados. Típico. Nerds.

Era a primeira vez que o vira usando óculos. Sempre bem vestido e preocupado com a aparência de responsável professor, usava suas lentes de contato, mas eu sequer sabia que ele usava óculos. Eu sempre tive uma tara especial por pessoas que usam óculos. É algo pessoal e entendo que muita gente não gosta, mas óculos de grau grande que protegem aquele lindo par de olhos verdes e aquela barba, cuja coloração estava em perfeita harmonia me deixava simplesmente besta. Ele, super sensitivo, percebeu que eu estava em qualquer outra dimensão.

“Te incomoda que eu esteja de óculos? Posso colocar minhas lentes de contato, se isto o deixará mais a vontade” – disse já tirando os óculos e com um pequeno ar de preocupação.

“Você está mais lindo do que nunca” – respondi beijando-o e encostando-o contra a parede, ainda em pé, próximo à porta de entrada.

Eu estava certo quanto ao cheiro de vela. Benjamin tinha uma noite toda preparada para nós: a obra de Bizet para piano ecoava delicada, copos transparentes com velas de cheiro suave estava espalhadas em lugares improváveis, tais como debaixo do sofá, sobre o piano, próximo às fotografias, algumas várias juntas ao pé da cama e várias para iluminar a cozinha.

Quando conversamos, naquela última noite juntos, Benjamin concordou que era muito cedo para encararmos um relacionamento, e, como não conhecíamos tudo sobre o outro, não poderíamos nos arriscar. Como solução, achou que deveríamos fazer um quis. Uma espécie de brincadeira em que cada um poderia falar ainda mais sobre gostos e preferências pessoais, e, consequentemente, descobrir coisas sobre o outro. A idéia era muito bonitinha e me fez suspirar, quando descobrir o que estava acontecendo ali. Nada melhor que uma noite enfeitando uma árvore de natal, para tanto! Mesmo sabendo que o jantar já estava pronto, apenas tínhamos que preparar a mesinha de chão, eu não conseguia parar de olhá-lo e pensar que aquele homem seria o melhor namorado do mundo.

O melhor primeiro namorado do mundo.

Pronto. Um pensamento que consegue ferrar com tudo. Era o primeiro homem com quem tinha me relacionado e já estava pensando que poderíamos ficar juntos para sempre. Pensei que tivesse sido bom na cama, porque afinal, ele repetiu a dose e mais tarde me pediu em namoro. Esse era o ponto. Ele me pediu em namoro, depois de um dizer que estava apaixonado. Será que ele realmente sabia o que estava fazendo? Eu estava dentro do armário ainda e não tinha forças suficientes para sair e enfrentar tudo. Ele já tinha feito isso. Eu não tinha coragem para tanto. T
Tais pensamentos me causaram uma queimação no estômago.

“Leo, por favor, senta!” – disse Benjamin, interrompendo-me bruscamente daquela tempestade de pensamentos e me puxando uma almoçada colorida.

Na mesa, um prato com deliciosas alcachofras à moda romana, com talheres cuidadosamente escolhidos e posicionados em ordem decrescente, duas pequenas taças com água, e duas outras vazias. No centro, uma garrafa com um vinho chileno – cujo preço ainda estava estampado: $ 28 dólares americanos. E por último, para não perder o costume, velas que iluminavam parcialmente seu rosto e me davam uma visão rústica daquele lindo rosto – e os óculos, refletindo a luz das velas, me impediam de ver com clareza, aquele lindo par de olhos verdes. Ri um pouquinho.

Duas caixas médias e uma caixa grande estavam posicionadas no meio do ambiente de sala, próximas ao piano, com algumas anotações. Mais tarde descobrira que eram os tais enfeites de natal.

O jantar!

A primeira garfada e tempo para saborear a comida.
A segunda garfada e um sorriso de aprovação.
Ele apenas assistia, enquanto eu experimentava.

“O que você achar? Estou aprovado?” – disse sorrindo, enquanto levava um pedaço à boca.

“Definitivamente. Está delicioso” - respondi, tentando do fundo do meu coração, não vomitar.

“OH MY GOD. THIS TASTES LIKE TRASH” – disse Benjamin levantando rapidamente, e, pegando os dois pratos, literalmente jogou dentro da pia.

Quando disse “um prato com deliciosas alcachofras à moda romana” é porque estava tentando ser educado. Nunca tinha provado algo tão ruim em todo a minha vida. Um gosto amargo, como quem come algo fora do prazo de validade. Eu juro que tentei. Não queria decepcioná-lo. Ele fez aquilo tudo pra mim, mas infelizmente, acho que fez do jeito errado.

“Ben, não se preocupe! A gente pode pedir uma pizza. Eu nem estou com tanta fome” – eu estava

“Não estava assim tão ruim. Apenas diferente” – estava tão ruim sim. Estava pior.

Dava pena, apenas de olhar para sua cara de decepção e vergonha. Ele estava tentando encontrar uma solução qualquer o mais rápido possível. Era uma situação embaraçosa, mas depois de abrir sua geladeira e apenas encontrarmos comida congelada, desabamos a rir. Era a típica vida de um solteiro americano: todo tipo de comida enlatada ou congelada, com gosto de isopor e qualidade zero. Mas... era a vida americana.

Depois de explicar que realmente não havia motivos para pânico, terminamos o jantar comendo hambúrgueres congelados e adicionamos bacon do café da manhã e catchup. Bem, eu coloquei catchup. Para ele, era a coisa mais ofensiva do universo – esses gringos!

O ambiente, como de costume, estava agradável e descontraído. A música, no entanto, começou a encher o saco. Era hora de trocar o repertório. Era hora de montar a árvore.

Depois de uma breve seleção de repertório, escolhi “It’s not christmas without you”, interpretado por Katharine Mcphee. Nada melhor para esquentar o clima natalino do que uma musica natalina. Triste música, por sinal (vale a pena conferir).

Provavelmente precisamos de uma hora para montar a árvore, isso sem colocar nenhum tipo de decoração. Demorou demais para me dizer que tinha acabado de comprar a árvore, e portanto, não sabia como montá-la. Teríamos economizado pelo menos trinta minutos se aquele cabeçudo tivesse me dito para ler o manual de instruções! Uma caixa com bolinhas de várias cores com estampas musicais e algumas coisas coloridas, cujo nome jamais saberei. Aquelas coisas coloridas que contrastam com o verde da árvore. Não importa.
As luzinhas. Também conhecidas como “pisca-pisca”. Os paulista pira!
Enquanto eu estava compenetrado, tentando encaixá-los nos lugares específicos, escondendo os fios, senti as mãos de Benjamin em minhas costas.

Sem camisa, com vários fios entrelaçados em seu corpo. Estava conectado à tomada. O ambiente escuro e aquele ser literalmente iluminado e semi nu sorrindo a minha frente. Era incrível como eu admirava sua sutileza em levar a vida. Estava lindo como sempre, mas com um sorriso sapeca, como o de uma criança que sabe que fez algo errado.
Sabendo sobre minha fraqueza com cócegas, me agarrou a força, enquanto, sem sucesso, tentava me desvincular.
Me envolvia em meio aos fios de pisca-pisca, ao mesmo tempo em que apertava minhas costelas, provocando um riso descontrolados e gritos desafinados. Como eu odeio cócegas!

Com a empolgação da brincadeira, caímos no chão e eu mal conseguia controlar meu riso: todas as bolas espalhadas, parte da árvore caída. Quebrada. RIP. Aquela brincadeira custar-nos-ia passar mais algum tempo só montando aquele projeto de galhos. Ótimo.

Com grande dificuldade em nos desvincular de toda aquela bagunça e aqueles nós nos fios provocados pela farra, nossas bocas se encontraram. Vale a pena citar que minha barba estava um pouco menor, talvez nas mesmas proporções que a dele. Uma barba loira quase branca e uma castanho escuro quase preto. Nossos beijos eram apaixonados e lentos, como de amantes nos dramas do morrer de amor. Nossas bocas pareciam ter sido desenhadas para a outra. Minhas mãos gentilmente massageavam seu corpo já arrepiado, enquanto as suas se perdiam em meu cabelo. Pequenas mordidinhas no queixo que tanto me excitavam, me levando a soltar gritinhos abafados e nossos olhos que ocasionalmente se cruzavam. Uma outra vez, tudo estava correto. Não tinha o peso da religião ou o medo da família, os pré conceitos de uma vida tradicional ou a incerteza do futuro: dois seres humanos beijando-se sob a mais pura verdade dos sentimentos. Era simplesmente correto. Ninguém poderia dizer o contrário.

Não havia espaço para sexo naquele momento. Não era necessário. Eu daria meu braço direito para ter a possibilidade de passar todos os dias daquele jeito. Daria tudo o que tenho para beijá-lo por horas todos os dias e sentir seu corpo aquecendo o meu nas manhãs frias e madrugadas congelantes. Eu queria qualquer coisa que incluísse tê-lo por perto. Já não suportaria a idéia de não tê-lo ali. A primavera viria em seguida, e eu sabia que ao seu lado, eu também floresceria para algo melhor. Era apenas uma questão de tempo. Estava decidido. Eu diria que sim. Eu o namoraria, mas precisava encontrar o melhor momento para dizer o grande “sim, eu aceito”.

Bem, finalmente terminamos a árvore de natal, que por sinal, estava linda, mas a grande surpresa ainda viria:

“Você pode pegar a caixinha branca que está sobre o sofá, Leo?” – disse apontando para a tal.

Era uma caixa branca com um laço da mesma cor. Dentro, um envelope também branco com meu nome.

“Tudo vai ficar bem, você vai ver. E eu estarei aqui pra você” – estava escrito com letra cursiva bem desenhada e uma foto minha, a mesma com a bandeira do Brasil no Facebook, aquela que tanto elogiara dias atrás.

No topo da árvore, sua foto com a bandeira estadunidense e um espaço em branco. Agora fazia todo o sentido. Aquele espaço em branco próximo à sua foto era para a minha foto também. Ele era tão perfeito que me irritava. Como pensara em tudo isso? Escolhera a foto que identificara minha paixão por minha terra natal e a Arte – uma vez que na foto, estava sentado junto a uma orquestra de jazz em uma viagem que fiz a Buenos Aires. Mas o que mais me tocou foi a tal frase escrita no envelope.

Benjamin sabia. Ele sabia como estava difícil dentro do meu coração. Uma confusão de sentimentos e novas sensações. Eu estava apaixonado por um homem e tinha medo do que poderia acontecer como conseqüência. Não podia evitar pensar na família, no inferno ou na vergonha. E ele sabia disso. Já tinha passado por tudo isso e me dissera numa conversa anterior: “everything is going to be okay”. E iria. Eu tinha certeza que quando dissesse sim, tudo ficaria okay. Tudo ficaria bem.

Um abraço apertado e uma lágrima. Bem, até então eu estava duro, e a tal lágrima caira de seu lindo par de olhos verdes. Era como se ele estivesse sentindo o que estava dentro do meu coração.

Sim. Eu chorei também.

“Vamos partir pra música em italiano então?” – disse enxugando as lágrimas e tentando descontrair um pouco o ambiente.

“Claro. Comprei a partitura online caso você esquecesse” – disse me soltando e já abrindo os papeis sobre o piano.

Sento nel core, era a música composta por Alexandre Scarlatti – outra vez. Tão perfeita para a ocasião:

“Sinto no coração. Sinto uma pequena dor que perturba minha alma”, era uma tradução livre para a canção do Scarlatti.

A melancolia da situação, somada ao turbilhão de sentimentos que me envolviam e o peso da canção me causavam náuseas e um aperto no coração. Sentado a minha frente, com um sorriso gentil e um olhar aconchegante, o menino que tanto me fazia bem. Acho que ele tinha razão: tudo ficaria bem. Eu sei que sim.

CONTINUA.


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Comentários


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erossexoeros Comentou em 31/08/2015

Muito bom. Gostei muito. Votado.




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Ficha do conto

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Nome do conto:
gringobrasileiro - Minha primeira vez - Parte 5

Codigo do conto:
70089

Categoria:
Gays

Data da Publicação:
30/08/2015

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